História Universal da Destruição dos Livros Das Tábuas Sumérias à Guerra do Iraque Fernando Báez



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Exemplares únicos
Quem foi a um sebo, uma feira de livros antigos, leu um catálogo de livros raros ou, por que não, visitou um museu ou exposição, deve estar acostumado a ler, na descrição da obra, uma breve comunicação em letra pequena, mas determinante e lúcida: "único exemplar conhecido". Não se trata de exemplar único porque o autor ou o editor quis assim (como acontece com livros de arte). Na verdade, é o resultado de uma edição da qual só um exemplar se salvou de uma destruição ou perda. Por certo existem no mundo milhares de livros cuja edição, por diversos motivos, desapareceu quase integralmente e hoje em dia só restou um exemplar, cujo valor, em geral alto, oferece a referência do que significaria sua eliminação. No incêndio dos manuscritos da coleção de sir Robert Bruce Cotton, por exemplo, talvez tenha se perdido o códice com a única edição manuscrita do Beowulf, que já desaparecera antes em ações de guerra. Do tratado Christianismi restitutio, de Miguel Servet, só se conhecem três exemplares da primeira edição porque os demais foram queimados.

Haveria muito material a ser relacionado sob esse aspecto, mas basta apresentar alguns exemplos. É o caso da Historia de Las amors e vida del cavaller Paris e de Viana, romance que faz alusão às cruzadas e à Palestina. Desse livro, impresso por Diego de Gumiel em Barcelona, em 1497, com apenas sessenta páginas, lamentavelmente só existe um exemplar que foi reeditado posteriormente, e não poucas vezes. Do Exemplario contra los enganos y peligros dei mundo, na tradução castelhana da versão latina do Calila e Dimna, com ilustrações de Pa-blo Hurus, impressa em 30 de março de 1493, só existe um exemplar.

Talvez convenha saber que o primeiro livro literário impresso na Espanha foi Obres o trobes en lahors de Verge Maria, impresso em Valência, em Lambert Palmart, em 25 de março de 1474. O único exemplar existente está na Biblioteca Universitária de Valência.

A Obra a llaors de Sent Cristófoly impressa por Pedro Trincher em Valência, em 3 de fevereiro de 1498, é um incunábulo (isto é, um livro impresso entre 1450 e 1501) depositado na Biblioteca Nacional de Madri e foi, devido ao seu caráter raro, bastante estudado. Apresenta o torneio poético de agosto de 1488, em que 15 poetas se enfrentaram, nem sempre com amabilidade. Há um único exemplar do Maré magno delia crucifissa, manuscrito anônimo feito em Florença ou Veneza em 1530. O Splendor solis, de Solomon Tresmosin, pode ter sido produzido em 1532, mas o único manuscrito conservado é de 1582 e se encontra no Museu Britânico.

De J. M. Quérard e Gustave Brunet seria recomendável ler o estudo Livres perdus et exemplaires uniques, e de Paul Lacroix, o Essai d'une hibliographie des livres français perdus ou peu connus (1880). Nesses livros há relações em ordem alfabética de centenas de livros franceses extraviados ou de que apenas um exemplar sobreviveu.

Com o passar dos séculos, a impressão gráfica tornou mais difícil essa situação, mas não impossível. Um dos livros mais curiosos do século XX é, sem dúvida, In peaceable caves (1950), do poeta Kenneth Patchen (1911-1972), um dos escritores favoritos de Henry Miller, e a essa raridade se deve à queima total da edição no depósito da editora; o único exemplar sobreviveu só porque fora enviado ao autor para revisão. Texto tão estranho, jamais reeditado, permanece na biblioteca da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz.

Há, certamente, outros textos na mesma condição, mas o leitor já tomou conhecimento deles nas páginas precedentes.


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