Guadalcanal a ilha do Terror a série de vitórias japonesas iniciou-se em Pearl Harbor, seguindo-se Guam, Hong-Kong, Filipinas, Cingapura, Indonésia, Rabaul, Bougainville: conquistas retumbantes. Mas então, em Guadalcanal, tudo mudou



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Domingo de trincheira

 

Os fuzileiros completavam sua 9a semana em Guadalcanal quando o mês de outubro entrava em sua segunda metade. Dissipada um pouco a névoa da discrição oficial, o público americano começou a compreender que seus soldados lutavam pela própria vida numa obscura ilha do sudoeste do Pacífico e que estava ocorrendo uma importante campanha, e não uma incursão breve. Começava-se também a compreender que os fuzileiros estavam em maus lençóis. Numa entrevista coletiva à imprensa, em meados de outubro, perguntaram em Washington ao Secretário da Marinha, Knox, se os americanos podiam defender Guadalcanal. Sua resposta foi franca, ainda que pouco tranqüilizadora: "Tenho esperanças que sim. Espero que sim. Não quero fazer previsões, mas todo homem que está lá, em terra ou no mar, mostrará do que é capaz".



 

O público clamava por informações; os jornais publicavam editoriais que refletiam a incerteza da situação. Os relatórios censurados do punhado de correspondentes de guerra nas Salomão eram lidos com avidez. Já se tinham ido os tempos em que o Almirante King podia responder com irritação a um pedido de informação: "Diga ao público quando a coisa tiver acabado; depois diga-lhe quem venceu". Certos fatos foram revelados ao público e aos líderes políticos pela publicidade repentina. Não se podia ocultar inteiramente o caráter provisório de toda a operação de Guadalcanal ate então; tampouco se podia negar a falta de confiança que alguns do seus planejadores tinham na campanha. Exigiram-se mudanças, e estas logo vieram. O próprio Presidente Roosevelt pediu aos Chefes Conjuntos de Estados-Maiores que enviassem toda a ajuda disponível para Guadalcanal. Anunciou-se que Ghormley seria substituído no Comando da Área do Pacífico Sul pelo Vice-Almirante William Halsey, muito mais agressivo. "Bull" Halsey era conhecido pela sua linguagem causticante e pela convicção de que a melhor forma de defesa é o ataque. Esperava-se que ele trouxesse um pouco mais de entusiasmo para as mesas de reuniões das operações de Guadalcanal.

 

Decidiu-se também enviar unidades do exército para reforçar os navais de Vandegrift. Até então, a única unidade de terra nas Salomão eram os "Seabees", (Abelhas do Mar), O 6o Batalhão de Construção Naval. Os fuzileiros havia algum tempo vinham usando uma letra depreciativa para a melodia Bless'em all ("Abençoe-os todos"):



Oh, we asked for the army to come to Tulagi

But Douglas MacArthur said, 'No!'

He gave as his reason,

'This isn't the season'.

Besides, there is no USO.'

(Oh, pedimos ao exército para que viesse para Tulagi

Mas Douglas MacArthur disse "Não!"

Ele deu como razão,

"Esta não é a temporada"

Além disso, lá não há cantinas).

 

Agora isto seria remediado. Uma das últimas medidas de Ghormley, antes de entregar o cargo a Halsey, fora concordar com o pedido do Major-General Millard Harmon para que lhe permitissem fortalecer a guarnição em Guadalcanal. A 8 de outubro, o 164o Regimento de Infantaria da Divisão "Americal" (23a DI) embarcou em Noumea, para que o Almirante Turner a transportasse para Guadalcanal.



 

Os japoneses agora levavam a ilha tão a sério quanto os americanos. Tanto o Coronel Ichiki quanto o General Kawagushi não haviam conseguido expulsar os americanos nem tomar o "Campo Henderson". O Alto-Comando japonês - punha a culpa na "lança de bambu", ou seja, nos métodos primitivos de combate dos dois comandantes. Essas táticas não tornariam a ser empregadas. O Tenente-General Hyakutake abandonou seus planos de atacar Port Moresby e decidiu que Guadalcanal teria toda a prioridade. Ele próprio dirigiria a força atacante, reforçando as tropas, já na ilha, com a famosa Divisão "Sendai" e outras unidades.

 

Para assegurar que seus homens chegariam a Guadalcanal a salvo, Hyakutake exigiu que as forças navais que escoltariam sua divisão fossem da mais alta qualidade. Seu pedido, e à interência de que as escoltas anteriores não tinham sido bastante boas, ofenderam as autoridades navais, mas elas concordaram em lhe dar quatro couraçados e várias belonaves mais leves, bem como mandar mais seis submarinos para a área das Salomão. Além disso, o Capitão Ohmae, encarregado do planejamento naval em Rabaul, observou que o "Campo Henderson" teria de ser destruído, para dar às tropas do general liberdade na ilha. Era possível provocar certa destruição com ataques marítimos e aéreos, mas seria preciso intenso bombardeio terrestre para completar a tarefa. Ohmae ofereceu ao General Hyakutake um navio-tênder para hidroaviões e uma escolta de dois destróieres, que levariam vários canhões pesados de artilharia, incluindo um que mais tarde os americanos apelidariam de "Pistol Pete", para Guadalcanal. Hyakutake aceitou com prazer a oferta.



 

A 7 de outubro, o Contra-Almirante Norman Scott levou uma pequena força naval das Novas Hébridas para uma posição próxima das Ilhas Russell, nas Salomão. Seus navios eram a guarda avançada do comboio que traria os homens da Divisão "Americal" para Guadalcanal. Scott também recebera ordens para fazer o máximo possível para hostilizar quaisquer navios mercantes japoneses que trouxessem homens e suprimentos de Rabaul e das Salomão Ocidentais para Guadalcanal. Sua força consistia dos cruzadores pesados San Francisco e Salt Lake City; dos cruzadores leves Helena e Boise e dos destróieres Buchanan, Duncan, Farenholt, Laffey e McCalla.

 

Às 13:45 h de 11 de outubro, Scott recebeu uma mensagem dizendo que uma força de cruzadores e destróieres inimigos se dirigia para a Fenda (The Slot), rumo a Guadalcanal. Na verdade, ela fazia parte do "Expresso de Tóquio", comandada pelo Almirante Goto, e vinha bombardear o "Campo Henderson". Hyakutake desembarcara em Guadalcanal alguns dias antes, na companhia dos seus chefes de seção de Estado-Maior, bem a tempo de ser informado do sucesso de Puller contra o 4o de Infantaria. Agora a marinha japonesa cumpria a promessa de dar bastante apoio ao exército.



 

Às 18:10 h, Scott recebeu outra mensagem. Os navios japoneses estavam agora a apenas 176 km. Scott partiu ao seu encontro, calculando que interceptaria os japoneses, ao largo do Cabo Esperança, por volta da meia-noite.

 

Às 22:30 h ele enviou seus aerobotes numa missão noturna de busca e descoberta. Um avião do Salt Lake City incendiou-se com seus próprios foguetes luminosos e teve de ser lançado ao mar, onde continuou a arder. O Almirante Goto viu suas chamas a distância, a bordo da sua nave-capitânia, Aoba, e as confundiu com um sinal luminoso de terra. Poucos minutos depois o Helena e o Boise entraram em contato com o inimigo pelo radar.



 

A Batalha do Cabo Esperança estava prestes a começar e seria caracterizada por confusão e hesitação de ambos os lados. O Almirante Scott, tendo as vantagens iniciais da surpresa e da posição, quase as jogou fora. Seus navios haviam cortado inadvertidamente o "T" da formação japonesa, (Cortar o "T" é a mais ambicionada - e praticamente inatingível - manobra numa batalha naval. Consiste em levar a formação dos navios em coluna a cruzar a frente da coluna de navios inimigos, formando um "T". Assim, os navios "cortadores" podem assestar seus canhões sobre os lados e a proa dos navios inimigos, atirando com todas as peças voltadas para um dos lados do navio (bordada). Os navios inimigos só podem atirar para diante e têm seu campo de tiro impedido pelos navios da coluna que estão avante. Além disso, seu armamento de ré não pode ser assestado para o inimigo) surpreendendo o inimigo de bordada, uma manobra naval clássica. Infelizmente Scott não sabia ao certo quais eram os seus navios e quais os do inimigo. O relatório oficial da Pesquisa de Bombardeio Estratégico viria a dizer: "O comandante americano foi incapaz de visualizar a situação porque a nave-capitânia não estava equipada com o radar mais moderno". Também houve uma confusão com os sinais entre o Capitão Hoover, do Helena, e Scott e, com isso, o Helena reteve o fogo de sua artilharia até que foi quase tarde demais. Mas pouco antes das 23:00 h, deram o sinal e os canhões de seis polegadas do Helena dispararam contra o Aoba, avariando seriamente a nave-capitânia e ferindo mortalmente o Almirante Goto.

 

Quando os japoneses revidaram, era tarde demais. O destróier Fubuki foi afundado e o cruzador Furutaka foi de tal forma bombardeado que afundou horas depois. Os navios japoneses espalharam-se e assestaram seus canhões, afundando o Duncan e avariando seriamente o Boise e o Farenholt. A ação não demorou muito, tampouco foi tão decisiva quanto a Batalha de Savo, mas resultou em ligeira vantagem para os americanos, especialmente porque os destróieres japoneses Murakakumo e Natsugumo, abandonando a ação, foram afundados no dia seguinte por aviões americanos.



 

Por assim dizer, a vitória americana foi em grande parte técnica. Ela pode ter atrasado o "Expresso de Tóquio", mas não o fez parar. Os navios de Scott não estavam em condições de manter a distância uma força naval em seu avanço. Os japoneses puderam prosseguir com seu plano. A 13 de outubro, a artilharia pesada japonesa abriu fogo contra o "Campo Henderson", logo acertando a pontaria e impedindo que os aviões decolassem. Uma outra pista de pouso fora preparada mais ao sul do "Campo Henderson" e os caças puderam usá-la; mas a barragem de terra era apenas preliminar. Mais tarde, naquela noite, uma poderosa força naval japonesa aproximou-se de Guadalcanal sem encontrar oposição e começou a disparar granadas contra o aeródromo e adjacências. Os couraçados Kongo e Haruna, o cruzador leve Isuzu e oito destróieres de escolta ficaram subindo e descendo a costa da ilha. Em 80 minutos, 918 salvas de granadas de 15, 6 e 5 polegadas foram disparadas pelos couraçados, avariando o aeródromo e matando 40 americanos.

 

Na manhã seguinte, somente 42 aviões puderam levantar vôo. O "Campo Henderson" estava fora de ação; no local havia prédios de madeira fumegantes e imensas crateras. Os moradores das proximidades saíram de seus abrigos e começaram a reparar os danos.



 

Ao amanhecer do dia 15 de outubro podia-se ver que a marinha japonesa aproveitara a vantagem concedida pela neutralização da força aérea americana em Guadalcanal. Cinco transportes japoneses, escoltados por 11 destróieres e outras belonaves, estavam descarregando em Tassafaronga, a 16 km da Ponta de Lunga. Desta vez os japoneses haviam sido demasiado otimistas. Os aviadores americanos só haviam ficado em terra temporariamente. As tripulações de terra procuravam freneticamente combustível, esvaziando os tanques dos aviões destruídos, desenterrando depósitos ocultos até que 400 tambores, o bastante para dois dias, foram acumulados e levados a mão para os aviões. Ao mesmo tempo, em resposta a pedidos urgentes de Vandegrift e Geiger, os C-47 e os navios-transporte começaram a transportar o combustível solicitado, das Novas Hébridas, para a força aérea. Um transporte, o MacFarland, foi bombardeado no Canal Sealark, mas sua tripulação conseguiu encalhar o navio.

 

Decolando da melhor maneira que podiam, os aviões americanos deixaram o "Campo Henderson" e a pista de pouso adjacente e se dirigiram para os transportes em Tassafaronga. Eles afundaram um e expulsaram o resto para o mar, onde meteram a pique um outro; porém isto não passou de um gesto simbólico, porque os japoneses haviam desembarcado os 4.000 homens dos transportes e a maior parte do alimento, armas e munições. Os japoneses recém-chegados, do 230° Regimento de Infantaria da 38a Divisão, e sete companhias do 15° de Infantaria da 2a Divisão, elevaram o total de forças armadas japonesas em Guadalcanal para mais de 20.000, aproximadamente o mesmo número de americanos.



 

Porém, os japoneses estavam mais descansados e melhor equipados. Vandegrift sentiu na chegada dos reforços inimigos a iminência de uma grande ofensiva. Ele fez mais outro pedido de ajuda, classificando seus efetivos como "totalmente inadequados". Os chefes de Estado-Maior, imersos em outros teatros de Operações, além do Pacífico, puderam fazer pouco mais do que enviar alguns aviões para as Novas Hébridas, onde ficaram sob o comando do Contra-Almirante Aubrey Fitch, que assumira o cargo de comandante das bases terrestres no Pacífico Sul; além disso, eles mandaram reparar o porta-aviões Enterprise, enviando-o, com o South Dakota e nove destróieres, de Pearl Harbor para Guadalcanal.

 

Hyakutake tinha algum motivo de estar satisfeito; seus homens e sua artilharia pesada estavam a salvo em terra. Ele podia prosseguir com seu plano de tomar o "Campo Henderson". A força de ataque caberia à Divisão "Sendai". Esta força, comandada pelo Tenente-General Masao Maruyama, partiria do Kakumbona, para o interior, até atingir uma posição ao sul do "Campo Henderson". Em seguida, ela se dividiria em duas seções, com a ala direita formada pelo 29° de Infantaria, comandado pelo General Kawagushi, e a esquerda pelo Major-General Yumio Nasu. A força de Kawagushi capturaria o "Campo Henderson" e eliminaria todos os americanos a leste do Lung enquanto os comandados de Nasu avançariam mais ao norte, na direção do mar Quando o "Campo Henderson" tivesse sido capturado, a palavra-código Banzai seria radiografada para Hyakutake. Toda a operação seria apoiada pelo Major-General Tadashi Sumiyoshi, comandante da artilharia do 17° Exército, que seria responsável pelo intenso campo de fogo na área do Lunga pelo ataque diversivo a ser feito da margem oeste do Matanikau. A força de Sumiyoshi consistiria de 5 batalhões de infantaria, um total de quase 3.000 homens, uma companhia de tanques, 15 obuseiros de 150 mm, 3 de 100 mm e 7 peças de artilharia de campanha. O 16o de Infantaria ficaria n reserva até que o "Campo Henderson" tivesse sido capturado. Haveria considerável apoio aéreo e o Almirante Yamamoto, Comandante-Chefe da Frota Combinada Japonesa, prometera enviar uma força de porta-aviões, sob o comando do Almirante Kondo, para afundar quaisquer belonaves americanas ao largo de Guadalcanal.



 

Preparados os seus planos, Hyakutake começou a executá-los. O grupamento de engenharia começou a abrir uma estrada pela selva, desde Kokumbona até um ponto ao sul do "Campo Henderson", perto da área americana. Com 24 km de extensão e conhecida como "Trilha Maruyama", ela correria para o sul desde Kokumbona, dobraria para leste sobre os Rios Matanikau e Lunga, abaixo do Monte Austen, voltaria para o norte, acompanharia o curso do Lunga e terminaria perto da saliência que dominava o "Campo Henderson". A construção dessa trilha era trabalho para gigantes. A selva era quase impenetrável, e a chuva, intensa e constante, fazia do terreno um imenso charco, elevando a umidade a proporções quase insuportáveis. Contudo, os sapadores cumpriram a tarefa com tal êxito, que a 16 de outubro a "Maruyama" pôde começar sua laboriosa marcha para a pista de pouso. Esta foi outra realização quase fantástica. Desde o começo, os soldados nipônicos recebiam apenas meia ração de arroz e durante toda a marcha a chuva torrencial praticamente não parou. Além da mochila completa, cada soldado também transportava uma granada de artilharia. Os pesados canhões tinham de ser rebocados pela selva por meio de cordas. Milhares de soldados abriram caminho pela vegetação rasteira numa média de 10 km por dia, durante cinco dias. As peças de artilharia mais pesadas tiveram de ser abandonadas pelo caminho, mas os homens chegaram até o fim, o que é um tributo ao seu entusiasmo. Mas o avanço fora terrivelmente lento e a data original do ataque - 18 de outubro - teve de ser adiada para 22 de outubro. Contudo, todo um exército se aproximara, em segredo, para um ponto perigosamente perto das linhas americanas.

 

A primeira ação da campanha ocorreu em torno do Matanikau, a 20 de outubro. Uma poderosa patrulha de combate do comando do General Sumiyoshi, incluindo vários tanques, surgiu do meio da selva, na margem oeste do rio. A patrulha foi imediatamente avistada pelos artilheiros do III Batalhão de 1o de Fuzileiros Navais, que abriram fogo com peças de 37 mm, destruindo um tanque e rechaçando os restantes, empurrando os soldados de infantaria para o abrigo da selva. No dia seguinte o próprio Sumiyoshi se fez sentir, disparando sua artilharia sobre o Matanikau e mandando uma pequena força de tanques e soldados de infantaria através do banco de areia existente na foz do rio. Uma vez mais a artilharia pesada dos fuzileiros rechaçou os japoneses, o que acabou temporariamente com a ação na área do Matanikau.



 

Entrementes, a força do General Maruyama encontrou dificuldade em varar a selva, e só chegou à sua posição, ao sul do "Campo Henderson", a 23 de outubro. Ironicamente, os japoneses estavam ligeiramente a leste de "Bloody Ridge", o palco da sua outra derrota. Mesmo assim, nem todos os homens da expedição haviam chegado aos respectivos lugares. Maruyama recebeu uma mensagem dizendo que o General Kawagushi ainda não estava em posição, e ficou furioso com isso; o ataque, programado para o pôr-do-sol daquele dia, teria de ser adiado novamente. O general deu todas as ordens necessárias, adiando o ataque por vinte e quatro horas. Ele também mandou uma mensagem a Kawagushi retirando-o do comando e entregando as tropas deste ao subcomandante, Coronel Toshinaro Shoji.

 

Vandegrift não estava em Guadalcanal a 23 de outubro. Ele voara para Noumea, para uma conferência urgente com Halsey. O encarregado de Guadalcanal era o General Geiger, que compartilhava da crença de Vandegrift de que qualquer ataque japonês provavelmente viria da área do Matanikau para oeste, não para o sul. Ao pôr-do-sol do dia 23 de outubro, essa convicção foi reforçada porque o que parecia ser um ataque inimigo em grande escala foi desfechado do oeste.



 

A arremetida foi resultado de um erro trágico. O General Sumiyoshi não fora informado de que o ataque concertado, planejado para o pôr-do-sol do dia 23, fora adiado devido ao avanço vagaroso de Kawagushi. Assim, quando o sol se pôs, por volta das 18:00 h, Sumiyoshi deu o sinal para avançar sobre o Matanikau. Tivesse ele sido parte de um ataque de três pontas, talvez fosse bem sucedido, especialmente com apoio aéreo e de artilharia naval. Mas as outras unidades haviam recebido a mensagem radiografada para adiá-lo por vinte e quatro horas, e os homens de Sumiyoshi avançaram pelo banco de areia sozinhos. A artilharia americana os destruiu e aos seus tanques, num banho de sangue: 650 japoneses foram mortos em outra carga desesperada.

 

A tentativa fracassada de Sumiyoshi convenceu ao General Geiger de que o principal avanço japonês seria feito da área do Matanikau e ele tirou um batalhão de defesa da linha que protegia o aeródromo e o mandou na direção do Matanikau. Isto queria dizer que um batalhão de fuzileiros navais americanos - o do Coronel Puller - estava guarnecendo uma frente de cerca de 3.200 m de comprimento. Os homens de Puller cavaram abrigos, estenderam arame e colocaram os canhões em posição. Às 19:00 h, os japoneses começaram a se infiltrar. O 29o de Infantaria, sob o comando do Coronel Furumiya, tentou um movimento de cerco na escuridão. Os japoneses moviam-se com lentidão e cautela e somente às 23:00 h é que desfecharam toda a fúria do seu ataque, sob chuva intensa. A 7a Companhia, com Furumiya à frente, na verdade rompeu as linhas americanas, mas os fuzileiros tornaram a formá-la e Furumiya se viu isolado. O restante do seu comando lançou-se contra as defesas dos navais, mas os homens de Puller resistiram graças ao exemplo de homens como o Sargento John Basilone, que guarneceu uma metralhadora onde a refrega era mais intensa e quando o inimigo ameaçava vencer sua posição. Desesperadamente, Puller pediu mais fogo de artilharia e o recebeu, mas lentamente seus homens começavam a ceder terreno em áreas isoladas. A 2a Divisão, a "Sendai", começou a avançar e Maruyama estava exultante, pois certamente os americanos agora não poderiam resistir e o "Campo Henderson" sem dúvida cairia. O general japonês mandou prematuramente a palavra-código Banzai, que foi transmitida ao General Hyakutake, em Kukumbona, que a retransmitiu para Rabaul. A pista de pouso americana fora tomada.



 

Mas não fora. Madrugada alta a batalha ainda era intensa. Maruyama chegou mesmo a mandar suas reservas avançar, mas os fuzileiros ainda se recusavam a abandonar a elevação que dominava o "Campo Henderson". A maior parte do combate consistia num terrível corpo-a-corpo. Americanos e japoneses sangravam-se nas encostas escorregadias. Geiger mandou os soldados do 164o de Infantaria encosta acima, para reforçar os fuzileiros. Eles fizeram a balança pender para o outro lado. Os japoneses continuaram lutando até o amanhecer, quando então Maruyama retirou o restante das suas forças. Mais de 900 dos seus homens jaziam mortos nas encostas da saliência.

 

Uma vez mais os americanos tinham sido bem sucedidos, e não perderam tempo. Desde o amanhecer do dia 25, enquanto os médicos recolhiam os feridos de ambos os lados, os sobreviventes reparavam a cerca de arame e se preparavam para outros ataques. Estes, quando ocorreram, não vieram de terra. Zeros e Bettys apareceram, vindos de Rabaul, metralhando os americanos na saliência. Wildcats decolaram do "Henderson" e travaram combate nos céus de Guadalcanal. Ases como Smith (19 derrubados) e Carl (18) já então haviam deixado a Força Aérea Cactus e partido para os Estados Unidos, mas foram substituídos por homens do calibre do Capitão Joseph Foss, que derrubaria 26 e igualaria o recorde batido por Eddie Rickenbacker - conquistado na Primeira Guerra Mundial - antes de deixar Guadalcanal. Foss e os outros aviadores repeliram os aviões japoneses. Naquele dia Foss derrubou quatro Zeros.



 

Os navios japoneses, subindo e descendo a costa de Guadalcanal na certeza de que o "Campo Henderson" havia sido tomado, graças à afirmação errônea de Maruyama, começaram a bombardear a linha da costa. Três destróieres inimigos entraram no Canal Sealark, pelo norte, expulsaram dois transportes-destróieres americanos e avariaram seriamente dois barcos de patrulha da baía, que haviam vindo de Tulagi, antes de serem atacados pela artilharia de costa do 3o Batalhão de Defesa.

 

Para os americanos que tentavam reorganizar-se em Guadalcanal, o dia foi terrível. Mais tarde, tornou-se ele conhecido como o Domingo de Trincheira, pelo número de vezes que tiveram de se proteger nelas. Os japoneses fizeram sete ataques aéreos ao longo do dia. Das 08:00 às 11:00 h, o "Pistol Pete" bombardeou a região do "Campo Henderson" em rajadas de dez minutos. Enquanto isto acontecia, os americanos mudaram-se para novas posições da mesma frente. Durante a luta da noite anterior, homens de diferentes unidades se haviam misturado, passando o I Batalhão do 7o de Fuzileiros a ocupar uma linha que ia do Rio Lunga a um ponto distante quase 1.500 m a leste. Ali a posição defensiva era ocupada pelo III Batalhão do 164o de Infantaria, que cedia a vez ao II/164o RI, mais adiante na linha.



 

Os japoneses tornaram a atacar ao anoitecer daquele dia e seu assalto não tinha nada de sutil. Unidades de 30 a 200 homens se atiravam por toda a extensão da linha americana, com fogo de metralhadora apoiando-os na escuridão. Os japoneses, homens dos 16o e 29o Batalhões de Infantaria, lutavam ferozmente, gritando obscenidades para os americanos. Mais ou menos ao mesmo tempo, outra força japonesa atacou a linha americana, perto do Matanikau. Este setor da área americana era defendido pelo II/7o RFN. Os japoneses penetraram num ponto, mas foram rechaçados por uma força reunida às pressas e formada de escriturários, músicos e especialistas do pessoal do QG, pelo Major Odell Conley, um oficial de Estado-Maior dos fuzileiros navais. A luta prosseguia por toda a linha. Na Cota 67, a força do Coronel Oka subiu a encosta. Até então, Oka não se fizera notar pela disposição em travar combate e a relutância em lançar seus homens mais cedo talvez tenha custado aos japoneses a possibilidade de penetrar a linha inimiga. Naquele momento os americanos estavam confiantes e bem entrincheirados. Seus morteiros e armas automáticas ceifavam os japoneses; o fogo de artilharia abria buracos nas multidões de nipônicos que ainda tentavam subir a encosta. Ao amanhecer os japoneses haviam novamente recuado para baixo da crista, e desta feita não voltaram.

 

Durante três dias os americanos esperaram com os corpos dos japoneses empilhados diante das suas posições. A 29 de outubro eram visíveis os sinais de que os japoneses estavam-se retirando totalmente da área; alguns dos sobreviventes voltando para a Ponta de Koli, outros para Kokumbona, deixando atrás de si entre dois e três mil mortos. As baixas americanas haviam sido leves. O 164o de Infantaria do exército, por exemplo, cuja primeira ação importante fora esta, teve 26 mortos e 52 feridos. Os americanos haviam lutado com bravura e habilidade e tinham contado com a vantagem de estarem bem entrincheirados e de possuírem armas poderosas. Mas uma causa importante da derrota japonesa fora a falta de flexibilidade no comando japonês na ilha. Quando o terreno difícil impossibilitava a coordenação do ataque, Hyakutake e seu Estado-Maior ainda prosseguiam com seu assalto frontal. Ligado a isto, o colapso das comunicações e a falta de vigor de homens como Oka condenaram o ataque ao "Campo Henderson" ao fracasso.



 

Os americanos não foram bem sucedidos em todos os setores, na noite de 25 para 26 de outubro. Enquanto as forças de terra estavam repelindo os japoneses nos arredores do aeródromo, as belonaves americanas empenhavam-se num combate ao largo das Ilhas de Santa Cruz, a leste de Guadalcanal. Duas forças-tarefa americanas tinham estado na área: uma centralizada no porta-aviões Enterprise, comandado pelo Contra-Almirante Kinkaid e formada do couraçado South Dakota, dois cruzadores e oito destróieres; a outra formada do porta-aviões Hornet, comandado pelo Contra-Almirante Murray, e dois cruzadores pesados, dois cruzadores antiaéreos e seis destróieres. Os navios americanos encontraram uma força japonesa, comandada pelo Vice-Almirante Nagumo, formada de quatro porta-aviões, quatro couraçados, oito cruzadores e cerca de trinta destróieres. Os japoneses se mantinham informados do progresso dos navios americanos por uma rede de submarinos e aviões. A batalha, quando iniciada, foi outro combate inconcludente, mas os americanos perderam o Hornet, afundado por aviões japoneses, e o destróier Porter, torpedeado por um submarino. Além disso, o Enterprise e o South Dakota ficaram avariados e 74 aviões americanos se perderam. Os japoneses perderam mais de 100 aviões, enquanto os porta-aviões Shokaku e Zuiho, o cruzador pesado Chikuma e o destróier Terutsuki ficaram seriamente avariados.

 

A perda do Hornet e, temporariamente, do Enterprise e seus aviões foi um golpe duro, mas Vandegrift, já de volta a Guadalcanal, não pretendia perder a vantagem que ganhara sobre os japoneses na ilha. Era essencial que os japoneses em retirada fossem seguidos e seus elementos desgarrados fossem mortos ou capturados. Além disso, nas áreas do Matanikau e da Ponta da Cruz, a artilharia pesada japonesa ainda causava danos; um avanço rápido poderia capturar o "Pistol Pete" e os outros canhões grandes, ou pelo menos fazer com que os japoneses os retirassem. Assim, Vandegrift montou mais uma expedição para cruzar o Matanikau, escolhendo o 5o RFN, que não pudera participar da fúria da luta recente, e os I e II Batalhões do 2o RFN, anteriormente estacionados em Tulagi, o II/7o RFN, os batedores de tocaias de Whaling e um grupo de artilharia para apoio.



 

Na noite de 31 de outubro, sapadores do 1o Batalhão de Engenharia de Combate (Companhias A, C e D) lançaram três pontes sobre o Matanikau e o avanço começou tal como programado, de manhã cedo, no dia 1o de novembro. Os americanos se abriram em leque e avançaram sobre a margem oeste do Matanikau. O I/5o RFN encontrou alguma oposição na região de Ponta da Cruz, mas no fim do dia o II/5o progredira muito bem à esquerda da linha de avanço. Na manhã seguinte, 2 de novembro, o III/5o RFN, que estava de reserva, avançou para ajudar o I Batalhão; ao mesmo tempo, o II Batalhão efetuou uma conversão para cercar os japoneses que enfrentavam os dois outros batalhões; a 3 de novembro, isto estava pronto. Os japoneses encontravam-se cercados por três lados pelos navais; no quarto lado, pelo mar. Com três cargas sucessivas de baionetas armadas, vingaram-se dos japoneses.

 

O avanço ia bem. A 4 de novembro, os batedores de tocaias de Whaling e o 5o RFN foram substituídos pelo 2o RFN e pelo 164o Regimento de Infantaria. Então, sem que fosse culpa sua, os americanos, a oeste do Matanikau, tiveram de parar seu avanço. Informara-se que novos desembarques japoneses, a leste da área americana, haviam sido feitos. Alguns dos americanos, a oeste do Matanikau, receberam ordens de se entrincheirar, e o restante foi retirado dali para enfrentar a nova ameaça.



 

Os desembarques haviam sido observados pelo Tenente-Coronel Hanneken e seus homens do II/7o RFN. A 1o de novembro, o batalhão se dirigira para leste, rumando para a vizinhança da Ponta de Koli. No dia seguinte, os navais chegaram ao Rio Metapona e aguardaram o anoitecer para cruza-lo. Hanneken então avançou cerca de 1.500 m mais para leste e instalou-se ao longo de uma linha que ia da praia ao Rio Metapona. Foi então que os fuzileiros viram os japoneses desembarcando na região do Tetere. Chovera torrencialmente naquele dia e os transmissores de rádio do batalhão estavam fora de ação, de modo que Hanneken não pudera comunicar-se com a base.

 

Ao amanhecer do dia seguinte, 3 de novembro, uma patrulha japonesa topou com a linha americana; os navais abriram fogo, matando quatro japoneses, mas outros quatro escaparam. Não era mais possível ocultar-se, de modo que Hanneken mandou disparar morteiros pesados contra os grupos de desembarque japoneses, na praia. Com o passar da manhã, o coronel decidiu arriscar um ataque, mas, antes que pudesse despachar a ordem nesse sentido, os japoneses assestaram artilharia pesada contra sua posição, com canhões desembarcados ao largo da costa. Cessada a artilharia, várias centenas de soldados japoneses atacaram os americanos na orla da praia. Hanneken decidiu não atacar e deu ordens para que seus homens recuassem para o rio e o cruzassem, se possível. Pelo meio da tarde, essa manobra fora efetuada com sucesso, mas tão logo Hanneken recuara para a margem oeste do Metapona, foi atacado pela retaguarda por outra força japonesa. Hanneken manteve-se calmo e conseguiu enviar uma mensagem para o QG. Depois, deixou uma companhia para repelir o ataque japonês, que era feito do interior, e começou a recuar para a segurança da área americana.



 

Assim que recebeu a mensagem de Hanneken, o que aconteceu por volta das 14:45 h de 3 de novembro, Vandegrift pôs-se a organizar reforços. Ele deu ordens para que o I/7o RFN (Tenente-Coronel Puller), o III/164o de Infantaria, os batedores de tocaias de Whaling e um grupo do 10o Regimento de Artilharia dos Fuzileiros Navais, que chegara havia pouco a Guadalcanal, partissem para leste e ajudassem Hanneken. De início, Rupertus seria o comandante dessa força, mas ele adoeceu e foi substituído pelo Brigadeiro do Exército Sebree, da Divisão "Americal". Uma força tão grande não podia mover-se com rapidez; somente a 6 de novembro é que ele travou contato com os japoneses e só no dia 10 é que Sebree julgou encontrar-se em condições de ordenar um ataque, que foi, afinal, bem sucedido. Os nipônicos estavam imprensados entre o batalhão de Hanneken e o de Puller, no Arroio Gavaga. Mais de 350 japoneses foram mortos, mas uma força muito maior, comandada pelo Coronel Shoji, rompeu as linhas do 164o de Infantaria, que vinha tentando um movimento de flanco, e escapou para o interior, deixando atrás de si várias peças de artilharia, algumas barcaças de desembarque e 15 toneladas de arroz. Quarenta americanos morreram e 120 saíram feridos desse encontro.

 

Os japoneses que escaparam por entre as linhas do 164o de Infantaria foram perseguidos por homens do 2o Batalhão de Incursores, do Tenente-Coronel Evans Carlson. Essa força mantivera-se na área sobretudo graças à insistência do Almirante Turner para que os americanos se dispersassem ao longo da costa de Guadalcanal para operações de limpeza. Turner também conseguiu convencer Vandegrift da vantagem da construção de uma nova pista de pouso em Aola, a 48 km do perímetro americano, na costa nordeste de Guadalcanal. Os engenheiros de Vandegrift haviam protestado contra a inadequação do local, observando que o terreno era acidentado demais. O almirante, porém, insistiu na construção. Mais tarde verificou-se que os engenheiros tinham razão, e o projeto foi abandonado. Mas, antes disso, fizeram desembarcar uma força em Aola, formada de um Batalhão de Construção Naval (Seabees) e do 5o Batalhão de Defesa. Para protegê-los, trouxeram de Tonga o 147o de Infantaria, enquanto os Batalhões C e E dos Incursores de Carlson, recém-chegados às Novas Hébridas, faziam os primeiros desembarques. Carlson servira na China e adotara o depois famoso lema chinês "Gung Ho!" ("Trabalhem Juntos!") para seus Incursores (Raiders).



 

O desembarque em Aola fora feito sem oposição, no começo de novembro. Mais tarde, naquele mesmo mês, os Seabees receberam ordens de abandonar o trabalho que vinham fazendo, mas no momento em que os japoneses escapavam do 164o de Infantaria, os Incursores estavam em posição para interceptá-los. Este era o tipo de tarefa que agradava a Carlson. Entre os dias 11 e 18 de novembro, os Incursores travaram uma série de combates com os homens de Shoji e os japoneses recuaram mais para o interior. Os Incursores os perseguiram, enfrentando problemas de todos os tipos, inclusive de alimentação, que era feita com frutos da terra, raramente se preocupando em comunicar seu progresso ao QG e travando o que, na verdade, era uma "guerrinha particular" com o inimigo. As explorações de Carlson estão resumidas no relatório oficial da Divisão sobre os Incursores: "Em apenas trinta dias os Incursores realizaram uma longa e árdua jornada, através de montanhas e terreno difícil. Travaram nada menos de doze ações sucessivas e mataram mais de 400 inimigos".

 

Somente a 4 de dezembro é que Carlson e seus Incursores voltaram. Tinham perdido 17 homens. Durante toda a sua caminhada, valeram-se muito dos nativos, como carregadores e guias. No decorrer da campanha de Guadalcanal, os ilhéus continuaram sendo extremamente úteis aos Aliados. Trabalhando como exploradores e guias, formando grupos de trabalho, salvando soldados isolados e aviadores derrubados, os ilhéus das Salomão mostraram-se leais à causa aliada. Se os japoneses se tivessem portado com mais tato, talvez tivessem recebido mais ajuda dos melanésios. Os soldados japoneses saqueavam as hortas, obrigavam os ilhéus a trabalhar sem qualquer retribuição, e em geral os tratavam como se eles nada valessem. Por sua vez, os habitantes de Guadalcanal faziam o que podiam para prejudicar os japoneses, desde a retenção de informações até ataques a patrulhas isoladas.



 

 


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