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FILOSOFIA GERAL E DA EDUCAÇÃO


CURSO DE PEDAGOGIA


Disciplina

Carga horária

Créditos

Pré-requisito

FILOSOFIA GERAL E DA EDUCAÇÃO

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-




Ementa

Introdução à Filosofia mediante sua caracterização em face de outras formas de conhecimento, tais como o mito, o senso comum, a religião e a ciência. Estudo de filósofos antigos que contribuíram significativamente para a reflexão sobre problemas pedagógicos ou que forneceram os fundamentos filosóficos da educação ocidental, entre eles: Sócrates, os sofistas, Platão e Aristóteles. Estudos das Tendências Pedagógicas.







Objetivo




  • Compreender e identificar o mito, o senso comum, a religião e a ciência.

  • Identificar o sentido e o significado da Educação, sob o ponto de vista filosófico, através da reflexão sobre a relação existente entre educação, filosofia e ideologia e a explicitação critica das principais tendências e correntes da filosofia da educação na atualidade.

  • Compreender a problemática da educação a partir dos discursos filosóficos desenvolvidos na modernidade;

  • Reconhecer e discutir as correntes filosóficas de interpretação da educação;

  • Analisar os construtos epistemológicos da ação educativa.







Conteúdo Programático




  1. Filosofia

  • Origem, conceito e evolução;

  • Legado da Filosofia.




  1. História da Filosofia

  • Períodos da História da Filosofia;

  • A Filosofia na História.




  1. Cultura

  • Conceito;

  • Atividade Humana;

  • Cultura e Humanização




  1. Trabalho e Alienação

  • Conceito;

  • Visão Histórica do Trabalho;

  • O que é Alienação;

  • Alienação na Produção;

  • Alienação e Lazer;

  • Lazer Alienado.




  1. Filosofia e Educação

  • Conceito de Educação;

  • A importância da Filosofia para a Educação;

  • Para que Filosofia da Educação.




  1. Tendências Pedagógicas

  • Conceito;

  • Tendências Liberais;

  • Tendências Progressistas.







Metodologia




  • Aulas expositivas;

  • Discussão de textos a partir de leituras individuais e/ou coletivas;

  • Resolução de exercícios;

  • Apresentação de seminários;

  • Produção de trabalhos individuais e/ou grupais.







Avaliação




  • Pontualidade e assiduidade;

  • Participação nas discussões e nos trabalhos individuais e grupais;

  • Entrega das atividades;

  • Seminários;

  • Avaliação individual de conhecimentos.







Bibliografia

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: Introdução à Filosofia . São Paulo: Moderna , 1986.

____________ Filosofia da Educação. 1 ed. São Paulo: Moderna, 1989.

ALTHUSSER, L. Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado. Lisboa: Editorial Presença Ltda., 1980.

FURTER, Pierre. Educação e vida. 6. Ed. Petrópolis: Vozes, 1973.

JOLIVET, Claudino. Curso de filosofia. 14. Ed. Rio de Janeiro: Agir, 1982.

Kneller, George. Introdução à filosofia da educação. 5. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

KUENZER, Acácia Zenaida e al. Educação e Trabalho. Salvador: Fator, 1988.

LATERZA, M., RIOS. T. A. Filosofia da educação: fundamentos. São Paulo: Herder, 1971.

LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública. A pedagogia crítico-social dos conteúdos. 9. Ed. São Paulo: Loyola, 1990.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1990.

MONDIN, Batista. Introdução à filosofia. 2. Ed. São Paulo: Paulinas, 1980.

PILETTI, Caludino. Filosofia da Educação. 4. Ed. São Paulo: Ática, 1991.

SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à cosnciência filosófica. 9. Ed. São Paulo: Cortez, 1989.

____________ Escola e Democracia. São Paulo: Cortez, 1987.

____________ Contribuições da filosofia para a educação. Em Aberto, Distrito Federal, v.9, n.43, p.3-9, jan/mar, 1990.

__________ Pedagogia Histórico-Critíca: primeira aproximações. ed. São Paulo: Autores Associados, 1995.

SOUZA, Paulo Nathanael P. da Silva, Eurides Brito da Educação Escola-trabalho. São Paulo: Pioneira, 1984.

VASQUEZ, Adolfo Sanches. Filosofia da praxis. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1977.

VITA, Luiz Washington. Que é filosofia? São Paulo: USC, 1975.

___________ Panorama da filosofia no Brasil. Porto Alegre: Globo, 1969.





Bibliografia Complementar

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994.

GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da educação: um estudo introdutório. 9. Ed. São Paulo: Cortez, 1995.

ANDE ( Associação nacional de Educação). A formação do educador. São Paulo: 1981.





SUMÁRIO

1. FILOSOFIA

1.1. A Origem da Filosofia

1.1.1. A Filosofia é grega

1.1.2. O legado da Filosofia grega para o Ocidente europeu

EXERCÍCIO 1
2. PERÍODOS DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA

2.1. A Filosofia na História

2.2. Os principais períodos da Filosofia

2.2.1. Filosofia antiga (do século VI a.C. ao século VI d.C.)

2.2.2. Filosofia patrística (do século I ao século VII)

2.2.3. Filosofia medieval (do século VIII ao século XIV)

2.2.4. Filosofia da Renascença (do século XIV ao século XVI)

2.2.5. Filosofia moderna (do século XVII a meados do século XVIII)

2.2.6. Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (meados do século XVIII ao começo do século XIX)

2.2.7. Filosofia contemporânea

EXERCÍCIO 2
3. A CULTURA

3.1. A Atividade Animal Ação Institiva

3.2. A Inteligência Concreta

3.3. A Atividade Humana

3.3.1. A Linguagem

3.3.2. O Trabalho

3.3.3. Cultura e Humanização

3.3.4. A Comunidade dos Homens

EXERCÍCIO 3
4. TRABALHO E ALIENAÇÃO

4.1. Visão Histórica do Trabalho

4.2. A Sociedade Pós-Industrial

4.3. O Que é Alienação?

4.3.1. Conceituação de Alienação

4.3.2. Alienação na Produção

4.3.3. A Alienação no Setor de Serviços

4.3.4. O Sofrimento da Natureza

4.3.5. A Sociedade Administrada

4.3.6. Alienação no Consumo

4.4. Alienação no Lazer

4.4.1. Histórico do Lazer

4.4.2. O Que é Lazer?

4.4.3. O Lazer Alienado

EXERCÍCIO 4
5. FILOSOFIA E EDUCAÇÃO

5.1. Para que Filosofia da Educação?

5.2. A Pedagogia

EXERCÍCIO 5


6. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR

6.1. Pedagogia Liberal

6.1.1 Tendência Liberal Tradicional

6.1.2. Tendência Liberal Renovada Progressivista

6.1.3. Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva

6.1.4. Tendência Liberal Tecnicista

6.2. Pedagogia Progressista

6.2.1. Tendência Progressista Libertadora

6.2.2. Tendência Progressista Libertária

6.2.3. Tendência Progressista “Crítico Social dos Conteúdos”

6.2.4. Em Favor da Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos

EXERCÍCIO 6


EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES

1. FILOSOFIA

1.1. A Origem da Filosofia

A palavra filosofia grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos.



Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo: o que ama a sabedoria tem amizade pelo saber, deseja saber.

Assim, filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.

Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de Cristo) a invenção da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.

Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos (a festa mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as disputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artista; e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar o desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Esse terceiro tipo de pessoa, dizia Pitágoras, é como o filósofo.

Com isso, Pitágoras queria dizer que o filósofo não é movido por interesses comerciais - não coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa para ser comprada e vendida no mercado; também não é movido pelo desejo de competir - não faz das ideias e dos conhecimentos uma habilidade para vencer competidores ou atletas intelectuais; mas é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar as coisas, as ações, a vida: em resumo, pelo desejo de saber. A verdade não pertence a ninguém, ela é o que buscamos e que está diante de nós para ser contemplada e vista, se tivermos olhos (do espírito) para vê-la.
1.1.1. A Filosofia é grega

A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego.

Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum, que outros povos, tão antigos quanto os gregos, como os chineses, os hindus, os japoneses, os árabes, os persas, os hebreus, os africanos ou os índios da América não possuam sabedoria, pois possuíam e possuem. Também não quer dizer que todos esses povos não tivessem desenvolvido o pensamento e formas de conhecimento da Natureza e dos seres humanos, pois desenvolveram e desenvolvem.

Quando se diz que a Filosofia é um fato grego, o que se quer dizer é que ela possui certas características, apresenta certas formas de pensar e de exprimir os pensamentos, estabelece certas concepções sobre o que sejam a realidade, o pensamento, a ação, as técnicas, que são completamente diferentes das características desenvolvidas por outros povos e outras culturas.

Vejamos um exemplo. Os chineses desenvolveram um pensamento muito profundo sobre a existência de coisas, seres e ações contrários ou opostos, que formam a realidade. Deram as oposições o nome de dois princípios: Yin e Yang. Yin é o princípio feminino passivo na Natureza, representado pela escuridão, o frio e a umidade; Yang é o princípio masculino ativo na Natureza, representado pela luz, o calor e o seco. Os dois princípios se combinam e formam todas as coisas, que, por isso, são feitas de contrários ou de oposições. O mundo, portanto, é feito da atividade masculina e da passividade feminina.

Tomemos agora um filósofo grego, por exemplo, o próprio Pitágoras. Que diz ele? Que a Natureza é feita de um sistema de relações ou de proporções matemáticas produzidas a partir da unidade (o número 1 e o ponto), da oposição entre os números pares e ímpares, e da combinação entre as superfícies e os volumes (as figuras geométricas). Para Pitágoras, o pensamento alcança a realidade em sua estrutura matemática, enquanto nossos sentidos ou nossa percepção alcançam o modo como a estrutura matemática da Natureza aparece para nós, isto é, sob a forma de qualidades opostas.

Qual a diferença entre o pensamento chinês e o do filósofo grego? O pensamento chinês toma duas características (masculino e feminino) existentes em alguns seres (os animais e os humanos) e considera que o Universo inteiro é feito da oposição entre qualidades atribuídas a dois sexos diferentes, de sorte que o mundo é organizado pelo princípio da sexualidade animal ou humana.

O pensamento de Pitágoras apanha a Natureza numa generalidade muito mais ampla do que a sexualidade própria a alguns seres da Natureza, e faz distinção entre as qualidades sensoriais que nos aparecem e a estrutura invisível da Natureza, que, para ele, é do tipo matemático e alcançada apenas pelo intelecto, ou inteligência.

Só as diferenças desse tipo, além de muitas outras, que nos levam a dizer que existe uma sabedoria chinesa, uma sabedoria hindu, uma sabedoria dos índios, mas não há filosofia chinesa, filosofia hindu ou filosofia indígena.

Em outras palavras, Filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentos que surgiu especificamente com os gregos e que, por razões históricas e políticas, tornou-se, depois, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada cultura européia ocidental da qual, em decorrência da colonização portuguesa do Brasil, nós também participamos.

Através da Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte.

Aliás, basta observarmos que palavras como lógica, técnica, ética, política, monarquia, anarquia, democracia, física, diálogo, biologia, cronologia, gênese, genealogia, cirurgia, ortopedia, pedagogia, farmácia, entre muitas outras, são palavras gregas, para percebermos a influência decisiva e predominante da Filosofia grega sobre a formação do pensamento e das instituições das sociedades européias ocidentais.

É por isso que, em decorrência do predomínio da economia capitalista criada pelo Ocidente e que impõe um certo tipo de desenvolvimento das ciências e das técnicas. Com isso queremos significar que modos de pensar e de agir, criados no Ocidente pela Filosofia grega, foram incorporados até mesmo por culturas e sociedades muito diferentes daquela onde nasceu a Filosofia.

É pelo mesmo motivo que falamos em “orientalismos” e “orientalistas” para indicar pessoas que buscam no budismo, no confucionismo, no Yin e no Yang, nos mantras, nas pirâmides, nas auras, nas pedras e cristais maneiras de pensar e de explicar a realidade, a Natureza, a vida e as ações humanas que não são próprias ou específicas do Ocidente, isto é, são diferentes do padrão de pensamento e de explicação que foram criados pelos gregos a partir do século VII antes de Cristo, época em que nasce a Filosofia.


1.1.2. O legado da Filosofia grega para o Ocidente europeu

Por causa da colonização européia das Américas, nós também fazemos parte - ainda que de modo inferiorizado e colonizado - do Ocidente europeu e assim também somos herdeiros do legado que a Filosofia grega deixou para o pensamento ocidental europeu.

Desse legado, podemos destacar como principais contribuições as seguintes:

● A ideia de que a Natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e universais, isto é, os mesmos em toda a parte e em todos os tempos. Assim, por exemplo, graças aos gregos, no século XVII da nossa era, o filósofo inglês Isaac Newton estabeleceu a lei da gravitação universal de todos os corpos da Natureza.

A lei da gravitação afirma que todo corpo, quando sofre a ação de um outro, produz uma reação igual e contrária, que pode ser calculada usando como elementos do cálculo a massa do corpo afetado, a velocidade e o tempo com que a ação e a reação se deram.

Essa lei é necessária, isto é, nenhum corpo do Universo escapa dela e pode funcionar de outra maneira que não desta; e esta lei é universal, isto é, válida para todos os corpos em todos os tempos e lugares.

Um outro exemplo: as leis geométricas do triângulo ou do círculo, conforme demonstraram os filósofos gregos, são universais e necessárias, isto é, seja em Tóquio em 1993, em Copenhague em 1970, em Lisboa em 1810, em São Paulo em 1792, em Moçambique em 1661, ou em Nova York em 1975, as leis do triângulo ou do círculo são necessariamente as mesmas.

● A ideia de que as leis necessárias e universais da Natureza podem ser plenamente conhecidas pelo nosso pensamento, isto é, não são conhecimentos misteriosos e secretos, que precisariam ser revelados por divindades, mas são conhecimentos que o pensamento humano, por sua própria força e capacidade, pode alcançar.

● A ideia de que nosso pensamento também opera obedecendo a leis, regras e normas universais e necessárias, segundo as quais podemos distinguir o verdadeiro do falso. Em outras palavras, a ideia de que o nosso pensamento é lógico ou segue leis lógicas de funcionamento.

Nosso pensamento diferencia uma afirmação de uma negação porque, na afirmação, atribuímos alguma coisa a outra coisa (quando afirmamos que “Sócrates é um ser humano”, atribuímos humanidade a Sócrates) e, na negação, retiramos alguma coisa de outra (quando dizemos “este caderno não é verde”, estamos retirando do caderno a cor verde).

Nosso pensamento distingue quando uma afirmação é verdadeira ou falsa. Se alguém apresentar o seguinte raciocínio: “Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal”, diremos que a afirmação “Sócrates é mortal” é verdadeira, porque foi concluída de outras afirmações que já sabemos serem verdadeiras.

● A ideia de que as políticas humanas, isto é, a ação moral, a política, as técnicas e as artes dependem da vontade livre, da deliberação e da discussão, da nossa escolha passional (ou emocional) ou racional, de nossas preferências, segundo certos valores e padrões, que foram estabelecidos pelos próprios seres humanos e não por imposições misteriosas e incompreensíveis, que lhes teriam sido feitas por forças secretas, invisíveis, sejam elas divinas ou naturais, e impossíveis de serem conhecidas.

● A ideia de que os acontecimentos naturais e humanos são necessários, porque obedecem a leis naturais ou da natureza humana, mas também podem ser contingentes ou acidentais, quando dependem das escolhas e deliberações dos homens, em condições determinadas.

Dessa forma, uma pedra cai porque seu peso, por uma lei natural, exige que ela caia natural e necessariamente; um ser humano anda porque as leis anatômicas e fisiológicas que regem o seu corpo fazem com que ele tenha os meios necessários para a locomoção.

No entanto, se uma pedra, ao cair, atingir a cabeça de um passante, esse acontecimento é contingente ou acidental. Por quê? Porque, se o passante não estivesse andando por ali naquela hora, a pedra não o atingiria. Assim, a queda da pedra é necessária e o andar de um ser humano é necessário, mas que uma pedra caia sobre minha cabeça quando ando é inteiramente contingente ou acidental.

Todavia, é muito diferente a situação das ações humanas. É verdade que é por uma necessidade natural ou por uma lei da Natureza que ando. Mas é por deliberação voluntária que ando para ir à escola em vez de andar para ir ao cinema, por exemplo. É verdade que é por uma lei necessária da Natureza que os corpos pesados caem, mas é por uma deliberação humana e por uma escolha voluntária que fabrico uma bomba, a coloco num avião e a faço despencar sobre Hiroshima.

Um dos legados mais importantes da Filosofia grega é, portanto, essa diferença entre o necessário e o contingente, pois ela nos permite evitar o fatalismo – “tudo é necessário, temos que nos conformar e nos resignar”, mas também evitar a ilusão de que podemos tudo quanto quisermos, se alguma força extranatural ou sobrenatural nos ajudar, pois a Natureza segue leis necessárias que podemos conhecer e nem tudo é possível por mais que o queiramos.

● A ideia de que os seres humanos, por Natureza, aspiram ao conhecimento verdadeiro, à felicidade, à justiça, isto é, que os seres humanos não vivem nem agem cegamente, mas criam valores pelo quais dão sentido às suas vidas e às suas ações.

A Filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas da Natureza, os acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma.

Em suma, a Filosofia surge quando se descobriu que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, mas que, ao contrário, podia ser conhecida por todos, através da razão, que é a mesma em todos; quando se descobriu que tal conhecimento depende do uso correto da razão ou do pensamento e que, além da verdade poder ser conhecida por todos, podia, pelo mesmo motivo, ser ensinada ou transmitida a todos.


EXERCÍCIO 1
1. Qual a origem da palavra filosofia?

2. Como podemos definir filosofia?

3. O que vem a ser a Filosofia grega?

4. Que legado a Filosofia Grega deu ao Ocidente europeu?


2. PERÍODOS DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA

2.1. A Filosofia na História

Como todas as outras criações e instituições humanas, a Filosofia está na História e tem uma história. Está na História: a Filosofia manifesta e exprime os problemas e as questões que, em cada época de uma sociedade, os homens colocam para si mesmos, diante do que é novo e ainda não foi compreendido. A Filosofia procura enfrentar essa novidade, oferecendo caminhos, respostas e, sobretudo, propondo novas perguntas, num diálogo permanente com a sociedade e a cultura de seu tempo, do qual ela faz parte.

Tem uma história: as respostas, as soluções e as novas perguntas que os filósofos de uma época oferecem tornam-se saberes adquiridos que outros filósofos prosseguem ou, freqüentemente, tornam-se novos problemas que outros filósofos tentam resolver, seja aproveitando o passado filosófico, seja criticando-o e refutando-o. Além disso, as transformações nos modos de conhecer podem ampliar os campos de investigação da Filosofia, fazendo surgir novas disciplinas filosóficas, como também podem diminuir esses campos, porque alguns de seus conhecimentos podem desligar-se dela e formar disciplinas separadas.

Assim, por exemplo, a Filosofia teve seu campo de atividade aumentado quando, no século XVIII, surge a filosofia da arte ou estética; no século XIX, a filosofia da história; no século XX, a filosofia das ciências ou epistemologia, e a filosofia da linguagem. Por outro lado, o campo da Filosofia diminuiu quando as ciências particulares que dela faziam parte foram-se desligando para constituir suas próprias esferas de investigação. É o que acontece, por exemplo, no século XVIII, quando se desligam da Filosofia a biologia, a física e a química; e, no século XX, as chamadas ciências humanas (psicologia, antropologia, história).

Pelo fato de estar na História e ter uma história, a Filosofia costuma ser apresentada em grandes períodos que acompanham, às vezes de maneira mais próxima, às vezes de maneira mais distante, os períodos em que os historiadores dividem a História da sociedade ocidental.


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