- Que condições transformaram a cidade de São Paulo em um centro industrial?
Fim do complemento.
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A Revolução Industrial tardia
O verdadeiro início do processo de industrialização brasileira, também denominado substituição de importações, está ligado a dois acontecimentos históricos importantes:
- a Revolução de 1930, que tirou do poder a oligarquia agrária, representada pelo domínio político e econômico de São Paulo e Minas Gerais, e iniciou a Era Vargas;
- a crise econômica mundial, causada pela quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. Essa crise afetou a economia brasileira, uma vez que ela era sustentada pelas exportações de café, que tiveram significativa redução neste período.
Com essa crise, uma parcela razoável do capital cafeeiro foi reinvestida em atividades urbanas fabris, como a produção de alimentos e tecidos, modificando e dinamizando nossa economia com a lenta transição do predomínio do capital agrícola para o capital industrial.
Outros fatores também contribuíram para a industrialização brasileira:
- o intenso êxodo rural, que resultou no crescimento da população urbana, oferecendo mão de obra para a nascente atividade industrial e mercado de consumo para seus produtos;
- as ferrovias construídas para transportar a produção cafeeira até o porto de Santos cruzavam-se na cidade de São Paulo e formavam uma boa malha de transportes;
- os imigrantes contribuíram não só como mão de obra: muitos deles, que já tinham certa experiência empresarial, enriqueceram, contribuindo também para o crescimento do parque industrial, que se concentrou na cidade de São Paulo;
- o capital disponível para a indústria era oriundo de várias fontes: da cafeicultura, do capital privado internacional (ingleses e estadunidenses, principalmente), do capital privado nacional e do capital estatal, que expandiu e diversificou a economia brasileira;
- a Segunda Guerra (1939-1945) beneficiou a produção interna no Brasil, que, além de ter dificuldade em comercializar com a Europa, precisava substituir os produtos industrializados, antes importados, para atender ao mercado interno.
O governo de Getúlio Vargas (1930-1945) foi o responsável pela infraestrutura necessária para a instalação de indústrias no país. Entre suas realizações estão a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), organizada em 1941 e colocada em funcionamento em 1946, em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, e a mineradora Companhia Vale do Rio Doce (atual Vale, privatizada em 1997), instalada em 1942, em Minas Gerais.
LEGENDA: Linha de produção de bobinas de aço galvanizado na CSN-Paraná, em Araucária (PR). Foto de 2015.
FONTE: Daniel Derevecki/La Imagem/Fotoarena
Vargas também criou organismos estatais para regular as atividades econômicas, como o Conselho Nacional de Economia (CNE), e investiu em outros setores estratégicos: fundou, em 1945, a Fábrica Nacional de Motores (FNM), no Rio de Janeiro, e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco, com a sede atual em Recife (PE).
Esse governo procurou também proteger a indústria nacional restringindo a importação de produtos estrangeiros.
Em 1943, Getúlio Vargas promulgou a Consolidação das Leis do Trabalho, que unificou as leis trabalhistas nacionais e deu aos trabalhadores direitos como férias, descanso semanal remunerado e um salário mínimo.
Em 1945, com o término da Segunda Guerra Mundial e da ditadura de Getúlio Vargas, a indústria brasileira conheceu, com o governo do general Eurico Gaspar Dutra (1946-1950), um período que favoreceu o reequipamento dos estabelecimentos com importações de tornos, motores elétricos e a diesel, matérias-primas minerais e máquinas para várias indústrias. Com o plano Salte (saúde, alimentação, transportes e energia), o presidente Dutra concluiu a rodovia Rio-Bahia e deu início à construção da nova rodovia RJ-SP (a rodovia Presidente Dutra).
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Em seu segundo período de governo (1951-1954), Getúlio Vargas retomou a política nacionalista, criou a Petrobras, buscando solucionar o problema da produção de petróleo, e voltou a restringir a importação de bens de consumo. Em 1952, fundou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), atual Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para estimular as atividades privadas.
A internacionalização da indústria
O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), com seu Plano de Metas, privilegiou as obras para a geração de energia, as telecomunicações, a alimentação, as indústrias de base e os transportes, principalmente a construção de rodovias, que facilitou a instalação de montadoras de veículos estrangeiras em nosso país. Seu governo, ao contrário do de Getúlio Vargas, que se preocupou em proteger a produção nacional, marcou o início da internacionalização do parque industrial brasileiro.
Nessa época, além das montadoras, vieram para o Brasil indústrias de aparelhos eletroeletrônicos e de alimentos, que mais tarde passariam a controlar o mercado interno, após a compra de empresas nacionais incapazes de competir com a tecnologia empregada por essas transnacionais. Dessa forma, com uma grande produção de bens de consumo duráveis, foi possível dar continuidade à política de substituição de importações.
LEGENDA: O presidente Juscelino Kubitschek na inauguração de uma montadora transnacional de veículos, em São Bernardo do Campo (SP), 1956.
FONTE: Acervo Iconographia/Reminiscências
Ao longo do governo JK, a expressiva entrada de capital estrangeiro no Brasil fortaleceu um modelo de financiamento do parque industrial, formado por capitais privados estrangeiros (bens de consumo duráveis), capitais privados nacionais (bens de consumo não duráveis) e capitais estatais (bens de produção e bens de capital). O sucesso do Plano de Metas resultou em efeitos colaterais desastrosos, como o aumento da inflação e da dívida externa.
Ainda nesse período, apesar da construção e mudança da capital do país para Brasília (1960), localizada na região Centro-Oeste, a política do Plano de Metas acentuou a concentração industrial na região Sudeste, contribuindo para o aumento das desigualdades regionais e intensificando as migrações internas. Esses migrantes dirigiram-se principalmente para São Paulo e Rio de Janeiro, contribuindo para o crescimento desordenado dos dois maiores centros urbanos brasileiros.
Na tentativa de equilibrar as desigualdades regionais, uma vez que as indústrias se concentravam no Sudeste, em 1959 foi criada a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
Mais tarde, durante o governo militar, outros órgãos do gênero foram criados, como a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam); a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco); a Superintendência do Desenvolvimento do Sul (Sudesul), entre outras.
A Sudam e a Sudene foram extintas em 2001 e recriadas mais tarde, em 2003 e 2007, respectivamente. A Sudeco e a Sudesul foram extintas em 1990. A Sudeco foi recriada em 2011 e a Sudesul não foi reativada.
Portanto, entre 1930 e 1960, completou-se a etapa da industrialização brasileira caracterizada pelo modelo de substituição de importações voltado para o abastecimento interno e baseado na união de capitais estatais e nacionais e estrangeiros privados.
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