1. Há relação entre a falta de acesso aos alimentos no mundo e o agronegócio
como a produção do biodiesel?
2. Como é possível promover desenvolvimento econômico que assegure renda
e emprego para a população, preserve o ambiente (com redução da poluição e
preservação da flora e fauna, da água, do ar) e priorize a produção de
alimentos? Escreva sobre possíveis medidas que poderiam ser adotadas pelo
Estado brasileiro nesse sentido.
Em busca de uma sociedade sustentável
Como vimos, na sociedade moderna ocorre um estranhamento entre ser
humano e natureza: o primeiro não se reconhece como parte dela. Parece ser
urgente que se redefina o sentido atribuído à natureza, o que significa alterar o
modo como nos relacionamos com ela. A forma capitalista de produzir
consome fartamente matérias-primas e recursos não renováveis e gera enorme
quantidade de lixo para aterros sanitários, que mais e mais se mostram
insuficientes. Quando o solo, o ar e a água sofrem devastação, quando os
seres humanos estão submetidos à violência de sobreviver com dificuldades,
quando há a incerteza do futuro, tornam-se necessárias mudanças de
comportamento e empenho na busca de soluções, em todos os níveis e áreas,
com foco na coletividade.
Atualmente, entidades como o Banco Mundial e a Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) falam em "paradigma de
crescimento verde". Esse modelo busca agregar ciência, tecnologia, grupos
comunitários e governos para estabelecer objetivos e metas ambientais de uma
política de desenvolvimento sustentável.
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Seriam privilegiados os "empregos verdes", ou seja, aqueles que visam
preservar e restaurar a qualidade do meio ambiente. Os defensores dos
"empregos verdes" argumentam que eles ajudam a proteger os ecossistemas e
a biodiversidade; reduzem o consumo de energia, materiais e água mediante a
utilização de estratégias de alta eficácia; minimizam ou evitam a geração de
diferentes formas de lixo e poluição. No entanto, críticos apontam a
insuficiência dessas medidas caso não se enfrentem outros problemas, como o
da obsolescência programada dos produtos vendidos e o do excesso de uso de
embalagens e produtos descartáveis.
O filósofo francês Pierre-Félix Guattari (1930-1992) propõe uma concepção
ampliada de ecologia, na qual nossa vida se desdobra em três dimensões: a
que envolve o meio ambiente (natural) propriamente dito; aquela em que se
dão as relações sociais; e aquela mental, relativa à subjetividade humana.
Essa concepção abrangente da natureza do ser humano, como ser individual,
cultural e também natural, está na base das teorias por um desenvolvimento
sustentável pós-consumista, ou seja, não desperdiçador.
Uma sociedade sustentável tem se tornado uma necessidade e pede uma nova
ética para a produção e para o consumo. Essa ética, que prioriza o ambiente,
gera uma consciência dos valores sociais primordiais: ecológicos, genéticos,
sociais, econômicos, científicos, educacionais e culturais. É fundamental
recordar o fato de que somos indivíduos numa coletividade. O filósofo e
sociólogo Edgar Morin (1921-) propõe o desenvolvimento de uma ética que
respeite as três dimensões interligadas. Essa perspectiva de preservação do
gênero humano chama-se "ecoética" - uma ética ecológica, fruto da relação
respeitosa e responsável dos seres humanos com o planeta.
Numa atitude ética, sustentada na responsabilidade das partes e entre as
partes que integram a sociedade, vivem-se princípios e valores que podem
levar a uma crescente autonomia, permitindo aos indivíduos e grupos sociais
fazer suas escolhas e exercer um controle democrático sobre as instituições e
organizações da sociedade. Assim, pesquisas sobre o ambiente e a relação
humano-natureza apontam ser necessário investir na conscientização e
consequente desenvolvimento do ser humano, mais que no desenvolvimento
da riqueza do ser humano.
Atitudes individuais e coletivas visando ao consumo sustentável, ao incentivo
aos produtos orgânicos, à redução do desperdício e ao reaproveitamento de
materiais são importantes. Porém, sabemos que elas, de forma isolada, não
darão conta de reverter os processos de devastação e degradação dos
ecossistemas ou garantir a preservação e a conservação deles. Também as
comunidades que estabelecem relações com o ambiente e os recursos naturais
fora do mercado de consumo ou que deles obtêm seu sustento de maneira
mais próxima precisam ser consideradas quando se realizam obras de grande
impacto ambiental, por exemplo.
Reflexões sobre o ambiente e a relação ser humano-natureza reforçam a
necessidade de amadurecer uma consciência social do equilíbrio ecológico.
LEGENDA: Funcionário manipula celulares destinados à reciclagem em São
José dos Campos, em São Paulo, no ano de 2008. O comportamento
consumista e a rápida obsolescência dos produtos que usam tecnologia da
informação produzem grandes quantidades de lixo eletrônico, o que pode
comprometer o meio ambiente.
FONTE: Rogério Cassimiro/Folhapress
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Enquanto países e empresas procuram o desenvolvimento econômico tendo
em vista apenas as disputas de poder e de mercado, as consequências sociais
dessa produção em larga escala quase nunca são contabilizadas. Os
interesses econômicos e políticos, ao se sobreporem às questões sociais e
ambientais, dificultam a implementação de soluções eficientes em âmbito
global, como podemos compreender ao pesquisarmos sobre as diversas
conferências internacionais sobre clima, meio ambiente e desenvolvimento
sustentável, como a Eco-92 ou a Rio+20.
LEGENDA: Chefes de Estado posam para foto durante abertura da conferência
Rio+20 sobre desenvolvimento sustentável, em junho de 2012, no Rio de
Janeiro (RJ).
FONTE: Paulo Whitaker/Reuters/Latinstock
LEGENDA: Ativistas conduzem globo terrestre durante a Cúpula dos Povos por
Justiça Social e Ambiental, evento que ocorreu paralelamente à Rio+20, em
2012, no Rio de Janeiro. A sociedade civil se mobiliza pelo meio ambiente
diante da ação insuficiente dos Estados nacionais.
FONTE: Felipe Dana/Associated Press/Glow Images
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