. Acesso em: 7 mar. 2016. (Fragmento).
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A crítica bem-humorada de Gregório Duvivier
Álvaro, me adiciona
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.” Espanta que Álvaro de Campos tenha dito isso antes do advento das redes sociais. O heterônimo parece estar falando da minha timeline: “Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?”.
Todo post é autoelogioso. Não se deixe enganar. Talvez você pense o contrário: meu Facebook só tem gente reclamando da vida. Olhe de novo. Por trás de cada reclamação, de cada protesto, de cada autocrítica, perceba, camufladinha, a vontade de parecer melhor que o resto do mundo.
“Humblebrag” é uma palavra que faz falta em português. Composta pela junção das palavras humble (humilde) e brag (gabar-se), seria algo como a gabação modesta. Em vez de simplesmente gabar-se: “Ganhei um prêmio de melhor ator no Festival de Gramado”, você diz: “O Festival de Gramado está muito decadente. Para vocês terem uma ideia, me deram um prêmio de melhor ator”. Ou então: “Pessoal, moro num apartamento mínimo! Por favor, parem de me dar prêmios, não tenho mais onde guardá-los. Grato”.
O “humblebragging” pode tomar muitas formas. “Tenho um defeito terrível. Sou perfeccionista.” Ou então: “Tenho uma falha imperdoável. Sou sincero demais”. Quero ver alguém falar a verdade: “Tenho um defeito: só penso em mim mesmo, o que faz com que eu seja pouquíssimo confiável — além de ter uma higiene deplorável”.
Não menos sutil é o elogio-bumerangue. Você começa falando bem de alguém. Ali, no meio do elogio alheio, você encaixa uma menção a si mesmo, disfarçadinha. “O Rafa é muito humano, parceiro, sincero. Se não fosse ele, eu nunca teria chegado onde cheguei, e criado o maior canal do YouTube brasileiro. Obrigado, Rafa. Obrigado.”
O elogio-bumerangue tem uma subdivisão especialmente macabra: o elogio bumerangue-post-mortem, no qual você aproveita os holofotes gerados pela morte de alguém para chamar atenção para si (às vezes até atribuindo palavras ao defunto). “O Zé era um gênio. Ainda por cima muito generoso. Foi a primeira pessoa a perceber o meu talento como ator. Um dia me disse: Gregório, você é o melhor ator da sua geração. Obrigado, Zé. Obrigado.”
Atenção: se todo post é vaidoso, toda coluna também. Percebam o uso de palavras em inglês, a citação a Fernando Pessoa. Tudo o que eu mais quero é que vocês me achem o máximo. “Então sou só eu que sou vil e errôneo nessa terra?” Não, Álvaro. Me adiciona.
DUVIVIER, Gregório. Álvaro, me adiciona. Folha de S.Paulo, 4 maio 2015. Disponível em: . Acesso em: 7 mar. 2016.
A atividade desta seção propõe uma reflexão acerca da subjetividade característica das crônicas. Os alunos devem ler os dois textos transcritos e identificar neles semelhanças (por exemplo, a pessoalidade na linguagem, muito clara nos dois textos, que apresentam marcas de primeira pessoa; e o fato de ambos caracterizarem comportamentos das pessoas no mundo virtual, permitindo uma reflexão a esse respeito) e diferenças (os dois textos, embora discutam comportamentos relacionados ao mundo virtual, enfocam aspectos distintos dessa questão: Ruy Castro trata, em sua crônica, do que ele denomina comportamento “antissocial” de muitos internautas; Gregorio Duvivier reflete, de forma bem-humorada, sobre o autoelogio nas postagens das redes sociais). Acima de tudo, é preciso que os alunos percebam que, nos textos, alguns elementos se destacam: o olhar subjetivo e pessoal para os assuntos tematizados e o uso expressivo da linguagem ao apresentá-los ao leitor, deixando claro que os dois textos são crônicas. O importante desta atividade é justamente mostrar que, por se tratar de um gênero tão flexível, a crônica, na atualidade, povoa, além das páginas de jornais e revistas de grande circulação, também blogs e sites e tem revelado autores que construíram estilos próprios na análise da realidade e dos fatos cotidianos, como é o caso de Ruy Castro e Gregorio Duvivier (conhecido, antes, como ator e roteirista), dentre outros. É fundamental mostrar aos alunos, durante a condução da atividade, as estratégias usadas por cada autor para dar pessoalidade aos textos que escrevem. São essas marcas de subjetividade que diferenciam a simples narração dos fatos, como ocorre em uma notícia, por exemplo, da confecção de um texto que tende mais ao literário, como é o caso da crônica.
Pare e pense
Releia os textos desta seção e compare-os. O que há em comum entre eles? Quais são suas diferenças? Em seguida, reúna-se com seus colegas e discutam os elementos presentes nos textos que permitem considerá-los crônicas. As conclusões a que chegarem devem ser expostas oralmente para a sala.
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Capítulo 8 - Tendências contemporâneas. O teatro no século XX
POLLOCK, J. Número 22. 1949. Óleo sobre tela, 68 × 55 cm. O surgimento de novas tendências exige novas técnicas. Neste quadro, o artista empregou a action painting.
© THE POLLOCK-KRASNER FOUNDATION/AUTVIS, BRASIL, 2016. CHRISTIE’S IMAGES/CORBIS/LATINSTOCK – MUSEU DE ARTE, FILADÉLFIA
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Sugerimos que todas as questões sejam respondidas oralmente para que os alunos possam trocar impressões e ideias.
Leitura da imagem
1. Observe atentamente a reprodução do quadro de Jackson Pollock (1912-1956). Que impressão a obra provoca em você?
> Analise a disposição das cores. De que maneira elas estão distribuídas e qual o efeito produzido por essa distribuição?
2. Leia o comentário de Pollock a respeito de seu próprio trabalho. Lembre-se de que o termo “pós-moderno” surgiu depois de sua época e que, por isso, ele classifica a si mesmo de “moderno”.
Necessidades novas exigem técnicas novas. E os artistas modernos encontraram novas maneiras e novos caminhos para manifestar-se... o artista moderno não pode expressar esta época, o avião, a bomba atômica, o rádio, com as técnicas do Renascimento ou de outra cultura qualquer do passado.
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