O
futuro do poder
“Qualquer avaliação do poder americano nas próximas décadas encontra
várias dificuldades. Como já vimos, muitos esforços anteriores ficaram distante
da realidade. É um castigo lembrar como foram terrivelmente exageradas as
estimativas americanas sobre o poder soviético na década de 1970 e do poder
japonês na década seguinte. Hoje, alguns preveem com segurança que o século
XXI verá a China substituir os Estados Unidos como Estado líder
do mundo,
enquanto outros, com igual segurança, argumentam que ‘os Estados Unidos
estão apenas no início do seu poder. O século XXI será o século americano’.
Mas eventos imprevistos com frequência derrubam projeções. Há uma série de
possíveis futuros, não apenas um.
Sobre o poder americano em relação à China, muito vai depender das incer-
tezas da mudança política futura nesse país. Salvo essas incertezas políticas, o
tamanho da China e o alto índice de crescimento econômico quase certamente
aumentarão sua força relativa diante dos Estados Unidos. Isso vai aproximá-la
dos Estados Unidos no que se refere
a recursos de poder, mas não necessaria-
mente significa que irá superar os Estados Unidos como o país mais poderoso.
Mesmo que a China não sofra nenhum revés político interno importante, mui-
tas projeções atuais, baseadas apenas no crescimento do PIB, são demasiado
unidimensionais e ignoram as vantagens das forças armadas e do poder brando
americanos, assim como as desvantagens geopolíticas da China no equilíbrio
de poder interno asiático, comparadas às relações provavelmente favoráveis da
América com
a Europa, o Japão, a Índia e outros países. Minha própria estimativa
é que, entre a série de futuros possíveis, os mais prováveis são aqueles em que
a China compita renhidamente com os Estados Unidos, mas não os supere em
poder geral na primeira metade deste século. [...]
Descrever a transição do poder no século XXI como sendo uma questão
do declínio americano é inexato e ilusório. Essa análise pode conduzir a
implicações políticas perigosas e encorajar a China a se envolver em políticas
aventurosas ou os Estados Unidos reagirem exageradamente por medo. A
América não está em declínio e é provável que
permaneça mais poderosa do
que qualquer outro país isoladamente nas próximas décadas, embora a pre-
ponderância econômica e cultural americana vá se tornar menos dominante
do que era no início do século.”
NYE JR., Joseph S.
O futuro do poder. São Paulo: Benvirá, 2012. p. 255-257.
Poder brando
Ou soft power é
um conceito
desenvolvido pelo autor para
descrever a capacidade de
atrair, cooptar e fazer alianças
em vez de coagir pela força
ou usar o poder econômico
como meio de persuasão. No
texto, refere-se à
habilidade
de infl uenciar outras nações a
identifi car nos interesses dos
Estados Unidos os seus próprios
interesses. O hard power (poder
duro), em contraste, é baseado
no uso do poderio militar e
econômico
para forçar outras
nações a adotarem políticas
que são favoráveis a uma
determinada potência.
Renhidamente
Refere-se no texto a uma
disputa feroz, a uma
competição dura.
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