J. R. Ward Amante Revelado



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Vishous sabia o que estava a ponto de acontecer a seguir, e não era algo do qual queria fazer parte. Quando um brilho luz branca transformou a noite em dia, deu a volta, afundando suas botas na terra. E não havia nenhuma razão para dar uma olhada para trás quando o grande rugido da besta retumbou através da noite. V sabia o que teria que fazer: Rhage tinha mudado, a criatura estava solta, e os lessers contra os quais tinham estado lutando estavam a ponto de ser o almoço. Mais ou menos, aqui não aconteceu nada… exceto por sua localização atual: o campo de futebol da Escola secundária do Caldwell.


Vai, Buldogues! Rah!

V subiu os degraus e praticou StairMaster (apartelho de ginástica) nelas, subindo à cúpula da seção de animadores do CHS. Lá embaixo, na linha de cinqüenta jardas, a besta agarrou um lesser, sacudiu a coisa no ar, e capturou o não morto entre seus dentes.

Vishous deu uma olhada ao redor. A lua não tinha saído, o que era ótimo, mas havia umas vinte e cinco malditas casas ao redor da escola secundária. E os humanos dentro daqueles blocos de dois andares, ranchos e casas ao estilo colonial da América Central acabavam de despertar devido a uma labareda tão brilhante como uma explosão nuclear.

V blasfemou e tirou bruscamente a luva que cobria sua mão direita. Quando moveu o braço, a incandescência do centro de sua palma deixada da mão de Deus, iluminou as tatuagens que corriam das pontas dos dedos até seu pulso por ambos os lados. Cravando a vista no campo, V se concentrou no batimento do coração, de seu coração, sentindo-o bombear em suas veias e entrando no pulso, o pulso, o pulso…

Ondas amortecidas saíram da palma, algo como ondas de calor se elevando do asfalto. No momento em que um par de luzes de alpendre se acenderam e as portas principais foram abertas e os pais de família colocaram as cabeças para fora de seus castelos, o mascaramento de mhis se fez necessário: a visão e os sons dos enfrentamentos no campo seriam substituídos pela ilusão, nada especial, de que tudo estava bem e como deveria ser.

Dos degraus, V usou sua visão noturna para observar os homens humanos olharem ao redor e se fazerem gestos. Quando as pessoas sorriram e deram um encolher de ombros, V pôde imaginar a conversa.

Ouça Bob, você também viu isso?

Sim, Gary. Uma grande luz. Enorme.

Deveríamos chamar à polícia?

Parece estar tudo bem.

Sim. Que estranho. Ouça, você, Marilyn e os meninos estão livres este sábado? Poderíamos dar uma volta pela alameda, talvez depois irmos comer uma pizza?

Boa idéia. Falarei com Sue. Boa noite.

Boa noite.

Enquanto as portas se fechavam e aqueles homens sem dúvida arrastavam os pés até o refrigerador para comer um sanduíche noturno, Vishous manteve a ilusão.

A besta não durou muito tempo. E não deixou muito sem comer. Quando terminou, o escamoso dragão olhou ao redor e quando a coisa localizou a V, um grunhido ondeou até os degraus, então terminou em um bufo.

— Terminou, tipo grande? —gritou V para baixo—. Para sua informação, o poste da portaria de lá poderia servir como um palito de dentes.

Outro bufo. Então a criatura se deitou e Rhage apareceu nu em seu lugar na empapada terra negra. logo que a mudança foi completada, V se transportou degraus abaixo e correu através do campo.

—Irmão? —gemeu Rhage enquanto tremia na neve.

—Sim, Hollywood, sou eu. vou levar você para casa com Mary.

—Não foi tão ruim como eu estava acostumado.

—Bom.

V tirou bruscamente a jaqueta de couro e a estendeu através do peito do Rhage; então tiro o telefone celular de um bolso. Tinha duas chamadas do número de Butch e discou para o celular do Policial, precisando apenas de uma discagem rápida. Quando não houve nenhuma resposta, V chamou Pit e ouviu a caixa postal.



Santo inferno… Phury estava com o Havers para que lhe ajustasse a prótese outra vez. Wrath não podia dirigir devido a sua cegueira. Ninguém tinha visto o Tohrment durante meses. Isto deixava ao Zsadist.

Depois de cem anos de luta com aquele homem, era difícil não amaldiçoar enquanto fazia a chamada. Z não parecia ser um bote salva-vidas, nem com muito esforço; era mais como os tubarões na água. Mas qual era a outra opção? Além disso, ao menos o irmão estava um pouco melhor desde que se havia emparelhado.

—Sim —a resposta chegou cortante.

—Hollywood externou seu Godzilla interior outra vez. Preciso de um carro.

—Onde estão?

—Caminho do Weston. No Campo de futebol da Escola secundária do Caldwell.

—Estarei ai em dez. Primeiros socorros?

—Não, ambos estamos intactos.

—Entendido. Resistam.

A conexão terminou e V olhou seu telefone. A idéia de que se pudesse confiar no aterrador bastardo era uma surpresa. Nunca teria acredito… não que visse acreditasse em muita coisa.

V pôs sua mão boa sobre o ombro do Rhage e levantou a vista para o céu. Um infinito, o universo inescrutável surgiu em cima dele, em cima de todos eles, e pela primeira vez, a imensidão o aterrorizou. Mas então, pela primeira vez em sua vida, voava sem uma rede.

Tinha perdido suas visões. Aquelas fotos do futuro, aquelas panaquices, as transmissões invasivas do que viria, aqueles quadros sem datas que o tinham mantido no limite desde que podia se recordar, simplesmente tinham ido. E também as intrusões nos pensamentos de outra pessoa.

Sempre quis estar sozinho em sua cabeça. Quão irônico encontrar o ensurdecedor silêncio.

—V? Estamos bem?

Olhou para o Rhage. A perfeita beleza loira do irmão ainda lhe cegava, até com todo o sangue de lesser em seu rosto.

—O meio de transporte chegará logo. Levaremo você para casa com sua Mary.

Rhage começou a resmungar e V simplesmente o deixou correr. Pobre homem miserável. As maldições nunca estiveram de sua parte.

Dez minutos mais tarde, Zsadist chegou, com o BMW de seu gêmeo, no campo de futebol, destroçando-o através de um atalho com bancos sujos de neve e deixando um rastro de barro nele. Enquanto o M5 atravessava a neve, V sabia que eles encheriam de pó o couro do assento traseiro, mas por outro lado Fritz, o extraordinario mordomo, podia tirar as manchas como não acreditasse no que aconteceu.

Zsadist saiu do carro e rodeou o capô. Depois de um século e meio morto de fome, por opção própria, usava agora suas boas de duzentas e oitenta e cinco libras em uma armação de 1,8m. A cicatriz em seu rosto permanecia chamando a atenção, tanto como o faziam as tatuadas bandas de escravo, mas graças a sua shellan, Bela, seus olhos já não eram poços negros de ódio. Em sua maior parte.

Sem dizer nada,os dois carregaram Rhage nos braços até o carro e apertaram seu poderoso corpo no assento traseiro.

—Vai fazer poof e desaparecer até sua casa? —disse Z enquanto sentava atrás do volante.

—Sim, mas tenho que limpar a cena. —O que significava, utilizar sua mão para limpar, fritando o sangue lesser que tinha salpicada por toda parte.

— Quer que o espere?

—Não, leve o nosso menino para casa. Mary vai querer vê-lo quanto antes.

Zsadist explorou as cercanias com um giro rápido de cabeça.

—Esperarei.

—Z, está tudo bem. Não ficarei aqui por muito tempo.

Aquele lábio arruinado se levantou em um grunhido.

—Se não estiver no complexo quando chegar lá, volto aqui.

O BMW saiu, levantando com os pneumáticos muita neve.

Jesus, Z realmente era um apoio.

Dez minutos mais tarde V se desmaterializou até o complexo, no momento em que estava chegando Zsadist e Rhage. Enquanto Z levava Hollywood para dentro, Vishous olhou ao redor, para os carros estacionados no pátio.

Onde demônios estava o Escalade? Butch deveria estar de volta já.

V tirou seu telefone e digitou a discagem rápida. Quando a caixa postal atendeu, disse:

—Ouça, companheiro, estou em casa. Onde está, Policial?

Como os dois se ligavamo constantemente, sabia que Butch verificaria logo o celular. Demônios, talvez ele estivesse ocupado pela primeira vez na história conhecida. Já era hora de que o lamentável HDP abandonasse sua obsessão por Marissa e conseguisse um pequeno alívio sexual.

E falando em alívio… V mediu a luz no céu. Calculou que tinha, aproximadamente, uma hora e meia de escuridão, e homem, estava nervoso como a merda. Tinha acontecido algo esta noite, algo ruim estava no ar, mas com suas visões ausentes, não sabia o que era. E essa espaço em branco o estava voltando louco.

Ligou o celular outra vez e discou um número. Quando deixou de tocar, não esperou um olá.

—Se preparare para mim agora. Coloque o que comprei para você. Seu cabelo deve estar preso e longe de seu pescoço.

Esperou para ouvir as três únicas palavras que lhe importavam e essas chegaram rapidamente, a voz feminina disse:

—Sim, meu lheage.

V desligou e se desmaterializou.


CAPÍTULO 3
Ultimamente o ZeroSum estava fazendo bons negócios, pensou Rehvenge enquanto observava as contas. O fluxo de dinheiro era grande. Havia um aumento nos registros de recibos de jogo. O público crescia. Deus, tinha sido dono desse clube por quanto? Cinco? Seis anos? E finalmente, estava entrando dinheiro suficiente para que pudesse respirar tranquilo.

É obvio que era uma forma desprezível de fazer dinheiro, com sexo, drogas, álcool e apostas. Mas precisava manter a seu mahmen e, até pouco tempo, a sua irmã, Bela. Logo estava a chantagem sobre sua cabeça que tinha que cobrir.

Os segredos podiam ser muito caros de se manter.

Rehv levantou a vista quando a porta do escritório se abriu. Quando sua chefe de segurança entrou, pôde cheirar o persistente aroma de Ou’Neal nela e sorrio um pouco. Gostava de ter razão. —Obrigado por cuidar de Butch.

Os olhos cinzas do Xhex eram diretos como sempre. —Não o teria feito se não o tivesse desejado.

—E não teria pedido isso a você se não soubesse disso. Agora, o que aconteceu?

Sentou-se do outro lado do escritório, seu corpo poderoso e duro como o mármore no que estava apoiando os cotovelos. —Sexo forçado no quarto em cima do banheiro dos homens. Resolvi isso. A mulher vai apresentar queixa.

—Acabou com o menino que seguia você?

—Sim, mas terminou com um par novo de brincos, se entende o que quero dizer. Também encontrei dois menores no estabelecimento e os joguei para fora. E um dos gorilas estava recebendo subornos na fila, assim, o despedi.

—Algo mais?

—Temos outra overdose.

—Merda. Embora não com nosso produto, certo?

—Não. Merda externa. —Tirou uma pequena bolsa de celofane do bolso traseiro de suas calças de couro e a atirou sobre o escritório—. Consegui ficar com isto antes que chegassem os paramédicos, vou contratar algum pessoal extra para lutar com esta situação.

—Bem. Encontra esse Independente, e me traga seu traseiro. Quero me encarregar dele pessoalmente.

—Farei isso.

—Tem algo mais para mim?

No silêncio que seguiu, Xhex se inclinou para frente e entrelaçou as mãos. Seu corpo era todo músculos firmes, nada além de duros ângulos, excetuando seus empinados e pequenos seios. Era delirantemente hermafrodita, embora pelo que tinha ouvido, integralmente uma fêmea.

O policialcial devia sentir-se afortunado, pensou. Xhex não praticava sexo muito freqüentemente, e quando o fazia era porque pensava que o homem valia a pena.

Tampouco perdia o tempo,geralmente. —Xhex, fala.

—Quero saber uma coisa.

Rehv se recostou para trás na cadeira. —Vai fazer com que eu fique zangado?

—Sim. Está procurando uma companheira?

Quando seus olhos começaram a brilhar com um tom púrpura, inclinou o queixo para baixo e a olhou por debaixo das sobrancelhas. —Quem disse isso? E quero o nome.

—Dedução, não fofoca. De acordo com os registros do GPS, seu Bentley esteve freqüentemente perto do Havers. Acontece que sei que Marissa está disponível. É bonita. Complicada. Mas nunca se importou com a glymera. Está pensando em se emparelhar com ela?

—Não é nada. —mentiu.

—Bem. —Quando os olhos do Xhex se cravaram nele, ficou óbvio que sabia a verdade. —Porque seria uma loucura de sua parte tentá-lo. Ela descobriria você… e não refiro ao que acontece aqui. Pelo amor de Deus é membro do Conselho do Príncipes. Se soubesse que é um symphath, comprometeria a ambos.

Rehv se levantou e aplaudiu seu discurso. —A Irmandade já sabe a respeito de mim.

—Como? —resfolegou Xhex.

Pensou no pequeno assunto labios/caninos que tinha compartilhado com o Irmão Phury, e decidiu mantê-lo em segredo. —Simplesmente sabem. E agora que minha irmã está emparelhada a um Irmão, sou um membro da condenada família. Assim, inclusive se o Conselho dos Príncipes se inteira, esses guerreiros os manterão sob controle.

Que pena que seu chantagista não se visse afetado pelas regras dos Normais. Como estava descobrindo, os Symphaths, eram inimigos muito ruins. Não sentia pena que sua espécie fosse odiada.

—Está certo disso?

—Bela morreria se a enviassem a uma dessas colônias. Pensa que seu hellren suportaria que a transtornassem dessa forma, especialmente agora que está grávida? Z é um malvado filho da puta e muito protetor com ela. Assim, sim, estou certo.

—Alguma vez suspeitou a respeito de você?

—Não. E embora Zsadist sabia, não ia dizer a sua companheira. De nenhuma forma poria Bela nessa situação. As leis ditam que se conhecer um symphath deve entregar ele ou ela, ou então, enfrentar uma punição.

Rehv deu volta no escritório, apoiando-se na bengala agora que estava sozinho na presença de Xhex. A dopamina que injetava em si mesmo regularmente mantinha sob controle a pior parte dos impulsos do symphath, possibilitando a ele passar por um Normal. Não estava certo como o governava Xhex. Não estava certo de querer sabê-lo. Mas o assunto era, sem rodeios, que tinha que usar uma bengala ou era propensa a cair. Depois de tudo a percepção profunda lhe fazia chegar longe quando não podia sentir seus pés nem suas pernas.

—Não se preocupe —lhe disse—. Ninguém sabe o que somos. E continuará sendo assim.

Os olhos cinzas se elevaram para olhá-lo. —Está-a alimentando, Rehv. —Não era uma pergunta. Era uma afirmação—.Está alimentando a Marissa?

—Esse é assunto meu, não seu.

Levantou-se de um salto. —Maldito seja…. Tínhamos combinado. Faz vinte e cinco anos quando tive esse pequeno problema, conbinamos. Não teríamos companheiros. Não alimentaríamos aos Normais. Que demônios está fazendo?

—Sou a autoridade e esta conversa terminou. —Olhou o relógio—. E pelo que sei, é hora de fechar e precisa de um descanso. Os Moor podem fechar.

Olhou-o por um momento. —Não, vou terminar meu trabalho…

—Não estou sendo amável, estou ordenando a você que vá para casa.A verei amanhã de noite.

—Não se ofenda, mas vai a merda, Rehvenge.

Se dirigiu a porta dando passos duros, se movendo como a assassina que era. Enquanto a olhava partir, recordou que seu pessoal de segurança não era nada comparado com o que ela era capaz de fazer.

—Xhex —disse— possivelmente estivéssemos equivocados a respeito de ter companheiros.

Enviou-lhe um olhar carrancudo que dizia—Por acaso é estúpido?— por sobre o ombro. —Se droga duas vezes ao dia. Crê que eventualmente Marissa não se dará conta? O que me diz do fato de que tem que ir até seu irmão, o bom doutor ,para te fazer o neuromodulador de qual depende? Além disso, o que diria uma aristocrata como ela a respeito de tudo… isto? —varreu o escritório com o braço estendido—. Não estávamos equivocados. Esta somente esquecendo os porquês de tudo.

A porta se fechou atrás dela e Rehv olhou para baixo a seu intumescido corpo. Imaginou Marissa, tão pura e linda, tão diferente das outras fêmeas que conhecia, tão diferente de Xhex… da que se alimentava.

Desejava Marissa, a estas alturas estava meio apaixonado por ela. E o homem nele queria reclamar o que lhe pertencia ainda quando as drogas o voltavam impotente. Salvo que embora aparecesse sua parte escura certamente não machucaria aos que amava, certo?

Pensou nela, usando os vestidos de alta costura, tão apropriadamente vestida, tão refinada, tão… limpa. A glymera estava equivocada a respeito dela. Não era defeituosa; era perfeita.

Sorriu, seu corpo animando-se com um calor que somente podia se apagar através de fortes orgasmos. Estava chegando esse momento do mês, assim logo o chamaria. Se, o necessitasse outra vez… logo. Como seu sangue estava diluído, devia se alimentar com uma freqüência maior, e faziam quase três semanas da última vez.

Estaria-o chamando em uns poucos dias. E mal podia esperar para lhe ser útil.
V voltou para o complexo da Irmandade sobrando alguns minutos, materializou-se fora da casa em frente a porta dianteira. Tinha tido esperanças que essa espécie de sexo tivesse acabado com sua acuidade, mas não, ainda estava afiada como a merda.

Passou através do vestíbulo do Pit desarmando-se pelo caminho absolutamente tenso e tão preparado para tomar uma ducha, para se livrar do aroma da mulher. Deveria ter estado faminto; em vez disso, tudo o que desejava era um pouco de vodca Grei Goose.

— Butch, amigo! —chamou.

Silêncio.

V caminhou pelo corredor para o quarto do policial. —Chegou?

Abriu a porta. A cama gigante estava vazia. Então talvez policial estivesse na casa principal?

V andou pelo Pit e colocou a cabeça pela porta do vestíbulo. Um olhar rápido aos carros estacionados no pátio e seu coração começou a disparar no peito. Nenhum Escalade. Logo, Butch não estava no complexo.

Com o sol começando a sair pelo leste, a claridade do dia fez que seus olhos ardessem, assim, entrou novamente dentro de casa e se sentou atrás da rede de computadores.

Carregando as coordenadas do Escalade, viu que o SUV estava estacionado atrás do Screamer.

O que era bom. Ao menos Butch não estava envolto ao redor de uma árvore…

V congelou. Lentamente, colocou a mão no bolso traseiro de suas calças de couro, com um horrível pressentimento se apoderando dele, quente e que picava como um brotoeja. Abrindo o Razr, acessou a sua caixa postal. A primeira mensagem que aparecia era uma chamada perdida do número do Butch.

Enquanto aparecia a segunda mensagem, as persianas de aço do Pit começaram a baixar-se pelo dia.

V franziu o cenho.Se ouvia somente um chiado proveniente da caixa postal. Mas logo um estrondo fez que afastasse o telefone de um golpe de seu ouvido.

Agora a voz do Butch, firme, alta: “Se desmaterialize. Se desmaterialize agora.”

Um homem assustado: “Mas…Mas…”

“Agora! Demônios, tira seu traseiro daqui…” sons de golpes distantes.

“por que está fazendo isso? É somente um humano…..”

“Estou tão farto de escutar isso. Vai!”

Houve um ruído de metal se movendo,uma arma sendo carregada.

A voz do Butch: “OH, merda… ”

Logo se desatou o inferno. Disparos, grunhidos, golpes surdos.

V saltou de atrás do escritório tão rápido que derrubou a cadeira. Somente para se dar conta de que estava preso dentro de casa devido à luz do dia.


CAPÍTULO 4

 

O primeiro pensamento de Butch quando voltou a si foi que alguém devia fechar a torneira. O drip, drip, drip, era muito incômodo.



Logo abriu uma pálpebra e se deu conta de que seu próprio sangue estava fazendo a rotina do Kohler. Ah…. genial. O tinham moído e agora estava gotejando.

Este tinha sido um longo, longo e péssimo dia. Por quantas horas o tinham interrogado? Doze? Pareciam mil.

Tratou de respirar fundo, mas algumas de suas costelas estavam quebradas, assim, isso provocou hipoxia e mais dor. Homem, graças à hospitalidade de seus captores, tudo doía como sua puta mãe, mas pelo menos o lesser tinha fechado a ferida da bala.

Só para poder interrogá-lo por mais tempo.

A única coisa boa de tododo esse pesadelo era que, nenhuma palavra a respeito da Irmandade tinha abandonado seus lábios. Nenhuma única palavra,inclusive quando o assassino tinha trabalhado sob suas unhas e entre suas pernas. Butch ia morrer logo, mas ao menos quando chegasse ao céu poderia olhar São Pedro no rosto sabendo que não era nenhum traidor.

Ou, tinha morrido e chegado ao inferno?Era disso que se tratava tudo? Dada a merda em que tinha estado envolto na terra, podia muito bem ter ido pagar pensão ao diabo. Mas então, seu torturador não deveria ter chifres, como tinham os demônios?

OK, agora estava imaginando coisas.

Abriu os olhos um pouco mais, já era hora de separar a realidade das tolices que dançavam em sua cabeça. Tinha a sensação de que provavelmente este fosse seu último momento de consciência, assim melhor o aproveitar.

Sua visão era imprecisa. As mãos… os pés…yup, algemados. E estava estendido quieto sobre algo duro, uma mesa. O quarto era… escuro. O aroma de pó significava que provavelmente estivesse em um porão... uma lamparina quebrada… se, uma ferramenta de tortura. Estremecendo, afastou a vista das coisas afiadas espalhadas por aí.

O que foi esse barulho? Um tênue bramido. Se tornando mais forte. Mais forte.

Nem bem se deteve, uma porta se abriu no andar de cima e Butch ouviu dizer a um homem com voz afogada —Professor.

Uma suave réplica. Indistinta. Logo uma conversa, e uns passos andando de um lado a outro, fazendo com que o pó se filtrasse para baixo pelas pranchas de madeira do andar. Eventualmente, outra porta chiou ao abrir, e as escadas próximas a ele começaram a ranger.

Butch começou a suar frio sob as pálpebras. Através dos olhos entrecerrados, espiou para ver o que se aproximava.

O primeiro tipo era o lesser que tinha estado trabalhando nele, o indivíduo do verão anterior, da Academia Caldwell de Artes Marciais…. Se a Butch não falhava a memória se chamava Joseph Xavier. O outro estava vestidor dos pés à cabeça com uma brilhante túnica branca, seu rosto e mãos completamente ocultos. Parecia algum tipo de monge ou sacerdote.

Exceto, que não havia um homem de Deus ali embaixo. Quando Butch absorveu a vibração dessa pessoa, ficou sem fôlego devido à repulsão. O que quer que estivesse oculto embaixo dessa túnica, destilava maldade, do tipo que motivava os assassinos em série, estrupadores, assassinos e às pessoas que desfrutavam batendo em seus filhos: o ódio e a malevolência tinham adotado uma forma alta e sólida.

O nível de temor do Butch se elevou até o teto. Podia suportar ser espancado; a dor era uma merda, mas havia um ponto final marcado para quando seu coração deixasse de pulsar. Mas o que se escondia debaixo da túnica guardava sofrimentos misteriosos do tipo que se consideravam bíblicos. E como sabia? Seu corpo inteiro estava se rebelando, seus instintos disparados dizendo que corresse, que se salvasse….que rezasse.

As palavras chegaram a ele, partindo por sua mente. O Senhor é meu pastor; nada me faltará...

O capuz da figura da túnica,se voltou para Butch girando como se não tivesse ossos, como a cabeça de uma coruja.

Butch fechou os olhos de repente e se concentrou a recitar o salmo 23. Mais rápido… precisava trazer as palavras a sua mente, mais rápido. Em lugares de delicados pastos me fará jazer. Junto a águas de repouso me pastoreará… Confortará minha alma; guiar-me-á por caminhos de justiça por amor de seu nome...

—É este o homem? —a voz reverberou através do porão fazendo que Butch tropeçasse nas palavras, o fazendo perder o ritmo: Era ressonante e fazia eco, quase como se tirado de um filme de ficção científica com toda a distorção sobrenatural.

—Sua arma estava carregada com balas da Irmandade.

Volta para o salmo. E o faz rápido. Embora ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum…

—Sei que está acordado, humano. —A voz com eco se disparou dentro do ouvido do Butch—. Me Olhe e conheça o amo de seu captor.

Butch abriu os olhos, virou a cabeça e engoliu compulsivamente. O rosto que o olhava era escuridão condensada, uma sombra viva.

O Omega.

O Mal sorriu um pouco. —Assim sabe o que sou, certo? — se endireitou—. Não disse nada a você, certo, Fore-lesser?

—Ainda não terminei.

—Ah, logo, isso é um não. E trabalhaou bem nele, dado o próximo à morte que está. Sim, posso senti-la vindo para ele. Tão próxima. —O Omega se inclinou outra vez e inalou o ar sobre o corpo do Butch—. Sim, em uma hora. Ou talvez menos.

—Durará tanto como eu queira que dure.

—Não, não o fará. —O Omega começou a dar a volta à mesa e Butch seguiu seus movimentos, o terror crescendo e crescendo, consolidando-se na força centrífuga do passeio do Malvado. Girando, girando, girando…. Butch tremia tanto que seus dentes tocavam castanholas.

O tremor acabou no segundo em que o Omega se deteve no extremo mais afastado da mesa. Mãos espectrais se elevaram e agarraram o capuz da túnica branca, e a retiraram. Sobre suas cabeças a lamparina descoberta piscou como se sua iluminação tivesse sido absorvida pela escura forma.

—O deixe partir —disse o Omega, sua voz como uma onda, filtrada e intensificada pelas variações de ar—. Deixe-o nos bosques. Dirá aos outros que se mantenham afastados dele.

O que? pensou Butch.

—O que? —disse o Fore-lesser.

—A Irmandade conta entre suas debilidades com uma lealdade que é paralisante, não é assim? Sim, fidelidade paralisante. Reclamam o que é dele. É o animal neles. —O Omega estendeu a mão—. Uma faca, por favor. Sou da opinião de que façamos que este humano nos seja útil.

—Acaba de dizer que ia morrer.

—Mas como estão as coisas vou lhe dar um pouco de vida. Algo assim como um presente. Faca.

Os olhos do Butch se abriram completamente enquanto uma faca de caça de vinte centímetros trocava de mãos.

O Omega pôs uma mão sobre a mesa, a folha sobre a ponta de um de seus dedos, e empurrou para baixo. Houve um rangido, como quando se corta uma cenoura.

O Omega se inclinou sobre o Butch. —Onde escondê-lo, onde escondê-lo…

Quando a faca baixou e se abateu sobre o abdômen do Butch, ele gritou.

E ainda seguia gritando quando cortaram levianamente seu ventre. Logo o Omega recolheu a pequena parte de si mesmo, o negro dedo.

Butch lutou, tironeando das ataduras. O horror fazia que seus olhos se inchassem até que a pressão em seus nervos ópticos o cegou.

O Omega inseriu a ponta de seu dedo dentro da tripa de Butch, logo se inclinou mais para baixo e soprou sobre o corte fresco. A pele selou, a carne entretecendo-se. Imediatamente Butch sentiu a podridão dentro dele, sentiu o mal deslizando por ele, se movendo. Levantou a cabeça. A pele ao redor do corte já estava ficando cinza.

As lágrimas arrasaram seus olhos. Escorrendo por suas bochechas.

—Solte-o.

O Fore-lesser foi abrir as algemas mas quando as soltou, Butch se deu conta de que não podia se mover. Estava paralisado.

—Eu o levarei —disse o Omega—. E sobreviverá e encontrará seu caminho de volta à Irmandade.

—Eles perceberão.

—Possivelmente, mas o acolherão.

—Ele dirá a eles.

—Não, porque não me recordará. —O rosto do Omega se inclinou para o Butch—. Não recordará nada.

Quando seus olhares se encontraram, Butch pôde sentir afinidade entre eles, pôde sentir o vínculo, o reconhecimento. Chorou pela violação que tinha sofrido, mas mais pela Irmandade. O acolheriam. Tratariam de ajuda-lo de qualquer forma que pudessem.

E certo como o mal nele, que terminaria traindo-os.

Salvo que talvez Vishous ou os irmãos não o encontrassem. Como poderiam? E sem roupa, o certo era, que morreria, rapidamente pela falta de amparo contra o frio.

O Omega se aprumou e limpou as lágrimas de uma das bochechas do Butch. O brilho da umidade resultava iridescente contra esses dedos negros translúcidos, e Butch queria de volta o que tinha saído de seu ser. Que não tivesse ocorrido. Levantando a mão para a boca, o Malvado saboreou a dor do Butch e seu medo, lambendo… chupando.

O desespero confundiu as lembranças de Butch, mas a fé que acreditou que o tinha abandonado arrojou outro parágrafo do salmo: Certamente o bem e a misericórdia me seguirão todos os dias de minha vida. E na casa do Senhor viverei para sempre.

Mas isso já não era possível agora, ou o era? Tinha o mal dentro dele, debaixo da pele.

O Omega sorriu, embora Butch não compreendia como podia se dar conta disso. —É uma lástima que não tenhamos mais tempo, já que sua condição é frágil. Mas em um futuro você e eu teremos a oportunidade. O que reclamo como meu sempre retorna para mim. Agora, dorme.

E como um abajur a que apagam, Butch dormiu.


—Responde a maldita pergunta, Vishous.

Justo quando o relógio do avô começava a sossegar na esquina, V afastou o olhar de seu Rei. Deteve-se a quarta badalada, assim eram uatro da tarde. A Irmandade tinha estado reunida no comando central do Wrath todo o dia, rondando pelo ridiculamente elegante salão Luis XIV, saturando o delicado ar do lugar com sua fúria.

—Vishous —grunhiu Wrath—, estou esperando. Como saberia onde encontrar o polí? E por que não mencionou isto antes?

Porque sabia que ia criar problemas, e seu carrinho de compras já estava cheio de merda.

Enquanto V tratava de pensar em que podia dizer, olhou seus irmãos. Phury estava na poltrona azul pálida em frente da lareira, seu corpo diminuindo a peça de mobiliário, seu cabelo multicolorido agora ultrapassava a linha da mandíbula. Z estava atrás de seu gêmeo, apoiado no suporte, seus olhos novamente negros, já que estava enfurecido . Rhage estava perto da porta, seu bonito rosto luzia uma perigosa expressão, seus ombros crispando-se como se sua besta interior estivesse igualmente zangada, tanto como para tirar o demônio do corpo de alguém.

E então, lá estava Wrath. Atrás do refinado escritório, o Rei Cego era todo ameaça, seu cruel semblante endurecido, seus débeis olhos ocultos atrás de seus envolventes óculos de cristais escuros. Seus fortes antebraços, marcados na parte interna com tatuagens que indicavam sua linhagem de sangue puro, apoiados em um livro de apontamentos gravado com relevos de ouro.

Que Tohr não estivesse no grupo era uma ferida aberta para todos eles.

—V? responde a pergunta ou que Deus me ajude lhe tirarei isso a golpes.

—Só posso dizer que sei como encontrá-lo.

—O que está escondendo?

V foi para o bar, serviu-se de dois dedos de Grei Goose, e o bebeu de um gole. Bebeu várias vezes e logo as palavras saíram de sua boca .

—Alimentei-o.

Um coro de inalações flutuou por toda o salão. Enquanto Wrath se levantava olhando-o com incredulidade, V se serviu de outra dose do Goose.

Você fez o que? —a última palavra foi um rugido.

—Deixe-o beber de mim.

—Vishous… —Wrath andou majestosamente dando a volta na mesa, as botas batendo o chão como canto rodado. O Rei se aproximou até ficar cara a cara—. É um homem. É humano. Que merda estava pensando? —Mais vodca. Definitivamente era o momento de mais Goose.

V tomou o gole e se serviu da quarta. —Com meu sangue nele, posso encontrá-lo e por isso fiz que bebesse. Vi…. que devia fazê-lo. Assim, o fiz, e voltaria a fazer.

Wrath se virou e passeou pelo salão, as mãos apertadas em punhos. Como se o chefe caminhasse para aliviar a frustração, o resto da Irmandade o olhava com curiosidade.

—Fiz o que tinha que fazer, —falou V, apoiando com força o copo.

Wrath se deteve perto de uma das janelas,as venezianas estavam trancadas para passar o dia, não entrava luz alguma. —Bebeu de sua veia?

—Não.

Um par de irmãos limparam a garganta, como se o estivessem incitando a ser honesto.



V amaldiçoou e se serviu de mais. —Ah, pelo amor de Deus, não é dessa forma com ele. Dava-lhe um pouco em um copo. Não sabia o que estava bebendo.

—Merda, V —murmurou Wrath—, poderia havê-lo matado nesse mesmo momento…

—Foi há três meses. Sobreviveu a isso, assim não há dano…

A voz do Wrath soou forte como um golpe de ar. —Violou a lei! Alimentando um humano! Cristo! O que se supõe que devo fazer a respeito disto?

—Se quer me entregar à Virgem Escriba, irei sem problemas. Mas esclareçamos uma coisa. Primeiro, encontrarei Butch e o trarei para casa, vivo ou morto.

Wrath levantou os óculos de sol e esfregou os olhos, um hábito que tinha desenvolvido ultimamente quando estava cansado da merda de ser Rei. —Se foi interrogado, pode ser que tenha falado. Poderíamos estar em perigo.

V olhou para baixo dentro do copo e negou lentamente com a cabeça. —Morreria antes de nos delatar. Garanto. —Engoliu a vodca e a sentiu deslizar por sua garganta—. Meu amigo é bom.


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