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Boxe complementar:
Do indigenismo sertanista às políticas dos indígenas
Apesar das resistências de grupos políticos e econômicos, nas últimas décadas
desenvolveram-se políticas públicas específicas para os povos indígenas. Em
geral elaboradas ou implementadas pela Funai, elas visam garantir os direitos
materiais e a preservação da cultura imaterial desses povos. Além disso, cada
vez mais grupos e entidades indígenas multiétnicas se organizam para
reivindicar seus direitos e empregar tecnologias em favor de suas causas, seja
de forma autônoma, seja em parceria com antropólogos e organizações não
governamentais.
LEGENDA: Integrantes do Movimento das Mulheres Camponesas participam
de passeata em Brasília (DF) contra a violência sofrida por indígenas Guarani-
Kaiowá no Mato Grosso do Sul e a favor da demarcação das terras desse
povo. Foto de 2013.
FONTE: Beto Barata/Estadão Conteúdo/AE
A relação entre o Estado e os povos indígenas no Brasil teve uma primeira
inflexão com a atuação do marechal Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-
1958), entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX. Até então,
a posição dominante nas instituições públicas era a de dizimar populações
consideradas hostis ou resistentes à ocupação econômica e demográfica
estimulada pelo governo. Escalado pelo Exército para participar da instalação
de comunicações telegráficas no Mato Grosso e no atual estado de Rondônia
(que, em sua homenagem, recebeu este nome em 1956), Rondon evitou
enfrentamentos violentos com os povos indígenas da região. Com base em
seus contatos, fez registros sobre a vida de povos como os Bororo, os
Nhambikwara e os Makurape. Rondon foi o primeiro diretor do Serviço de
Proteção aos Índios (SPI), criado pelo governo na década de 1910. A atuação
do órgão tinha inspiração positivista: orientava-se pela ideia de que o indígena
deveria se integrar à sociedade brasileira trabalhando nos empreendimentos de
ocupação do interior do país e aprendendo valores ocidentais.
A política oficial para os povos indígenas teria uma segunda mudança a partir
das expedições dos irmãos Orlando (1914-2002), Cláudio (1916-1998) e
Leonardo Villas-Bôas (1918-1961). Após conviverem por um longo período, nos
anos 1940 e 1950, com os povos indígenas da região do rio Xingu, eles
promoveram a necessidade de reconhecer e delimitar as terras dos indígenas a
fim de que estes pudessem preservar seu modo de organização social e sua
cultura. Com apoio de antropólogos como Darcy Ribeiro (1922-1997) e do
próprio Rondon, os irmãos Villas-Bôas defenderam a criação do Parque
Nacional do Xingu, instituído oficialmente em 1961.
Com a criação da Funai, a ideia de autodeterminação dos povos indígenas
passou a orientar as políticas oficiais. A defesa de povos indígenas continua
sendo uma preocupação porque muitos deles se encontram sujeitos à pressão
de atividades econômicas na região amazônica, como a extração da madeira e
minérios, a exploração de petróleo e a expansão do agronegócio. Em regiões
mais densamente habitadas ou de ocupação não indígena antiga, como o Mato
Grosso do Sul e o sul da Bahia, muitos povos enfrentam grandes dificuldades
para conseguir o reconhecimento de suas terras tradicionais (veja mapa na
página seguinte).
LEGENDA: Preparo do polvilho do beiju por meio da lavagem da massa de
mandioca-brava na aldeia Aiha, do povo Kalapalo, no Parque Indígena do
Xingu (MT). Apesar das adversidades, muitos povos indígenas lutam para
manter vivos sua língua, seus conhecimentos e sua cultura.
FONTE: Fabio Colombini/Acervo do fotógrafo
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FONTE:
INSTITUTO
SOCIOAMBIENTAL.
Disponível
em:
http://pib.socioambiental.org/pt/c/terras-indigenas/demarcacoes/localizacao-e-
extensao-das-tis. Acesso em: 28 jan. 2016. Créditos: Banco de
imagens/Arquivo da editora
Fim do complemento.
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