1 Um ser denominado Corruptaceae sin vergonhus. Pela descrição feita, supõe-se que seja um ser difícil de ser eliminado, que vive escondido e que tem como característica “grudar suas poderosas ventosas no poder”.
> O ser é chamado de Corruptaceae sin vergonhus (tentativa de criação, com base no latim, de uma denominação para a nova espécie), nome que poderia ser “traduzido” como “corrupto sem vergonha”. O que essa denominação sugere é que o animal apresentado é marcado por um comportamento específico, do qual não se envergonha: a corrupção.
2 Sim. A descrição de seres fantásticos era uma das características dos bestiários medievais. Nesse sentido, o Corruptaceae sin vergonhus poderia figurar em qualquer compilação em que seres extraordinários, como a sereia ou o unicórnio, fossem descritos. Além disso, Caco Galhardo cria um nome inspirado no latim para identificar o novo ser, sendo esta outra característica dos bestiários. Observamos ainda, à direita do cartum, a descrição dos hábitos do Corruptaceae, como se esperaria de um catálogo de novos seres.
a) Sim. Como o comportamento associado ao Corruptaceae sin vergonhus é algo moralmente condenável (a corrupção, o desejo de “grudar” no poder a qualquer custo), podemos reconhecer no cartum uma finalidade moralizante semelhante à dos bestiários medievais. Ao caracterizar um ser de comportamento abjeto, o cartum identifica um tipo de atitude a ser evitado pelas pessoas.
b) Caco Galhardo explora o fato de os bestiários medievais apresentarem seres fantásticos para fazer uma crítica ao contexto sociopolítico brasileiro atual. Os políticos corruptos são caracterizados, nesse cartum, como seres obcecados com a obtenção de vantagens pessoais e preocupados somente em “grudarem” no poder. O humor crítico nasce da caracterização desse comportamento como algo típico de uma espécie animal que não teria como se comportar de outro modo, porque essas são suas características. Como sabemos que os “modelos” que inspiram o cartunista são humanos, reconhecemos a crítica feita a esse comportamento condenável.
3 É a palavra quando. É uma conjunção, que se classifica como subordinativa temporal nesse contexto.
> A relação é de subordinação das ideias no tempo. Assim, no caso das duas primeiras orações (“Quando a gente pensa que já se livrou dele, de repente ele aparece de novo”), a articulação estabelecida pela conjunção quando leva o leitor a concluir que, justamente no momento em que as pessoas pensam que o Corruptaceae sin vergonhusdesapareceu, ele retorna. Nas duas últimas orações (“Quando suas poderosas ventosas grudam no poder, não há Cristo que o arranque!”), o leitor também pode observar uma vinculação de ordem temporal entre as ideias; o sentido, agora, é o de que, no momento em que o Corruptaceae sin vergonhus alcança seu objetivo (chegar ao poder), nada o faz abrir mão da posição conquistada.
Atividades (p. 219)
1 “Quando você perceber” é uma oração subordinada adverbial temporal; “pode ser tarde demais” é a oração principal.
> O anúncio tem como objetivo vender o Seguro Verde (do banco HSBC), uma modalidade de seguro comprometida com o meio ambiente. Ao apresentar uma circunstância temporal sob a forma de uma oração subordinada adverbial (“Quando você perceber”), o anúncio adverte o leitor para o fato de que, sem ele se dar conta, as garrafas plásticas jogadas na natureza poluem o meio ambiente e podem levar à extinção de animais silvestres, como os tamanduás. Segundo o texto, quando nos dermos conta do risco, pode ser tarde demais. A aquisição do Seguro Verde pode, portanto, contribuir para que sejam realizadas ações que garantam a proteção da natureza, antes que o cenário de destruição ambiental projetado pela imagem do anúncio se torne realidade.
2 Observamos, na parte de cima, a representação de tamanduás. A partir do meio, vemos que as figuras dos tamanduás vão gradativamente sendo alteradas até serem transformadas em garrafas plásticas.
> Na imagem, tamanduás e garrafas plásticas se mesclam, até que um se transforma em outro. Não conseguimos identificar exatamente quando a transformação começa. Como se trata de um fenômeno gradual, pode ser difícil percebê-lo. É justamente essa imagem que reforça a ideia de que é necessário tomar uma providência para evitar que, na natureza, essa transformação ocorra sem que os indivíduos percebam. A providência, no caso, é comprar o Seguro Verde anunciado.
3 O anúncio tem como objetivo divulgar a nova loja da rede Leroy Merlin na cidade de Niterói. Como se trata da primeira empresa do Brasil com certificação de alta qualidade ambiental (Aqua), o autor do texto aproveita a oportunidade para chamar a atenção dos consumidores para esse fato.
a) O anunciante se apresenta como uma empresa de materiais de construção muito preocupada com o meio ambiente.
b) O anúncio chama a atenção para o fato de a empresa ter reaproveitado a madeira utilizada na construção da loja para fazer o outdoor (placa), sugerindo que, com essa ação, árvores foram preservadas. Além disso, há a menção de que a loja de Niterói é a primeira com o certificado Aqua (Alta Qualidade Ambiental).
4 A oração é “que a madeira da construção virou placa”.
a) A oração “que a madeira da construção virou placa” classifica-se como subordinada adverbial consecutiva. Professor: Comentar que, no texto do anúncio, o verbo da oração principal a que se liga a oração adverbial está elíptico: “(A) Nova Leroy Merlin está tão preocupada com o meio ambiente”. O uso do ponto entre “Nova Leroy Merlin” e “Tão preocupada...” contribui para enfatizar o fato de que uma nova loja está sendo inaugurada.
b) A oração subordinada adverbial consecutiva expressa uma consequência do fato apresentado na oração principal. No caso do anúncio, a oração “que a madeira da construção virou placa” destaca uma das consequências da preocupação da empresa com o meio ambiente definida no trecho “[(A) Nova Leroy Merlin (está)] tão preocupada com o meio ambiente”. O uso desse tipo de estrutura sintática mostra ao consumidor que a Leroy Merlin toma, de fato, atitudes concretas para garantir a preservação da natureza.
5 O retrato do general não passou pela porta devido ao seu tamanho: ele é praticamente da altura do escritório em que deve ser entregue.
a) A secretária atribui o tamanho exagerado do retrato ao tamanho do ego do general Dureza. Segundo ela, quanto menor fica o corpo do general, maior fica seu ego.
b) As duas orações que compõem o período “Quanto mais o corpo dele encolhe, mais o ego aumenta!”, estabelecem entre si uma relação de proporcionalidade, introduzida pela estrutura correlativa quanto mais... mais. A primeira oração é classificada como uma subordinada adverbial proporcional, que se relaciona à principal “mais o ego aumenta”.
c) Possibilidades: À proporção que o corpo dele encolhe, o ego aumenta ou À medida que o corpo dele encolhe, o ego aumenta.
Página 426
6 I. Afastando-se de Clara naquele momento: oração subordinada adverbial condicional reduzida de Gerúndio. II. Mantida uma preocupação exagerada com a opinião alheia: oração subordinada adverbial condicional reduzida de Particípio. III. Ocupado demais com seus próprios interesses: oração subordinada adverbial causal reduzida de Particípio.
> Se se afastasse de Clara naquele momento, João conseguiria esquecê-la. II. Se mantivermos uma preocupação exagerada com a opinião alheia, nenhum de nós poderá levar a vida adiante. III. Porque (como) estava ocupado demais com seus próprios interesses, Rogério deixou de ver o que era realmente importante.
7 A oração é “enquanto não melhorar as minhas notas”. Trata-se de uma oração subordinada adverbial temporal.
a) As duas informações apresentadas na fala do menino são: a mãe não deixa que ele compre pipocas; a proibição deixa de existir quando ele melhorar as notas. A relação de sentido entre essas duas informações é a de antecedência no tempo: para que o menino possa comprar pipocas ele precisa, primeiro, melhorar suas notas.
b) O pipoqueiro argumenta que ele só conseguiu se transformar em um engenheiro de sistemas porque estudou. Então, o menino deve entender a posição da mãe e fazer o mesmo.
8 O período é “Se eu não tivesse estudado, não seria um engenheiro de sistemas como sou hoje!”.
> “Se eu não tivesse estudado”: oração subordinada adverbial condicional; “não seria um engenheiro de sistemas”: oração principal; “como sou hoje”: oração subordinada adverbial comparativa. O humor se relaciona com o período identificado porque, nele, há a ocorrência de uma oração subordinada adverbial condicional que associa o estudo à qualificação profissional (no caso, engenheiro de sistemas). Essa condição gera o efeito de humor, porque quem fala isso é o pipoqueiro, ou seja, mesmo que tenha obtido o diploma de engenheiro de sistemas, hoje o rapaz ganha a vida vendendo pipocas. O fato de ter estudado não parece ter garantido a ele a possibilidade de atuar como engenheiro.
Enem e vestibulares (p. 221)
a) Em ambos os casos, as frases são constituídas de orações assindéticas que sugerem a rapidez das ações efetuadas pelo sujeito de cada uma. Na primeira frase, a ação de chegar é quase simultânea à de mandar e, na segunda, o ato de vencer é quase imediato ao de vir e ver.
b) [I] Assim que mandou, chegou.
[II] Mal vim, logo vi e venci.
UNIDADE 4 - Articulação dos termos na oração
CAPÍTULO 13
Concordância e regência
Concordância nominal e verbal (p. 224)
1 Níquel está ensaiando uma fala especial para conquistar sua “gatinha” (a rata com quem ele vai se encontrar).
> Em lugar de reproduzir exatamente o texto que ensaiou, Níquel Náusea exprime a mesma ideia usando o que parece ser o seu modo de falar, e a ratinha parece não gostar do que ouve.
2 Variedade 1: “Gatinha!! Quando te vejo, cada partícula do universo se torna mais viva e cintilante!”. Variedade 2: “Gatinha! As coisa fica brilhenta!”.
a) “Gatinha!! Quando te vejo, cada partícula do universo se torna mais viva e cintilante!”
b) Como a intenção de Níquel Náusea é impressionar bem a ratinha para conquistá-la, ensaia dizer algo em uma variedade linguística mais prestigiada que a sua. O que se vê, no entanto, é que Níquel acaba “retornando” à sua própria variedade no momento em que encontra a amada. Diante do olhar de espanto da ratinha, conclui que precisa “ensaiar mais” para evitar que o seu modo de falar prevaleça.
3 A fala representativa da segunda variedade não parece seguir as regras da gramática normativa. Há um artigo plural (as) seguido de um substantivo singular (coisa), quando a gramática normativa prevê que o substantivo também esteja no plural. O mesmo ocorre no caso da relação entre o verbo e seu sujeito. Flexionado na 3ª pessoa do singular (fica), o verbo faz referência a um sintagma nominal (as coisa) que tem um sentido plural, conforme indicado pela flexão de número do artigo. Além disso, o adjetivo que desempenha a função de predicativo do sujeito (brilhenta) não faz parte do léxico da variedade culta da língua.
Atividades (p. 244)
1 O interlocutor da carta é o diretor de um colégio.
> O autor da carta é professor de português no colégio em que seu interlocutor exerce a função de diretor. Dá aulas ali há mais de vinte anos e o diretor o conhece bem.
2 “Dez real”, “dois real”, “três cueca”, “quatro quilo de batata”, “seis limão”, “os peixe tão fresco”, “as sacola”, “meus filho” e “das compra”.
> O autor refere-se à conclusão que ele chegou após analisar as diversas ocorrências por ele mencionadas na carta. Nessas expressões, o plural foi marcado em apenas um dos termos do sintagma nominal (“dez real”, “três cueca”, “as sacola”, “meus filho” etc.), contrariando o que a gramática normativa prescreve como regra geral de concordância nominal.
3 Segundo a gramática normativa da língua portuguesa, o núcleo de um sintagma nominal e os termos que a ele se referem devem concordar em número. Ajudar os alunos a perceberem que, no caso das frases mencionadas, os falantes marcam o plural apenas nos determinantes do núcleo do sintagma nominal (artigos, pronomes possessivos, demonstrativos ou indefinidos etc.), o que é suficiente para indicar que o sintagma traduz a ideia de plural. Além disso, em algumas expressões citadas na carta, a ideia de plural vem marcada pelo sentido plural do numeral (“dez real”, “dois real”, “três cueca”) e não pela flexão de número do determinante.
4 Essa postura revela que o autor da carta tem uma visão purista da língua, segundo a qual o “mau uso” de estruturas linguísticas deve ser corrigido. Para o professor, a língua é um sistema homogêneo, que não admite variações em diferentes contextos de uso. Por isso, leva em consideração apenas a perspectiva da gramática normativa.
> A postura do autor é inadequada porque, ao analisar estruturas linguísticas que diferem das estabelecidas pela gramática normativa, ele desconsidera seus contextos de ocorrência. Como sua visão de língua é fundamentada apenas pelo que é prescrito pela gramática normativa, o autor da carta sempre considerará “erro” qualquer estrutura linguística que não siga as normas gramaticais.
5 Concordância inadequada: “... deveriam haver mais unidades”. Correção: deveria haver mais unidades.
> Quando usado no sentido de existir, o verbo haver é impessoal e a oração em que ocorre não tem sujeito. O termo mais unidades é objeto direto, e não pode, portanto, determinar se o verbo deve estar no singular ou no plural, pois, segundo a
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regra geral de concordância, a flexão do verbo é determinada pelo sujeito a que ele se refere. No texto, o verbo haver é o verbo principal (no infinitivo) da locução verbal deveria haver. Nesse caso, o verbo auxiliar (dever) segue a flexão do verbo principal, permanecendo na 3ª pessoa do singular (“deveria haver mais unidades”).
6 A inadequação da concordância do verbo dever, na locução verbal deveriam haver, relaciona-se ao fato de a expressão mais unidades (objeto direto) estar no plural. A autora do texto provavelmente considerou, de modo equivocado, que o objeto direto era, na verdade, sujeito da oração. Por esse motivo fez a concordância com essa expressão no plural, esquecendo-se de que, no caso de orações sem sujeito, o verbo é impessoal, devendo permanecer, portanto, na 3ª pessoa do singular. O mesmo vale para o auxiliar, no caso de o verbo haver usado impessoalmente fazer parte de uma locução verbal.
7 Na fala do zelador, há uma silepse de pessoa na expressão “a gente somos bom só que porém discreto”.
> Em “a gente somos”, o zelador faz uma concordância ideológica, pois concorda o verbo (somos) com a ideia da pessoa gramatical nós (1ª pessoal do plural), apesar de essa expressão apresentar forma de 3ª pessoa do singular.
8 O uso da expressão a gente com o verbo flexionado na primeira pessoa do plural é geralmente visto de maneira preconceituosa porque ocorre em variedades linguísticas de pouco prestígio. Por isso, determinados falantes consideram essa concordância “inadequada”.
9 A maioria de.
> Na primeira manchete, a concordância se dá entre a locução verbal vai ver e o substantivo maioria; por isso, o verbo principal (vai) está no singular. Na segunda manchete, o verbo conseguir concorda com o substantivo jovens; por isso, está no plural (conseguem).
10 Sim. Quando o sujeito apresenta uma expressão partitiva (a maioria de) seguida de um substantivo ou de um pronome no plural, o verbo pode ficar no singular (concordando com o substantivo que ocorre na expressão partitiva) ou ir para o plural.
Regência nominal e verbal (p. 247)
1 Hagar explica sua filosofia de vida para o estranho. Segundo ele, “É preciso mostrar ao mundo quem você é e do que é capaz”.
> Hagar aparece como o guerreiro que usa seus atributos físicos para conquistar seus objetivos. Na tira, além de afirmar que sempre consegue o que deseja, ele também dá um soco na mesa, como se sugerisse que é por meio da força que alcança suas conquistas. O estranho comporta-se de modo oposto. Ouve o que diz Hagar e, em lugar de discutir ou questionar o comportamento do viking, faz uma observação sobre o modo como o outro fala. O estranho responde à “exuberância” física de Hagar com uma postura mais intelectualizada, analítica.
2 Segundo o estranho, Hagar deveria ter dito “aquilo de que estou a fim” e não “o que estou a fim”.
> Na fala de Hagar, observamos uma oração subordinada adjetiva restritiva em que o pronome relativo (que) deve atuar como complemento, introduzido pela expressão “estar a fim de (algo)”. Como indica a forma original da expressão — estar a fim de —, é necessária a presença da preposição de entre essa expressão e o termo que, por meio dela, será integrado à oração. Hagar faz uso de uma construção muito característica da oralidade, em que a preposição deveria anteceder o pronome relativo e não é utilizada. A ausência dessa preposição provoca o “erro” percebido pelo estranho na fala de Hagar.
3 Hagar, fazendo jus à sua “filosofia de vida”, bate no estranho e toma o seu dinheiro. No fim, ironicamente, faz uso da construção gramatical correta (“de que estou a fim”) para afirmar que sempre consegue o que quer. Seu gesto e sua fala parecem sugerir que, para ele, a questão gramatical não tem a menor relevância. Importante mesmo é alcançar os resultados pretendidos, seja por que meio for.
Atividades (p. 253)
1 I. para; II. com; III. de; IV. por.
> Todos os enunciados apresentam casos de regência nominal. O primeiro refere-se à regência do nome apto, que exige a preposição para; o segundo trata do adjetivo condescendente, que exige a preposição com; no terceiro enunciado, o termo procedente exige a preposição de; no quarto, o substantivo simpatia exige a preposição por.
2 O humor da tira é construído pelo fato de cavaleiro e cavalo discordarem quanto à direção a ser seguida e o animal “vencer” a discussão.
3 “Prefiro ir a cavalo pro lado errado do que ir a pé pro lado certo!”
a) Prefiro ir a cavalo pro lado errado a (ter de) ir a pé pro lado certo!
b) A inadequação está no uso da conjunção comparativa do que para vincular o verbo preferir ao objeto indireto ir a pé (“Prefiro ir a cavalo [...] do que ir a pé”). O verbo preferir, no contexto, é transitivo direto e indireto; a relação entre esse verbo e seu objeto indireto deve ser feita pela preposição a (Prefiro ir a cavalo [...] a ir a pé).
4 Na tira, Calvin pergunta (provavelmente à sua mãe) se pode assistir a um filme de terror, se precisa comer algo que considera desagradável e se pode ficar acordado até a meia-noite. A resposta para duas dessas perguntas é negativa, já que ele estava pedindo autorização para fazer coisas inadequadas para uma criança da sua idade. A única resposta afirmativa relaciona-se a algo considerado saudável (comer aspargos). O efeito de humor é construído pela conclusão a que chega Calvin com base nas respostas recebidas: tudo o que é considerado bom para ele (ver filmes adequados à sua idade, comer alimentos saudáveis e dormir cedo) é inversamente proporcional ao prazer que tais ações podem proporcionar.
5 “Posso assistir o filme ‘Chacina no baile de formatura’ na TV?”
a) Posso assistir ao filme...
b) A inadequação, segundo as regras da gramática normativa, está na escolha da regência do verbo assistir. Como transitivo direto (uso feito por Calvin), esse verbo significa ajudar, auxiliar. Para ter o sentido pretendido pelo menino (ver um filme), o verbo assistir deve ser usado como transitivo indireto, caso em que o objeto indireto (o filme) deve se ligar ao verbo por meio da preposição a.
6 A fala de Calvin ocorre em uma situação informal, contexto em que essa estrutura é aceitável. Na fala espontânea, é frequente o uso do verbo assistir como transitivo direto na acepção de presenciar.
7 O texto trata dos amigos que continuam fazendo parte da nossa vida, ainda que distantes fisicamente. Segundo Carpinejar, temos amigos “invisíveis”, que não estão por perto, mas sempre estão atentos ao que nos acontece e continuam próximos afetivamente.
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8 No 3º parágrafo: “[...] que nunca mais recebi novidades [...]”; no 9º parágrafo: “[...] mas aquele que você pode telefonar de repente [...]”.
a) No 3º parágrafo: “[...] de que nunca mais recebi novidades [...]”; no 9º parágrafo: “[...] mas aquele para que você pode telefonar de repente [...]”.
b) No 3º parágrafo, o verbo receber é transitivo direto e indireto (receber alguma coisa → novidades; de alguém → dos amigos) e exige a preposição de anteposta ao objeto indireto, o pronome relativo que. No 9º, o verbo telefonar é transitivo indireto e exige a preposição para anteposta ao seu complemento (objeto indireto – para aquele amigo), o pronome relativo que.
9 Trata-se da oração subordinada adjetiva (restritiva).
> Os verbos das orações subordinadas adjetivas presentes exigem a preposição de para se ligarem a seus complementos (objetos indiretos). Nos dois casos, o que se observa são ocorrências que se aproximam de situações de fala coloquial. O autor do texto, provavelmente habituado ao que costuma ocorrer nesse contexto, não fez uso da preposição para estabelecer a relação entre os objetos indiretos e os verbos cujo sentido complementam. Segundo as regras da gramática normativa, os objetos indiretos sempre se ligam aos verbos por meio de uma preposição. Por esse motivo, a correção da inadequação de regência, nos dois casos, envolveu a introdução de uma preposição antes do pronome relativo que, que exerce a função de objeto indireto nas orações adjetivas desses textos.
10 A passagem é: “e que a maior parte das pessoas nunca ouviu falar”.
a) O problema está na ausência de preposição antecedendo o pronome relativo que. Como esse pronome deve ligar-se à locução verbal ouviu falar, precisa ser precedido pela preposição sobre ou pela preposição de.
b) Possibilidade I: “... e sobre o qual a maior parte das pessoas nunca ouviu falar”. Possibilidade II: “... e do qual a maior parte das pessoas nunca ouviu falar”.
CAPÍTULO 14
Colocação pronominal
Os pronomes oblíquos átonos (p. 255)
1 Na tira, um rapaz se ajoelha aos pés de uma moça e lhe faz alguns apelos: “Abrace-me!”, “Beije-me!, “Nunca deixe-me!”. No último quadrinho, a moça condiciona o atendimento aos apelos feitos pelo rapaz apaixonado a uma correção no uso que ele faz de um pronome.
2 a) O pronome oblíquo é “me”.
b) O pronome oblíquo me está diretamente relacionado aos verbos abraçar, beijar e deixar.
c) O pronome indica sobre quem recai a ação dos verbos. Ou seja, informa que o rapaz deve ser abraçado, beijado e nunca abandonado pela moça. Nas três ocorrências, o pronome oblíquo me desempenha a função de objeto direto dos verbos cujo sentido complementa.
d) O pronome oblíquo está posposto aos verbos abraçar, beijar e deixar.
3 A moça se refere à última ocorrência do pronome oblíquo: “Nunca deixe-me”.
> A diferença entre essa ocorrência e as duas anteriores é que, nesse caso, há um advérbio (nunca), antes do verbo. A moça provavelmente sabe que esse termo atrai o pronome oblíquo e que, portanto, o apelo do rapaz deveria ter sido: Nunca me deixe!
4 Possivelmente os pronomes oblíquos átonos usados na tira serão colocados pelos alunos em outra posição, antes do verbo.
a) Espera-se que os alunos respondam “me abrace”, “me beije”, “nunca me deixe”.
b) Espera-se que os alunos percebam que a colocação proclítica do pronome é a mais comum em contextos de fala e escrita informais.
Atividades (p. 258)
1 Tira I: me traga um bolinho. Tira II: me dá.
a) Nas duas ocorrências, o pronome oblíquo está proclítico.
b) A regra de colocação pronominal determina que, em início de oração, como é o caso dos trechos transcritos, o pronome oblíquo esteja enclítico.
c) O uso dessa colocação pronominal se deve ao contexto de informalidade das situações apresentadas nas tiras. Embora a gramática normativa julgue incorreta, a colocação proclítica do pronome em início de oração é usual no português do Brasil em contextos de fala e escrita informais.
2 O texto deixa clara a intenção do autor de ironizar a importância que costuma ser dada por certas pessoas à colocação pronominal. Para isso, cria um diálogo em que dois interlocutores discutem a correta colocação pronominal, com base no que determina a gramática normativa. Enquanto um dos interlocutores faz questão de cobrar a colocação pronominal considerada correta, o outro deixa claro que, em situação informal, essa postura caracteriza um comportamento pedante.
3 A regra que determina o uso enclítico do pronome em início de oração.
a) Não. Embora a gramática normativa julgue incorreta a colocação proclítica do pronome em início de oração, em uma situação de informalidade, como é o caso do diálogo apresentado na crônica, ela é mais adequada e usual.
b) A passagem é “o mato”. Nesse trecho, irritado com as correções, o interlocutor afirma que irá matar o amigo. O fato de ter utilizado o pronome proclítico faz com que o amigo interprete o pronome oblíquo (o) como um artigo definido e a forma verbal mato como um substantivo.
4 Nas passagens destacadas, alguns equívocos ocorrem quando o falante ignora as regras que determinam um uso proclítico do pronome oblíquo átono. No primeiro caso, a próclise é necessária uma vez que a conjunção se funciona como atrator do pronome me; no segundo, é o advérbio (não) que exige a próclise do pronome o.
a) “Vê se me esquece” e “não o sabes”.
b) Nos dois casos apresentados nesta questão, observamos a presença de um atrator (se, não) cuja ocorrência torna obrigatória a próclise, independentemente do grau de formalidade do contexto em que é utilizado o pronome oblíquo. Na questão 2, o contexto era o de início de oração. Nesse caso, em contextos informais de fala e de escrita (como é o do diálogo apresentado no texto), a próclise é característica do português do Brasil.
5 O uso da gíria “descolar” (conseguir). Como se trata de uma situação de súplica a Deus, causa estranheza que o verbo utilizado seja típico de um registro linguístico bastante informal. Contribui, também, para esse estranhamento o fato de esse verbo estar associado a um uso formal de colocação pronominal.
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a) A personagem reproduz essa estrutura, porque a reconhece como sendo a forma usual de dirigir um pedido a Deus.
b) Provavelmente, caso o pedido fosse feito a outra pessoa, a personagem utilizaria uma construção própria da linguagem coloquial: o verbo não estaria na 2ª pessoa do plural e haveria próclise do pronome (me descola/me descole). Isso ocorreria porque, em geral, o uso da 2ª pessoa do plural, hoje, está restrito a certos contextos formais de fala e escrita, como é o caso do discurso religioso. No que se refere à colocação pronominal, em contextos informais, a próclise costuma ser a forma mais empregada.
6 A personagem que representa Deus afirma a Hugo que a sua proteção deve ser a sua fé.
> A incoerência da personagem é representada por um ramo de arruda colocado atrás de sua orelha. O ramo de arruda atrás da orelha é considerado por muitas pessoas uma espécie de amuleto protetor. O fato de a personagem que representa Deus usar o amuleto indica que ela também é supersticiosa e acaba não se valendo apenas da fé que exige de Hugo.
Enem e vestibulares (p. 260)
1 A evolução que nos trouxe das cavernas para o mundo conectado pela internet foi uma sequência de eventos complexos, os quais se valeram de um concerto de novas tecnologias e ideias.
2 Alternativa D.
UNIDADE 5 - Aspectos da convenção escrita
CAPÍTULO 15
A crase e seu uso
Crase (p. 262)
1 O objetivo da campanha é promover uma conscientização contra o trabalho infantil, de modo que as pessoas denunciem casos em que a mão de obra infantil esteja sendo utilizada.
> A imagem mostra algumas ferramentas associadas ao trabalho em uma oficina ou marcenaria (um martelo, o cabo do que parece ser uma faca, um grande parafuso, pregos). O martelo que aparece no centro da imagem é uma ferramenta de brinquedo, pois tem cores vivas (vermelho e verde) e parece ser de plástico. Sua visão deve levar o leitor a lembrar de algo óbvio: o único contexto em que uma criança pode lidar com ferramentas é o de uma brincadeira.
2 Ao afirmar que “Para muita gente, o trabalho não começa às oito, começa aos oito”, o texto faz um jogo de palavras entre o horário de início da jornada diária de trabalho (8 horas) e a idade com que algumas crianças começam a trabalhar (8 anos).
3 > Na primeira ocorrência, o numeral oito especifica um substantivo feminino plural (horas) que está elíptico. Na segunda ocorrência, o numeral especifica um substantivo masculino plural (anos), também elíptico.
> No primeiro caso, a preposição necessária para vincular o verbo a seu adjunto adverbial de tempo combina-se com o artigo feminino plural (as) que precede o numeral, ocorrendo a crase (a + as = às). No segundo, a preposição necessária para vincular o verbo a seu adjunto adverbial de tempo combina-se com o artigo masculino plural (a + os = aos).
Atividades (p. 267)
1 Um gato e um cão esperam por um rato em frente à sua toca. O rato, no entanto, está atrás de uma poltrona, vê os dois animais que vigiam a entrada de sua toca e fica aguardando que se cansem de esperar e saiam dali.
2 O uso do sinal indicativo de crase marca uma diferença estrutural entre os enunciados “À espera do rato” e “A espera do rato”. Em “À espera do rato”, o uso do acento de crase indica que ocorre a combinação da preposição a com o artigo feminino a. Em “a espera do rato”, ocorre apenas o artigo a, que está determinando o substantivo espera.
> O enunciado “À espera do rato”, no primeiro quadrinho, define uma circunstância especificadora da ação dos animais que, embora não explicitada no enunciado, pode ser pressuposta: [O cão e o gato vigiam a toca] à espera do rato. O enunciado do segundo quadrinho, “A espera do rato”, nomeia a ação do rato: ele observa de longe o cão e o gato, aguardando que eles se cansem de esperar e saiam da frente de sua toca.
3 O humor da tira é construído pela associação entre os dois enunciados e o contexto definido em cada um dos quadrinhos. A semelhança entre os dois enunciados, cuja alteração de forma e sentido é marcada unicamente pelo uso do sinal indicativo da crase, revela uma situação ironicamente paradoxal: cão e gato esperam pela saída do rato de sua toca, enquanto esse mesmo rato, percebendo o perigo, espera que o cão e o gato desistam de esperar por ele.
4 O título “À sombra da perda” e o texto que o acompanha sugerem que a reportagem trata das perdas inevitáveis a que todos os indivíduos estão expostos ao longo da vida e da maneira de superar o sofrimento causado por esse tipo de experiência.
> A locução “à sombra de” foi usada, no título, em sentido figurado para fazer referência aos efeitos causados por uma perda (de algo ou de alguém). Nesse caso, o título sugere que, após sofrer uma perda, é comum as pessoas ficarem bastante abaladas e terem dificuldade de superar o sofrimento. Viveriam “à sombra da perda”, no sentido de terem os seus comportamentos afetados pela perda sofrida.
5 Sim. Se o título da reportagem fosse “A sombra da perda”, teríamos um adjunto adnominal, “da perda”, especificando o substantivo “sombra”. O título deveria, portanto, ser interpretado como uma referência à ameaça constante de sofrimento, ou seja, a uma “sombra” que paira sobre as pessoas em razão da possibilidade constante de uma perda (de alguém ou de algo).
> Nessa alteração, o termo a seria classificado como artigo definido feminino singular e sua função seria a de adjunto adnominal que especifica o substantivo sombra.
6 Na tira, um rato e a letra A, ambos personificados, conversam. O assunto do diálogo entre eles também é inusitado: quando o rato pergunta à letra A aonde ela vai, ela responde que irá à praia, encontrar-se com a crase, que fez exigências bastante específicas sobre o encontro.
7 Como se vê, a tira ilustra, de forma bem-humorada, situações em que o uso do sinal indicativo de crase deve ocorrer ou não. As duas respostas da letra A no primeiro quadrinho exemplificam uma regra em que ela deve ocorrer ou não: ir à praia e ir ao campo. Como o verbo ir exige preposição a, ao ser combinado com o artigo feminino que determina o substantivo praia, o sinal indicativo de crase é obrigatório (à praia). Por sua vez, como campo é um substantivo masculino, a preposição exigida pelo verbo combina-se com o artigo masculino o (resultando em ao campo).
a) Em todas as expressões que indicam as circunstâncias do encontro entre as duas personagens ocorre uma crase: à meia-noite, em frente à orla, à parmegiana, à luz da lua.
b) As expressões foram usadas, provavelmente, para ilustrar diferentes casos em que o uso do sinal indicativo de crase
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deve ocorrer obrigatoriamente: em locuções adverbiais (à meia-noite); com locuções prepositivas seguidas de termos determinados por artigo definido feminino (em frente à orla); com a expressão à moda de, ainda que o termo moda esteja subentendido (bife à parmegiana); e na expressão à luz da lua, que tem valor adverbial.
8 A fala “Às vezes, as crases são muito exigentes!” pode ser interpretada como uma referência às condições impostas pela crase para que o encontro entre ela e a letra A aconteça ou como uma alusão às várias regras que determinam o uso do sinal indicativo de crase, segundo a gramática normativa.
CAPÍTULO 16
Pontuação
A pontuação no português (p. 269)
1 O anúncio pretende convencer o leitor a adquirir um carro de uma marca específica.
> O sistema de câmbio em que o motorista não sente a mudança de marchas.
2 O autor usa um sinal de pontuação, o ponto-final.
> O autor do anúncio utilizou o ponto-final após cada uma das palavras do texto que aparece à esquerda, obrigando o leitor a interromper o fluxo da leitura. Esse efeito seria semelhante ao da troca de marchas nos carros que não possuem um câmbio do tipo oferecido no anúncio. No texto da direita, os pontos entre as palavras foram eliminados, simulando uma troca de marchas que não é percebida pelo motorista.
Atividades (p. 277)
1 A crônica trata da diferença na maneira como agem os homens e as mulheres quando é necessário terminar uma relação amorosa. Segundo o cronista, os homens são incapazes de declarar o fim do amor, enquanto as mulheres têm a coragem de fazê-lo.
2 O cronista faz referência à vírgula, ao ponto e vírgula, ao ponto-final, ao ponto de exclamação e às reticências.
a) A vírgula e o ponto e vírgula indicam pausas entre unidades de forma e de sentido; o ponto-final é utilizado ao final de enunciados declarativos; o ponto de exclamação é utilizado ao final de enunciados exclamativos, denotativos de espanto, admiração, apelo etc.; as reticências indicam hesitação, interrupção ou suspensão de um pensamento.
b) No texto, o sentido produzido pela nomeação dos sinais de pontuação é o de demonstrar que os homens são incapazes de colocar um fim a um relacionamento (colocar um ponto-final na relação amorosa), como fazem as mulheres. Ao afirmar que o “homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e vírgula; jamais um ponto-final”, o cronista sugere que os homens conseguem apenas admitir uma “pausa” no amor (sugerida pela referência figurada à vírgula e ao ponto e vírgula), mas não o seu fim. Já as mulheres são capazes de declarar o fim de uma relação, muitas vezes de forma dramática (como sugere a referência metafórica ao ponto de exclamação), e sem possibilidade de reconciliação (como se percebe pela alusão às reticências: “Sem reticências...”).
3 A repetição do verbo trabalhar, no enunciado, sugere que devemos trabalhar sempre, incessantemente.
4 A ressalva de que “vírgulas significam pausas”, que expressa o significado de que, durante o trabalho, é preciso haver tempo para o descanso. Ao apresentar, no segundo enunciado, a ressalva de que “as vírgulas significam pausas”, o anúncio faz com que o leitor retome o enunciado “Trabalhe, trabalhe, trabalhe” e recupere a função que tem a vírgula como sinal de pontuação, interpretando a presença de cada uma delas no texto do anúncio como uma advertência para a necessidade de reservar tempo também para o descanso: “Trabalhe, mas descanse”.
5 O slogan utilizado pela ABI faz referência ao fato de que usar ou não usar uma vírgula, ou usá-la em posições diferentes, em um enunciado, provoca importantes alterações no sentido do que está sendo afirmado.
> A opinião implícita é a de que, sem um órgão atuante como a Associação Brasileira de Imprensa, os leitores correm o risco de receberem informações alteradas ou censuradas. A ideia de não permitir que ninguém “mude uma vírgula” da informação é, nesse contexto, equivalente à luta pela liberdade de imprensa.
6 Os autores desse texto apresentam sempre duas afirmações cujo sentido é alterado pela presença ou ausência de uma vírgula (exemplos 1, 3, 4 e 5), ou pela mudança da posição em que a vírgula ocorre (exemplo 2).
7 “Aceito, obrigado” significa que alguém aceita algo e agradece a oferta feita. “Aceito obrigado” significa que alguém é forçado a aceitar algo contra a sua vontade. “Esse, juiz, é corrupto” significa que alguém identifica para um juiz uma pessoa corrupta. “Esse juiz é corrupto” significa que alguém está acusando um juiz de ser corrupto.
8 No caso desses exemplos, é a ausência da vírgula que produz o sentido referido nas afirmações. Assim, no primeiro caso, “aceito obrigado” é o enunciado que corresponde à ideia de que “ela [a vírgula] pode forçar o que você não quer”. No segundo caso, “esse juiz é corrupto” é o enunciado que corresponde à afirmação “[ela] pode acusar a pessoa errada”. O leitor precisa atribuir um sentido mais geral ao slogan (“Uma vírgula muda tudo”) para que essas afirmações façam sentido, uma vez que, nesses casos, é a ausência da vírgula que garante o sentido pretendido.
> A interpretação literal do slogan sugere que é a presença da vírgula que modifica o sentido do que se afirma. Como ficou evidente nos dois exemplos analisados, a ausência da vírgula também produz alteração de sentido. Portanto, o slogan deve ser entendido de modo mais amplo, fazendo referência à presença, à ausência ou ao deslocamento da vírgula como fatores importantes na construção de sentido dos enunciados.
9 Estimular a doação de órgãos.
> O slogan “Com doação de órgãos a vida continua”.
10 Eles usaram um ponto e uma vírgula.
> No contexto do anúncio, o ponto simboliza o fim da vida, a morte, e a vírgula simboliza a continuação da vida.
11 A função do ponto é demarcar o final de uma frase e, por isso, no anúncio, representa a morte. A função da vírgula é estabelecer pausas, e, por isso, no contexto do anúncio, a vírgula representa uma pausa, o início de um novo período.
Enem e vestibulares (p. 279)
1 Alternativa C.
2 a) Sim, caso a conversa entre pai e filho se desse por telefone, a entonação utilizada haveria de desfazer o tom imperativo que a frase escrita possui.
b) “Papai, mande-me dinheiro, por favor!”
Usos da pontuação Pratique (p. 280)
O objetivo da atividade é criar um contexto em que o uso dos sinais de pontuação seja objeto da atenção dos alunos. Como se solicitou que a estrutura da crônica a ser escrita seja semelhante à de Paulo Mendes Campos, espera-se que, durante a produção do texto, os alunos se deem conta de que é possível, por meio de um investimento intencional nos sinais de pontuação, obter interessantes efeitos rítmicos e de sentido. Ao avaliar as crônicas produzidas, observar se os alunos foram capazes de criar uma estrutura sintática paralelística semelhante àquela do texto “O amor acaba”.
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BIBLIOGRAFIA
Os textos indicados a seguir constituem a base de fundamentação teórica desta obra. Podem ser consultados pelo professor que desejar aprofundar-se no estudo de determinados aspectos ou conceitos.
Gramáticas e dicionários
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999.
CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. Dicionário de linguística e gramática. Petrópolis: Vozes, 1984.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2008.
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 17. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
KURY, Adriano. Novas lições de análise sintática. 2. ed. São Paulo: Ática, 1986.
LUFT, Celso Pedro. Novo guia ortográfico. 19. ed. Rio de Janeiro: Globo, 1987.
____________. Dicionário prático de regência nominal. São Paulo: Ática, 1992.
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NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Unesp, 2000.
PERINI, Mário A. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática, 1995.
RODRIGUES, Vera. Dicionário Houaiss de verbos da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003.
Obras de referência
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FIORIN, José Luiz ; SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1996.
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GNERRE, Maurizio. Linguagem, escrita e poder. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
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____________. Introdução à semântica: brincando com a gramática. São Paulo: Contexto, 2001.
____________. Introdução ao estudo do léxico. São Paulo: Contexto, 2002.
____________. O português da gente. São Paulo: Contexto, 2006.
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 8. ed. São Paulo: Contexto, 1996.
____________; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. 7. ed. São Paulo: Contexto, 1996.
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MARTINS, Eduardo. Uso do hífen. São Paulo: Manole, 2006.
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____________. Mal comportadas línguas. Curitiba: Criar, 2003.
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PRODUÇÃO DE TEXTO
RESPOSTAS AOS EXERCÍCIOS
UNIDADE 6 - Narração e descrição
CAPÍTULO 17
Conto
Leitura (p. 282)
Em 14 de janeiro de 2008, Moacyr Scliar escreveu, para a Folha de S.Paulo, uma outra versão para “Espaço vital”, no qual as duas personagens são apresentadas como “corpulentas”. Se julgar interessante, ler a nova versão do texto para que os alunos comparem com o conto reproduzido no capítulo.
Espaço vital
TÃO LOGO SENTARAM E AFIVELARAM os cintos de segurança ele sentiu que o conflito começaria a qualquer momento. O conflito pelo braço da poltrona, bem entendido, este território que, ao menos na classe econômica (para executiva ele não tinha grana), é obrigatoriamente comum.
Como a mulher a seu lado, ele era corpulento; e o braço da poltrona, estreito, não acolheria os cotovelos de ambos. Breve estaria desencadeada a luta pelo espaço vital, talvez não tão sangrenta quanto a Segunda Guerra na Europa, mas mesmo assim encarniçada.
Ela tomou a iniciativa. Tão logo o avião decolou, e antes mesmo que a comissária anunciasse: “Nosso tempo de voo será de...” ela abriu o jornal. Um jornal grande, não um tabloide, não uma revista. Jornalão, com muita coisa para ler, editoriais, artigos, reportagens. E, o jornal aberto, ela naturalmente ancorou o cotovelo no braço da poltrona. Ancorou-o numa posição que não permitiria o ingresso ali de qualquer outro cotovelo.
Ele também tinha um jornal. Ele também era um leitor assíduo. Mas a verdade é que ela se antecipara na manobra, e agora qualquer tentativa dele no sentido de manifestar interesse nas notícias do país e do mundo não passaria de uma medíocre, e até vergonhosa, imitação. Portanto, um a zero para ela.
Mas ele não desistiria. Desistir? De maneira alguma. Como se diz no Sul: “Não está morto quem peleia”, e ele ainda tinha muito a pelear. Agora, porém, adotaria uma tática diversa. Uma falsa retirada, destinada a dar à dona do poderoso cotovelo uma ilusória sensação de definitiva vitória. Inclinou a poltrona, bocejou, fechou os olhos e fingiu dormir.
Mas, por entre as pálpebras semicerradas, observava-a. Aparentemente, ela continuava absorvida na leitura. Ele resolveu tentar um ataque sub-reptício, tipo atentado terrorista. Como se fosse um movimento automático, colocou o cotovelo sobre o braço da poltrona. Torceu para que a aeronave entrasse numa área de turbulência, o que acabou acontecendo.
No primeiro solavanco o cotovelo dele empurrou, como que por acidente, o cotovelo dela para fora. E ali ficou triunfante, como aqueles soldados que, na batalha de Iwo Jima, desfraldaram a bandeira americana.
Ela continuava lendo o jornal. Mas ele sabia que, no fundo, ela estava remoendo a raiva e planejando a vingança. Que planejasse. Ele não entregaria jamais a sua conquista.
E aí o problema, o inesperado problema. De repente sentiu vontade de urinar. Muita vontade de urinar. Que fazer?
Se levantasse, perderia o braço da poltrona e nunca mais o recuperaria. Durante longos minutos debateu-se em dúvida cruel. E aí, misericordiosamente, o comandante anunciou que estavam pousando.
Ela fechou o jornal, voltou-se para ele:
– Você sabe que dia é hoje?
Ele não sabia. Ela sorriu, como mãe diante de filho travesso, e revelou: era o aniversário de casamento de ambos. Trinta e cinco anos de matrimônio. Trinta e cinco anos partilhando sonhos, angústias, o cuidado dos filhos. E ah, sim, braços de poltrona em aviões.
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