Carolina Fernandes 1


A contribuição da AD para o ensino



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A contribuição da AD para o ensino 

 

Para estudar o discurso pedagógico escolar (DPE), primeiro é preciso compreender seu 

funcionamento, e isso a AD tem se empenhado em fazer desde seu início em solo brasileiro 

com  Eni  Orlandi  (2009).  Ela  nos  explicou  que  o  DPE  pode  funcionar  como  um  discurso 

predominantemente autoritário, lúdico ou polêmico. Para a autora (ibidem, p. 29), no discurso 

autoritário, que é o predominante no contexto escolar, há a contenção da polissemia, já no 

discurso lúdico e polêmico não há essa contenção, podendo-se trabalhar a polissemia com 

maior expansão no lúdico e com controle no polêmico.  

A pergunta inicial, portanto, é: como transformar o discurso pedagógico autoritário em 

predominantemente  lúdico  ou  polêmico?  O  primeiro  passo  é  produzir  atividades  que 

promovam a autoria em sala de aula, isto é, a produção de gestos de interpretação singulares 

(FERNANDES, 2017) que possibilitem a escuta de diferentes vozes produtoras de derivas de 

sentidos, a fim de incitar a discussão e o pensamento crítico e reflexivo. A leitura polissêmica 

é o que temos defendido para esta mudança no discurso pedagógico em sala de aula, visto 

que sua prática “possibilita o rompimento com o logicamente estabilizado do imaginário de 

texto fechado e leitura decodificadora, assim como com o discurso autoritário que renega ao 

aluno seu direito de palavra” (FERNANDES, 2015, p. 192). É pela leitura polissêmica funcionar 

como  prática  social  de  circulação  dos  sentidos  que  “liberta”  o  sujeito  no  sentido  em  que 

fornece as condições para ele questionar a opressão e os efeitos de evidência.  

Também  devo  salientar  o  ensino  da  língua  no  seu  funcionamento  discursivo  além  do 

linguístico. Talvez esta seja a tarefa que exige mais do professor, já que este deve romper com 

o imaginário cristalizado de língua materializada nas regras gramaticais. Para tornar visível  o 

discurso através da língua é preciso mostrar como os efeitos de sentido são produzidos por 

meio  dos  recursos  linguísticos,  assim  atingimos  a  ordem  da  língua,  ultrapassando  sua 

organização como propõe Indursky (2011). Para isso, fazemos as seguintes perguntas: De que 

forma funciona a língua [ou seja, o advérbio, a seleção de substantivos, o adjetivo, a negação 

etc.] neste texto para produzir tal efeito de sentido? Se substituirmos certa palavra por outra 

o  sentido  muda?  Por  que  os  sentidos  mudam?  Considerando  a  heterogeneidade  da 

materialidade textual, quais recursos linguísticos e não-linguísticos produzem tal sentido? Que 

dizeres que não foram ditos produzem efeitos neste texto? Que lugar social ocupa o sujeito-





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