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Boxe complementar:
Leitura e reflexão
Nova onda de imigração atrai para São Paulo latino-americanos e africanos
O sotaque estrangeiro no centro de São Paulo acompanhou a ascensão da cidade, desde a popular Rua 25 de Março, cuja vocação comercial foi despertada pelos árabes, à sede da Prefeitura, antigo prédio dos italianos Matarazzo. Se hoje os novos imigrantes vêm de locais tão distintos quanto Bolívia e Senegal, o destino continua sendo o centro de São Paulo.
A prefeitura estima em 600 mil a população imigrante na cidade, a maioria morando ou trabalhando na região.
Durante o segundo semestre de 2014, foram criados o Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes (CRAI), pela prefeitura, e a Casa de Passagem Terra Nova, do governo estadual. Situados na Bela Vista, os abrigos acolhem principalmente refugiados.
O.H., 38, veio de Burkina Fasso. Músico, ele diz que se viu obrigado a deixar seu país após ser perseguido pelo governo em razão das letras que escrevia. Veio para São Paulo porque disseram que era um lugar bom para o "show business". Há sete meses no Brasil, o único trabalho que encontrou foi como pintor na construção civil.
Desempregado, ele não desistiu da cidade, nem da carreira. "Eu nunca escrevi letras de amor, mas aqui é só o que me vem à cabeça. É verdade que é uma cidade de muito trabalho, mas o que eu vejo no cotidiano das pessoas é que elas enganam o tempo para encontrar amor", diz.
Já para a peruana Rosa Delgado, 46, São Paulo significa trabalho. "Vivemos na correria, se não - como se diz? - o bicho pega", afirma. [...]
Propaganda
"Os haitianos vêm para São Paulo por causa da propaganda da cidade: é a mais rica e avançada, e nós estamos correndo atrás do dinheiro", afirma Bacoult.
Mas, com os preços em alta, poupar é mais difícil. Por isso, apoiam os protestos nas ruas - mas de longe. "Eu não posso fazer igual aos brasileiros, eu sou imigrante. Eu participaria se tivesse certeza que seria pacífico", diz a haitiana Marie Meanty, 23.
Os haitianos são considerados privilegiados pelo senegalês Massar Sarr, 42, representante dos imigrantes no conselho participativo da subprefeitura da Sé. Ele aponta como vantagem dos haitianos a facilitação do processo de regularização, promovida pelo governo federal em resposta ao aumento do fluxo após o terre moto que atingiu o Haiti em 2010.
[...]
Já o boliviano Luis Vásquez, 43, veio para São Paulo há 13 anos para fazer uma pós-graduação, mas ficou para ajudar a comunidade boliviana. Hoje, preside a Associação dos Empreendedores Bolivianos da Rua Coimbra.
Ele critica o estigma que se criou em cima do boliviano como "trabalhador escravo". Vásquez diz que, por pior que sejam as condições de trabalho nas oficinas de costura, elas ainda são melhores - e mais rentáveis - do que a situação na Bolívia.
"Para o imigrante, é bom morar na oficina. Ele não paga aluguel, não gasta com transporte e pode trabalhar mais tempo, já que ganha por peça fabricada", diz. Segundo ele, o que é negativo nesta situação é o isolamento em que se vive.
Ele não espera que os novos imigrantes integrem-se de modo semelhante ao que aconteceu com europeus.
"Tomara que não aconteça com a gente o que aconteceu com vocês. Os filhos esqueceram que os pais foram imigrantes, e às vezes nos tratam como bichos de outro planeta", diz.
Atrativos
De acordo com Dulce Baptista, professora da PUC-SP [...], os imigrantes buscam o centro da cidade tanto por uma questão histórica quanto prática.
"O centro da cidade era um espaço privilegiado, de residência da classe alta. Conforme outros bairros se valorizaram, a região ficou esvaziada. Por isso, existe nela toda uma edificação que permite a estruturação de casas de cômodo, cortiços e moradias sublocadas", explica.
A vantagem dessa estrutura, segundo ela, é o preço. [...]
Outro fator [...] é o deslocamento. Como a principal atividade dos imigrantes é o comércio popular, característico do centro, eles preferem morar na região para economizar em transporte.
Mas a professora faz um alerta. "O centro vem passando por um processo de requalificação urbana e a tendência com isso é a expulsão da população atual. [...]", diz.
PERRIN, Fernanda. Folha de S.Paulo, 23 jan. 2015. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/01/1579103nova-onda-de-imigracao-atrai-para-sao-paulo-latino-americanos-e-africanos.shtml. Acesso em: 24 mar. 2016.
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