majoritariamente, nos atritos políticos e ideológicos entre os Estados Unidos e os
Nesse contexto, a interferência americana se apresenta diante da conjuntura
mundial bilateral observada principalmente durante a Guerra Fria. O Afeganistão, na
época um país com um governo comunista, possuía escancarado apoio do governo
soviético, de modo que os EUA viram nele uma oportunidade de afetar indiretamente o
ideário oponente ao projeto de expansão capitalista americano, personificado na
própria URSS. Deste modo, as dissidências contemporâneas originaram-se em
território afegão, ainda no século XX, através de financiamentos por parte do governo
estadunidense. As guerrilhas anticomunistas, conhecidas inicialmente como os
mujahidin, não demoraram a converter tal refrega ideológica em uma Guerra Santa
contra os soviéticos, principalmente devido à ascensão de lideranças extremistas,
dentre as quais se destacaram Abdullah Azzam e Osama Bin Laden.
Sob esse viés, a fundação de grupos como a Al-Qaeda fomentou não apenas a
eliminação do domínio comunista, como também a de uma camada considerada
decadente religiosamente, de maneira que tais organizações buscaram expandir sua
influência para além das fronteiras do Afeganistão, dispondo-se como mediadoras dos
conflitos do Oriente Médio, principalmente a então turbulenta relação Iraque-Arábia
Saudita. Esta última, por ser considerada um território sagrado para o Islã,
desencadeou uma profunda inimizade quando seu governo preteriu a proteção bélica
oferecida pela Al-Qaeda, optando pela adesão de tropas americanas ao território.
O domínio de Bin Laden sobre a estrutura política e ideológica então vigente no
Afeganistão fomentou a incorporação de uma visão de sacrilégio diante da tomada de
territórios sagrados por estrangeiros. Assim, as demais interferências do governo dos
EUA na região, dentre as quais se podem citar o apoio americano ao Estado de Israel,
e a sua grande influência na mediação do conflito entre israelitas e palestinos,
potencializaram a sua inimizade com essas novas dissidências extremistas.
Indubitavelmente, o maior clímax de tamanha contenda ideológica foram os
atentados às Torres Gêmeas, na cidade de Nova York em 11 de setembro de 2001,
cuja autoria foi dada ao saudita Osama bin Laden, um dos fundadores do grupo
extremista Al-Qaeda, que, por sua vez, se pôs declaradamente em um movimento de
rejeição à influência cultural do ocidente, tendo como contraponto a isso uma
interpretação radical do islamismo. Inicialmente a retaliação ao ataque consistiu na
solicitação americana ao regime do Talibã para que os responsáveis fossem entregues
e as suas bases de controle fossem destruídas. A negação de tais condições implicou
na invasão massiva das tropas estadunidenses numa ferrenha caçada aos membros
da Al-Qaeda, dentre eles o próprio Osama bin Laden. Além disso, a campanha da
intitulada “Guerra ao Terror” teve como declarado fim impedir a ascensão de novas
organizações terroristas, de forma que, ainda que sem o aval da ONU, a mobilização
alcançou profundos impactos em toda a região, iniciando com o progressivo
desmembramento das sedições fundamentalistas e a instituição de um governo
interino. Entretanto, o enfraquecimento de uma efetiva articulação terrorista no
Afeganistão surtiu efeitos bilaterais, de modo que o conflito alcançava cada vez mais
uma impopularidade interna nos Estados Unidos, principalmente diante dos
exorbitantes gastos na manutenção de um “Estado estável” (que, mesmo diante de
grandes investimentos bélicos por parte dos americanos, não foi capaz de superar os
demais problemas locais, como a alta taxa de analfabetismo e a ausência de serviços
básicos) e das mortes de cidadãos residentes e soldados norte-americanos ao longo
do processo. A crescente instabilidade da vertente progressista serviu como pretexto
de confirmação, para os diversos ramos do Talibã, da deturpação do islamismo
pregado nas demais áreas da região e da sua clara abertura ao ocidente. Tais
contribuições para o declínio da campanha anti-terror resultaram, por um longo
período, na volátil promessa de retirada das tropas americanas do Afeganistão, e, por
fim, na sua atual concretização, mediante a uma série de exigências, que, em síntese,
visavam um acordo com o regime do Talibã para a continuação do processo de minar a
atuação da Al-Qaeda e dos demais grupos dissidentes.
A retirada das tropas americanas no pico mais recente do conflito não contava,
entretanto, com a rápida reexpansão militar fundamentalista no território. Nesta
ocasião, a vigência dos Direitos Humanos diante da comunidade internacional retornou
ao ápice de sua instabilidade, uma vez que, com o retorno integral do regime do Talibã,
os primeiros ataques recaíram sobre as minorias étnicas e religiosas, com um ressalto
para as mulheres, além, claro, das pessoas que passaram os últimos anos cooperando
com as forças estrangeiras que ocuparam o país a fim de se cumprir o projeto
democrático que, diante das recentes reviravoltas, encontra-se novamente em estado
de utopia.
Dostları ilə paylaş: