Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim


A família como instituição social



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A família como instituição social

Em diferentes ritmos e momentos, as transformações que ocorrem nas áreas

política, econômica, social, cultural influenciam o nosso cotidiano. Por isso as

Ciências Sociais estudam esses acontecimentos de forma integrada. Assim, ao

analisar as mudanças econômicas, por exemplo, os cientistas sociais também

investigam o contexto social em que elas ocorreram, bem como suas razões e

implicações.



As   mudanças   na   família   -   seu   tamanho,   seus   valores   e   os   papéis   sociais

desempenhados   pelas   pessoas   que   a   compõem   -   nos   remetem   a   outros

aspectos da sociedade, como os novos hábitos e estilos de vida, a acelerada

urbanização, as adequações no mercado de trabalho, a melhoria dos níveis de

escolarização,   novos   valores   e   culturas,   a   massificação   dos   meios   de

comunicação,   entre   outros.   Levando   em   conta   esses   aspectos,   podemos

analisar a família de maneira ampla e dinâmica, compreendendo-a a partir de

suas constantes transformações.

Normalmente,   uma   prática   social   repetida   e   aceita   por   indivíduos   e   grupos

tende   a   se   tornar   um   padrão   de   comportamento,   ao   menos   durante   certo

período. Assim acontece com os grupos familiares em diversas culturas. Ainda

que   a   família   esteja   em   contínuo   processo   de   mudanças,   ela   não   é   uma

organização  simples  nem  tende   a  desaparecer  facilmente.   Nas   palavras   do

sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002):

[...] a família é produto de um verdadeiro trabalho de instituição, ritual e técnico

ao mesmo tempo que visa instituir de maneira duradoura, em cada um dos

membros   da   unidade   instituída,   sentimentos   adequados   a   assegurar   a

integração que é a condição de existência e de persistência dessa unidade. Os

ritos de instituição (palavra que vem de  stare, 'manter-se, ser estável') visam

constituir   a   família   como   entidade   unida,   integrada,   unitária,   logo,   estável,

constante,  indiferente  às  flutuações dos sentimentos individuais.  Esses  atos

inaugurais   de   criação   (imposição   do   nome   de   família,   casamento,   etc.)

encontram seu prolongamento lógico nos inumeráveis atos de reafirmação e de

reforço   que   visam   produzir,   por   uma   espécie   de   criação   continuada,   as

afeições   obrigatórias   e   as   obrigações   afetivas   do   sentimento   familiar   (amor

conjugal, amor paterno e materno, amor filial, amor fraterno, etc.).

BOURDIEU,   Pierre.   O   espírito   de   família.   In:   BOURDIEU,   Pierre.  Razões



práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996. p. 126.

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O que Bourdieu quer dizer é que a família se torna uma instituição quando suas

regras   são   cotidianamente   colocadas   em   prática   por   muitas   pessoas.   As

normas sociais da família asseguram sua existência e continuidade. Um bom




exemplo é a ideia - hoje questionada - de que para existir uma família é preciso

ter filhos. Ao colocar essa regra social em prática (ou seja, ter filhos), ela fica

assegurada e reforça a existência de um modelo de família com filhos.

As instituições sociais são maneiras duradouras e legitimadas de fazer, sentir

e   pensar,   estabelecidas   para   atender   às   necessidades   e   aos   objetivos   das

pessoas   organizadas   em   sociedade,   exercendo   uma   espécie   de   controle

social,   segundo   o   sociólogo   francês   Émile   Durkheim   (1858-1917).   As

instituições são responsáveis pela preservação e transmissão dos valores, das

tradições e da cultura. Essa é a perspectiva da integração social.

Para Durkheim, o ser humano é, em grande parte, fruto do meio social em que

vive,   e   o   convívio   familiar   tem   papel   fundamental   na   sua   formação,

socializando-o. Desse modo, a sociedade é uma realidade externa e anterior

ao   indivíduo,   pois   quando   este   nasce   aquela   já   está   constituída   com   seus

costumes, conhecimentos e outros bens culturais.

LEGENDA:   Estudantes   comemoram   com   familiares   a   aprovação   no   exame

vestibular da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém (PA), em 2012.

FONTE: Antonio Cicero/Fotoarena

Essa forma de pensar atribui à família e a outras instituições, como a escola e

a   religião,   o   papel   de   promover   a   socialização   do   indivíduo   e   de   fornecer

instrumentos para seu aprendizado cultural. O processo de  socialização  é a

transmissão da cultura ao longo do tempo e das gerações com a finalidade de

inserir e ajustar o indivíduo à sociedade. Há a socialização primária, que ocorre

na   infância   e   fornece   condições   fundamentais   para   a   vida   social,   e   a

socialização secundária, um processo contínuo de novas aprendizagens para

conviver.

A família desenvolve estratégias para que variadas questões, como as relativas

a matrimônio, herança, economia e educação, se reproduzam de uma geração

para   outra.   Desse   modo,   ela   tem   um   caráter   conservador,   pois   nos   leva   a

preservar   e   a   reverenciar   as   tradições.   Entretanto,   também   nos   ensina   a

enfrentar os desafios da vida social: conflitos, diferenças, avanços, mudanças,

desigualdades.

LEGENDA: Tirinha do cartunista Quino, de 2014.




FONTE: Joaquín Salvador Lavado (Quino)/Acervo do cartunista

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A   família   conjugal   concebida   por   Durkheim   (o   marido,   a   mulher,   os   filhos

menores e celibatários, cada um dos membros com sua individualidade) é uma

esfera própria de ação. O que surge como novo e distintivo na família moderna,

já observado pelo sociólogo no início do século XX, é a intervenção crescente

do Estado na esfera privada da família.

Na   teoria   durkheimiana,   um   grupo   de   parentesco   não   é   definido   pela

consanguinidade;   é   preciso   que   haja   direitos   e   deveres,   sancionados   pela

sociedade,   que   unam   seus   membros.   É   o   caso   do  clã,   uma   sociedade

doméstica constituída de pessoas que se julgam de uma mesma origem. Os

que integram o clã são parentes não porque sejam irmãos, pais, primos uns

dos   outros,   mas   pelo   nome   de   tal   animal   ou   tal   planta   que   trazem   como

emblema coletivo.

As características desse  grupo de parentesco também estão presentes nas

sociedades modernas e os principais direitos e obrigações são: o dever de

vingar   as   ofensas   feitas   a   um   parente;   o   direito   de   cada   parente   sobre   o

patrimônio familiar; o direito de ter um nome; o direito de participar de certo

culto. Em muitas sociedades aborígenes da Austrália, por exemplo, o grupo

totêmico   era   importante,   e   a   criança   pertencia   ao   clã   materno,   observou

Durkheim em 1896, no L'Année Sociologique.

Já   na   análise   de   Bourdieu,   a   família   aparece   para   os   indivíduos   como   um

universo   social   separado,   portador   de   um   espírito   coletivo   que   demarca

fronteiras com o que está fora, de modo a idealizar e preservar as relações em

seu   interior.   A   ela   associam-se   a   noção   de   residência,   do   lar   como   lugar

estável, e o caráter de permanência do grupo doméstico - também conhecido

como   grupo   familiar,   que   reúne   seus   membros   por   laços   de   sangue   ou

afinidades e valores sociais comuns, ainda que não habitem sob o mesmo teto.

FONTE: Orlando Pedroso/Arquivo da editora

[...] a família é o lugar da confiança e da doação - por oposição ao mercado e à


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