1 Luiz Fernandes de Oliveira



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Marcelo Badaró Mattos é Professor titular de História do Brasil da UFF. Graduado em História Social pela UFRJ e Doutor em História pela UFF. Texto originalmente publicado no boletim Correio da Cidadania, Edição 864 - 17/06/2013 a 24/06/2013. Disponível em http://www.correiocidadania.com.br/

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Interatividade



Revendo o capítulo

1 - O que é um movimento social? Quais são as suas principais características?

2 - Por que a Sociologia passou a utilizar a denominação de novos movimentos sociais, a partir da década de 1960? Quais eram as suas diferenças em relação aos movimentos anteriores?

3 - Quais são as principais características dos movimentos sociais neste século XXI?



Dialogando com a turma

1 - Você já participou ou pensou em participar de algum movimento social? Em que momento? Como? Por quê?

2 - Como você percebeu os movimentos de milhões de pessoas que foram às ruas em 2013? Você participou ou não dos protestos daquele ano? Por quê?

Verificando o seu conhecimento

1 - (ENEM, 2011)

Na década de 1990, os movimentos sociais camponeses e as ONGs tiveram destaque, ao lado de outros sujeitos coletivos. Na sociedade brasileira, a ação dos movimentos sociais vem construindo lentamente um conjunto de práticas democráticas no interior das escolas, das comunidades, dos grupos organizados e na interface da sociedade civil com o Estado. O diálogo, o confronto e o conflito têm sido os motores no processo de construção da democracia.

SOUZA, M. A. Movimentos sociais no Brasil contemporâneo: participação e possibilidades das políticas democráticas. Disponível em: http://www.ces.uc.pt. Acesso em: 30 abr. 2010 (adaptado).

Segundo o texto, os movimentos sociais contribuem para o processo de construção da democracia, porque:

(A) determinam o papel do Estado nas transformações socioeconômicas.

(B) aumentam o clima de tensão social na sociedade civil.

(C) pressionam o Estado para o atendimento das demandas da sociedade.

(D) privilegiam determinadas parcelas da sociedade em detrimento das demais.

(E) propiciam a adoção de valores éticos pelos órgãos do Estado.

2 - (ENEM, 2011)

Em meio às turbulências vividas na primeira metade dos anos 1960, tinha-se a impressão de que as tendências de esquerda estavam se fortalecendo na área cultural. O Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE) encenava peças de teatro que faziam agitação e propaganda em favor da luta pelas reformas de base e satirizavam o "imperialismo" e seus "aliados internos".

KONDER, L. História das Ideias Socialistas no Brasil. São Paulo: Expressão Popular, 2003.

No início da década de 1960, enquanto vários setores da esquerda brasileira consideravam que o CPC da UNE era uma importante forma de conscientização das classes trabalhadoras, os setores conservadores e de direita (políticos vinculados à União Democracia Nacional - UDN -, Igreja Católica, grandes empresários etc.) entendiam que esta organização:

(A) constituía mais uma ameaça para a democracia brasileira, ao difundir a ideologia comunista.

(B) contribuía com a valorização da genuína cultura nacional, ao encenar peças de cunho popular.

(C) realizava uma tarefa que deveria ser exclusiva do Estado, ao pretender educar o povo por meio da cultura.

(D) prestava um serviço importante à sociedade brasileira, ao incentivar a participação política dos mais pobres.

(E) diminuía a força dos operários urbanos, ao substituir os sindicatos como instituição de pressão política sobre o governo.

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Pesquisando e refletindo

LIVROS

BARRETO, Lima. Os bruzundangas: outras histórias dos bruzundangas. São Paulo: Ática, 1985.



Os Bruzundangas, publicado em 1923, é uma coletânea de crônicas que satiriza uma nação fictícia. A crítica do autor atinge os privilégios da nobreza e o poder das oligarquias rurais, denunciando a realidade marcada pelas desigualdades sociais.

CUNHA, Euclides da. Os sertões. 3ª ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.

Obra publicada em 1902, misto de literatura com relato histórico e jornalístico. Em 1897, o autor havia sido enviado por um jornal, como correspondente, ao norte da Bahia, para fazer a cobertura do conflito de Canudos, liderado por Antônio Conselheiro. Com base no que viu e no que pesquisou, escreveu essa obra.

FILMES

ORGULHO E ESPERANÇA (Pride, Reino Unido, 2015). Direção: Matthew Warchus. Elenco: Bill Nighy, Imelda Staunton. Duração: 120 min.

Baseado em história real, o filme relata a solidariedade de ativistas gays e lésbicas à greve dos mineiros em 1984 contra o governo neoliberal de Margaret Thatcher. O destaque é a solidariedade de dois grupos diversos em prol de uma causa maior.

BRAÇOS CRUZADOS, MÁQUINAS PARADAS (Brasil, 1979). Diretores: Roberto Gervitz e Sérgio Toledo. Duração: 76 min.

Documentário que faz uma análise da estrutura sindical a partir da greve dos metalúrgicos paulistas de 1978 e da luta pela direção do sindicato que, desde a época de Getúlio, era controlado por um grupo ligado ao governo.

INTERNET

VÍRUS PLANETÁRIO - MOVIMENTOS SOCIAIS: http://bit.ly/1gkwhso

Espaço criado por estudantes universitários para debater sobre vários temas como sociedade, política, cultura, mídia etc. Apresenta uma série de informações sobre os atuais movimentos sociais brasileiros. Acesso: Janeiro/2016.

MOVIMENTO PASSE LIVRE - São Paulo: http://goo.gl/0X6Hms

Site que contém várias publicações e uma seção de vídeos e filmes que registraram os movimentos pelo transporte gratuito em diversas capitais do Brasil. Acesso: Janeiro/2016.

MÚSICAS

COMPORTAMENTO GERAL - Autor e intérprete: Gonzaguinha.

A letra é um exemplo do mais puro sarcasmo sobre a alienação e a submissão da classe trabalhadora brasileira nos tempos da ditadura militar de 1964. Vale a pena ouvir e discutir com os colegas: afinal, será que a letra da música continua atual?

O MESTRE-SALA DOS MARES - Autores: João Bosco e Aldir Blanc. Intérprete: Elis Regina.

Samba que faz referência à Revolta da Chibata e ao seu líder, João Cândido, ocorrido em 1910. O movimento era contra os castigos corporais que existiam na Marinha do Brasil da época, cujas vítimas eram os marinheiros negros, mesmo 21 anos após o fim oficial da escravidão.

FILME DESTAQUE



"V" DE VINGANÇA

(V for Vendetta)

FICHA TÉCNICA:

Direção: James McTeigue.

Elenco: Natalie Portman, Hugo Weaving, Stephen Rea

Duração: 132 min.

(EUA, 2006)



FONTE: Warner Bros/ James McTeigue

SINOPSE:

Filme de ficção onde, numa Inglaterra do futuro, um regime totalitário oprime os indivíduos. Umas das personagens, Evey Hammond, é salva de uma situação de vida ou morte por um homem mascarado, conhecido apenas pelo codinome V. Esse mascarado, muito carismático, convoca o povo a se rebelar contra a tirania e a opressão do governo inglês, provocando uma verdadeira revolução.

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Aprendendo com jogos



Búzios, ecos da liberdade

(Universidade do Estado da Bahia/ FAPESB, 2010)

A LIBERDADE É DE TODOS OU NÃO É LIBERDADE.

FONTE: Divulgação: UNEB

O game simula o contexto da sociedade baiana no século XVIII, em especial no período da Revolta dos Búzios, criando um espaço virtual para a construção de novos olhares sobre o evento e sua relação com o contexto histórico.

Como jogar:



1. Obtenha uma cópia gratuita do jogo em http://goo.gl/kLSwwv

2. Navegue pela história da Revolta dos Búzios por meio do jogo, aprofunde o conhecimento em fontes históricas que abordem o evento e o seu contexto. Caracterize o contexto social, político e econômico da Revolta dos Búzios.

3. Faça uma leitura do Capítulo 15 e identifique as características dos movimentos sociais exemplificando com acontecimentos do jogo.

4. Relacione as questões que ainda permanecem relevantes para pensarmos os movimentos sociais neste início de século.

5. Visite a sede de um movimento de sua cidade ou bairro (dentre algumas possibilidades, pode ser um centro comunitário, a federação local dos movimentos populares, um grêmio estudantil ou a União Municipal dos Estudantes Secundaristas, uma associação de trabalhadores rurais, uma ONG ambientalista ou até um sindicato), entreviste as pessoas da organização visitada.

6. Assista o documentário Justiça (Maria Augusta Ramos, 2004) e discuta, reflita sobre a criminalização da pobreza e o papel do Poder Judiciário. Observe como, mesmo sem ler o processo, a juíza do caso condenou o acusado por roubo. Você pode assistir o documentário aqui: https://goo.gl/6MG4e1

7. Relate o que aprendeu com o jogo e o documentário em sala de aula.

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Capítulo 16 - "Na telinha da sua casa, você é cidadão?" O papel da mídia no capitalismo globalizado

LEGENDA: Vivemos na "sociedade da informação". Nós somos bem informados? Na foto, um engenheiro de vendas fazendo a demonstração de um novo aparelho que, através da linha telefônica, apresenta serviços de TV, internet, videolocadora, gravação de programas, além da telefonia.

FONTE: Ana Carolina Fernandes /Folhapress

O conhecido sociólogo francês Pierre Bourdieu (1997), em um de seus livros, fez afirmações muito fortes tanto em relação à televisão quanto aos apresentadores de programas:

Boxe complementar:

A televisão tem uma espécie de monopólio de fato sobre a formação das cabeças de uma parcela muito importante da população.

(...) a televisão não é muito propícia à expressão do pensamento.

(...) essas palavras fazem coisas, criam fantasias, medos, fobias ou, simplesmente, representações falsas.

(...) eles podem impor ao conjunto da sociedade seus princípios de visão de mundo, sua problemática, seu ponto de vista.

(cf. BOURDIEU, 1997, p. 23, 39, 26, 66)

Fim do complemento.

Será que num mundo globalizado, onde temos acesso a várias informações, podemos ser tão manipulados assim pelos programas transmitidos pela TV? O que você acha dessas fortes afirmações de Pierre Bourdieu (1997)?

Para compreender melhor essas ideias, apresentaremos, neste capítulo, entre outras coisas, os meios de comunicação de massa (ou as denominadas mídias) e as relações sociais, no novo contexto da globalização.

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Uma revolução que não para...

Você já deve estar acostumado a receber muitas informações todos os dias. Não é verdade? Mesmo quem não tem acesso rápido à internet, aos jornais ou aos celulares, possui algum meio de comunicação de massa, como TV ou rádio. Assim, como o próprio nome permite entender, os meios de comunicação de massa correspondem a todas aquelas mídias - ou seja, os suportes necessários à transmissão de informações - que podem atingir a maior parte da população do planeta.

O acesso a diversos meios como a internet, celulares etc. está crescendo em nível mundial. Até a televisão está acompanhando os avanços das novas tecnologias. Atualmente, podemos acompanhar pela TV uma guerra ao vivo do outro lado do planeta. Podemos conversar com várias pessoas na Europa ou na China ao mesmo tempo. O fato interessante é que tanto nas grandes cidades como nas pequenas algumas pessoas estão utilizando cada vez menos os correios e os telefones convencionais para se comunicar, dando preferência aos celulares, aos e-mails, aos chats, ao WhatsApp, ao Facebook, ao Twitter, ao Instagram etc. Ou seja, recursos em que você se comunica de forma instantânea. O incrível é que com alguns desses recursos você pode tirar uma foto e, imediatamente, enviá-la para alguém distante. Para muitos estudantes, até uma simples pesquisa ficou mais fácil, pois, se antes era necessário deslocar-se fisicamente até uma biblioteca, hoje é possível consultar uma de Portugal através da internet ou fazer uma pesquisa sobre determinado assunto por meio de um programa de "buscas" por imagens, vídeos, textos ou até livros disponíveis gratuitamente na rede, como é o caso, por exemplo, de sites como o Google e o YouTube.

Como podemos observar, o desenvolvimento das novas tecnologias da informação está revolucionando hábitos, costumes e modos de pensar dos povos e indivíduos. E é um desenvolvimento que não para. Podemos constatar hoje em dia que as chamadas redes sociais - exatamente os sites de relacionamento já citados, como Facebook e YouTube - cumpriram um papel importante de mobilização da juventude durante grandes revoltas de caráter popular, como foi o caso, por exemplo, da chamada Primavera Árabe, que teve início na Tunísia, em 2010, e se espalhou por todo o Norte da África e Oriente Médio, derrubando ditaduras que se encontravam no poder há décadas, não só o caso da própria Tunísia, mas também do Egito, da Líbia e do Iêmen! No Egito, ficaram famosos os protestos que ocuparam a Praça Tahrir, em 2011. Da mesma forma, na mesma época, e se espalhando por todo o ano de 2012, a internet foi um instrumento de organização dos protestos dos estudantes chilenos, que exigiam educação pública e gratuita; e do grande número de jovens desempregados e dos trabalhadores em greve na Espanha, na Grécia e em Portugal, entre outros países, que lutavam contra as medidas de "austeridade econômica" que seus governos, mediante as ordens da União Europeia, procuravam impor a toda a população. Para além da Praça Tahrir, ganharam destaque as manifestações de junho e julho de 2013, onde milhões de brasileiros foram às ruas reivindicar a diminuição dos preços das passagens, protestar contra as políticas do Governo Federal etc. Muitas dessas manifestações ocorridas em todo o Brasil foram mobilizadas, organizadas e divulgadas ao vivo pelas redes sociais como Facebook, Twitter e YouTube. Nesta época uma nova forma de divulgação foi colocada a serviço dessas manifestações: a transmissão ao vivo pela internet, uma delas denominada Mídia Ninja.



LEGENDA: O acesso a diversos meios de comunicação depende deles: os satélites. Na foto, antenas de retransmissão de satélites.

FONTE: Diego Felipe

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Então, por tudo que descrevemos acima, já deu para reparar que esses meios de comunicação de massa como jornais, rádio, TV, internet, celulares. São muito importantes em nossas vidas, e mesmo quem não tem acesso a todos esses recursos de alguma forma sofre a interferência deles, pois muitas decisões são tomadas por governos ou pessoas que interferem na política, na cultura e nas nossas opiniões sobre os acontecimentos do mundo.

Essa reflexão é importante porque podemos afirmar que as mídias, além de informar e nos colocar em contato com outras pessoas, são importantes agentes de socialização, ou seja, contribuem para que aprendamos muitas coisas e nos fazem interagir com o mundo. Já desenvolvemos esse tema no capítulo sobre a socialização dos indivíduos. Mas também é importante ressaltar que essas mídias podem ser consideradas como instituições sociais. Por exemplo: a Rede Globo, que já existe há mais de 40 anos, é uma empresa capitalista, mas também é uma organização social que influencia a vida de milhões, formando opiniões, socializando e contribuindo para constituir as identidades das pessoas, sejam jovens ou adultos. Quantas vezes nos reunimos em família ou em grupos de colegas e amigos para ver novelas, programas humorísticos ou programas dominicais de variedades? Será que um simples exemplo pode estimular nossa imaginação sociológica? Mas o que dizem os especialistas sobre os meios de comunicação de massa?



A opinião dos especialistas

Como as mídias interferem em nossas vidas? Por que elas são consideradas um elemento importante de socialização das pessoas? Essas perguntas foram motivo para que alguns especialistas teorizassem sobre os meios de comunicação de massa. Vejamos alguns.

O professor canadense Marshall McLuhan (1971) definiu, de forma bastante polêmica, o fenômeno da comunicação. Ele afirmava: "o meio é a mensagem". Ou seja, mais importante do que a análise do conteúdo de uma mensagem seria a análise do seu veículo. Concluindo, daí, que um mesmo conteúdo exposto num livro, gibi, transmitido numa rádio ou na TV teria efeitos diferentes.

McLuhan (1971) analisa os canais de comunicação a partir da sua classificação em três etapas:

Boxe complementar:

- a civilização oral, através da palavra falada e pelos gestos;

- o surgimento da escrita e da sua explosão no século XVI, com a invenção da imprensa, que ele denominou de Galáxia de Gutenberg;

- a etapa da Galáxia de Marconi, com o surgimento dos meios de comunicação como rádio, cinema e a TV.

Fim do complemento.

McLuhan escreveu no final de 1960 e início dos anos 1970. Ele foi um dos primeiros a afirmar que a mídia eletrônica estava transformando a vida em uma aldeia global, ou seja, as pessoas espalhadas pelo mundo acompanhavam os acontecimentos e, de certa forma, participavam juntas deles. Essa observação de McLuhan, com o passar dos anos, ficava mais clara para um número cada vez maior de pessoas. Você sabe, por exemplo, o que as pessoas sentiram ou disseram quando, em 11 de setembro de 2001, o World Trade Center caiu com os ataques dos aviões em Nova York? Pergunte aos seus parentes, vizinhos ou professores.

Outro sociólogo que trouxe uma contribuição importante para essa discussão foi o alemão Jurgen Habermas, que foi integrante de um grupo de pensadores que ficou conhecido como a Escola de Frankfurt. De fato, formavam uma escola, porque estudavam e produziam juntos diversos conhecimentos sociológicos. Este grupo inventou o termo indústria cultural, que se refere ao fato de que a cultura, com suas diversas manifestações, passou a ser produzida de forma padronizada e comercialmente. Habermas (1984) falava que a indústria cultural transformou a discussão dos interesses públicos - que ele chamava de esfera pública -, como, por exemplo, a política e a democracia, em interesses comerciais que beneficiam os interesses privados.

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Ele diz, entre outras coisas, que as discussões políticas são encenadas nos parlamentos e na mídia e que os reais interesses públicos são manipulados e controlados pela mídia.

LEGENDA: O sociólogo Jurgen Habermas produziu estudos e reflexões relevantes sobre a indústria cultural.

FONTE: Juan Esteves/Folhapress

Ainda sobre o tema (indústria cultural), outro pensador que apresentou uma reflexão importante foi Walter Benjamin (1989). Ele afirmava que, como os produtos culturais criados pelos homens foram submetidos à ideia de consumo, eles foram transformados em mercadorias e passaram a ser fabricados em série - ou, seguindo a lógica do mercado, valorizados como bens de luxo, de alto custo e de difícil acesso. Isto vale, por exemplo, para as obras de arte: algumas exposições se transformam em grandes eventos turísticos, às vezes viajando o mundo e se deslocando entre diversos museus ou sendo expostos em praças públicas.

Walter Benjamin, dessa forma, diz que a indústria cultural massifica a cultura e as artes para o consumo rápido no mercado da moda e na mídia. Massificar é banalizar as artes e a produção das ideias e, também, de certa forma, vulgarizar os conhecimentos. Uma filósofa brasileira, Marilena Chauí (1995), falando sobre o papel da indústria cultural em nossas vidas, diz que ela é feita para vender cultura e para tal deve agradar e seduzir o consumidor. Essa indústria não pode provocar, chocar, perturbar ou fazer o consumidor pensar nas informações novas. Segundo Chauí, o que a indústria cultural deve fazer, para ser eficiente e eficaz, é oferecer ao consumidor coisas e ideias já conhecidas, vistas e feitas com novas aparências.

O francês Jean Baudrillard (1991) foi outro que teorizou sobre a mídia de massa. Para ele, o impacto das mídias no mundo contemporâneo produz um impacto na vida das pessoas muito mais profundo do que qualquer outra tecnologia. Para ele, a TV, por exemplo, não serve somente para representar o mundo, mas principalmente para definir como é este mundo em que vivemos. Diz ainda que não existe apenas uma realidade, mas uma hiper-realidade, ou seja, um mundo de "simulacros" em que o importante são as imagens sobre um fato, que podem não significar o fato realmente ocorrido. Uma ideia muito parecida com a de Marshall McLuhan (1971), ou seja, o meio é a mensagem. Quantas vezes já vimos, por exemplo, os comerciais de TV que tentam vender produtos sem qualidade, mas com ótima produção de marketing, que seduz o público - ou porque uma personalidade famosa está recomendando? Um exemplo parecido vindo do intelectual brasileiro Muniz Sodré afirma que a TV é uma máquina de identidade coletiva (SODRÉ, 1990). O que faz da informação massiva um simples efeito de gestão das consciências e uma forma dissimulada de governo.



LEGENDA: Indústria cultural: vender, seduzir, agradar...

FONTE: Acervo dos autores

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FONTE: Nico

Para o autor, a televisão oferece ao espectador um espaço e um tempo simulados. Ela cria o que ele chama de telerrealidade ou telepresença, ou seja, o simples fato de estar ligado, o aparelho receptor é o elemento capaz de ligar o telespectador, de amenizar a absurda solidão que possa sentir, como indivíduo, na massa gigantesca da grande cidade. Uma das formas desse indivíduo combater a sua solidão é exatamente a tentativa de buscar momentos de felicidade através da aquisição dos produtos vendidos pela propaganda.

Assim, o que é veiculado pela TV conquista a cada dia o monopólio da verdade, da fala sobre o mundo. A verdade dá lugar à credibilidade de quem está dizendo e não interessa o que é dito. Na TV, as coisas se justificam por sua própria circulação, pelo mero passar na TV, e não pelo seu conteúdo.



LEGENDA: Será que a TV, como diz Muniz Sodré, conquista, a cada dia, o "monopólio da verdade"?

FONTE: César Rodrigues/Fplhapress

Podemos citar como exemplo o caso do MST, onde a visão que se passa nos meios de comunicação é de que se trata de um grupo de radicais, invasores de propriedades e bandos armados contra a ordem pública. O que tem maior credibilidade? Uma manchete em um jornal ou em capa de revista semanal como, por exemplo, "MST ensina táticas de guerrilha aos sem-terra" ( O Globo, 13/6/99) e, dez anos depois, "MST destrói plantação de laranjas" (Folha de São Paulo, 06/10/2009)? Ou o depoimento dos sem-terra sobre suas condições de vida e suas principais reivindicações? Por que não é veiculada na mídia, neste caso, a informação sobre a concentração de terras por parte de poucos proprietários no Brasil, impedindo que se produzam alimentos baratos?

Confirma-se a ideia de Muniz Sodré (1990) que ao indivíduo isolado se oferece uma interpretação parcial dos fatos. Esta visão parcial, ao final, aparenta ser "a única verdade", o fato considerado como "incontestável".

É interessante notar que, pelas oportunidades de informações que existem no Brasil, reveladas numa pesquisa feita pelo IBGE, em 2001, a influência da mídia televisiva pode ter um efeito considerável. Pois vejamos as disponibilidades de meios de informação e formação existentes nos 5.506 municípios brasileiros:

- 93% não dispõem de cinemas;

- 85% não têm museus nem teatros;

- 65% não apresentam livrarias, nem lojas de CDs ou fitas; e em

- 25% não existem bibliotecas.

Em compensação, 99% do território nacional são cobertos pelas grandes empresas de mídia, dentre as quais a Rede Globo, que concentra a maior parte dos veículos de comunicação, como emissoras de TV e rádio, e jornais impressos. Veja a tabela a seguir:

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Tabela: equivalente textual a seguir.

FONTE: Dados compilados por FONSECA, 2010, p. 38. Tabela reproduzida pelos autores.

Outro fator relevante na análise dos efeitos da mídia, como se pode perceber nessa tabela, é a publicidade. Esta é um poderoso instrumento estimulador da produção e do consumo de massa. É o elemento que se impõe como dispositivo técnico de gestão da vida do cidadão-consumidor por meio da sedução, da persuasão e da motivação. Numa comparação mais profunda, implica poder de governo para quem a domina.

Essas considerações nos levam à indagação de como a humanidade teria alterado sua autoconsciência e também a consciência do mundo, através da evolução dos meios de comunicação. Deve-se registrar, de qualquer forma, que antes do advento e da propagação dos meios de comunicação de massa, existiam outros mecanismos ou instituições - como as diversas religiões e Igrejas, por exemplo - que incidiam de forma direta sobre as visões de mundo dos indivíduos - o que estamos chamando aqui de sua "consciência do mundo". O mundo influenciado pelas mídias apresenta essa autoconsciência em outro patamar, mas - atenção! - sem ignorar os velhos mecanismos de formação das consciências. Só para ilustrar o que estamos afirmando, basta pensar no mesmo exemplo das religiões e igrejas e perceber o alcance e o poder que elas têm hoje através de programas que financiam em inúmeras redes de rádio e TV, e enquanto proprietárias de uma extensa rede de meios de comunicação de massa.



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