Carolina Fernandes 1


Os desafios de ensinar a Análise do Discurso e de se ensinar com a Análise do Discurso



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Os desafios de ensinar a Análise do Discurso e de se ensinar com a Análise do Discurso 

 

28                                                                               Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 21, n. 2, p. 17-39, jul./dez. 2018                                                                                     



 

3.  Há,  no  texto  2,  uma  passagem  que  sugere  que  as  características  ‘’passiva  e  serviçal’', 

identificadas em Emília, são, para o autor, referência mais ampla para o perfil da mulher ideal. 

Copie no caderno essa passagem.  

a) Explique por que essa passagem permite ao leitor concluir que o autor da música recorre a Emília 

para criar a imagem do que considera a mulher ideal. 

b) Podemos afirmar que, no texto 1, Amélia também é apresentada como referência para a mulher 

ideal.  

4.  À primeira vista, os textos 1 e 2 podem levar o leitor a crer que apenas seus autores têm como 

expectativa de mulher ideal alguém como Amélia e Emília. No entanto, se considerarmos que 

as duas letras de música foram escritas em 1941, talvez seja possível afirmar que tal perfil de 

mulher era o que circulava na sociedade da época. Consulte a linha do tempo e explique por 

que essa hipótese é verdadeira.  

 

As perguntas de compreensão dos textos servem para produzir o efeito de sentido de 



que Amélia e Emília são consideradas mulheres ideais por serem amáveis, passivas, serviçais 

e dependentes de seus homens, assim fazem trabalhar as “pistas” da ideologia na linguagem. 

As marcas ideológicas que as autoras esperam que os alunos destaquem são: “Nunca vi fazer 

tanta exigência/ Nem fazer o que você me faz/ Você não sabe o que é consciência/ Não vê 

que eu sou um pobre rapaz/ [...] Às vezes passava fome ao meu lado/ E achava bonito não ter 

o que comer/ E quando me via contrariado dizia/ Meu filho o que se há de fazer”; “Eu quero 

uma mulher que saiba lavar e cozinhar/ Que, de manhã cedo, me acorde para trabalhar/ [...] 

Ninguém sabe igual a ela/ Preparar o meu café”.  

A  oposição  entre  ser  passiva  e  ser  independente  já  é  direcionada  pela  pergunta, 

indicando o modo como o aluno deve interpretar as letras das  músicas, percebemos aí um 

distanciamento da leitura polissêmica. Mas seguindo os propósitos de uma leitura “engajada”, 

as autoras fornecem as condições para a produção dessa leitura indicando uma seleção de 

fatos históricos sobre a luta e conquista das mulheres que são apontados ao lado da página 

no formato de linha do tempo. A pergunta 4 faz menção a essa linha do tempo para que o 

aluno compreenda as transformações que ocorreram na condição da mulher  no Brasil e no 

mundo e perceba que essa imagem de mulher passiva e serviçal não é exclusiva dos autores 

das canções, mas representativa do pensamento, ou melhor, da ideologia de uma época. A 

pergunta 4, mesmo que não reduza a ideologia à razão do indivíduo, restringe-a ao ano de 

1941,  ano  de  produção  das  músicas,  como  se  a  ideologia  ou  formações  ideológicas,  como 

chamarão mais adiante, pudessem ser datadas. Entretanto, a linha do tempo pode desfazer 

esse  efeito  produzido  pela  formulação  da  pergunta,  já  que  se  estende  de  1852  a  1970, 

mostrando  os  marcos  históricos  da  luta  a  favor  das  mulheres  no  Brasil  a  partir  de  greves, 

manifestações e conquistas das mulheres nas formulações de leis. Essa retomada da história 

pode ser aproveitada para incitar a discussão sobre as demandas das mulheres, seus anseios 

na sociedade da época e o modo como foi mudando o discurso para poder abrigar as novas 

leis e os novos comportamentos. Assim, o professor pode trabalhar mais a historicidade do 

significante “mulher”, propondo outros sentidos como aquele que produz a letra da música 

“Dandara” apresentada na próxima página.  





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