Zíbia gasparetto



Yüklə 1,71 Mb.
səhifə22/24
tarix01.01.2018
ölçüsü1,71 Mb.
#36728
1   ...   16   17   18   19   20   21   22   23   24

Capítulo 28
Roberto apressou-se. Elvira ficara de buscá-lo para um encontro com um elevado assistente da colônia em que residia, e ele estava ansioso. Seis meses haviam decorrido desde aquela noite em que, sentindo a dor do remorso e tendo a consciência de seus erros, Elvira o socorrera.

Logo na chegada, após atravessar os altos muros que cercavam a ci­dade, fora conduzido a uma sala onde um assistente o entrevistou, ano­tando os dados em uma ficha. Depois informou com voz calma:

— Aqui você receberá toda a ajuda de que precisa para se reequili­brar. Em troca precisa cumprir o regulamento. Ninguém pode conquis­tar a paz sem disciplina. Terá orientação espiritual e terapêutica. Qual­quer dificuldade que tiver, deverá ser reportada a eles. Esta é uma cidade de tratamento e recuperação. Não poderá sair sem autorização. É, quan­do não souber o que fazer, é melhor perguntar. Está de acordo?

— Sim. Estou disposto a me esforçar para ficar bem.

Em seguida ele foi apresentado a uma assistente que o conduziu ao aposento onde estava morando desde então.

Apesar da saudade e do arrependimento que sentia, da sensação de incapacidade que o acometia, Roberto esforçou-se para seguir o trata­mento. Aos poucos foi se integrando com as sessões de terapia de gru­po, de bioenergética, e foi se sentindo mais calmo. Nos últimos tempos havia procurado os programas de lazer da comunidade e feito algumas amizades.

Elvira não morava naquele local. Ia visitá-lo de vez em quando. Era com ansiedade que Roberto esperava por aqueles momentos. Quando ela aparecia, ele sentia no peito um calor brando, agradável.

Contava-lhe seus progressos, suas dúvidas, e ela ouvia contente, en­contrando sempre uma palavra de entusiasmo e incentivo. Muitas ve­zes, sozinho olhando o céu cheio de estrelas, sentado em um banco do jardim em frente ao edifício onde morava, Roberto pensava nela.

Desde que a vira sentira-se atraído. Não era paixão, era um senti­mento de alegria, afeto, que o fazia sentir-se vivo, capaz, forte.

Qualquer progresso que conseguisse deixava-o alegre, pensando no que Elvira diria ao saber. Sua presença o deixava de bem com a vida.

Nos momentos em que a lembrança do que fizera o deixava depri­mido, reagia pensando que Deus fora muito bondoso permitindo que Elvira o socorresse. Sentia que ela era um espírito cheio de luz e ele não merecia o afeto que ela demonstrava.

Estremecia quando ela o abraçava e assustado notava que deseja­va tomá-la nos braços e beijá-la. Isso era loucura. Ela o procurava por bondade. Precisava conter-se para não se deixar influenciar por uma fan­tasia e perturbar a amizade que havia entre eles.

Naquela tarde, antes que ela chegasse, renovou os propósitos de con­trolar as emoções.

Certamente estava confundindo as coisas. Ele ama­va Gabriela. Depois, o que sentia por Elvira era muito diferente do que sentia por sua antiga esposa.

Apesar do esforço que fez para se controlar, assim que a viu surgir olhando para ele com carinho, seu coração bateu mais forte. Ela esta­va linda e em seus olhos havia muito amor.

Depois de abraçá-lo, disse contente:

— Vejo que está melhor.

— De fato. Sinto-me bem. Quando você chega, fico melhor.

Pelos olhos de Elvira passou um brilho de emoção e ela respondeu:

— Você me tem feito muitas perguntas sobre o passado. Hoje terá algumas respostas. O convite de Osíris para este encontro indica que você já está apto para dar um passo à frente. Fico feliz que tenha aproveita­do o tempo.

— Quero aprender, melhorar. Sinto saudade de minha família. De­sejo vê-los, mas somente quando estiver bem, assim poderei levar-lhes energias saudáveis.

— Concordo. Agora vamos. Está na hora.

Saíram do prédio, atravessaram a praça e andaram por uma larga avenida, cheia de árvores e lindas casas.

Elvira parou em frente a um portão, dizendo:

— É aqui.

Apertou um pequeno disco dourado que havia do lado de fora e logo o portão se abriu e uma voz convidou-os a entrar.

Um jovem de rosto rosado atendeu-os e conduziu-os a uma sala onde um homem elegante, de fisionomia serena, olhos lúcidos, levantou-se e abraçou Elvira, dizendo:

— Como vai, minha amiga?

— Feliz com seu convite.

— E você, Roberto, como se sente?

— Melhor.

Era a primeira vez que ele se encontrava diante de Osír is, e sentiu uma onda de simpatia e de muito respeito.

— Tenho acompanhado seu progresso com satisfação. Mas sen­tem-se, vamos conversar.

Eles se acomodaram e Osíris continuou:

— Você está bem e já deve estar tendo algumas reminiscências do passado.

— Algumas vezes, quando olho no espelho, tenho a impressão de que meu rosto está diferente. Quando fixo melhor, tudo volta ao nor­mal. Quando faço meditação, tenho visualizado rostos que, embora des­conhecidos, parecem-me familiares.

— Sua memória está começando a voltar. Sua vontade de coope­rar está apressando sua recuperação. Na fase em que está, é normal aflo­rarem sentimentos contraditórios que seu consciente não tem como ex­plicar porque refletem experiências passadas. Sua razão não entende, mas, quando se recordar, farão sentido. É no seu inconsciente que se encon­tra o arquivo de suas vivências passadas, que, apesar de esquecidas tem­porariamente, continuam lá, atuando no presente.

- De fato, isso está acontecendo comigo.

- E a cada dia se tornará mais forte, até que aos poucos vá se lembrando.

Roberto olhou sério para os dois. Ia falar, mas hesitou.

Osíris interveio:

— Se deseja recuperar logo a lucidez, é melhor falar a respeito.

Ele olhou para Elvira com certa preocupação, depois respondeu:

— Não é nada importante. Estou misturando as coisas. Deseja que eu saia? indagou ela.

— Não, é melhor que ele enfrente a verdade. Você deve ficar sugeriu Osíris.

Depois, voltando-se para Roberto, continuou:

— Não se acanhe. Eu e Elvira ouvimos seus pensamentos.

Roberto sentiu vergonha e tentou escapar:

— Nesse caso não preciso dizer nada.

— Não é para nós que terá que se colocar, mas para si mesmo. Quando tiver coragem para admitir seus sentimentos verdadeiros, você se recordará do passado com facilidade.

Ele se remexeu na cadeira. Não se sentia confortável sabendo que seus pensamentos estavam sendo compartilhados com eles. Tomou fô­lego e respondeu:

— Não desejo que me julguem mal. Quando eu estava desespera­do, sem ver saída, sofrendo, apelei para Deus e ele me mandou Elvira. Para mim ela é um anjo, uma santa. Eu a admiro, respeito.

Ele parou interdito. Estava sendo difícil falar. Os dois ficaram si­lenciosos esperando. Roberto tomou coragem e completou:

— Acho que ainda sou muito materialista, muito terreno. Nos úl­timos tempos tenho tido maus pensamentos. Eu resisto, mas, quanto mais tento esquecê-los, mais aparecem. Penso que estou ficando louco.

— Você está interpretando o que sente. É melhor não resistir, dei­xar fluir.

Roberto cobriu o rosto com as mãos. Saber que eles conheciam seus pensamentos íntimos deixava-o envergonhado.

— Não devo. Se não os controlar, eles tomarão conta de mim.

- Reprimir é pior. Procure não julgar, apenas observar o que está sentindo e deixe fluir.

Roberto lembrou-se da emoção que sentia quando Elvira chegava, do prazer que sentia quando ela o abraçava e o fitava com amor. A von­tade de tomá-la nos braços e beijá-la reapareceu forte, viva.

— Não julgue, apenas sinta — aconselhou Osíris. — Não tenha medo da verdade.

Roberto obedeceu e sua fisionomia distendeu-se. Uma luz tênue, amarelada, surgiu em seu peito e ele disse emocionado:

— É muito bom sentir isso!

Naquele momento ele viu Elvira, muito jovem, um pouco diferen­te do que era, abraçada a um rapaz alto, elegante. Sentiu que aquele era ele. Emocionado, ficou olhando a alegria e o carinho dos dois, trocan­do carícias e beijos.

— Se isso é um sonho, não quero acordar! disse baixinho.

Em seguida tudo passou e ele abriu os olhos assustado. Olhou para Elvira, que emocionada observava em silêncio. Depois tornou:

— Eu vi uma cena do passado. Tenho certeza de que já vivemos juntos.

— É verdade — respondeu Elvira. — Muitas coisas aconteceram desde aqueles tempos.

— Talvez por isso eu esteja misturando meus sentimentos. Reco­nheço que, apesar de estar no astral, conservo impressões muito fortes de quando vivia no mundo.

— Você continua o mesmo. As emoções que sentia quando esta­va no corpo de carne são mais intensas aqui. O corpo terreno é apenas um veículo, uma máquina que possibilita interagir naquele plano. Quem pensa, ama, escolhe, sofre e se alegra é o espírito imortal. Vir para cá é continuar sendo o mesmo.

— Pensei que certos desejos fossem provocados pelo corpo material.

— Não. O corpo é apenas um meio de manifestação. Quem dese­ja, quer, é o espírito.

— Nesse caso...

Roberto parou hesitante. Osíris interveio:

— A união de duas pessoas que se amam, o sexo, continua existin­do neste plano. Claro que lá é através do corpo carnal. Aqui há outra forma. Contudo o efeito é o mesmo. O orgasmo neste plano é mais in­tenso, principalmente quando há amor.

— Eu pensei que sexo fosse pecado.

— As religiões criaram essa crença na intenção de evitar os abu­sos. Mesmo assim eles continuaram acontecendo. A Terra é uma ofici­na de experimentação. Tentando ser feliz, o homem corre atrás de to­das as emoções que julga capazes de levá-lo à felicidade e nessa busca experimenta as sensações em vários campos, colhendo os resultados de suas atitudes. Abusa do amor, do dinheiro, dos alucinógenos, do poder e outras coisas mais, na tentativa de encontrar o que procura. Quando regressa para cá, em meio a tantas vivências, está mais amadurecido. Po­rém ainda é o mesmo, com as crenças e idéias que tinha no mundo. Não se admire nem se envergonhe do que sente. O sexo é manifestação de Deus para o sagrado ministério da evolução. Sem ele, a reencarnação não seria possível.

— Eu pensei que aqui isso não existisse.

- Muitos no mundo pensam assim. Mas o corpo astral daqueles que ainda deverão reencarnar na Terra novamente precisa de todos os elementos que possibilitem comandar a formação do corpo de carne que o receberá de volta. Não se esqueça de que o perispírito, ou seja, o corpo astral, é o modelo organizador biológico da formação do corpo em gestação. Sem ele, nenhuma gravidez irá até o fim.

— Estou admirado. Mas tem lógica.

- Não se envergonhe de sentir amor à moda do mundo. O impor­tante é como você administra esse sentimento. Quando mais verdadei­ro e profundo, mais gratificante será.

— Há pouco, vi uma cena de amor entre mim e Elvira. Foi praze­roso, mas ao mesmo tempo me constrange. Ela para mim é uma santa.

— O que sente é natural — interveio Elvira com voz calma. — Nos­sa ligação é antiga.

Estivemos juntos no mundo vivendo situações di­ferentes de parentesco. Você regressou do mundo há pouco tempo. Não se recorda do passado. Quando estiver de posse da sua memória total, compreenderá melhor.

Roberto remexeu-se na cadeira inquieto e tornou:

— Estou ansioso por saber tudo. Pelo que senti hoje quando vi aquela cena, sei que será muito bom. Vocês poderiam me contar o que ainda não sei?

Osíris sorriu e respondeu:

— Calma. Tudo tem seu tempo certo. Deve acontecer natural­mente. Aconselho-o a continuar fazendo o que fez hoje. Quando sen­tir uma emoção que não entende, recolha-se a um lugar tranqüilo, não a reprima. Ao contrário, entre nela, deixe-a fluir sem julgamento ou medo. Isso o ajudará muito.

Quando Roberto se viu sozinho no quarto, deitou-se e a cena que vira entre ele e Elvira não lhe saía do pensamento. Quanto mais pen­sava, mais tinha certeza de que eles haviam-se amado.

Pensou em Ga­briela e reconheceu que o que sentia por Elvira era muito diferente do que o que sentia por ela.

O sentimento por Elvira era doce, prazeroso, dava-lhe uma sensa­ção gostosa de alegria, paz.

O que sentia por Gabriela era doloroso, pro­vocava insatisfação, angústia, ciúme, insegurança.

Por quê? Como um amor podia ser tão diferente do outro?

Recordou-se de tudo que acontecera entre eles e reconheceu que desde o começo Gabriela despertara nele aqueles sentimentos, misto de prazer e angústia.

De repente ocorreu-lhe que Gabriela também havia feito parte de suas vidas passadas.

Aqueles sentimentos poderiam refletir aconteci­mentos esquecidos mas que continuavam arquivados em seu incons­ciente, como Osíris tinha dito.

Sentou-se no leito, pensativo. Queria saber a verdade. Deitou-se novamente e tentou fazer o que Osíris aconselhara. Lembrou-se de seu relacionamento com Gabriela, sentiu a mesma angústia e perguntou:

— De onde vem esse sentimento? Gabriela sempre foi boa esposa, fiel. Por que sinto isso sempre que penso nela?

No mesmo instante viu-se em um quarto com Gabriela. Apesar de um pouco diferentes, ele os reconhecia. Roberto gritava nervoso:

— Você me traiu! E minha mulher, não a deixarei ir.

A raiva, o ciúme reapareceram com violência. Tentava abraçá-la, mas ela o empurrava chorando e pedindo que a deixasse ir, que amava outro e tinha um filho pequeno.

Nesse instante um homem surgiu pela janela empunhando um re­vólver. Ele reconheceu Renato.

Apanhou a espada, mas o outro atirou. Sentiu o sangue escorrendo no pescoço, sua vista turvou-se e ele caiu.

Assustado, viu-se novamente no quarto, a visão havia desaparecido. Então era verdade mesmo: Gabriela o havia traído. Sentiu um mis­to de alívio e raiva ao mesmo tempo. Alívio por saber que seu ciúme fora justificado. Raiva por descobrir que ela o trocara por Renato.

Havia acontecido em outra encarnação, porém a mágoa continua-va dentro dele.

Que triste destino o seu. Assassinado duas vezes. Por quê? Não era justo. Nos dois casos ele fora a vítima. Traído pela mulher e roubado pelo sócio.

Haviam-lhe ensinado que tudo está certo, que Deus é perfeito. Não era verdade. Alguma coisa deveria estar errada.

Não conseguiu ficar deitado. Levantou-se e começou a andar de um lado a outro inquieto.

Queria ver mais, saber detalhes daquele passado. Aquele flash aguçara sua curiosidade.

Depois de algum tempo, cansado, lembrou-se de que quando esta­va desesperado havia pedido a ajuda de Deus e fora atendido. Imedia­tamente se ajoelhou e rezou, implorando esclarecimento.

Não conseguiu o que desejava, porém aos poucos foi se acalman­do. Deitou-se e pensou:

— Preciso me refazer. Amanhã tentarei falar com Osíris. Ele vai me esclarecer.

Depois disso, conseguiu adormecer. Na manhã seguinte, logo cedo, procurou Osíris. Depois de esperar algum tempo, ele o recebeu dizendo:

- Já o esperava. Sente-se e vamos conversar.

- Ontem vi uma cena que me emocionou muito. Algumas coisas ficaram claras em minha cabeça, mas outras me confundiram. Preciso de esclarecimentos.

— O que quer saber?

— Em outra vida fui casado com Gabriela. Ela fugiu com outro, me traiu, já que tinha um filho dele. Apesar de eu ter sido a vítima, foi o amante dela quem me matou. O mesmo aconteceu com Neumes: eu fui roubado e ele me matou. Não posso compreender. Eu era inocente, por que Deus permitiu isso?

— Você está enganado. Não existe vítima. Só a necessidade de aprender. Por isso cada um colhe o resultado de suas atitudes. Foi o que aconteceu.

— Mas eu fui roubado, traído. Nunca roubei nem traí ninguém.

— Você ainda não se lembrou de tudo. Quando conseguir, compreenderá.

— Você pode me contar o que ainda não sei.

— Não. É você quem precisa rever os fatos para entender.

— Estou me sentindo angustiado. Por favor, ajude-me a recupe­rar a paz.

— Vou ver o que posso fazer. Deite-se nesta maca.

Roberto obedeceu e ele continuou:

— Feche os olhos, relaxe. Lembre-se de um lugar agradável em que você gosta de ir, sinta bem-estar, calma. Respire suavemente, con­tinue pensando que tudo está certo, que a vida é perfeita e segue seu cur­so agindo sempre para o melhor. Agora pense na cena que viu ontem. Você está preparado para conhecer a verdade. Quer saber o que acon­teceu no passado. As causas de tudo que tem passado. Volte no tempo e deixe-se conduzir.

Roberto sentiu que um vento forte soprava e deixou-se levar sem resistir. Depois se viu conversando com Gabriela, que chorava e dizia:

— Não posso me casar com você. Eu amo Raul!

Ele tentou abraçá-la, dizendo:

— Eu quero você! Tem que ser minha de qualquer jeito! Seu pai concordou, e amanhã nos casaremos.

Ela chorava desesperada:

— Eu imploro: desista! Eu não amo você!

— Você me amará com o tempo.

Depois, ele viu várias cenas: o casamento, a frieza dela na noite de núpcias, a noite em que ela fugiu com Raul, a procura desesperada, o encontro, o rapto e finalmente a cena do quarto onde ele perdeu a vida.

Começou a soluçar em desespero. Osíris disse calmo:

— Tudo isso já passou. Acabou. Reconheça que ela não o amava e foi você que forçou a situação. Se houvesse compreendido, desistido desse casamento, teria se poupado de muitos problemas.

Aos poucos ele parou de soluçar, abriu os olhos e disse:

— Agora compreendo. Gabriela nunca me amou nem me amará. Eu estava iludido. Acreditei que ela um dia pudesse me amar. Mas não tenho o poder de mudar os sentimentos dela. Isso foi naquele tempo. Mas desta vez ela disse que me amava, concordou em casar comigo, não posso entender.

— Gabriela possui elevados valores de honestidade. Depois que Raul o assassinou, sentiu muita culpa e pensou que, dedicando-se um tempo a você, estaria se libertando desse peso.

— Quer dizer que não era amor mesmo. Ela se casou por pena!

— Não é exatamente isso. Ela tentou se livrar da própria culpa. Foi um caso de consciência.

— Agora estou entendendo muitas coisas. O Dr. Aurélio me disse que eu atraí Neumes em minha vida por pensar que ele era mais im­portante e que sabia mais do que eu.

— Outra ilusão. Ninguém é mais do que ninguém, embora existam diferenças de níveis e de conhecimentos. Como está se sentindo?

— Melhor. Ainda preciso pensar um pouco mais em tudo. Rever algumas atitudes.

— Faça isso. Você está indo muito bem. Dentro de pouco tempo poderá deixar este lugar e seguir rumo a novas experiências. Há alguém que há muitos anos espera por isso.

Roberto hesitou um pouco, depois disse:

— Elvira. Pressinto que ela foi muito importante em minha vida. Há um sentimento muito forte nos unindo. Entretanto, não sei por quê, quando penso nela como mulher me sinto inibido. Parece que estou cometendo um pecado.

Osíris sorriu e respondeu:

— Vocês são livres para se amar. Nada há que impeça. Um dia vai entender seus sentimentos.

Roberto deixou a sala de Osiris sentindo-se leve, alegre. Toda a angústia havia passado. Ele forçara Gabriela a um casamento indeseja­do. Por isso nunca tivera certeza de que ela o amava.

Reconhecia que cada um é livre para amar e que isso acontece na­turalmente, sem que a vontade interfira. A atração entre os seres obe­dece a critérios próprios cujo mistério nem sempre se pode explicar.

Percebia o quanto errara tentando forçar uma situação, seja usan­do as fraquezas de Gioconda, seja valendo-se da ignorância de espíritos atrasados.

Ele estivera errado o tempo todo. Gabriela, apesar de o haver traí­do anteriormente, nesta última vida, mesmo convivendo com Renato, que havia sido o grande amor de sua vida, conseguiu ser fiel aos com­promissos assumidos.

Então ele entendeu por que ele fora atingido e ela poupada. Ele ti­nha sido o culpado pelo que acontecera. Se tivesse confiado nela, ain­da estaria no mundo, ao lado da família.

Naquele momento sentiu muita culpa e amargo arrependimento. Precisava fazer alguma coisa para libertar-se desses sentimentos. Pensou nos filhos com carinho. Como estariam? Até quando precisaria ficar longe deles, sem saber notícias? Haviam-lhe prometido que quando es­tivesse bem poderia visitá-los.

Até lá faria tudo para reconquistar o equilíbrio perdido. Tinha cer­teza de que assim conseguiria o que desejava.

Pensou em Elvira. Seu coração bateu forte. Ela o amava. Lera isso em seus olhos desde que ela atendera seu chamado aflito da primeira vez.

Era maravilhosa! Uma mulher iluminada como aquela preocupa­va-se com ele, cuidava de seu bem-estar, trabalhava para sua felicidade.

Um brando calor surgiu em seu peito e ele se sentiu valorizado, que­rido, agasalhado.

Gabriela não o amava, porém Elvira sim. Talvez com ela estivesse sua felicidade. Para isso, precisava apenas esperar.

Capítulo 29
Renato atendeu o telefone:

— É Clara. O senhor pode atender?

— Sim. Pode passar. Clara, o que foi?

— É D. Gioconda. Ela está muito agitada. Quis sair, mas eu vi que não estava bem e não deixei. Ela ficou fora de si, tentou me agredir. Con­segui prendê-la no quarto, mas ela está esmurrando a porta.

— E as crianças?

— Estão muito assustadas. Não quiseram ir à escola. Já liguei para o Dr. Aurélio e ele está vindo para cá.

— Fez bem. Dentro de alguns minutos estarei ai.

Ele desligou e preparou-se para sair. Gabriela entrou e notou sua preocupação.

— Aconteceu alguma coisa?

- Sim. Vou para casa. Gioconda está tendo um acesso. Clara tran­cou-a no quarto e o Dr. Aurélio está indo para lá.

— Deseja que eu faça alguma coisa?

— Tome conta de tudo até eu voltar. O Dr. Menezes ficou de vir daqui a uma hora. Telefone para ele transferindo para amanhã. Assim que puder eu ligo para cá.

Ele saiu apressado, e Gabriela, depois de fazer o que ele pedira, sen­tou-se em sua sala, pensativa. A cada dia mais admirava Renato. Apesar de separado da esposa, levava vida discreta, recolhendo-se cedo, cuidan­do dos filhos com carinho e do tratamento de Gioconda com interesse.

Tratava-a com respeito e atenção, interessando-se pelo futuro de Guilherme e Maria do Carmo, atento a qualquer problema que tives­sem. Roberto, que era o pai, nunca fizera nada disso. Amava os filhos, mas jamais tivera a delicadeza de Renato.

Muitas vezes notara que ele ficava triste, e Gabriela imaginava que era por causa da família.

Nessas ocasiões sentia vontade de confortá-lo. Procurava assuntos alegres, tentava de todas as formas fazer com que ele recuperasse a alegria. Só se sentia bem quando aquela ruga da testa dele desaparecia e ele distendia a fisionomia.

Algumas vezes surpreendera-o fitando-a com enlevo. Estremecia e pensava que estava imaginando coisas. Sentia-se muito só e ele lhe transmitia segurança, conforto.

Nicete dizia que ele a amava e que um dia acabaria por se declarar. Ela gostava tanto de Renato que desejava muito um romance entre eles.

— A senhora fala que não, mas o que vai fazer no dia em que ele se declarar?

— Esse dia nunca chegará. Você está imaginando coisas.

— Não estou. Esse dia vai chegar. Ninguém pode esconder um sentimento desses o tempo todo.

Gabriela sorriu e pensou:

— E se ele se declarasse mesmo, o que eu faria?

Ao pensar nisso, sentiu calor e um arrepio pelo corpo. Levantou-se e tomou um copo de água.

Afundou no trabalho tentando esquecer aqueles pensamentos.

Quando foi levar alguns documentos à mesa de Renato, olhou o retrato dele que estava em um canto. Era um homem bonito, forte, seguro de si. O que faria se ele a abraçasse? Gabriela corou a esse pen­samento. O que estava acontecendo com ela? Precisava se controlar. Renato não podia perceber que tinha esses pensamentos.

Renato chegou em casa e Aurélio já estava no quarto com Giocon­da. Procurou Clara, que estava com as crianças no quarto de Célia. Ven­do-o, a menina correu a seu encontro chorando.

— Pai, a mamãe está mal. Acho que enlouqueceu!


Yüklə 1,71 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   16   17   18   19   20   21   22   23   24




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin