60 Obra: dicionário de sociologia autor: raymond boudon e outros



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Adolescência: Período que separa a infância da idade adulta. Esta caracterização levanta vários problemas. No séc. XVIII (o Émile de Rousseau), assimilava-se a adolescência à crise da puberdade, que era mais tardia que actualmente. Só em finais do séc. XIX, particularmente sob o efeito do prolongamento dos estudos que mantém os alunos numa espécie de infância prolongada, é que a adolescência emergiu verdadeiramente como classe etária e como cadinho de uma cultura específica. Entre as duas guerras espalhou-se a ideia de que a adolescência não era necessariamente uma transição entre duas idades mas que a pessoa podia sentir-se bem nela e nela instalar-se deliberadamente durante um período relativamente longo. Essa dificuldade ou essas reticências em sair da adolescência é hoje ligada ao facto de os acontecimentos que poderiam funcionar como "ritos de passagem", como ritos de entrada na idade adulta, terem sofrido nas nossas sociedades uma dupla alteração. Revestem cada vez menos o carácter de provas, arriscadas e probatórias (a evolução do serviço militar é disso testemunha). Por outro lado, apagou-se, mais ou menos, o seu carácter de cerimónias públicas (o casamento, por exemplo, é cada vez menos uma cerimónia solene). Assim, a maioria dos indivíduos passa insensivelmente da adolescência a uma aparente maturidade atravessando uma idade mal definida que alguns denominam "pós-adolescência" (e que pode durar até aos 35 anos, por vezes mais).

A. B.


- Le Bras, Béjin, Yonnet (1983), Erikson (1968).
Agregação: A combinação de um conjunto de acções individuais pode, enquanto tal, produzir efeitos colectivos não procurados pelos próprios actores sociais e que podem a posteriori apresentar-se como desejáveis ou indesejáveis. A esses efeitos dá-se muitas vezes o nome de "efeitos de agregação", ou de composição.

Assim, quando vários indivíduos escolhem simultaneamente orientar-se para tal tipo de carreira, contribuem todos, sem desejá-lo, para obstruir a carreira em questão, para exacerbar a "competição", pelos lugares disponíveis, eventualmente para criar desemprego. Estes efeitos de agregação revestem uma grande importância nas ciências sociais, e designadamente na análise da mudança social. Assim, M. Weber (1920) vê no desenvolvimento do capitalismo um efeito não desejado dos princípios éticos inspirados pelos puritanos. K. Marx e H. Spencer interpretam ambos o devir histórico como um tecido de efeitos de agregação. Assim, segundo Marx, o progresso técnico é um efeito não desejado da concorrência a que os capitalistas se dedicam entre si. A noção de "efeito de agregação" tem, relativamente à de "efeito não desejado", a vantagem de sublinhar que os efeitos em questão resultam da combinação de uma pluralidade de acções individuais. Quando os efeitos de agregação são indesejáveis, fala-se de efeitos perversos.

R. B.

- Boudon (1977), Schelling (1978).


Alienação: O termo alienação pertence a diversos registos de linguagem (jurídico, médico, teológico, etc.). Em filosofia e em sociologia, descobrimo-lo em J.-J. Rousseau, que o define assim no Contrato Social (1766): cada associado, "dando-se a todos, não se dá a ninguém" e abandona os seus direitos naturais para fazer nascer o corpo político. Mas é na filosofia alemã (Fichte, Hegel e depois Marx) que ele recebe a significação que hoje lhe é atribuída: a transformação da actividade própria do homem num poder que lhe seria estranho, e que o domina.

É em Marx que a noção se torna, de algum modo, numa noção de sociologia. Em O Capital (1867), lê-se: "A alienação do operário significa não apenas que o seu trabalho se torna um objecto, uma existência exterior, mas que o seu trabalho existe fora dele, independentemente dele, estranho a ele e se torna um poder autónomo em relação a ele; que a vida que ele conferiu ao seu objecto se lhe opõe, hostil e estranha." A partir de então, a alienação vai tornar-se o sintoma de todos os "incómodos" do homem moderno e das diferentes variedades do seu sentimento de espoliamento de si próprio.

A extensão de um conceito faz-se sempre à custa do seu rigor. Falar-se-á da alienação colonial, da alienação feminina, da alienação da "sociedade de consumo" ou da "sociedade do espectáculo". Seja como for, a noção mantém-se inseparável dos pressupostos teológicos ou filosóficos que presidiram ao seu êxito: uma concepção do sentido da história e do destino do homem, da sua queda na alienação à sua redenção.

A. A.
Anarquismo: O anarquismo é uma doutrina política que repudia toda a ideia de autoridade contrária ao princípio da liberdade individual, e em primeiro lugar a autoridade do Estado.

Saint-Simon dá uma imagem dessa sociedade libertária: "Não há acção útil [...] para além da do homem exercida sobre as coisas. A acção do homem sobre o homem é sempre em si mesma prejudicial à espécie." Tal sociedade é concebida como um grande conjunto de contratos específicos, nem imutáveis nem definitivos, saídos de debates livres em que os interessados acabam por pôr-se de acordo e que correspondem à heterogeneidade da vida social.

Profissionais, regionais, nacionais, aparentemente incoerentes, esses múltiplos contratos geram o federalismo que se substitui ao Estado tal como o concebe Hobbes no Leviathan. O anarquismo vê na política um espaço perverso onde se perde a autonomia da pessoa. Por isso, privilegia a acção sindical, a acção mutualista e todas as formas de solidariedade e de associação que lhe parecem "vivas", não "abstractas e anónimas". Daí resulta uma utopia cujos contornos nos são dados por M. Bakunine (1873): "Quando os Estados tiverem desaparecido, a unidade viva, fecunda, benfazeja, tanto das regiões como das nações e da internacionalidade, primeiro de todo o mundo civilizado e depois de todos os povos da Terra, pela via da livre federação e da organização de baixo para cima, desenvolver-se-á em toda a sua majestade..."

P. J. Proudhon (1846), M. Stirner (1842), Bakunine (1873), etc., o teórico anarquista, seja ele qual for, opõe-se radicalmente aos teóricos do colectivismo e do comunismo, que, na sua opinião, levam até ao fim o espoliamento do indivíduo pela sociedade.

A. A.


Sergent, Hammel (1949).
Anomia: Pela sua etimologia, a palavra significa ausência de normas, de regras ou de leis; mas a história singular deste termo conferiu-lhe significações diversas e mesmo contraditórias.

J.-M. Guyau (1885) forja a palavra para designar a individualização, inevitável e desejável das regras morais e das crenças. E. Durkheim toma-lhe de empréstimo a palavra empregando-a em sentido oposto àquele individualismo anarquizante, pois que, a seu ver, todo o facto moral consiste numa regra de conduta sancionada. Na obra de Durkheim De la division du travail social (1893), a anomia é uma das formas patológicas da divisão do trabalho, a saber: a carência temporária de uma regulamentação social capaz de assegurar a cooperação entre funções especializadas. Tem como origem a insuficiência dos contactos entre os papéis sociais. Em Le Suicide (1897), a anomia é concebida como um mal do infinito proveniente da ilimitação do desejo humano e da indeterminação dos objectivos a atingir. É característica do sistema de valores, das instituições e do funcionamento das sociedades industriais modernas.

Desaparecida da obra de Durkheim a partir de 1902, a palavra anomia é redescoberta nos anos 30 pelos sociólogos de Harvard, nomeadamente por T. Parsons e R. K. Merton. O texto deste último, Structure sociale et anomie, contribuiu muito para difundir a noção de anomia alterando o seu conteúdo. Sem dar dela uma definição clara, tende a identificá-la a uma situação em que o indivíduo não encontra as possibilidades de atingir um objectivo definido e mesmo prescrito pela cultura. Esta contradição entre o objectivo cultural e a ausência de meios lícitos pode gerar comportamentos desviantes pelo recurso a meios ilícitos. À noção durkheimiana de ilimitação dos fins substitui-se a de limitação dos meios.

A revolução semântica é plenamente levada a cabo com o uso de escalas de atitude que é suposto medirem a contrapartida psíquica da anomia social, sendo a mais célebre a escala de anomia, elaborada por L. Srole. Esta escala reflecte uma visão pessimista do mundo, o sentimento de que não se pode tomar em mãos a sua sorte e a renúncia a toda a esperança, característicos em Durkheim de uma situação fatalista, oposta à anomia.

O sucesso desta palavra da tribo sociológica nos anos 60, particularmente na sociologia americana, teve mais a ver com o seu cariz decorativo que com o seu poder cognitivo.

PH. BD.


- Besnard (1987), Merton (1949).
Anti-semitismo: De criação recente - foi provavelmente formada por volta de 1870 por um jornalista alemão, W. Marr -, a própria palavra "anti-semitismo" é inadequada, mas foi imposta pelo uso. Designa a atitude hostil para com uma minoria particular, a minoria judaica, hostilidade que, ao longo da história, fez apelo aos motivos mais diversos e se traduziu por comportamentos variados, indo da rejeição e da marginalização social até à exterminação. Alguns, como H. Arendt (1951), propuseram que se reservasse esta palavra para designar a hostilidade contra os judeus, que, na época moderna, surge no contexto específico da sua emancipação quando aparecem dificuldades económicas, políticas ou sociais - sendo então denominada de antijudaísmo a hostilidade de base religiosa que prevaleceu na Idade Média. Mas pode defender-se a ideia de que há uma continuidade para além das diferenças, de que o antijudaísmo da Idade Média e o anti-semitismo moderno são uma mesma rejeição do grupo judeu que se exprime ora em categorias de pensamento ainda religiosas ora em categorias já laicizadas.

Y. C.


- Chevalier (1988), Isaac (1940), Poliakov (1956-1977).
Antropologia e sociologia: Entendida no sentido restrito de antropologia social e cultural, de que a palavra "etnologia" é sinónimo em França, a antropologia constituiu-se em relação estreita com a sua irmã, a sociologia. No séc. XIX, uma necessidade de reorganização social após as revoluções política e industrial suscita o nascimento da sociologia. Pouco depois, o interesse romântico pelo exótico converge com o desejo kantiano de criação de uma antropologia e com o projecto colonial na fundação da etnologia. Esta tem como padrinhos a história natural e o espírito de antiquário; a sociologia, por seu turno, enraíza-se no reformismo social e na filosofia. O pensamento reflexivo (pesquisas classificativas, esquemas de evolução, valorização dos tipos sociais, tais como raças e etnias) escora a acção de reforma social e visa "civilizar" os ditos primitivos. Embora as primeiras pesquisas de J. J. Bachofen, E. B. Tylor, L. H. Morgan, nos anos de 1860-1870, sejam contemporâneas das de F. Le Play, K. Marx, H. Spencer, a etnologia e a sociologia afirmam-se diferentes pelo seu campo de investigação. Para a primeira: as sociedades relativamente homogéneas en de pequena escala, sem história conhecida, ditas primitivas, tradicionais, sem escrita; para a outra: as sociedades complexas, heterogéneas, ditas civilizadas, industrializadas, modernas. O objecto do sociólogo apresenta-se mais visível que o do etnólogo, e a sociologia escolhe para método preferido a sondagem aferida, ao passo que a etnologia pretende operar inventários descritivos completos das culturas de pequena dimensão.

Mas as duas ciências humanas caminham a par seguindo sucessivamente a via dos grandes frescos históricos e depois a da acumulação de documentos. Mantêm-se ligadas às teorias e às políticas da sua época, encontram perspectivas comuns (organização, integração, adaptação), constroem-se por trâmites de comparação e de crítica bastante semelhantes. O interesse dos sociólogos e dos etnólogos converge doravante para a pesquisa das estruturas e funções sociais e para uma análise da dinâmica das sociedades actuais. Ao mesmo tempo, no início dos anos 50, os antropólogos começam a dedicar-se ao estudo das sociedades complexas (redes políticas na Índia, parentesco americano, economia informal), os sociólogos debruçam-se sobre os aspectos simbólicos do comportamento, sobre as micro-relações de ordem ritual, jurídica, cultural e adaptam os seus métodos para abordar a política, o económico, o cultural nas sociedades do Terceiro Mundo.

C. R.

- Boudon (1969), Cuisenier, Segalen (1986), Grawitz (1986), Mead (1964).


Apolitismo: Atitude de neutralidade, ou mesmo de recuo, em relação à política. Um fraco grau de empenhamento e uma escassa competência cognitiva constituem as suas duas principais dimensões. Na incapacidade de posicionar-se num eixo esquerda-direita, porque privado dos conhecimentos indispensáveis à expressão de preferências partidárias, o indivíduo apolítico seria tentado pela abstenção eleitoral. Alguns autores sublinham, no entanto, que, se se ligar demasiado estreitamente participação política e competência cognitiva, em última análise já não poderá explicar-se o empenhamento de certos operários comunistas. A razão deste mal-entendido tem a ver em parte com a extensão variável que pode ser conferida à noção de campo político. Encarada unicamente no espaço estreito da política "política" em si, a competência política é muitas vezes concebida como o domínio de uma sábia utensilagem política, e a participação vê-se reduzida unicamente ao comportamento eleitoral. Sob este aspecto, o apolitismo doutrinal do anarquista pode levantar alguns problemas de interpretação (ao recusar situar-se no espaço político instituído, o anarquista toma posição em relação ao político).

P. M.


- Lancelot, Memmi (1985), Gaxie (1978), Lipset (1960), Michelat, Simon (1977).
ARON (Raymond), sociólogo francês (Paris 1905 - id. 1983): Rompendo com os herdeiros de A. Comte (É. Durkheim, F. Simiand), Aron introduz na França a sociologia alemã, dominada pela figura de M. Weber (La Sociologie allemande contemporaine, 1935). Sobre a interrogação, saída de W. Dilthey, sobre a objectividade das ciências históricas, ele articula uma reflexão sobre a acção humana na história e as condições da opção política (Introduction à la philosophie de l'histoire, 1938a; La Philosophie critique de l'histoire, 1938b).

Depois da guerra, Aron ajuda a descobrir, através do seu ensino, as obras de Tocqueville ou de V. Pareto (Les Étapes de la pensée sociologique, 1967). As suas pesquisas orientam-se para o estudo das sociedades industriais, das relações que nelas se instauram entre a estrutura social e o regime político (Dix-Huit Leçons sur la société industrielle, 1962). Confrontando a experiência dos regimes "constitucionais-pluralistas" com os processos habituais dos totalitarismos (Démocratie et totalitarisme, 1965), as suas análises comparativas fazem ressaltar a fragilidade e as hipóteses das sociedades democráticas: a igual distância de um sistema negador das liberdades e de um Estado que não se encarregasse de "atenuar os rigores do acaso social", a realidade das sociedades ocidentais esboça uma síntese cuja fórmula as utopias políticas falharam demasiadas vezes.

S. M.
Artesão e artesanato: Mais que para outras categorias sociais, as definições mantêm-se tributárias de considerações jurídicas e administrativas contingentes. O artesanato coincide praticamente com o sector das profissões e supõe uma inscrição no "Registo" do mesmo nome. Daí resulta que o artesão é em primeiro lugar um trabalhador manual, formado no trabalho, por aprendizagem directa; é um independente, exercendo por sua conta, sozinho ou com a ajuda de membros da sua família e de alguns companheiros. O artesanato assim designado é uma denominação recente que remonta ao período entre as duas guerras. Até à Revolução Industrial, o termo "artesão" aplicava-se ao operário, sem referência a uma profissão. No séc. XIX, assinalava um estatuto (o de "patrão") que o distinguia da massa dos assalariados e o aproximava do lojista: uma confusão motivada pelo facto de os actos de produção e de venda se recobrirem largamente; donde também um problema difícil de delimitação que, ainda hoje, não está totalmente resolvido. A dar crédito aos recenseamentos, o número dos artesãos regrediu bastante depressa de 1954 a 1975. O seu efectivo estabilizou-se em seguida. Uma certa retoma é mesmo sensível desde 1982 (beneficiando dela, sobretudo, os chefes de empresas artesanais de mais de cinco assalariados). No total, a população activa compreende 760 mil artesãos autênticos, uma vez descontadas as ajudas familiares que são cerca de 150 mil. A parte dos jovens de menos de 35 anos é de 26 por cento. Em relação às outras categorias patronais, esta proporção não é fraca, mas mantém-se inferior à revelada na maior parte das categorias de assalariados. A falta de jovens explica-se pelo facto de a instalação por sua conta exigir um capital económico que se adquire por herança ou por acumulação. Trata-se de factores que jogam nitidamente em desfavor das mulheres: estas não representam mais de 10 por cento dos artesãos instalados e encontramo-las reunidas nas actividades de serviço, o têxtil e o vestuário. Quanto ao resto, a construção civil acolhe os efectivos mais numerosos (312 mil), ao passo que os artesãos de fabrico não ultrapassam os 100 mil, se se excluírem os ofícios de arte. Dir-se-á, pois, que o artesão resiste muito melhor onde não entra em concorrência directa com a indústria e onde pode evidenciar uma grande competência individual.

A sociologia não se interessou verdadeiramente por uma actividade e por um grupo que a história parecia condenar. As raras análises propostas divergem tanto pela sua orientação teórica como pelo seu ponto de vista metodológico. B. Zarca (1983) insiste na necessidade de tomar em consideração a identidade do grupo, que ele julga encontrar no espírito de profissão visto como instrumento de legitimidade e também como elemento de distinção e de reconhecimento mútuo. Para C. Jaeger (1982), em contrapartida, a especificidade do artesanato consiste no facto de ele não permitir acumulação do capital e menos ainda a reprodução alargada da empresa. A referência aos valores de profissão permanece secundária relativamente às condições reais que permitem à pequena produção mercantil viver nos interstícios do capitalismo moderno. Mas pode igualmente procurar-se fora da situação de trabalho e da empresa os elementos necessários à compreensão do artesanato (Gresle 1981). O grupo assinala-se por uma morfologia e uma condição sociais próprias. A função de produção tal como a prática do ofício perdem então a sua função distintiva em benefício de determinantes familiares e patrimoniais que esclarecem o seu verdadeiro alcance.

F. G.
Arte (sociologia da): A sociologia da arte realizou grandes progressos ao longo dos últimos vinte anos desde que abandonou a reflexão sobre a relação entre a arte e a sociedade para interessar-se, com meios especificamente sociológicos, pelos contextos sociais do nascimento e da recepção das obras.

Foi assim que no decurso dos anos 60 a sociologia da arte se afastou das grandes sínteses de inspiração marxista, que vêem na arte o reflexo da sociedade ou que, de maneira menos simplificadora, avançam a hipótese de uma relação de homologia entre as estruturas formais das obras e as estruturas sociais. Desenvolveu pesquisas empíricas, pondo em acção os conceitos e os métodos experimentados em outros domínios da sociologia.

Num primeiro tempo, a sociologia da arte foi fortemente solicitada pela exigência institucional à procura de uma avaliação das políticas de democratização cultural. As análises sociológicas dos públicos tiveram um lugar importante na investigação e originaram a publicação de obras clássicas (Bourdieu, Darbel 1966). Desde então, trabalhos históricos e sociológicos já não se orientam apenas para o estudo do "consumo cultural" (a frequência dos museus ou dos concertos), mas também para o da percepção estética.

A extensão do Estado-providência cultural à protecção social dos criadores, a intervenção dos poderes públicos (particularmente na França) e das empresas (em particular nos Estados Unidos da América) nos mercados do trabalho artístico chamaram, mais recentemente, investigadores para temas novos: morfologia das populações artísticas, divisão do trabalho artístico, profissões e carreiras de artistas, mercados das artes, políticas culturais (Moulin 1985). O desenvolvimento da disciplina e o aumento do número dos pesquisadores favoreceram a concorrência das interpretações, e assiste-se hoje a uma grande diversidade teórica. A teoria do "campo artístico" e das suas articulações com os outros campos sociais que relaciona a análise das estratégias com um sistema de posições (Bourdieu 1979) e, importada mais recentemente, a do "mundo social da arte" que se interessa numa rede de interacção entre os actores que cooperam na produção social do valor artístico (Becker 1982) fornecem os principais quadros de descrição e de interpretação.

Dois grandes traços caracterizam a actual sociologia da arte. Por um lado, está menos afastada hoje que ontem dos outros segmentos da sociologia: a institucionalização da arte, a racionalização dos mercados, a profissionalização (ou desprofissionalização) dos artistas põem aos sociólogos problemas familiares. A sociologia da arte contribui assim para esclarecer os actores dos mundos da arte sobre as situações com as quais estão confrontados. Por outro lado, a extensão do conceito de arte, na sua definição actual, alarga o campo das pesquisas sociológicas muito para além da noção, historicamente constituída, de "belas-artes". A análise das práticas não eruditas (a literatura popular, a música de variedades, o jazz, o rock, a banda desenhada, etc.) caminha a par com a análise socioeconómica das indústrias do livro, do disco, da fotografia, do cinema, do audiovisual. O regresso da palavra "arte" para designar aquilo que se chamava, durante os anos 60-70, sociologia da cultura significa em primeiro lugar que a tónica é colocada no estudo dos mecanismos sociais da etiquetagem artística. Temos de felicitar-nos pelos esforços levados a cabo para escapar à redução determinista; mas não podemos evitar a interrogação sobre aquilo que, pelo efeito conjugado do relativismo sociológico (que é um postulado de método) e o hiper-relativismo estético (que caracteriza o séc. XX), é ladeado na maioria das análises, isto é, a qualidade da obra.

R. M.
Aspiração: A aspiração é um processo pelo qual um indivíduo ou um grupo social é atraído para um fim e marca a si próprio objectivos. Chama-se nível de aspiração o grau de êxito que o sujeito ambiciona atingir nos diferentes sectores das suas actividades (escolar, profissional, cultural, político, etc.). Objectos de numerosos estudos de psicologia, as aspirações nem por isso deixam de fazer parte do domínio da sociologia, na medida em que "é impossível estudá-las sem situar os homens que as exprimem no conjunto das estruturas sociais, na sua cultura particular e no movimento histórico em que estão implicados" (Chombart de Lauwe 1969).

A génese das aspirações situa-se ao nível do comportamento do indivíduo, que, tendo em conta os constrangimentos estruturais e económicos, as representações sociais, escolhe os seus fins calculando os seus custos, as vantagens e os riscos. O grau de autonomia do sujeito nesta escolha depende do grau de generalidade e de maleabilidade das regras e normas das sociedade. As aspirações, que envolvem quando as estruturas sociais mudam, podem ser elas próprias factores de mudança social.

C. P.-B.
Associação: Em sentido restrito, o termo designa um agrupamento de duas ou várias pessoas que põem em comum, de maneira permanente, os seus conhecimentos e a sua actividade numa finalidade que não seja a de partilhar lucros. Juridicamente, a associação opõe-se, portanto, à sociedade, cujo objectivo é o enriquecimento dos associados. Em sentido amplo, o termo designa todo e qualquer agrupamento, sejam quais forem a sua forma jurídica e a sua finalidade.

O fenómeno associativo, que responde à propensão dos homens para se agruparem para a defesa dos seus direitos, a propagação das suas ideias e a realização em comum de um objectivo colectivo, desempenha um papel importante nas sociedades modernas, ao mesmo tempo complexas e fragmentadas. Por um lado, as associações constituem um escalão intermédio entre o Estado e o indivíduo (ou os grupos primários); por outro lado, facilitam a integração social de cada um e a aprendizagem da vida colectiva. É assim que as associações constituem o lugar reconhecido de uma expressão que pode ter uma certa influência sobre as decisões políticas e ser fonte de uma mudança social.

Y. C.


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