Ampliando o conhecimento
Terremotos: sem hora marcada
Poucas catástrofes naturais são tão devastadoras quanto os terremotos. Mas o que mata não é o tremor do chão, e sim as coisas que o homem constrói em cima dele.
Você pensa que está pisando em terra firme? Provavelmente, nunca passou por um terremoto. É assustadora a sensação de que o chão onde seus pés se apoiam se voltou, de repente, contra você. Charles Darwin (1809-1882), o famoso biólogo inglês, foi pego por um tremor violentíssimo durante suas pesquisas no Chile, em 1835. "Um terremoto destrói, em apenas um segundo, a mais arraigada de nossas convicções, a de que caminhamos sobre terreno sólido", comentou Darwin. "Isso gera um sentimento de insegurança que só pode ser entendido plenamente por quem passou por essa experiência."
O terremoto acontece, quase sempre, sem aviso prévio. Primeiro, surge um barulho abafado, como o de um trem se movimentando debaixo da terra. Depois, o chão começa a sacudir. Na maioria das vezes, a turbulência dura poucos segundos e causa, no máximo, um susto. A tragédia ocorre quando o tremor é prolongado ou intenso. O mundo vem abaixo, literalmente. Prédios, pontes e viadutos desmoronam. O solo se racha e, em alguns casos, passa para o estado líquido, afundando tudo o que existe em cima dele. [...]
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Da ira divina ao movimento das placas
A Terra chacoalha muito mais do que a maioria das pessoas imagina. Todo ano, acontecem 50 mil terremotos, dos quais uns 100 são fortes a ponto de provocar danos em áreas povoadas. Os abalos que arrasam cidades inteiras, como este que você vê na foto abaixo, ocorrem com uma frequência de um por ano, em média.
Os gregos antigos atribuíam os terremotos à fúria dos deuses. Já os chineses acreditavam que o mundo repousava sobre o lombo de um boi - de vez em quando, o animal trocava seu ponto de apoio de uma pata para a outra, fazendo a terra balançar. Na tradição japonesa, quem sustentava o peso do planeta era um peixe gigantesco, mergulhado na lama das profundezas e vigiado de perto por um deus, Kashima, que o mantinha quieto. Quando Tóquio foi destruída por um terremoto, em 1855, não foi difícil entender a causa da tragédia. Kashima tinha saído de viagem, em peregrinação a um templo distante. O peixe aproveitou para cometer uma de suas travessuras.
O primeiro a explicar os terremotos sem recorrer a deuses ou bichos mitológicos foi o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.). O subsolo estaria repleto de "vapores" que, ao emergir para a superfície, sacodem o chão. A teoria de Aristóteles é furada, mas valeu pelo esforço de objetividade. Hoje se sabe que os terremotos são causados pelo movimento das gigantescas placas que formam a superfície terrestre, as placas tectônicas.
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Um país que convive com a tragédia
Um em cada 10 terremotos acontece no Japão. É que o país está localizado à beira de uma fossa submarina, com 6 quilômetros de profundidade. Lá, a Placa do Pacífico afunda para o interior do planeta, empurrada para baixo pela Placa da Ásia. O atrito entre as duas placas faz o chão tremer.
Escaldados pelo cataclismo que destruiu Tóquio e Yokohama em 1923, os japoneses se tornaram mestres na prevenção de terremotos. O país possui 120 estações sismológicas, atentas às mínimas vibrações do solo. Do transporte ferroviário às redes elétricas, tudo é projetado de modo a aumentar a segurança em caso de tremores de terra. Mas a perfeição é impossível.
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A aposta na prevenção
Uma vez por ano, em 1º de setembro, os japoneses suspendem o trabalho, mas não descansam. É o Dia da Prevenção, quando a população participa de exercícios que ensinam os procedimentos mais seguros em caso de terremoto. Nos edifícios, os moradores praticam as instruções de evacuação rápida. Nas escolas, os alunos são orientados a vestir capuzes e a se proteger embaixo das mesas quando não há tempo de deixar o prédio. Bombeiros percorrem as aldeias com os "caminhões-terremoto". Na carroceria, um mecanismo especial simula abalos de 7 graus na Escala Richter.
[...] Nas cidades de maior risco sísmico, os prédios são especialmente projetados para suportar os piores terremotos.
A ligação entre as partes é bem mais firme do que nos prédios normais e a estrutura é toda de aço, que num abalo forte curva mas não quebra, como o concreto.
FUSER, Igor. Terremotos: sem hora marcada. Superinteressante, fev. 1998. Disponível em: http://super.abril.com.br/comportamento/terremotos-sem-hora-marcada. Acesso em: 6 out. 2015.
LEGENDA: Moradores observam estragos provocados por tsunami e terremoto na cidade de Coquimbo, no Chile. Foto de 2015.
FONTE: Pablo Rojas Madariaga/NurPhoto/Corbis/Latinstock
Fim do complemento.
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