determinado período para que se realize a passagem da dependência infantil
para a autonomia da idade adulta.
CASTELO BRANCO, Maria Teresa. Jovens sem-terra: identidades em
movimento. Curitiba: Ed. da UFPR, 2003. p. 25.
Tal qual a criança é submetida a um processo de socialização, o jovem está
sujeito a normas, regras de comportamento e valores, conforme o contexto
social em que vive. A sociedade estabelece alguns papéis a cumprir, atribuindo
expectativas e realizações às pessoas em cada circunstância e fase da vida, e
algumas dessas atribuições são esperadas dos jovens. Formam-se, assim,
determinadas representações sociais da juventude, que resultam de diferentes
concepções de educação e dão origem a cobranças por ações políticas. Nessa
fase podem ocorrer, porém, rupturas nesse processo de socialização: apesar
de continuarem a ser culturalmente educados e orientados pelos adultos, os
jovens reelaboram informações e recomendações recebidas de outras fontes
ao construir sua identidade.
A juventude é representada conforme a sociedade, a época histórica e a classe
social que a definem.
O conceito de juventude nada expressa se não for tratado em seu contexto
histórico e sociocultural. A definição das faixas etárias que são consideradas
"jovens", por exemplo, varia de acordo com a relação que se estabelece entre
pais e filhos. O texto a seguir, sobre a França medieval, mostra uma situação
em que a ideia de juventude em si não existia.
Na Idade Média, a Igreja enfraquecera o poder paternal ao reconhecer a
validade dos casamentos [... ], desde que os rapazes tivessem treze anos e
meio e as raparigas onze anos e meio. E, a partir do século XII, ela
considerava o casamento um sacramento que os cônjuges se davam a si
próprios por troca de consentimentos. [... ] [Séculos depois] Os protestantes -
incluindo os anglicanos - viam [... ] o consentimento dos pais como tão
essencial ao casamento como o consentimento dos esposos.
FLANDRIN, Jean-Louis. Famílias: parentesco, casa e sexualidade na
sociedade antiga. Lisboa: Editorial Estampa, 1992. p. 141-142.
LEGENDA: A litografia ao lado retrata o casamento entre uma baronesa e um
barão franceses de pouca idade (no detalhe acima), em Constantinopla (atual
Istambul, na Turquia), em 1204, mostrando que a ideia de juventude nem
sempre existiu ou correspondeu à contemporânea.
FONTE: Giraudon/The Bridgeman Art library/Keystone/Museu Condé, Chantilly,
França.
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Naquela época, na Europa ocidental, a expectativa de vida da população era
muito baixa (entre a nobreza, da qual há mais registros, mal passava dos 40
anos) e os pais definiam os papéis dos filhos, sem que infância e adolescência
configurassem estilos de vida e identificações sociais próprias. Na sociedade
medieval, e ainda durante muitos séculos, as pessoas se casavam numa idade
que, hoje, consideraríamos precoce. Já na Idade Moderna, precisavam da
autorização dos pais para contrair matrimônio. Esses exemplos mostram que
infância e juventude são construções históricas, não universais: não foram
necessariamente pensadas nem vividas de modo igual em outros tempos e
sociedades.
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