Art Geografia



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Art Geografia (1)

2. DESENVOLVIMENTO

O extenso histórico que culminou na prolongada Guerra do Afeganistão tem base,

majoritariamente, nos atritos políticos e ideológicos entre os Estados Unidos e os

fundamentalistas islâmicos. Estes últimos apresentaram protagonismo acentuado no

conflito, já que seguiam uma corrente religiosa cujos preceitos acabaram se

expandindo, através de uma imprensa ufanista, por exemplo, para uma rígida

intolerância e para ações violentas de cunho extremamente sectário.



Nesse contexto, a interferência americana se apresenta diante da conjuntura

mundial bilateral observada principalmente durante a Guerra Fria. O Afeganistão, na

época um país com um governo comunista, possuía escancarado apoio do governo

soviético, de modo que os EUA viram nele uma oportunidade de afetar indiretamente o

ideário oponente ao projeto de expansão capitalista americano, personificado na

própria URSS. Deste modo, as dissidências contemporâneas originaram-se em

território afegão, ainda no século XX, através de financiamentos por parte do governo

estadunidense. As guerrilhas anticomunistas, conhecidas inicialmente como os



mujahidin, não demoraram a converter tal refrega ideológica em uma Guerra Santa

contra os soviéticos, principalmente devido à ascensão de lideranças extremistas,

dentre as quais se destacaram Abdullah Azzam e Osama Bin Laden.

Sob esse viés, a fundação de grupos como a Al-Qaeda fomentou não apenas a

eliminação do domínio comunista, como também a de uma camada considerada

decadente religiosamente, de maneira que tais organizações buscaram expandir sua

influência para além das fronteiras do Afeganistão, dispondo-se como mediadoras dos

conflitos do Oriente Médio, principalmente a então turbulenta relação Iraque-Arábia

Saudita. Esta última, por ser considerada um território sagrado para o Islã,

desencadeou uma profunda inimizade quando seu governo preteriu a proteção bélica

oferecida pela Al-Qaeda, optando pela adesão de tropas americanas ao território.

O domínio de Bin Laden sobre a estrutura política e ideológica então vigente no

Afeganistão fomentou a incorporação de uma visão de sacrilégio diante da tomada de

territórios sagrados por estrangeiros. Assim, as demais interferências do governo dos

EUA na região, dentre as quais se podem citar o apoio americano ao Estado de Israel,

e a sua grande influência na mediação do conflito entre israelitas e palestinos,

potencializaram a sua inimizade com essas novas dissidências extremistas.

Indubitavelmente, o maior clímax de tamanha contenda ideológica foram os

atentados às Torres Gêmeas, na cidade de Nova York em 11 de setembro de 2001,

cuja autoria foi dada ao saudita Osama bin Laden, um dos fundadores do grupo

extremista Al-Qaeda, que, por sua vez, se pôs declaradamente em um movimento de

rejeição à influência cultural do ocidente, tendo como contraponto a isso uma

interpretação radical do islamismo. Inicialmente a retaliação ao ataque consistiu na

solicitação americana ao regime do Talibã para que os responsáveis fossem entregues




e as suas bases de controle fossem destruídas. A negação de tais condições implicou

na invasão massiva das tropas estadunidenses numa ferrenha caçada aos membros

da Al-Qaeda, dentre eles o próprio Osama bin Laden. Além disso, a campanha da

intitulada “Guerra ao Terror” teve como declarado fim impedir a ascensão de novas

organizações terroristas, de forma que, ainda que sem o aval da ONU, a mobilização

alcançou profundos impactos em toda a região, iniciando com o progressivo

desmembramento das sedições fundamentalistas e a instituição de um governo

interino. Entretanto, o enfraquecimento de uma efetiva articulação terrorista no

Afeganistão surtiu efeitos bilaterais, de modo que o conflito alcançava cada vez mais

uma impopularidade interna nos Estados Unidos, principalmente diante dos

exorbitantes gastos na manutenção de um “Estado estável” (que, mesmo diante de

grandes investimentos bélicos por parte dos americanos, não foi capaz de superar os

demais problemas locais, como a alta taxa de analfabetismo e a ausência de serviços

básicos) e das mortes de cidadãos residentes e soldados norte-americanos ao longo

do processo. A crescente instabilidade da vertente progressista serviu como pretexto

de confirmação, para os diversos ramos do Talibã, da deturpação do islamismo

pregado nas demais áreas da região e da sua clara abertura ao ocidente. Tais

contribuições para o declínio da campanha anti-terror resultaram, por um longo

período, na volátil promessa de retirada das tropas americanas do Afeganistão, e, por

fim, na sua atual concretização, mediante a uma série de exigências, que, em síntese,

visavam um acordo com o regime do Talibã para a continuação do processo de minar a

atuação da Al-Qaeda e dos demais grupos dissidentes.

A retirada das tropas americanas no pico mais recente do conflito não contava,

entretanto, com a rápida reexpansão militar fundamentalista no território. Nesta

ocasião, a vigência dos Direitos Humanos diante da comunidade internacional retornou

ao ápice de sua instabilidade, uma vez que, com o retorno integral do regime do Talibã,

os primeiros ataques recaíram sobre as minorias étnicas e religiosas, com um ressalto

para as mulheres, além, claro, das pessoas que passaram os últimos anos cooperando

com as forças estrangeiras que ocuparam o país a fim de se cumprir o projeto

democrático que, diante das recentes reviravoltas, encontra-se novamente em estado

de utopia.


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