O mundo viu e ouviu em versos e prosas
Uma guerra sangrenta de dez anos.
Onde por uma paixão caprichosa,
Pereceram milhares de gregos e troianos.
Menelau grande rei dos Espartanos
Tinha por esposa, Helena, bela e formosa,
Que se apaixonou por Páris filho de Priamos,
Menelau tornou a vida do troiano dolorosa.
Os Gregos cercaram os troianos
Numa batalha viril, calorosa e insana,
Que retratou de forma brutal os enganos,
Das récitas e dramáticas paixões humanas.
Páris tinha como irmão, Heitor herói troiano,
Que é morto por Aquiles e sua lança,
Heitor havia derrotado Pátroclo por engano,
Aquiles cheio de cólera, só clamava por vingança.
Aquiles, soldado de valor sem igual,
Uniu-se á Agamêmnon e a menelau,
Tomaram Tróia, por um descuido fatal,
Dando de presente aos troianos um cavalo de pau.
Aquiles na noite tentou Criseida resgatar,
Foi morto pelas setas de Páris em seu calcanhar
Assim tróia foi destruída e a guerra veio a acabar,
Por capricho do destino, Páris e Helena puderam se amar.
NARRATIVO
A outra noite
Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para casa de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar lindo, de lua cheia; e que as nuvens feias que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas, uma paisagem irreal.
Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou o sinal fechado para voltar-se para mim:
-O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas, tem mesmo luar lá em cima?
Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra - pura, perfeita e linda.
-Mas, que coisa...
Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Depois continuou guiando mais lentamente. Não se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa.
-Ora, sim senhor...
E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um "boa noite" e um "muito obrigado ao senhor" tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe tivesse feito um presente de rei.
( Rubem Braga)
EXEMPLO 2
A partida dos homens (trecho)
(...) O silêncio ficou palpitando atrás dele em pequenos sussurros. Há quanto tempo estivera observando-o, sem sentir.
Ah, então ela morreria.
Sim, que morreria. Simples como o pássaro voara. Inclinou a cabeça para um lado, suavemente como uma louca mansa: mas é fácil, tão fácil... nem é inteligente... é a morte que virá, que virá... Quantos segundos haviam decorrido? Um ou dois. Ou mais. O frio. Percebeu que por um milagre tomara agora consciência daqueles pensamentos, que eles eram tão profundos que haviam decorrido sob outros materiais e fáceis, simultaneamente... Enquanto ela vivera o sonho, observara as coisas ao redor, usara-as mentalmente, nervosamente, como quem crispa as mãos na cortina enquanto olha a paisagem. Fechou os olhos, docemente serena e cansada, envolvida em longos véus cinzentos. Um momento ainda sentiu a ameaça de incompreensão nascendo do interior longínquo do corpo como um fluxo de sangue. Eternidade é o não ser, a morte é a imortalidade — boiavam ainda, soltos restos de tormenta. E ela não sabia mais a que ligá-los, tão cansada.
Agora a certeza de imortalidade se desvanecera para sempre. Mais uma vez ou duas na vida — talvez num fim de tarde, num instante de amor, no momento de morrer — teria sublime inconsciência criadora, a intuição aguda e cega de que era realmente imortal para todo o sempre.(...)
(Clarice Lispector)
Pathelin__Cenário'>DRAMÁTICO
A farsa do advogado Pathelin
Cenário:
No teatro medieval os cenários são simultâneos, isto é, todos os locais da ação eram justapostos. Aconselhamos a estilização. Pode ser feito com rotunda escura e elementos mutáveis de acordo com o estilo da peça.
Cena I
Pathelin - Por Deus,
Guilhermina. Por mais que dê tratos à bola, não consigo descobrir um meio de ganhar um vintém. Houve tempo, no entanto, em que não faltavam clientes nem belos escudos.
Guilhermina - Pois é, esse tempo já vai longe. Agora estamos assim: um dia bem,
um dia mal, ora enganando, ora enganado. Nunca vi coisa igual.
Pathelin - E posso jurar que não há nesta cidade melhor advogado do que eu, excetuando o
Juiz.
Guilhermina -- É que ele leu a cartilha, estudou muito tempo para o colegial.
Pathelin -- Ninguém conhece como eu as correntes, as molas, as engrenagens dos processos. Não há quem seja mais experto do que o doutor
Pathelin para torcer as leis.
Guilhermina -- Para quem não aprendeu mais do que quatro ou cinco letras ....
Pathelin -- Sou um verdadeiro mestre...
Guilhermina (cortando) - ...de trapaça! Neste domínio você não cede a ninguém o primeiro lugar.
Pathelin - Não confunda os nomes nem as coisas. Sou simplesmente hábil.
Guilhermina - Bela habilidade... Enfim, tudo neste mundo pode ter dois nomes. De que adianta isso? De nada. Morremos de fome. Olhe nossas roupas. Veja em que estado estão o meu vestido e a sua roupa. Até parece que estamos vestidos de gaze. Cada vez que sento ou encosto em algum lugar, tenho medo de deixar colado um pedaço da minha saia. O dia em que isto acontecer, só me resta o recurso de fingir de paralítica e esperar passar o resto da vida sentada...
Porque ganhar outro vestido, não tenho a menor esperança.
Pathelin -- O que precisamos é achar algum modo de ganhar dinheiro.
Guilhermina -- Mas como?
Pathelin - E você ganhará um novo vestido hoje mesmo.
Guilhermina - O que? Você enlouqueceu?
Pathelin - Longe disso. Nunca tive tanto juízo.
Guilhermina - Está se vendo.
Pathelin - É isso mesmo. Acabo de ter uma idéia magnífica.
Guilhermina - Minha Nossa Senhora! Suas idéias magnificas já o levaram ao pelourinho. Será que o lugar é tão bom que deseje voltar para lá?
Pathelin - Deixe-se de tolices. O que pretendo fazer não terá a menor conseqüência.
Guilhermina - Hum!
Pathelin - Vamos, de que cor e de que fazenda você quer seu vestido?
Guilhermina - Da cor e da fazenda que você conseguir extorquir do comerciante, que for bastante tolo para lhe vender fiado.
Pathelin - Deus obra em tempo mínimo. Você verá que o espírito é mais forte que a matéria e que o homem de espírito não precisa de dinheiro para vestir sua cara-metade e a si próprio.Se for preciso, vou demonstrar todo o meu engenho. Nunca se viu outro igual a mim. Até já!
Guilhermina - Vá com Deus. Se encontrar algum otário, não se esqueça de beber com ele.
Obs.:
Mimesis: Do gr. mímesis, “imitação” (imitatio, em latim), designa a acção ou faculdade de imitar; cópia, reprodução ou representação da natureza, o que constitui, na filosofia aristotélica, o fundamento de toda a arte.
Catarse :. Teatro. Num espetáculo trágico, refere-se ao desenvolvimento de uma espécie de purgação de alguns sentimentos, nomeadamente, de pavor ou de compaixão, do público.