Português 8º ano



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2. Releia os seguintes trechos do relato de Helen sobre o crime e os fatos que o antecederam e o sucederam.

Logo depois que voltamos à Inglaterra, mamãe morreu. Foi num acidente de trem perto de Crewe, há oito anos.

Assim, os senhores podem imaginar que eu e minha pobre irmã Júlia não tínhamos grandes alegrias na vida.

Fiquei muito abalada para dormir de novo.

a) Que sentimentos Helen revela ao se referir à sua mãe, à sua irmã e à noite anterior à visita a Sherlock Holmes?

b) De que maneira a ausência ou a presença de informações sobre os sentimentos de Helen a respeito dos fatos que relata contribuem para a elucidação do crime?



3. Leia as passagens a seguir, extraídas do mesmo conto.

[...] o lento inquérito policial chegou à conclusão de que o doutor morreu enquanto brincava com um perigoso bicho de estimação. (Watson)

O delegado precisaria ser muito perspicaz para notar os dois pontos pretos que mostravam onde as presas do réptil inocularam o veneno. (Sherlock Holmes)

a) A conclusão do inquérito policial estava correta? Explique.

b) Que visão você acha que Watson e Sherlock têm da polícia?

c) Reescreva esses trechos de modo que não se perceba esse ponto de vista.



Ética de detetive

Nos contos de enigma, o detetive, mesmo quando tudo parece provar a culpa de um dos suspeitos, não o acusa, a menos que tenha certeza absoluta.

Discuta com os colegas e o professor estas questões.

I. Em que você se baseia para avaliar uma situação: em sua observação, no que as outras pessoas falam ou em sua intuição?

II. Quando você tem uma opinião que é diferente da opinião da maioria, costuma expressá-la sem se importar com possíveis críticas? Por quê?

DETETIVES MODERNOS

O gênero narrativa de enigma é extremamente popular na TV. Inúmeros seriados mostram detetives inteligentes e sagazes às voltas com as pistas deixadas por criminosos quase igualmente brilhantes. A diferença em relação aos contos e romances de enigma clássicos (produzidos entre o fim do século XIX e meados do século XX) é a disponibilidade de recursos da alta tecnologia, que ajudam no esclarecimento dos mistérios.



Fig. 1 (p. 19)

Cena de série estadunidense de TV.

Cliff Lipson/CBS/Courtesy Everett Collection/Latinstock

Página 20

PRODUÇÃO DE TEXTO

Conto de enigma

AQUecimento

O trecho a seguir foi retirado de outra aventura de Sherlock Holmes: “O roubo da coroa de berilos”. A propósito da personagem descrita no texto, Watson diz: “Holmes, [...] está vindo um louco pela rua. É muito triste que sua família o deixe sozinho por aí”.

Leia a apresentação das ações e da atitude do homem. Verifique que elas tanto podem ser realmente sinais de loucura — como acredita Watson — como poderiam ser a reação de uma pessoa que acabou de presenciar alguma tragédia, por exemplo. Cabe ao leitor interpretá-las.

Era um homem de cerca de cinquenta anos, alto, robusto, com um rosto expressivo e uma expressão autoritária. [...] Mesmo assim, suas ações contrastavam com a dignidade de sua roupa e de seu físico, pois corria, dando arrancadas ocasionais, como se fosse um homem cansado que não está acostumado a exercitar as pernas. Conforme corria, ele jogava as mãos para cima e para baixo, balançava a cabeça e contorcia o rosto com as mais extraordinárias expressões.

Arthur Conan Doyle. O roubo da coroa de berilos e outras aventuras. São Paulo: Melhoramentos, 2006. p. 85.

Acervo PNBE

Fig. 1 (p. 20)

Fabiana Salomão/ID/BR

• . Imagine que Watson tivesse dito: “Holmes, o homem que vem vindo pela rua parece perigoso. Vamos nos proteger”.

No caderno, redija um parágrafo enumerando as ações desse homem e fazendo comparações, de modo que a atitude dele possa ser vista de duas maneiras: como o comportamento de alguém perigoso ou como a expressão de uma pessoa amedrontada, que se esconde de um perigo.



Proposta

Você vai escrever um conto de enigma em que um detetive – homem ou mulher – investiga um assassinato. Sua produção será lida por colegas em uma sessão de leitura silenciosa a ser realizada na classe, no dia combinado com o professor.

O ponto de partida para a criação da narrativa são as imagens a seguir. Em qual destes lugares vai ocorrer um assassinato?

Fig. 2 (p. 20)

Shaun Lowe/iStock/Getty Images



Fig. 3 (p. 20)

Dave Raboin/iStock/Getty Images



Fig. 4 (p. 20)

Konstantins Visnevskis/Dreamstime.com/ID/BR



Fig. 5 (p. 20)

Jean-Yves Benedeyt/iStock/Getty Images



Página 21

Planejamento e elaboração do texto

1. Preste atenção a estes elementos, que devem estar presentes em seu conto.

••O culpado é uma pessoa conhecida da vítima.

••O culpado vai se beneficiar financeiramente com a morte da vítima.

••Assim como Sherlock conta com Watson, seu detetive terá um(a) amigo(a) que o ajudará na investigação e que será o narrador da história.



2. Agora planeje os detalhes do enredo.

a) Quem será a vítima?

b) Quem será o assassino? Qual será seu relacionamento com a vítima?

c) Como o criminoso executará o crime? Que pistas ele deixará?

d) Quem será o detetive?

e) Haverá apenas um suspeito ou mais de um? Quem serão eles? Que motivo eles têm para cometer o crime? Que meios possuem para executar o assassinato?

f) Que pistas falsas vai haver?

3. As etapas a seguir são sugestões para o encaminhamento de seu conto.

a) Há um pedido de ajuda ao detetive, feito por uma das personagens.

b) Essa personagem conta ao detetive a história do crime.

c) O detetive começa a investigar.

d) Ele chega a uma conclusão e convoca todas as personagens para revelar a identidade do assassino.

4. Dê à narrativa um título que instigue o mistério.

Avaliação e reescrita do texto

1. Releia seu texto e avalie-o, tentando se colocar no lugar do leitor. Para isso, copie o quadro no caderno e complete-o.





Sim

Não

O culpado tinha o motivo e os meios para executar o crime?







Todas as pistas em que o detetive baseou sua conclusão foram apresentadas ao leitor?







Há outros suspeitos e pistas falsas?







O suspense mantém a atenção do leitor?







O leitor se surpreende com o fim da história?







ID/BR

2. Reescreva o que for necessário e entregue o texto ao professor. Em um dia combinado, você e os colegas de sala farão uma sessão de leitura.

Orientações para a sessão de leitura

• O professor vai expor os contos na mesa e, à medida que for chamando os alunos, cada um irá até lá e escolherá um texto para ler.

• Leia o conto em silêncio, em sua carteira. Concentre-se no prazer de tentar decifrar o enigma com o detetive e de se surpreender no final.

• Quando terminar, coloque o conto de volta na mesa do professor e, se houver tempo, leia outro.



Fig. 1 (p. 21)

Fabiana Salomão/ID/BR



Página 22

REFLEXÃO LINGUÍSTICA

Revisão: sujeito. Índice de indeterminação do sujeito

1. Observe as frases abaixo, extraídas do texto “A faixa manchada”.

– Meu nome é Helen Stoner, e moro com meu padrasto, o último representante de uma das mais velhas famílias saxônicas da Inglaterra, os Roylotts, de Stoke Moran, na margem ocidental do Surrey. […]

Ainda na Índia, o dr. Roylott casou-se com minha mãe, a sra. Stoner, jovem viúva do major-general Stoner, da artilharia bengali. Minha irmã Júlia e eu éramos gêmeas e tínhamos apenas dois anos quando mamãe se casou novamente.

a) Identifique os sujeitos dos verbos destacados no segundo parágrafo e classifique-os como simples ou composto.

b) Qual é o sujeito do verbo moro, em destaque? Explique.

No trecho do texto acima, o sujeito do verbo tínhamos está oculto, mas podemos reconhecê-lo pelo contexto, pois anteriormente é citado “Minha irmã e eu éramos gêmeas […]”. O sujeito que pode ser identificado pela flexão de número e pessoa do verbo ou pela oração anterior recebe o nome de oculto ou desinencial.

Agora observe estas outras orações.
Nossa mãe se casou novamente.
Nossa mãe suj. simples
casou terceira pessoa singular

Trata-se de sujeito simples (“Nossa mãe”) porque só há um núcleo, ou seja, há somente uma palavra importante que se relaciona com o verbo: mãe.



Nossa mãe e o dr. Royllot se casaram.
Nossa mãe e o dr. Royllot suj. composto
casaram terceira pessoa plural

A oração acima apresenta dois núcleos, mãe e Royllot, relacionados com o verbo casar-se. Temos, portanto, sujeito composto.

Leia a primeira estrofe de uma letra de música do compositor Lobão.

Me chama

Chove lá fora e aqui
Faz tanto frio
Me dá vontade de saber...
Aonde está você?
Me telefona
Me chama! Me chama!
Me chama! […]

Lobão. Me chama. Intérprete: Lobão. Em: Acústico MTV Lobão. Sony/BMG, 2007.

Nas orações destacadas, as ações de chover e de fazer frio não podem ser atribuídas a nenhum sujeito; portanto, são orações sem sujeito. As orações sem sujeito são formadas por verbos impessoais. São verbos impessoais os que exprimem fenômenos da natureza (chover, nevar, anoitecer, etc.); o verbo haver, empregado no sentido de existir; os verbos haver, fazer e ir, quando indicam tempo transcorrido; e o verbo ser, quando indica tempo em geral.

Relacionando

Na seção Leitura 1, você encontrou vários verbos com sujeito desinencial. Isso ocorre, pois se trata de um texto literário, portanto com linguagem mais formal. Nesses casos, o sujeito desinencial contribui para a coesão do texto, evitando repetições. Na linguagem mais informal, é comum que se repita o sujeito.



Página 23

2. Leia este trecho.

[...]


– Marco, houve um roubo lá na cidade, numa loja da praça, durante a noite.

– E o que há de extraordinário nisso?

– É que foi numa loja de fotografias. Não roubaram dinheiro nenhum, mas levaram todos os negativos.

[...]


Stella Carr. O caso da estranha fotografia. 28. ed. São Paulo: Moderna, 2003. p. 14.

a) Por que não podemos saber quem é o sujeito das frases em destaque?

b) Levando em conta o contexto, um roubo em uma loja, por que provavelmente os verbos das orações estão nessa pessoa e número: por que se desconhece quem praticou a ação ou por que o falante não teve a intenção de mencioná-lo?

Pelo contexto, não é possível identificar quem praticou as ações de não roubar dinheiro nenhum e de levar todos os negativos. Quando se desconhece quem praticou a ação verbal ou não se tem a intenção de mencioná-lo, o sujeito é indeterminado.



LEMBRE-SE

O sujeito pode ser classificado em: simples, composto, desinencial ou indeterminado. Há também as orações sem sujeito, que são formadas pelos verbos impessoais.



Índice de indeterminação do sujeito

Uma forma de indeterminar o sujeito é usar o verbo na terceira pessoa do singular acompanhado do pronome se. Nesse caso, o pronome se é considerado índice de indeterminação do sujeito.

Leia os títulos abaixo.

Fig. 1 (p. 23)

Heleninha Bortone. Precisa-se de um avô. São Paulo: Editora Moderna, 1987.

Precisa-se de um avô

Fig. 2 (p. 23)

Vive-se uma vez só. Direção: Frits Lang. EUA, 1937.

VIVE-SE UMA SÓ VEZ

Nos dois títulos, o sujeito é indeterminado, pois não está expresso na oração.



ANOTE

Na língua portuguesa, a indeterminação do sujeito é feita de duas formas.

Em uma delas, o verbo é flexionado na terceira pessoa do plural, sem que se refira a nenhum termo expresso anteriormente.

Exemplo: Estudaram para a prova.

A outra ocorre com o emprego do verbo na terceira pessoa do singular, acrescentando-lhe o pronome se, chamado de índice de indeterminação do sujeito. Nesse caso, os verbos empregados são intransitivos, transitivos indiretos ou de ligação.

Exemplo: Aqui se está feliz.



Página 24

REFLEXÃO LINGUÍSTICA Na prática



Responda sempre no caderno.

1. Leia esta propaganda da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte.

Fig. 1 (p. 24)

Propaganda da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte.

Fundação Zôo-Botânica de Belo Horizonte/Fac-símile: ID/BR

Papai e Mamãe Tamanduá convidam para conhecer seu bebê que acaba de nascer.

a) Descreva a imagem da propaganda.

b) Em que situações normalmente o objeto que aparece na imagem é usado?

c) O que o uso desse objeto sugere nessa propaganda?

d) Leia o texto: “Papai e Mamãe Tamanduá convidam para conhecer seu bebê que acaba de nascer”. A que público a propaganda é direcionada?

e) O verbo convidar está empregado na terceira pessoa do plural. Trata-se, portanto, de sujeito indeterminado? Explique sua resposta.

2. Suponha que a seguinte manchete fosse publicada em um jornal de sua cidade.

Prefeitura cobra multas atrasadas

a) Reescreva essa frase no caderno indeterminando o sujeito.

b) Explique qual seria a intencionalidade do autor do texto se utilizasse o sujeito indeterminado nessa manchete.

c) Releia a oração que você escreveu com o sujeito indeterminado. Os jornais costumam apresentar manchetes com essa estrutura? Por que você supõe que isso acontece?



3. Leia ao lado a capa de uma revista. Ela simula uma página de classificados de empregos de um jornal.

Fig. 2 (p. 24)

Capa da revista Notícias da Construção, ano 3, n. 21, mar. 2004.

Sinduscon/Arquivo da editora

PRECISA-SE PARCERIAS (tratar no Brasil)


Veja como os Estados querem atrair investimentos privados.

a) Identifique e classifique o sujeito da frase destacada.

b) Esse tipo de sujeito é muito comum em classificados e anúncios. Por que isso ocorre?

4. Indetermine o sujeito das orações a seguir, usando o verbo na terceira pessoa do singular com o pronome se.

a) No Brasil, as famílias viajam muito para a praia no verão.

b) Naquela cidade, as pessoas trabalham bastante.

c) Vivemos bem em qualquer cidade deste país.

d) Nossa empresa precisa de secretárias bilíngues.

Página 25

LÍNGUA VIVA

Responda sempre no caderno.

Efeitos de sentido da indeterminação do sujeito

1. Leia a tira. Ela remete o leitor à época do desenvolvimento dos primeiros foguetes, quando as missões espaciais ainda não contavam com tripulação humana e cobaias animais eram utilizadas para testes.

Fig. 1 (p. 25)

Snoopy, de Charles Schulz.

Schultz © 1950 by United Features Syndicate Inc./Intercontinental Press

Q1: ESSE NEGÓCIO DE FOGUETE É FASCINANTE.

Q2: TODOS OS DIAS APARECEM COM ALGUMA NOVIDADE.

Q3: POR ALGUM TEMPO ESTAVAM ENVIANDO CÃES... AGORA ESTÃO ENVIANDO RATOS...

Q4: ESTA É UMA TENDÊNCIA MUITO SAUDÁVEL!

a) Charlie Brown está lendo no jornal as novidades sobre foguetes quando faz um comentário. A quem o verbo aparecer pode estar se referindo?

b) Gramaticalmente, como se classifica o sujeito dessa oração?

c) Há outros exemplos do mesmo tipo de sujeito na tira? Exemplifique.

d) A determinação do sujeito no segundo e no terceiro quadrinhos traz algum ganho para o sentido da tira? Explique sua resposta.



2. Observe, agora, esta outra tira.

Fig. 2 (p. 25)

Mafalda, de Quino.

Joaquín Salvador Lavado (QUINO) Toda Mafalda – Martins Fontes, 1991

Q1: COMO FOI NA ESCOLA FILIPE? JÁ TE ENSINARAM A ESCREVER?
E VOCÊ QUERIA QUE ME ENSINASSEM A ESCREVER NUMA AULA SÓ?

Q2: MAS… VOCE FICOU LÁ O DIA INTEIRO!


É MAS ANTES A GENTE TEM QUE FAZER TRAÇOS, LETRAS, SÍLABAS E UM MONTE DE OUTRAS COISAS E…

Q3: … LEVA MESES PRA ENSINAREM A GENTE A ESCREVER!


MESES?!

Q4: MALDITOS BUROCRATAS!

a) No primeiro quadrinho, a expressão de Mafalda revela entusiasmo e expectativa. Que sentimentos a menina parece expressar no segundo e no terceiro quadrinhos?

b) Qual é a causa dessas mudanças?

c) Que recurso foi usado na tira para indicar quem deveria ter ensinado Filipe a ler e a escrever?

ANOTE

Nos textos, a indeterminação do sujeito pode ser motivada por mais de um fator. Ela pode estar relacionada ao desconhecimento de quem executa a ação; à falta de interesse em mencionar um agente que poderia ser conhecido; à intenção deliberada de ocultar um agente (para proteger sua identidade ou provocar surpresa posterior); a um discurso que pretende fazer generalizações a respeito de um grupo social. Sua utilização provoca, portanto, diferentes efeitos de sentido, de acordo com as intenções de quem produz o enunciado.



Página 26

LEITURA 2

Conto de terror

O que você vai ler

Fig. 1 (p. 26)

Edgar Allan Poe (1809-1849), escritor estadunidense. Fotografia de cerca de 1830.

Ablestock/ID/BR

O escritor estadunidense Edgar Allan Poe é um dos mais importantes autores de contos de enigma, considerado o criador do gênero. Ele também escreveu obras-primas em outros gêneros, como o poema “O corvo” e os contos de terror “O barril de Amontillado” e “A queda da casa de Usher”.

O terror, para Poe, é antes de tudo psicológico, incluindo, muitas vezes, elementos sobrenaturais, como você vai comprovar a seguir em um conto famoso desse autor.

Ao ler os dois primeiros períodos da narrativa, observe que algumas palavras são típicas dos contos de terror e preparam o leitor para encontrar algo assustador.

• .Sabendo que a história é de terror, imagine a que se refere o título “O retrato oval”.



O retrato oval

O castelo onde meu criado aventurara-se a forçar nossa entrada, em vez de permitir que eu passasse a noite, ferido como eu estava, ao relento, era uma daquelas construções lúgubres e grandiosas que há tempos debruçam-se por sobre os Apeninos, não apenas de fato como também na imaginação da sra. Radcliffe. O lugar dava a impressão de ter sido abandonado havia pouco tempo, em caráter temporário. Instalamo-nos em um dos aposentos menores e mais humildes. O quarto ficava em um torreão afastado. A decoração era sofisticada, mas antiga e maltratada pelo tempo. As paredes estavam cobertas por tapeçarias e ornadas com troféus de armas; ademais, havia um número incomum de pinturas modernas muito agradáveis com molduras de arabescos dourados. Essas pinturas, que pendiam não apenas das paredes amplas, mas também dos inúmeros recônditos que a arquitetura bizarra do palácio fazia necessários – essas pinturas, talvez em virtude de um delírio incipiente, despertaram-me um profundo interesse, de modo que solicitei a Pedro que fechasse as pesadas cortinas daquele cômodo – uma vez que já era noite –, que acendesse os pavios de um candelabro alto que estava junto à cabeceira da minha cama e que abrisse, tanto quanto possível, as cortinas franjadas de veludo negro que envolviam a cama. Fiz esse pedido para que eu pudesse me entregar se não ao sono, pelo menos à contemplação daqueles quadros e à leitura de um pequeno tomo encontrado sobre o travesseiro, que se propunha a fazer críticas a eles e a descrevê-los.

Por muito – muito tempo eu li – e concentrado, absorto, eu contemplava. As horas passaram céleres e agradáveis até que a meia-noite escura se instaurou. A posição do candelabro aborrecia-me e, preferindo fazer um esforço a importunar meu criado, que dormia, estiquei o braço e ajustei-o de modo a obter mais luz sobre o livro.

Fig. 2 (p. 26)

Marcelo d’Salete/ID/BR



Página 27

Mas esse ato teve consequências de todo inesperadas. Os raios das inúmeras velas (pois havia muitas) iluminaram um nicho do quarto que até então permanecera envolto na densa sombra de uma das colunas da cama. E assim vi, iluminado, um quadro que até então me passara despercebido. Era o retrato de uma menina em que despontavam os primeiros sinais da mulher. Observei a pintura por alguns instantes e logo fechei os olhos. O que me despertou esse impulso era algo que a princípio eu mesmo não compreendia. Mas, enquanto as pálpebras permaneciam-me fechadas, vasculhei meus pensamentos em busca do motivo para fechá-las. Um movimento impulsivo deu-me tempo para pensar – para ter certeza de que os olhos não me haviam logrado – para serenar meus devaneios e lançar à tela um olhar mais sóbrio e mais preciso. Passados alguns instantes, olhei mais uma vez para o retrato.

Que naquele instante eu o via de modo objetivo estava além de qualquer dúvida; pois o primeiro clarão das velas sobre a tela parecia ter dissipado o estupor onírico que aos poucos dominava meus sentidos e me reconduzido, de sobressalto, à vigília.

O retrato, conforme descrevi, era o de uma jovem moça. Era um simples busto, executado com a técnica que se costuma chamar de vignette; o estilo era muito semelhante ao das famosas cabeças de Sully. Os braços, o colo e até mesmo as pontas do cabelo radiante fundiam-se de modo imperceptível na sombra vaga e mesmo assim densa que constituía o segundo plano da obra. O quadro tinha uma moldura oval, dourada com grande esmero e filigranas à mourisca. Como obra de arte, nada poderia ser mais admirável do que a pintura em si. Mas não fora nem a execução do trabalho nem a beleza imortal daquele semblante o que me comovera de maneira tão súbita e tão contundente. Também seria impensável que minha fantasia, já desperta de seu cochilo, houvesse tomado o retrato por uma pessoa real. Percebi de imediato que as particularidades da composição, do estilo vignette e da moldura haveriam de ter afastado essa ideia no mesmo instante – haveriam de ter impedido que fosse sequer matéria de consideração. Ocupado com esses pensamentos, permaneci, talvez por uma hora inteira, meio sentado, meio reclinado, com o olhar fixo no retrato. Por fim, ao deslindar o segredo de seu efeito, deitei-me. Descobri que o encanto do quadro residia na perfeição absoluta da expressão naquele rosto que parecia vivo e que, a princípio tendo-me assustado, logo pôs-me perplexo, subjugou e aterrorizou-me. Sob a influência de um espanto profundo e reverencial, recoloquei o candelabro em seu lugar. Com a causa da minha agitação fora de vista, debrucei-me com avidez sobre o volume que discorria sobre as pinturas e suas histórias. Ao buscar o número que identificava o retrato oval, li as obscuras e peculiares palavras que seguem:



Fig. 1 (p. 27)

Marcelo d’Salete/ID/BR



Página 28

“Era uma donzela de rara beleza, e só não era mais amável do que alegre. Numa hora infeliz ela viu, amou e desposou o pintor. Ele, arrebatado, estudioso, rigoroso, já tendo a Arte por esposa; ela, uma donzela de rara beleza, e só não era mais amável do que alegre; toda luz e sorrisos, brincalhona como os filhotes de corça, amava e apegava-se a tudo; detestava somente a Arte, que era sua rival; temia apenas a palheta e os pincéis e outros instrumentos indesejáveis que a privavam de ver o rosto do amado. Assim, para a moça, era uma coisa terrível ouvir o pintor falar sobre o desejo de retratar sua jovem esposa. Mas ela era humilde e dócil, e posou por semanas a fio em um torreão escuro onde a luz que iluminava a tela vinha apenas de cima. Mas o pintor comprazia-se naquele trabalho, que se estendia hora após hora, dia após dia. Ele tinha uma alma apaixonada, indomável, suscetível, e era dado a devaneios; assim, não percebia que a terrível luz que se filtrava pelo torreão solitário abatia a saúde e o ânimo da esposa, que definhava à vista de todos, menos da sua. Mesmo assim ela seguia sorrindo, sem queixar-se, porque notava que o pintor (que era muito renomado) sentia um prazer imenso ao desempenhar a tarefa, e trabalhava dia e noite para retratar a mulher que tanto o amava, mas que a cada dia ficava mais desanimada e fraca. E na verdade algumas pessoas que viam o retrato comentavam a semelhança à meia-voz, como se falassem de um milagre, e de uma prova não só da habilidade do pintor como também do profundo amor que ele nutria pela modelo que retratava com tanta maestria. Mas, à medida que o trabalho chegava ao fim, o acesso ao torreão foi vetado, pois o pintor tomara-se de arrebatamento e mal despregava os olhos da tela, mesmo que fosse para olhar o rosto da esposa. E ele não percebia que as cores espalhadas sobre a tela vinham das faces daquela que sentava ao seu lado. E ao cabo de várias semanas, quando faltavam apenas alguns retoques – uma pincelada nos lábios e um sombreado no olhar –, o ânimo da esposa mais uma vez bruxuleou como a chama no interior do lampião. E foi dada a última pincelada, e logo o sombreado estava completo; então, por um instante, o pintor ficou em transe diante da obra que executara; mas no momento seguinte, ainda olhando a pintura, ficou pálido e começou a tremer; horrorizado, gritou: ‘Isso é a própria Vida!’ e virou-se para contemplar a amada: Ela estava morta!”.

Edgar Allan Poe. O gato preto e outros contos. São Paulo: Hedra, 2008. p. 65-69.

GLOSSÁRIO
À mourisca: ao estilo mourisco; estética originária de povos árabes do norte da África, cujo trabalho em relevo privilegia formas geométricas e arabescos.
Apeninos: cordilheira do norte da Itália.
Arabesco: ornamento inspirado na arte islâmica.
Arrebatado: que se deixa levar pelos sentimentos.
Bruxulear: mover-se fracamente.
Candelabro: grande castiçal de vários braços.
Célere: ligeiro, acelerado.
Comprazer: sentir satisfação.
Contundente: que não admite dúvidas, categórico, definitivo.
Deslindar: descobrir, resolver.
Estupor: espanto, assombro.
Filigrana: espécie de renda de metal.
Incipiente: inicial, que está na origem.
Logrado: enganado, iludido.
Lúgubre: escuro, sinistro, medonho.
Maestria: perícia na execução de uma obra.
Nicho: cavidade feita na parede para colocar estátuas, livros, etc.
Onírico: relativo aos sonhos.
Palheta: chapa sobre a qual os pintores colocam e misturam tintas.
[Anne] Radcliffe: romancista inglesa (1764-1823), autora de romances de horror e mistério.
Recôndito: lugar oculto.
[Thomas] Sully: pintor estadunidense (1783-1872), em cuja obra se destacam os retratos.
Torreão: torre larga em castelo.

Fig. 1 (p. 28)

Marcelo d’Salete/ID/BR



Página 29

Estudo do texto

Responda sempre no caderno.

Para entender o texto

1. Esse conto pode ser dividido em duas partes, e em cada uma se narra uma história passada em um tempo diferente.

a) Quais são os principais acontecimentos de cada uma das partes?

b) Qual é a mais antiga e qual é a mais recente?

2. Releia o início do conto.

a) O que se informa sobre a identidade do narrador e sobre a circunstância que o levou a abrigar-se no castelo?

b) Que sentidos essas informações ou a falta delas acrescentam a essa narrativa?

3. O narrador é um elemento importante para marcar as duas histórias. Como esse recurso aparece no conto?

4. Na narrativa, ocorre um fato inusitado.

a) Que fato é esse?

b) Em qual das duas histórias se passa esse fato?

c) Por que ele pode ser considerado inusitado?



ANOTE

Os contos de terror têm por objetivo despertar no leitor sensações de medo e horror diante da morte, da loucura e do mal que se esconde na mente humana. Para atingir esse objetivo, alguns contos apresentam ao leitor elementos sobre os quais não se deixa dúvida: são sobrenaturais. Assim, as personagens são assombradas por fantasmas e monstros e vivem experiências extraordinárias. Em outros, a causa do terror encontra-se na mente da personagem.



5. Em “O retrato oval”, uma combinação de fatores cria o suspense, elemento fundamental em seu enredo. Um desses fatores é a forma de apresentar o espaço ao leitor.

a) Com base nas palavras do narrador, indique as características do castelo.

b) Copie o quadro abaixo no caderno e complete-o com as características do quarto.

Fig. 1 (p. 29)

Marcelo d’Salete/ID/BR



Quarto

Caracterização geral




Paredes




Quadros




Forma de iluminação




Cama




ID/BR

c) Em geral, quais os traços predominantes nesses espaços?



Página 30

Responda sempre no caderno.

6. Qual é a importância do trecho “As horas passaram céleres e agradáveis até que a meia-noite escura se instaurou” para acentuar o clima de mistério do conto?

ANOTE

Nos contos de terror, espaço e tempo são recursos importantes para criar suspense.



Fig. 1 (p. 30)

Marcelo d’Salete/ID/BR



7. Outro elemento que contribui para construir o suspense nesse conto é a forma de apresentar o retrato ao leitor.

a) Pela visão até a compreensão do efeito que o retrato produz no narrador, quanto tempo se passou? Quais são os parágrafos que narram esse acontecimento?

b) Como o quadro e sua imagem são descritos na narrativa: de uma vez ou de modo gradual? Que efeito isso gera?

8. A personagem, em determinado momento do conto, admite seu estado de delírio.

a) O que causou impressão tão forte na personagem que ela julgou ser um delírio?

b) Por que, para a coerência do conto, essa informação é importante?

ANOTE

Outro recurso muito presente para criar suspense em contos de terror é a apresentação de pequenos indícios que revelam ao leitor um perigo iminente ou a presença de um mal que ronda as personagens.



9. A personagem principal pode mencionar, com suas palavras, o conteúdo do que tinha lido no livro. No entanto, sua opção por transcrever o trecho tem uma função. Explique-a.

10. A segunda história tem um papel na construção da narrativa como um todo. Qual é o papel dela no esclarecimento dos fatos?

O texto e o leitor

1. Logo que vê o quadro, a primeira reação do narrador foi fechar os olhos.

a) Por que ele fez isso?

b) O leitor tem as mesmas condições que a personagem de assimilar o fascínio exercido pelo retrato? Por quê?

c) De que forma o leitor pode perceber o impacto que a personagem sentiu ao ver o quadro?



2. A forma de apresentar a ação da personagem ao leitor também está a serviço da criação do suspense.

a) Copie o quadro da página seguinte e complete-o para esquematizar a sequência da atitude visual da personagem em relação ao retrato.



Página 31

Parágrafo

Atitude visual em relação ao retrato

3

Olhar.




Manter as pálpebras cerradas.




Fixar o olhar.










Tirar do campo de visão.

ID/BR

b) Qual é o efeito que essa forma de apresentar as ações cria para o texto?



ANOTE

Para produzir o suspense, é necessário retardar algumas revelações. Para isso, a narrativa detalha a descrição da cena, as reações das personagens e omite algumas informações.



3. Ao tomar conhecimento da história do quadro, o leitor do conto tem a dimensão do que a visão do retrato significou para o narrador. Esse efeito é obtido por meio de alguns recursos.

a) A descrição das duas personagens citadas é bastante detalhada. Escreva as características de ambas.

b) Indique dois adjetivos que caracterizam o pintor e sua esposa.

Fig. 1 (p. 31)

Marcelo d’Salete/ID/BR



4. A mudança na jovem é gradual. Que relação há entre a descrição da personagem e a criação de expectativa no leitor sobre o mistério do conto?

Comparação entre os textos

1. Nos dois contos do capítulo, o suspense é um recurso importante para a construção do texto. Como o suspense aparece em cada narrativa?

2. Compare as personagens dos dois contos que você leu. De que modo a descrição da personagem contribui para a caracterização dos contos de enigma e de terror?

3. Em qual dos contos o espaço tem um papel fundamental? Por quê?

Sua opinião

1. Muitos jovens gostam de contos de enigma e de terror. Em sua opinião, que elementos desses gêneros atraem esses leitores?

Ser artista

A personagem da narrativa “O retrato oval”, de Edgar Allan Poe, tinha uma relação muito forte com a Arte.

E você? Qual é o seu envolvimento com a pintura, a música, a literatura, a dança, etc.? Converse com os colegas e o professor sobre estas questões.

I. Que importância você dá à Arte e por quê?

II. Como seria o mundo sem a Arte?

Página 32

PRODUÇÃO DE TEXTO

Conto de terror

AQUecimento

Retardar uma revelação ajuda a criar suspense em uma narrativa. Leia, a seguir, um trecho de um conto muito conhecido, “O horla”, de Guy de Maupassant. A história gira em torno de um homem comum que começa a sentir-se observado dentro de casa. Um dia, ele descobre que a garrafa de água que costuma deixar em seu quarto está completamente vazia, sem que ele a tenha bebido. Aos poucos, vai descobrindo que a realidade é muito mais aterradora do que se pode imaginar.

Eu o vi finalmente.

Os senhores não me acreditarão. Vi-o, no entanto.

Eu estava sentado diante de um livro qualquer, não lendo, mas espreitando [...], espreitando aquele que eu sentia perto de mim. Certamente que ele estava ali. Mas onde? Que fazer? Como alcançá-lo?

[...]


Então, eu fingia ler para enganá-lo, pois ele me espiava também, e de repente senti, estava certo de que ele lia por cima do meu ombro [...].

Guy de Maupassant. O horla. Em: Histórias fantásticas. São Paulo: Ática, 1996. v. 2 (Coleção Para Gostar de Ler).

No conto original, entre o terceiro e o último parágrafos, o narrador descreve o cenário. Essa interrupção na apresentação do ser misterioso também aumenta o suspense.

• Crie, no caderno, um parágrafo que descreva o quarto da personagem tal como você o imagina. Sua descrição deve ser coerente com a dos outros trechos do conto e contribuir para criar suspense.



Fig. 1 (p. 32)

Fabiana Salomão/ID/BR



Proposta

Você vai escrever um conto de terror com base no texto “O retrato oval”, de Edgar Allan Poe, supondo que ele será lido por alunos de outras classes do 8º ano.

No conto de Poe que você leu na Leitura 1, um retrato confunde e aterroriza o narrador. Outro objeto muito comum nos contos de terror é o espelho. Em seu conto, crie uma narrativa em que o narrador sinta terror diante de um espelho, como o mostrado ao lado.

Fig. 2 (p. 32)

Envision/Corbis/Latinstock



Planejamento e elaboração do texto

1. Você deve criar duas histórias, como em “O retrato oval”: a história em que o narrador vê o espelho e uma história remota e aterradora, relacionada aos antigos donos desse espelho.

O narrador deve ser em primeira pessoa. Planeje os demais elementos respondendo às questões do esquema da página seguinte no caderno.



Página 33

Narrador Em primeira pessoa.

Espaço Onde o narrador verá pela primeira vez o espelho?
Onde se passará a história envolvendo os antigos donos do espelho?

Tempo Quando/em que momento do dia o narrador se assustará ao ver o espelho?
Quando se passaram os fatos mais antigos?

Personagens Há outras personagens além do narrador?
Quem viveu a história relacionada ao espelho?

ID/BR


2. Defina o enredo.

a) Que situação levará o narrador ao local onde está o espelho?

b) Que sequência de ações o levará a ver o espelho?

c) Como ele reagirá a essa visão?

d) De que forma o narrador ficará conhecendo a história vivida pelos primeiros donos do espelho? Ele lerá essa história em algum lugar? Alguém lhe contará?

e) Qual será a história assustadora? Como terminará?



3. Veja algumas possibilidades para criar suspense e atrair a atenção dos leitores para o mistério do conto.

a) Descreva um ambiente sombrio e antigo, no qual o leitor acredite que possam ocorrer fatos assustadores.

b) Estenda-se na descrição de certos detalhes: explique como eram os cheiros, os sons e as cores nesse lugar.

c) Anuncie o momento em que o narrador vê o espelho, mas não conte o fato logo em seguida, ou não o conte de uma vez só.

d) Deixe os leitores na dúvida: O narrador tinha plena consciência da realidade? Ele deixou-se levar por um instante de loucura? O narrador sofria de alguma insanidade mental?

Fig. 1 (p. 33)

Fabiana Salomão/ID/BR



4. Dê um título para o conto.

5. Se preferir, escolha uma imagem que ilustre o seu conto de terror. Imprima da internet, recorte de revistas, etc., ou desenhe uma.

Avaliação e reescrita do texto

1. Troque seu conto com o de um colega e avalie a produção dele de acordo com o quadro a seguir, que deve ser copiado e preenchido no caderno.




Sim

Não

A história tem narrador em primeira pessoa?







Há duas histórias: A história em que o narrador se sobressalta ao ver o espelho e a história vivida pelos antigos donos do espelho?







O espaço e o tempo são adequados a um conto de terror?







O suspense do conto mantém a atenção dos leitores?







ID/BR

2. Mostre ao colega sua avaliação e leia a que ele fez de seu conto. Reescreva o que for necessário e entregue o texto ao professor.

Página 34

REFLEXÃO LINGUÍSTICA

Revisão: o verbo e seus complementos

1. Leia a tira.

Fig. 1 (p. 34)

Dik Browne. O melhor de Hagar, o Horrível. Porto Alegre: L&PM, 2010. v. 1.

Dik Browne © 1982 King Features Syndicate, Inc./Ipress

Q1: VOCÊ NÃO É COMO OS OUTROS MENINOS VIKINGS.

Q2: VOCÊ É GENTIL... EDUCADO... POLIDO

Q3: MAS GOSTO DE VOCÊ ASSIM MESMO!

a) Que características os meninos vikings parecem ter geralmente?

b) Qual a função do verbo ser nos dois primeiros quadrinhos?

c) Observe o verbo gostar. Que palavras completam o sentido dele?

Os verbos têm funções diferentes nas orações. Em algumas situações, eles ligam a característica ao sujeito. Em outras, eles expressam ações e podem precisar de complemento ou não. Na tira, o verbo ser é um verbo de ligação, e o verbo gostar, transitivo.



2. Releia este trecho do texto “O retrato oval”.

Por muito – muito tempo eu li – e concentrado, absorto, eu contemplava. As horas passaram céleres e agradáveis até que a meia-noite escura se instaurou. A posição do candelabro aborrecia-me e, preferindo fazer um esforço a importunar meu criado, que dormia, estiquei o braço e ajustei-o de modo a obter mais luz sobre o livro.

a) Identifique entre os verbos destacados aqueles que são intransitivos.

b) Aponte entre os verbos destacados os que são transitivos e classifique-os em transitivo direto e transitivo indireto, indicando seus objetos.

Os verbos importunar e esticar são transitivos, pois precisam de complemento para integrar-lhes o sentido. A expressão meu criado completa o sentido do verbo importunar, sem auxílio de preposição. O termo me completa o sentido do verbo aborrecer, com auxílio da preposição implícita a (equivale a dizer a mim).

O verbo passar é um verbo de ligação que une o sujeito As horas com o complemento céleres e agradáveis (“As horas passaram céleres e agradáveis”).



ANOTE

Os verbos transitivos necessitam de complemento para completar-lhe o sentido. Os complementos podem ser ligados diretamente ao verbo (objeto direto) ou por meio de uma preposição (objeto indireto).

Os verbos intransitivos têm sentido completo e não precisam de complemento verbal.

O verbo de ligação tem como função ligar um atributo (característica, estado, qualidade) ao sujeito. A palavra ou expressão que revela esse atributo recebe o nome de predicativo do sujeito.



Relacionando

Em textos literários, para evitar a repetição de objetos diretos e indiretos, usam-se frequentemente pronomes pessoais do caso oblíquo. Releia este exemplo extraído do conto “O retrato oval”: “Mas, enquanto as pálpebras permaneciam-me fechadas, vasculhei meus pensamentos em busca do motivo para fechá-las”.



Página 35

REFLEXÃO LINGUÍSTICA Na prática



Responda sempre no caderno.

1. Leia esta tira.

Fig. 1 (p. 35)

Fernando Gonsales/Acervo do artista

Fernando Gonsales. Níquel Náusea: vá pentear macacos! São Paulo: Devir, 2004. p. 42.

Q1: MEU VIDEO GAME QUEBROU!


O QUE EU FAÇO AGORA?

Q2: POR QUE VOCÊ NÃO BRINCA COM O SEU CACHORRO?


BOA!

Q3: NEM PENSAR‼ VOCÊ QUEBROU O SEU, VAI QUEBRAR O MEU!


EGOÍSTA!

a) A mãe sugeriu que o garoto fosse brincar com o cachorro. O que o leitor pode supor que o menino fará?

b) O último quadrinho surpreende o leitor. Por que isso ocorre?

c) Retire do primeiro quadrinho uma oração que tenha um verbo com sentido completo. Classifique-o sintaticamente.

d) Como se classifica sintaticamente o verbo brincar no segundo quadrinho da tira? Explique por que é assim classificado.

e) Quais são as formas verbais presentes na fala do cachorro?

f) Classifique esses verbos quanto à transitividade.

g) Observe o verbo quebrar no primeiro e no último quadrinhos. Por que o mesmo verbo tem classificações sintáticas diferentes?



2. Leia este fragmento.

[...]


O meu amigo mora, quer dizer, morava no apartamento aqui em cima. Eu ia lá jogar gamão com ele, a gente conversava, e ele tinha um relógio de parede que batia hora e meia-hora também. O meu pai e a minha mãe reclamavam “ô, mas que coisa mais enjoada essa bateção!” e a minha irmã me perguntava “será que o teu amigo nunca vai se esquecer de dar corda no relógio não?”

Mas cada um é de um jeito, não é? e eu gostava demais de ouvir o relógio batendo. De noite ainda mais. [...]

Pra mim, ouvir o relógio batendo era que nem ouvir o meu amigo andando. [...]

Lygia Bojunga. O meu amigo pintor. 22. ed. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2004.



Acervo PNBE

Fig. 2 (p. 35)

Marcos Guilherme/ID/BR

3
6
9
12

a) Retire trechos do texto que exemplifiquem a linguagem informal.

b) Identifique o verbo do primeiro período do trecho e classifique-o.

c) Quais são os complementos verbais do verbo jogar? Classifique-os.

d) Como é classificado o verbo conversar nesse fragmento?

e) Retire do trecho uma oração que contenha um verbo transitivo direto e outra com um verbo transitivo indireto.



Página 36

3. Leia a tira.

Fig. 1 (p. 36)

Hagar, o Horrível, de Chris Browne.

Chris Browne © 2006 by King Features Syndicate, Inc./Intercontinental Press

DEIXE-ME ENTRAR HELGA! BÁRBAROS ESTÃO ME PERSEGUINDO E ELES JÁ ESTÃO QUASE AQUI‼!
VOCÊ VAI TER QUE ESPERAR! A CASA TÁ UMA BAGUNÇA!

a) Que informações aparecem no quadrinho que indicam a chegada dos bárbaros?

b) Quais verbos ou locuções verbais fazem referência aos bárbaros?

c) O verbo estar, na fala de Hagar, pode ser classificado como de ligação, transitivo ou intransitivo? Por quê?

d) Crie uma frase sobre a tira em que o verbo estar exerce a função de verbo de ligação.

e) Que termo foi usado por Helga para caracterizar a casa dela?

f) Como esse termo pode ser classificado sintaticamente?

4. Leia uma notícia que faz parte de um conto de Edgar Allan Poe chamado “Os crimes da rua Morgue”.

[...]


Muitas pessoas têm sido interrogadas com relação a este caso extraordinário e terrível, mas nada transpirou até agora para lançar alguma luz sobre ele. Publicamos abaixo o material fornecido pelas testemunhas:

[...]


Pierre Moreau, vendedor de fumo, depôs que costumava vender pequenas quantidades de fumo e de rapé a Madame L’Espanaye, havia quase quatro anos. Nasceu na vizinhança e sempre morou ali. A vítima e sua filha moravam na casa onde seus cadáveres foram achados havia mais de seis anos. Antes o lugar era ocupado por um joalheiro, que sublocava os cômodos superiores a várias pessoas. A casa era propriedade de Madame L’Espanaye. Ela ficara insatisfeita com as ações do seu inquilino e daí mudou-se para lá, recusando-se a alugar qualquer parte. A velha senhora era caduca. A testemunha viu a filha umas cinco ou seis vezes durante esses seis anos. As duas viviam uma vida bastante retirada – tinham reputação de estar bem financeiramente.

[...]


Edgar Allan Poe. Os crimes da Rua Morgue. Em: Histórias de crime e mistério. 2. ed. São Paulo: Ática, 2002. p. 20-21.

Fig. 2 (p. 36)

Marcos Guilherme/ID/BR

CRIMES NA RUA MORGUE

a) Que termos utilizados no texto acima remetem ao universo do conto de enigma? Identifique-os e registre-os no caderno.

b) Identifique e classifique o sujeito dos verbos destacados no texto.

c) Classifique os verbos destacados quanto à predicação.

d) Encontre no trecho um predicativo do sujeito.

Página 37

LÍNGUA VIVA

Responda sempre no caderno.

A transitividade verbal e a precisão da informação

1. Leia o texto abaixo, de autoria de Millôr Fernandes.

A vaguidão específica

– Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.

– Junto com as outras?

– Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.

– Sim senhora. Olha, o homem está aí.

– Aquele de quando choveu?

– Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.

– Que é que você disse a ele?

– Eu disse pra ele continuar.

– Ele já começou?

– Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.

– É bom?


– Mais ou menos. O outro parece mais capaz.

– Você trouxe tudo pra cima?

– Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar até a véspera.

– Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor, senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite.

– Está bem, vou ver como.

Millôr Fernandes. Trinta anos de mim mesmo. Rio de Janeiro: Desiderata, 2006.



Fig. 1 (p. 37)

Marcos Guilherme/ID/BR

a) Quem, provavelmente, são as pessoas que estão conversando?

b) Sobre o que elas parecem falar?

c) Apesar de o diálogo não ser preciso, há uma comunicação entre elas. Por que isso ocorre?

2. Releia o primeiro parágrafo do texto.

– Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.

Na frase, o verbo pôr está acompanhado por complementos. Por que, então, o enunciado soa tão esvaziado de sentido?

3. Nos outros parágrafos, também há palavras que contribuem para a imprecisão da informação. Copie duas delas e justifique sua escolha.

4. O texto que você leu simula uma conversa informal. Que relação se pode fazer entre a falta de precisão do texto e o fato de ele imitar a fala?

5. O título “A vaguidão específica” é adequado ao texto? Justifique.

ANOTE

Na oralidade, os complementos verbais podem ser selecionados com bastante liberdade, uma vez que sua compreensão é facilitada pelo contexto de interação. Na escrita, a seleção semântica adequada dos objetos direto e indireto é importante para a precisão da informação.



Página 38

QUESTÕES DA ESCRITA

Responda sempre no caderno.

Vírgula entre os termos da oração

1. Leia a tira.

Fig. 1 (p. 38)

Jim Davis © 1978 Paws, Inc. All Rights Reserved/Dist. by Atlantic Syndication/Universal Press Syndicate

Jim Davis. Garfield em grande forma. Porto Alegre: L&PM, 2006. p. 55.

Q1: OS GATOS SÃO MAIS MEIGOS!


MAS UM CÃO É MELHOR PARA NOS PROTEGER.

Q2:


Q3: DETESTO VER UM HOMEM CHORANDO.

a) Por que o amigo de Jon está chorando?

b) Observe as frases da tira. Quais foram as pontuações utilizadas?

c) A vírgula pode ser usada nessas frases? Por quê?

Não se usa vírgula entre o sujeito e o predicado, mesmo quando o sujeito é longo ou está depois do verbo. Isso também acontece entre o verbo de ligação e o predicativo do sujeito e os verbos transitivos e seus complementos.

ANOTE

Não se emprega a vírgula entre os termos essenciais da oração: sujeito + predicado. Também não se emprega a vírgula entre o verbo e seus complementos.

Veja agora situações em que o uso da vírgula é obrigatório.



Berna, 21 de abril de 1946.
Helena, Fernando, Paulo, Oto,
Berna,
nome de lugar
21 de abril de 1946.
data
Helena, Fernando, Paulo, Oto, vocativos

esta carta em conjunto parece discurso – é que eu desejaria contar a cada um de vocês um pouco da viagem e acabaria no artifício de não repetir fatos ou palavras... [...]

Clarice

Fernando Sabino; Clarice Lispector. Cartas perto do coração. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 2011.



Ao colocar a cidade e a data na carta, a autora fez uso da vírgula. Portanto, emprega-se vírgula para isolar nomes de lugar, quando antepostos à data.

Observe também que todos os destinatários da carta, chamados de vocativos, foram separados por vírgula. Logo, emprega-se vírgula para isolar o vocativo do restante da frase.

Leia a frase.

O meu tio trabalha, quer dizer, trabalhava na rua de trás.


quer dizer expressão explicativa

Expressões explicativas, como quer dizer, por exemplo, isto é, ou seja, ou melhor, etc., devem vir sempre isoladas por vírgula.



Página 39

Observe outro exemplo de uso da vírgula.



O advogado, o réu, o promotor, os jurados e o público levantaram-se diante do juiz.
O advogado, o réu, o promotor, os jurados e o público sujeito composto

Na oração acima, o sujeito composto apresenta cinco núcleos. Para separar esses elementos que têm a mesma função sintática na oração, empregamos a vírgula.



ANOTE

Emprega-se a vírgula para separar nomes de lugar, quando vêm antepostos a datas; para separar palavras que têm a mesma função sintática na oração; para isolar expressões explicativas.



2. Nos trechos abaixo, foram retiradas, propositadamente, algumas vírgulas. Transcreva-os e coloque a vírgula, se necessário. Justifique o uso.

a) Era uma vez uma família de ursos: o Pai Urso a Mãe Urso e o Pequeno Urso. Os três viviam no meio da floresta, em uma bela casinha.

b) Manaus 7 de abril de 2008.

Entreletras

Desvendando o mistério

1. Leia a notícia a seguir.

Recuperadas: as pinturas O Grito e Madonna, as mais famosas do expressionista norueguês Edvard Munch. As obras foram roubadas em 2004 do Museu Munch, em Oslo. Juntas, valem 100 milhões de dólares.

A polícia norueguesa não revelou como as localizou. [...]

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