Português: contexto, interlocução e sentido



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> Trata-se de uma resposta pessoal, mas é interessante que os alunos sejam auxiliados a resgatar o embate entre a visão oficial sobre os guerrilheiros (caracterizados como subversivos, bandidos perigosos) e a dos integrantes da resistência ao Governo durante a ditadura militar, que justificavam seus atos pela necessidade de devolver a liberdade democrática ao país. Seria oportuno realizar uma atividade conjugada com o professor de História para que ele pudesse ajudar os alunos a fazerem esse resgate.

Texto para análise (p. 18)

1 Policarpo Quaresma passou a vida trabalhando, com convicção, pela felicidade e prosperidade de sua pátria. Quando é preso e condenado, percebe que se iludiu em relação ao seu país e seu povo. Na reflexão amargurada de sua trajetória, passa a ter consciência real do Brasil, de seus problemas e do mito a que se apegou em seu amor pela nação.

> Segundo Policarpo, o seu patriotismo o levara a estudar “inutilidades” sobre a pátria (conhecia os rios, sabia os nomes dos heróis do país, aprendeu o tupi-guarani, valorizou o folclore nacional), a fazer incursões na agricultura e a lutar pela nação.

2 Policarpo idealizava a doçura do povo brasileiro. Ao participar da Revolta da Armada, percebeu que se tratava de uma ilusão que nutria a respeito da pátria e seus habitantes: no conflito, viu-os “combater como feras” e matarem “prisioneiros, inúmeros”.

3 Policarpo por um momento imagina que, se outros seguissem seus passos, pode riam ser mais felizes e desfrutar de uma pátria como a que ele sonhou. A esperança se desfaz porque o conhecimento que adquirira ao longo de sua vida não seria transmitido a ninguém, já que não tivera seguidores e não havia divulgado o que aprendera. Essa constatação é motivo para intensificar sua angústia.

> Policarpo reflete, de forma amargurada, que, se seu ideal e conhecimento permanecessem, provavelmente não serviriam para nada, já que outros tinham morrido e se sacrificado pela pátria e, mesmo assim, a terra permanecia “na mesma miséria, na mesma opressão, na mesma tristeza”.

4 A transformação por que passa Policarpo, que vai do ufanismo à consciência crítica, simboliza a mudança que se opera na literatura brasileira: abandona-se a visão de pátria idealizada, herdada do Romantismo, para a reflexão da realidade de forma crítica.

Texto para análise (p. 19)

1 “[...] a verdade nua manda dizer que entre as raças de variado matiz, formadoras da nacionalidade e metidas entre o estrangeiro recente e o aborígine de tabuinha no beiço, uma existe a vegetar de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada a põe de pé.”

> O narrador não acredita que a mistura de raças que formou a nossa nacionalidade tenha gerado uma raça forte e heroica. Para ele, o caboclo representa uma raça fraca, consti tuída por preguiçosos, que existem “a vegetar de cócoras”, simbolizando o que há de mais atrasado no Brasil.

2 a) Nos romances, segundo o narrador, o Jeca é apresentado como um mercador, um lavrador e um filósofo.

b) Uma figura preguiçosa, que vive e vegeta de cócoras, sem que nada desperte o seu interesse e o leve a agir. Valendo-se da lei do mínimo esforço, o Jeca alimenta-se apenas do que a natureza lhe oferece e é alheio a tudo que se passa à sua volta.



3 Resposta pessoal. Espera-se que o aluno perceba que a imagem do caboclo como um “parasita” (urupê) que extrai da terra o que ela tem a oferecer até esgotá-la pode ser derivada de uma visão preconceituosa, mas reflete, de alguma forma, a denúncia de um Brasil do atraso até então desconhecido. Não se pode negar que Lobato, no perfil que traça do caboclo nesse texto, deixa transparecer os preconceitos de raça e do dar winismo social que marcaram a literatura produzida no século XIX e influenciaram tantos autores. A mesma visão pode ser percebida, por exemplo, na caracterização que Euclides da Cunha faz do sertanejo, baseada no determinismo.

4 Ao combater a imagem idealizada que se criou do caboclo, à semelhança daquela que caracterizou o indígena romântico, a crítica feita no texto revela o desejo de mostrar a realidade brasileira na figura que a representa: o caboclo que habita as paisagens interioranas no ciclo do café.

Texto para análise (p. 21)

1 Teleológica, bactéria, antropomorfismo, hidrópicos, vísceras.

> O verme é caracterizado como aquele para quem os restos mortais são destinados, é o “factor universal do transformismo”. Alimenta-se da matéria sepultada, integrando-se, assim, ao ciclo evolutivo da vida que tem seu fim na morte e na putrefação dos corpos.

2 No soneto, a morte é apresentada em seu aspecto material, biológico. O tema é abordado sob o ponto de vista orgânico, da putrefação dos corpos, cujo agente da decomposição é o verme.

> O verme é, no poema, o fim de todas as coisas, aquilo que iguala todos os seres vivos. Não há, nessa perspectiva, uma visão espiritual da morte que indique a transcendência: o deus que a morte oferece a todos é o verme que se alimenta da carne podre.
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3 O Parnasianismo pregava uma poesia que tratasse de temas considerados belos. Augusto dos Anjos traz para a poesia imagens consideradas de mau gosto, grotescas e, por vezes, repulsivas, como as apresentadas no soneto.

> Possibilidade: os versos da terceira estrofe ou a expressão “carne podre”, na última estrofe. O próprio tema do poema (o verme) poderia justificar uma reação negativa por parte dos leitores habituados aos poemas parnasianos.

CAPÍTULO 2

Vanguardas culturais europeias. Modernismo em Portugal

Leitura da imagem (p. 24)

1 Embora os traços não sejam realistas, é possível identificar, no centro da tela, vários cavaleiros armados com lanças. Eles atacam o que parecem ser soldados em uma trincheira, no canto inferior esquerdo.

2 A ideia de movimento é construída pela sobreposição de imagens, que gera um efeito de “decomposição” dos cavalos e cavaleiros, como se o observador do quadro estivesse percebendo a evolução do ataque, em câmera lenta. Essa decomposição recria, visualmente, diferentes “estágios” do movimento dos cavalos.

a) O maior destaque é dado aos cavaleiros (os soldados entrincheirados estão no canto inferior da tela) pela posição central que ocupam. Além disso, há uma notável diferença de tamanho, fazendo com que os cavaleiros “dominem” a cena.

b) O destaque dado aos cavaleiros e o fato de o observador perceber o movimento desse ataque criam a impressão de que os soldados, nas trincheiras, serão massacrados pelos cavalos.

3 O tema é a guerra.

> A integração se dá pela impressão provocada pela colagem das notícias. Os lanceiros parecem “saltar” dos recortes para combater os soldados entrincheirados, como se estivessem encenando os conflitos noticiados no jornal.

Da imagem para o texto (p. 24)

4 a) Essa afirmação significa deixar para trás toda a valorização do mundo clássico como referência artística e cultural. Se os padrões clássicos ficaram ultrapassados, então será necessário estabelecer novos parâmetros para a produção artística, o que é um gesto de ruptura com o gosto “tradicional”, consagrado, em voga naquele momento.

b) A imagem do “primeiro sol” representa a libertação da arte dos modelos que a aprisionavam havia séculos. Por esse motivo, Marinetti declara que nada se compara à espada vermelha desse sol, “que se esgrima pela primeira vez nas nossas trevas milenares”. As trevas fazem referência ao longo período em que a arte esteve dominada pelas influências clássicas e místicas.



5 Porque mostra os rostos marcados pelas novas máquinas a que está associado o progresso: lama das usinas (qualificada como “boa”), escórias de metal e fuligem (vista como “celeste”). O destaque dado a essas características sugere a importância do progresso para esse manifesto.

> Se pensarmos na “morte” dos parâmetros clássicos declarada no primeiro parágrafo, os “vivos” são as pessoas dispostas a mergulhar em novas expe riências artísticas, abandonando os velhos modelos. Os “mortos”, portanto, são todos os homens que entendem a arte como uma manutenção desses modelos do passado, que não se permitem novas experiências.

6 Os três primeiros princípios valorizam a luta, o destemor, a coragem, a audácia e a revolta.

> A tela de Boccioni procura traduzir a ideia de luta. Em lugar de mostrar dois blocos imóveis, cavaleiros de um lado e soldados nas trincheiras do outro, o artista cria uma tela em que os cavaleiros estão em plena luta contra os soldados. Por isso, ilustra a visão futurista de que só há beleza na luta.

7 A violência é apresentada como uma característica positiva nos itens 3, 7, 9 e 10 do manifesto.

a) Espera-se que os alunos percebam que sim, já que os futuristas afirmam o desejo de demolir museus, bibliotecas e outros ícones da cultura clássica como a Vitória de Samotrácia, famosa escultura grega em exposição no museu do Louvre; ou seja, querem demolir os “depositórios” do saber, da cultura e da arte do passado.

b) No contexto do manifesto, a guerra é vista como uma força liberadora, “higiênica”, porque sua violência aniquila (por meio da destruição física) todas as marcas do passado. Ela livra os seres humanos dos velhos modelos e impõe a necessidade de construção de novos parâmetros.

Literatura e sociedade (p. 27)

> Espera-se que os alunos percebam que vários acontecimentos impõem uma nova maneira de ver o mundo. O surgimento das vanguardas é marcado por uma proposta de “desmontagem” do passado e de construção de uma nova ordem. Essa proposta vai ser alimentada, sobretudo, pelos avanços tecnológicos (a invenção do telefone, do telégrafo sem fio, do aparelho de raios X, do cinema, do automóvel, do avião), pelas descobertas científicas e pela modernização das cidades. Essas mudanças e inovações levam a outras: o inconsciente e seu estudo passarão a fazer parte da investigação humana depois da publicação da obra de Freud. Os conflitos e as guerras também vão alimentar o desejo de combater o “velho” e celebrar o novo. A sociedade se transforma e a arte deve se transformar também, rompendo com os cânones. E é esse contexto de grandes mudanças que vai permitir o surgimento das diferentes vanguardas, que trarão as referências estéticas para o novo século.

Texto para análise (p. 28)

1 A imagem de pessoas que, felizes, caminham a pé pela praça Antônio Prado.

a) A cena descrita acontece às dez horas da manhã.

b) O eu lírico se refere às “horas azuis”, ao café que vai alto “como a manhã de arranha-céus”.

2 O fato de o poema ter sido escrito em 1925 já indica um recorte temporal específico que, associado à expressão destacada, revela o momento retratado no texto: trata-se da riqueza proporcionada, na época, pela produção e exportação de café. Nesse período, o café estava em alta (“o café vai alto”) no estado de São Paulo e determinou o desenvolvimento da cidade, que passou a ocupar o posto de centro econômico do país.

> Em uma leitura descontextualizada, a expressão se refere apenas ao céu azul da manhã. Associando a expressão ao momento histórico a que se refere o poema, podemos relacioná-la também à felicidade das pessoas diante da prosperidade e do desenvolvimento da cidade. O café estava muito bem cotado na Bolsa e isso produzia nas pessoas a sensação de tranquilidade em relação ao futuro.

3 O eu lírico cria uma relação de comparações a partir da expressão “vai alto”, que ganha mais de um sentido: a passagem do tempo, a altura dos prédios, a cotação do café no mer-
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cado, o café crescendo nas plantações. No caso da referência ao café e à manhã, duas leituras se sobrepõem: a princípio, parece apenas que o café da manhã já passou há muito tempo e a manhã está em sua metade (são dez horas). Considerando o contexto histórico, a expressão pode referir-se à cotação do café na Bolsa. Um novo sentido é dado pela associação entre “manhã” e “arranha-céus”. Então, os planos se sobrepõem: o tempo se associa ao espaço por um denominador comum: a expressão “alto”. A manhã mostra outro aspecto da cidade: seus edifí cios altos, símbolos da modernidade da cidade, que se desenvolve graças à riqueza econômica.



4 Podemos dizer que o eu lírico destaca o aspecto humano, por meio da referência aos cigarros; o aspecto geográfico, com a referência ao rio Tietê (rio que nasce no estado de São Paulo e deságua no rio Paraná, na divisa com o estado do Mato Grosso do Sul); e o aspecto urbano, pela alusão aos automóveis.

5 O eu lírico revela que as várias “faces” da cidade, capturadas em flashes, são o que a compõem. É a descrição de uma metropóle composta pelos seus arranha-céus e sua riqueza. Não há nada de mítico nela: é um cenário urbano, marcado pela presença das pessoas, pela modernidade (os arranha-céus e os automóveis) e pelo rio que a cruza.

6 A base da pintura cubista é a multiplicação dos planos a partir dos quais um objeto é retratado. Oswald de Andrade utiliza o mesmo processo de composição para construir um retrato de São Paulo: diversas imagens se superpõem de modo dinâmico, quase telegráfico. O resultado é um retrato que destaca a impossibilidade de capturar a essência de São Paulo de modo “linear”, tradicional.

Texto para análise (p. 30)

1 Numa planície deserta, pianos são pastoreados por um “pastor pianista”. Possibilidades: “Soltaram os pianos”; “as sombras dos pássaros vêm beber”; “acompanhado pelas rosas migradoras” e “pianos que gritam”.

> Essas imagens indicam uma ruptura com a lógica, com o mundo real. O mundo apresentado se afasta muito daquilo que imaginamos possível: pianos que pastam; sombras que bebem; rosas que migram. A fusão de elementos reais e imaginários cria uma atmosfera de sonho que surpreende.

2 “Pastor pianista”, convencionalmente, pode ser lido como “um pastor que toca piano”.

a) No contexto do poema, a expressão passa a significar “pastor de pianos”, como se pianos fossem uma espécie de gado.

b) Em primeiro lugar, o fato de os pianos terem sido “soltos” na planície, como o gado. Em segundo, o fato de o pastor afirmar que contempla seus pianos e que os apascenta, deixando clara a sua função.

3 Segundo o eu lírico, o homem “reclamando a contemplação”, “sonha e provoca a harmonia”, “trabalha mesmo à força” e “comunica-se com os deuses”.

a) “pelo vento nas folhagens, / Pelos planetas, pelo andar das mulheres, / Pelo amor e seus contrastes”.

b) Porque, a partir desse momento, o eu lírico abandona a imagem surreal dos pianos pastoreados na planície e passa a descrever o sonho, a provocação da harmonia, o trabalho e a comunicação do homem com os deuses por meio de coisas simples e naturais.

Texto para análise (p. 37)

1 As estrofes sempre com o mesmo número de versos (quadras), a recorrência do esquema rítmico (ABAB), o fato de todas as rimas serem as mesmas (ia/ou), a presença de um refrão (“Desde ontem a cidade mudou”). A recorrência de todos esses elementos formais cria um efeito de monotonia no poema.

2 A morte do Alves, dono da Tabacaria em frente à qual o eu lírico passava todos os dias.

a) O eu lírico reage com espanto, revelando surpresa ao constatar a morte do Alves. A pontuação utilizada, uma exclamação ao final do verso, sugere tal reação.



b) Pelo que se pode inferir, o eu lírico encarava aquele dia como outro qualquer, na sua vida rotineira. Ao passar na frente da tabacaria e ver a cruz na porta, constata a morte do Alves e, imediatamente, dá “ao diabo o bem-estar que trazia”, ou seja, abandona o estado de espírito em que se encontrava (tranquilo, seguro, confortável em sua rotina).

3 A morte do Alves representa, para o eu lírico, a perda de um ponto de referência: ele “era quem eu via. / Todos os dias o via. [...] Desde ontem a cidade mudou.” A quebra da monotonia, nesse sentido, tem um grande impacto, porque é como se o eu lírico perdesse uma referência necessária para se reconhecer (“Ele era o dono da tabacaria. / Um ponto de referência de quem sou”).

4 “Ele era fixo, eu, o que vou. / Se morrer, não falto”

> O refrão é uma afirmação da importância de Alves para todos aqueles que passavam pela porta da tabacaria: a cidade está diferente porque ele morreu. As pessoas reconhecem sua ausência e sentem a sua falta.

5 Ao constatar que ele é o “que passa”, portanto alguém que não seria jamais referência para os outros (ao contrário do que acontecia com o dono da tabacaria, que permanecia sempre no mesmo local e era uma referência para ele), o eu lírico conclui que sua morte não teria qualquer impacto na vida das pessoas. É quase como se ele não existisse no contexto da cidade. A monotonia, a rotina, nesse caso, são símbolos da constância, da permanência, de uma identidade constituída e reconhecida pelos outros, em meio à multidão dos centros urbanos. A ausência desses elementos equivaleria, portanto, à indefinição da própria identidade.

6 O tema desenvolvido no poema ilustra muito bem essa característica ao opor a constância e a inconstância como sinais da presença ou ausência de uma identidade socialmente estabelecida.

7 A primavera é uma metáfora para o momento da juventude, da vitalidade. O estio (verão) representa a maturidade, a vida adulta. O outono representa a velhice, o início do processo de degenerescência. E o inverno simboliza a morte ou a perda total da vitalidade.

> Como o eu lírico pede à interlocutora que desconte a futura primavera, porque pertence a outras pessoas, podemos descartar que esteja em sua juventude. Também não podemos imaginar que se encontre na terceira idade, porque, ao referir-se ao outono, faz uso de um verbo no futuro do subjuntivo (Quando, Lídia, vier o nosso outono...). Ele se encontra, portanto, na idade adulta, na sua fase de amadurecimento (o estio, ou verão).

8 O eu lírico defende a ideia de que o importante é viver o momento presente, valorizá-lo. Nesse sentido, sua filosofia de vida pode ser resumida pela expressão latina carpe diem.

9 Não. Em Horácio, o tema do carpe diem vem associado a uma visão negativa da passagem do tempo (“Desfruta o dia de hoje, acreditando / o mínimo possível no amanhã”). Para ele, o tempo é “invejoso”, porque provoca a degenerescência do corpo. Nessa perspectiva, é imperativo viver intensamente a juventude e aproveitar a vida enquanto é possível. Ricardo
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Reis trata a passagem do tempo de modo completamente diferente. Embora defenda a valorização do presente, faz isso por acreditar que todas as experiências são importantes e constituem a nossa identidade. É por esse motivo que afirma, nos versos finais, que o fato de a passagem do tempo tornar as folhas amarelas (metáfora do envelhecimento humano) não significa que as deixe pior, apenas diferentes.



Texto para análise (p. 41)

1 O eu lírico dirige-se às pessoas que estão preparando o morto para o sepultamento, vestindo-lhe as roupas e os sapatos, colocando o corpo no caixão.

> Para o eu lírico, os trajes escolhidos para vestir o corpo do morto (farpela de luto, sapatos de verniz) são incompatíveis com a essência do poeta. Deveriam, por esse motivo, ser eliminados.

2 Na perspectiva do eu lírico, a roupa escolhida para “enfeitar” o poeta morto representa o convencionalismo social, as regras que controlam o comportamento individual. Por esse motivo, após apelar aos seus interlocutores que “dispam-lhe a farpela”, conclui: “Deixem-no respirar ao menos morto!”. O eu lírico encara o momento da morte como o da libertação absoluta das amarras sociais, por isso deseja que o poeta morto possa ser “despido” das vestimentas que denotam respeito ao convencionalismo da cerimônia de um enterro.

3 “As asas não lhe cabem no caixão”.

> O poeta seria aquele que possui asas, que se desnuda, e que é oprimido pela sociedade (como se percebe no último verso). A poesia seria, então, uma forma de libertação das regras sociais.

4 O poema é um soneto (forma fixa com 14 versos organizados em 2 quartetos e 2 tercetos), composto em versos decassílabos que apresentam um esquema de rimas interpoladas (ABBA ABBA CCD EED). Como Florbela escreve seus poemas não só na forma fixa do soneto, mas também com grande rigor na manutenção da métrica e das rimas, afasta-se das inovações formais modernistas.

5 No terceiro verso, o eu lírico define-se como uma “Princesa entre plebeus”.

> O sentimento que marca as duas primeiras estrofes é o de incompreensão. Em linhas gerais, o eu lírico feminino define-se como alguém muito diferente das outras pessoas, vivendo em uma torre de orgulho e de desdém.

6 Na visão do eu lírico feminino, seu mundo pode ser definido pelos encontros que tem com seu amante: “O mundo! O que é o mundo, ó meu Amor? / — O jardim dos meus versos todo em flor... / A seara dos teus beijos, pão bendito...”.

7 a) Nesse trecho, Florbela revela sua irritação com a submissão feminina às vontades masculinas. Acha inaceitável que uma mulher se interesse somente pela moda e passe a vida esperando a chegada de seu “príncipe encantado”.

b) O eu lírico do soneto lido adota uma postura completamente oposta à criticada por Florbela ao definir-se como uma princesa, que traz no olhar “os vastos céus”, que tem “os oiros e clarões”. Na segunda estrofe, afirma ser Alguém, ter uma personalidade definida, saber o que quer, não se submeter às convenções sociais. Professor: se achar conveniente, pedir aos alunos que releiam as duas últimas estrofes e explicar que também a maneira arrebatada como o eu lírico feminino expressa seus sentimentos é bastante moderna, pois, no início do século XX, não era comum uma mulher se expressar como o que se observa nessas estrofes.



8 No terceto final, revela-se o desejo do eu lírico feminino de “fundir-se” com o amado (“São os teus braços dentro dos meus braços, / Via Láctea fechando o Infinito”), como uma forma de expansão absoluta do sentimento amoroso. O encontro entre a “Via Láctea” (homem) e o Infinito (mulher) representa, nesse soneto, a culminância da realização amorosa que já se anunciava, na estrofe anterior, como medida de felicidade para o eu lírico (“O jardim dos meus versos todo em flor... / A seara dos teus beijos, pão bendito...”)

> Não. Nessa perspectiva, homem e mulher são iguais. Se houver uma tendência, é a de apresentar a mulher, já caracterizada como uma princesa de um reino que não é deste mundo, como quem absorverá o homem, já que ele é a Via Láctea e ela, o Infinito.

CAPÍTULO 3

Modernismo no Brasil. Primeira geração: ousadia e inovação

Leitura da imagem (p. 44)

1 A obra de Tarsila traz alguns elementos da natureza: árvores e arbustos de diferentes formatos, um lago azul e quatro seres, dos quais o mais facilmente reconhecível é o sapo. Além dele, há um tatu “alado” próximo à arvore central e dois seres criados pela imaginação da artista. O que aparece no lado direito da tela parece ter sido inspirado em uma lagarta. O ser amarelo, para qual o olhar de todos os outros converge, é a Cuca, personagem que dá nome ao quadro.

> Sim, pode-se imaginar um efeito de estranhamento, já que o modo como a natureza foi retratada não corresponde à realidade conhecida. Assim, vemos pedras de tonalidade rosada em torno de uma árvore cujo tronco tem a mesma cor. As folhas que constituem a copa dessa árvore têm o formato de corações. Os animais também apresentam formas inusitadas, quando não completamente inventadas pela artista. Ao mesmo tempo que evoca elementos da natureza, a obra propõe uma atmosfera fantástica, onírica, que é inesperada.

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