Guadalcanal a ilha do Terror a série de vitórias japonesas iniciou-se em Pearl Harbor, seguindo-se Guam, Hong-Kong, Filipinas, Cingapura, Indonésia, Rabaul, Bougainville: conquistas retumbantes. Mas então, em Guadalcanal, tudo mudou



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Na Praia Vermelha e depois

 

Às 06:14 h de 7 de agosto, os três cruzadores e quatro destróieres do Grupo de Apoio de Fogo de Guadalcanal começaram a bombardear alvos escolhidos entre Kukum e a Ponta de Koli, ao longo da costa norte da ilha. Dois minutos depois, o cruzador e os dois destróieres do Grupo de Apoio de Fogo de Tulagi começaram a disparar contra a costa desta ilha. Oitenta e cinco bombardeiros de mergulho e caças dos porta-aviões agora à espreita, a 120 km a sudoeste de Guadalcanal, atacaram esta ilha e Tulagi, destruindo 18 hidroaviões em seus ancoradouros, só encontrando fogo antiaéreo esporádico.

 

Por volta das 06:51 h, percorrendo um mar calmo, os transportes haviam atingido seus objetivos, a cerca de 9.000 m ao largo das praias escolhidas para as operações de desembarque. Os homens começaram a descer dos navios para as barcas Higgins. Tudo foi feito com calma e eficiência, levando vários observadores a comentar que a coisa mais parecia um exercício do que operação de guerra.



 

Para proteger o flanco esquerdo da força que desembarcava em Tulagi, a Companhia B do 1o Batalhão do 2o Regimento de Fuzileiros Navais, sob o comando do Capitão Edgar Crane, desembarcou na Ilha Florida, reivindicando assim o título de primeira tropa americana a desembarcar em território ocupado pelo inimigo, na Segunda Guerra Mundial. A aldeia de Haleta, seu objetivo, estava deserta, assim como a de Halavo, para onde se dirigiram depois. Por volta do meio-dia, Crane e seus homens se reagruparam na praia; os japoneses haviam-se retirado da Florida.

 

O desembarque em Tulagi ocorreu na hora certa, às 08:00 h, na Praia Azul, na costa ocidental, a pouco mais de 1.600 m da ponta noroeste da ilha. Não houve oposição japonesa na praia, o que talvez fosse bom, porque nenhuma das barcaças de desembarque podia transpor os afloramentos de coral, e os incursores tiveram de vadear uns cem metros até a terra firme. Os comandos de Edson foram os primeiros a chegar às praias, embora seu comandante, detido pelo enguiço do motor da sua barcaça de desembarque, só pudesse alcançá-los quando estes já haviam penetrado o interior.



 

Os japoneses, em Tulagi, lutaram ferozmente das suas tocas e cavernas, mas pareciam estar cientes, desde o começo, da insustentabilidade da situação. Sua última mensagem pelo rádio, enviada às 08:10 h, foi: "Efetivos de tropas inimigas são avassaladores. Defenderemos até o último homem". Isto foi quase que literalmente verdadeiro. Dos defensores japoneses de Tulagi, 200 foram mortos, cerca de 40 escaparam a nado para a Florida e três se renderam. Os americanos compreenderam ser quase impossível expulsar os japoneses das suas posições com os tiros de armas pequenas. Recorreram então ao uso de granadas e explosivos para bombardeá-los e expulsá-los.

 

Pelo final da tarde, os japoneses haviam sido empurrados para uma posição no extremo sudeste da ilha. As comunicações de rádio dos americanos haviam piorado com o passar do dia, mas Edson conseguiu mandar uma mensagem dizendo que não podia tomar a ilha naquele primeiro dia. Ele recebeu permissão para estabelecer uma linha defronte aos japoneses encurralados. Cinco companhias de incursores e a Companhia G do 5o RFN formavam essa força. Entre os americanos havia dois britânicos, Horton e Henry Josselyn, ex-Oficiais Administrativos das Salomão e agora tenentes da Real Marinha australiana, adidos à força invasora. Horton e Josselyn haviam desembarcado com a primeira leva das tropas de assalto e ambos viriam a receber a "Estrela de Prata" pelo seu trabalho em Tulagi.



 

Durante a noite de 7 para 8 de agosto, os japoneses fizeram várias tentativas decididas de escapar da sua posição. Alguns deles chegaram mesmo a alcançar a antiga Residência, agora usada como posto de comando, mas nenhum deles conseguiu escapar. Na manhã do dia 8 de agosto, as Companhias F e E do 5o RFN juntaram-se a Edson. Os navais tinham estado expulsando os japoneses do noroeste de Tulagi e, com sua força aumentada, Edson atacou e venceu os japoneses restantes. Pelo meio da tarde do dia 8, Tulagi fora ocupada com sucesso. Trinta e seis americanos tombaram mortos, e 54 feridos.

 

Os japoneses, nas pequeninas ilhas adjacentes de Gavatu e Tanambogo, resistiram com a mesma obstinação dos seus companheiros de armas em Tulagi. A 7 de agosto, às 11:45 h, os navios do Grupo de Fogo de Apoio de Tulagi bombardearam Gavatu, enquanto os homens do 1o Batalhão de Pára-quedistas se aproximavam da praia em suas barcaças de desembarque. Os primeiros homens desembarcaram sem problemas, mas as levas subseqüentes foram abatidas pelo fogo fulminante de armas individuais e automáticas dos defensores. Os integrantes do Batalhão de Pára-quedistas avançaram para o interior, para sitiar a pequena colina ocupada pelos japoneses. Estes a defenderam ferozmente, auxiliados pelo fogo de apoio dos seus companheiros na Ilha de Tanambogo, e somente às 18:00 h é que as tropas americanas tomaram a colina; no dia seguinte ainda estavam limpando o terreno.



 

Tanambogo está ligada a Gavatu por uma estrada de concreto elevada, mas a princípio as forças americanas não puderam atacar a ilha nem por terra nem pelo mar. Tampouco as incursões de bombardeio nem a artilharia naval puderam subjugar os japoneses entrincheirados nesta sua última posição. Como medida de emergência, a Companhia B do 2o RFN foi retirada da Florida e lançada em ação num desembarque realizado na costa norte de Tanambogo, mas o ataque foi sangrentamente repelido. A 8 de agosto, às 11:30 h, o 2o RFN e dois tanques leves fizeram um ataque simultâneo da praia e da estrada, e os japoneses puseram na luta enorme furor - parecia que eles só sabiam lutar assim - mas, ao anoitecer, Tanambogo estava nas mãos dos navais. Em Gavatu e Tanambogo, cerca de 500 japoneses e 108 americanos perderam a vida.

 

Enquanto Tulagi e as ilhas vizinhas haviam sido palco de acirrada luta, os desembarques em Guadalcanal haviam sido calmos e sem qualquer demonstração de resistência. Depois do bombardeio inicial, os japoneses - cerca de 600 combatentes e 1.400 trabalhadores - haviam fugido em certa confusão para o interior, deixando o caminho livre para os fuzileiros navais desembarcarem na Praia Vermelha. Aviões de reconhecimento do cruzador Astoria confirmaram a ausência de tropas inimigas. Às 09:09 h, o Coronel LeRoy Hunt desembarcou seu Grupo de Combate A na Praia Vermelha. Seus homens espalharam-se para cobrir uma frente de 2.000 m; começava a invasão de Guadalcanal.



 

O Grupo de Combate B do 1o RFN desembarcou a seguir, dirigido pelo Coronel Clifton Cates, que, como Hunt, era veterano da Primeira Guerra Mundial. Os fuzileiros navais avançaram, passando pelo Grupo A (5o RFN) e começaram a dirigir-se para o Monte Austen. Durante os preparativos para o ataque, essa montanha fora chamada "Grassy Knoll". Julgava-se que estivesse situada a uns 3 km para o interior. A informação fora falha, pois o Monte Austen está a cerca de 6.400 m, como os navais do Grupamento de Combate B em pouco saberiam.

 

Durante as primeiras três horas as coisas correram bem na cabeça-de-praia. As tropas eram transportadas para terra com rapidez e sem complicações. A falta de oposição revelou-se uma decepção para alguns dos soldados, especialmente porque os disparos de Tulagi indicavam que os homens sob o comando de Rupertus estavam onde a luta era mais intensa. Mas Vandegrift satisfez-se com o desembaraço da operação, até então. É verdade que os relatórios que chegavam diziam que Cates e o 1o RFN haviam diminuído consideravelmente sua rapidez, mas pelo menos seus homens estavam desembarcando inteiros.



 

A situação não foi muito satisfatória quando chegou a vez das provisões e suprimentos, pois não havia homens suficientes para desembarcá-los e transportá-los da Praia Vermelha para o interior. Com o passar do dia, os montes de suprimentos aumentaram muito, porque as barcaças de desembarque chegavam à praia carregadas de caixas. As tropas de combate, embora não tivessem estado em ação, não podiam ser destacadas para esse trabalho enquanto houvesse possibilidade de os japoneses atacarem a cabeça-de-praia. De uma feita, 100 barcaças haviam desembarcado sua carga de suprimentos enquanto outras cinqüenta aguardavam para chegar à praia. Vandegrift recebeu uma mensagem informando-o de que eram precisos mais 500 homens para o descarregamento, mas não havia disponibilidade senão de 15 homens para cada cargueiro. Já anoitecera quando o comandante do grupo de terra foi obrigado a informar que a situação estava fora de controle e mandou-se parar a vinda de suprimentos dos navios. O relatório oficial dizia que o caos fora provocado por "total falta de concepção do número de homens necessários para descarregar os barcos e tirar o material da praia, pelo fracasso em ampliar os limites da praia mais cedo, durante a operação e, até certo ponto, pela falta de controle dos soldados na praia e na sua vizinhança imediata... "

 

A desorganização da situação do abastecimento e o serviço falho de inteligência, que levou Cates e seu 1o RFN a fracassarem na tentativa de alcançar o Monte Austen, eram duas grandes preocupações de Vandegrift. Sob outros aspectos, tudo saíra bem no desembarque de Guadalcanal. Vandegrift concentrou-se em tentar manter seu programa original. Às 14:00 h deu ordens para que o I/5o RFN avançasse para oeste, até o Arroio Aligátor, e se entrincheirasse para passar a noite. Duas horas depois o General Vandegrift desceu a terra e instalou seu posto de comando. Já então houvera dois ataques aéreos japoneses. O primeiro ocorrera às 13:20 h, quando o Contra-Almirante Sadayoshi Yamada, no comando da 25a Flotilha Aérea Japonesa, enviou 24 aviões para bombardear Tulagi. O aviso do ataque foi dado por uma das onipresentes sentinelas costeiras, e os americanos estavam preparados. Doze aviões japoneses foram derrubados pelos Wildcat do porta-aviões Saratoga, mas o destróier Mugford foi atingido e 22 homens morreram. As 15:00 h houve um ataque de 10 bombardeiros de mergulho Aichi 99 e depois os japoneses desapareceram pelo resto do dia. Seis hidroaviões do Astoria e três do Quincy ocuparam os céus de Guadalcanal, para lançar bombas de fumaça para marcar as extremidades das praias de desembarque e como aviões observadores para a artilharia dos fuzileiros navais.



 

No começo da noite, Cates e seus fuzileiros haviam quase parado em sua progressão, por causa do calor e da vegetação rasteira. Vandegrift compreendeu que não seria possível alcançar o Monte Austen naquele dia. Assim, ele mudou os planos, dando novas ordens do seu posto de comando. Os navais deveriam entrincheirar-se para passar a noite. Na manhã seguinte, o 1o RFN se dirigiria para oeste, para o Lunga, esquecendo-se do Monte Austen, e ocuparia a pista de pouso no Lunga, prosseguindo, a seguir, para Kukum.

 

A noite de 7 para 8 de agosto foi barulhenta, mas somente porque muitos fuzileiros, nervosos, disparavam contra sombras. Não houve nenhum ataque japonês. Na manhã seguinte, sábado, dia 8, às 09:30, o I Batalhão do 5o de Fuzileiros Navais, apoiado pelo 1o Batalhão de Tanques, cruzou a foz do que nos mapas em código era chamado Arroio Aligátor. Na verdade, este era o Rio Ilu, embora o serviço de inteligência erradamente levasse os navais a pensar que se tratava do Tenaru, e foi com este nome que ele continuou sendo conhecido durante algum tempo. Obedecendo às instruções recebidas, o I/1o RFN desviou-se para oeste, afastando-se do Monte Austen, e começou seu avanço. Uma vez mais, essa unidade progrediu com lentidão e teve muita dificuldade em cruzar um arroio, enquanto os II e III Batalhões avançaram com mais rapidez pela selva. O dia foi longo e quente e, no fim deste, o I Batalhão do 1o RFN havia alcançado e passado o aeródromo, mas, por sua vez, os II e III Batalhões não avançaram com tanta rapidez. Ainda estavam ao sul da pista de pouso quando chegou a hora de se entrincheirar para a noite.



 

O 5o RFN progrediu satisfatoriamente e também encontrou soldados japoneses isolados, que se haviam atrasado na retirada. Alguns prisioneiros foram feitos, verificando-se que não havia probabilidade de qualquer resistência japonesa imediata. Isto fez com que Vandegrift ordenasse ao 5o RFN que se reagrupasse e avançasse com mais rapidez, numa frente menos ampla. O regimento atravessou o Lunga pela ponte principal; margeando o aeródromo para o norte, ele avançou para Kukum, capturando grandes quantidades de alimentos e equipamentos abandonados.

 

Na cabeça-de-praia, o dia fora menos satisfatório para os americanos. Outra força de aviões japoneses, bombardeiros Betty escoltados por caças Zero, tinha vindo de Rabaul. Jack Read, a sentinela costeira em Bougainville, enviou essa informação para a Austrália, de onde foi transmitida para Fletcher e Turner, ao largo de Guadalcanal. Todos os navios de transporte e de carga pararam o descarregamento e se fizeram ao mar, enquanto os Wildcat do Saratoga decolavam e tomavam posição sobre a Ilha de Savo. Os aviões atacantes japoneses evitaram os Wildcat, mas encontraram intenso fogo antiaéreo, que repeliu os bombardeiros-torpedeiros que voavam baixo. Mas alguns conseguiram passar. Um Betty chocou-se contra o convés do transporte George Elliott, explodindo e incendiando o navio. O destróier Jarvis também foi posto fora de ação.



 

Os americanos tinham motivos para estarem orgulhosos da eficiência dos pilotos dos seus Wildcat e aos seus artilheiros antiaéreo, mas, a 8 de agosto, Fletcher era um homem muito preocupado. Sua força de caças fora reduzida de 99 para 78 aviões e os suprimentos de combustível estavam perigosamente baixos. Fletcher decidiu que não podia dar-se ao luxo de arriscar a "Força-Tarefa 61", permitindo-lhe ficar ao largo das costas de Guadalcanal. Às 18:07 h de 8 de agosto, entrou em contato com Ghormley e defendeu vigorosamente a necessidade de retirar seus porta-aviões. Ghormley relutou em concordar com o pedido, mas achava que estava muito longe do palco das operações para negar uma exigência apoiada em termos tão urgentes. O pedido foi aceito e veio a ser uma das mais controvertidas decisões tomadas durante toda a campanha de Guadalcanal. Fletcher tinha combustível suficiente para mais alguns dias. Os ataques aéreos japoneses haviam sido repelidos e a maioria dos seus navios estavam intactos. Além disso, metade dos suprimentos encontrava-se ainda por desembarcar.

 

A decisão de Ghormley foi transmitida para Turner, que, famoso pelos seus vivos rompantes de palavrões, foi, no entanto, extraordinariamente comedido, embora mais tarde se referisse acerbamente a esta "deserção das partes vitais da força". Turner chamou Vandegrift e o Contra-Almirante Crutchley à sua nave-capitânia, McCawIey, e os informou de que Fletcher estava de partida, levando consigo o apoio aéreo e considerável porção de suprimentos. Atenuando a verdade, Vandegrift disse que o movimento era "muito alarmante". Turner concordou e passou a abordar os detalhes. Nem todos os navios seriam retirados; Crutchley ficaria no comando do grupo misto de cruzadores australianos e americanos, formado do Australia, Canberra, Chicago, Vincennes, Astoria, Quincy e seis destróieres.



 

Enquanto se realizava uma reunião sombria a bordo do McCawley, uma força naval japonesa se aproximava de Guadalcanal, com ordens de atacar e destruir os transportes americanos ancorados ao largo da ilha. Esta força era comandada pelo Vice-Almirante Mikawa, Comandante-Chefe da 8a Frota, e era formada de cinco cruzadores pesados, dois leves e um destróier. A 8 de agosto, enquanto os navios desciam a costa de Bougainville, foram avistados por dois aviões de reconhecimento australianos. Ou os pilotos deram informes incorretos ou foram truncados na recepção, porque o Almirante Turner só recebeu a mensagem às 18:00 h. Ele supôs que a força japonesa se dirigia para Gizo, mas transmitiu o informe para Crutchley, por questão de rotina.

 

Entrementes, Mikawa, que dirigia a força expedicionária no Chokai, navegava pela "Abertura" entre as duas cadeias das Ilhas Salomão e se aproximava de Savo sem ser visto. Crutchley não deixara nenhum plano de combate com seus navios enquanto conferenciava com Turner e Vandegrift. Dois destróieres equipados com radar. O Blue e o Ralph Talbot, estavam ancorados de ambos os lados do canal, a noroeste da Ilha de Savo. Entre esta e o Cabo Esperança, as águas estavam sendo patrulhadas pelos cruzadores Australia, Canberra e Chicago e pelos destróieres Bagley e Patterson. Também havia atividades de patrulha entre a Savo e a Florida, pelos cruzadores Vincennes, Astoria e Quincy e pelos destróieres Hebxt e Wilson. Dois outros cruzadores e vários destróieres supervisionavam os transportes.



 

Mikawa navegava cautelosamente para Savo enquanto a noite caía, esperando ser avistado a qualquer momento, mas a sorte não o abandonou. À meia-noite, vários hidroaviões partiram dos seus cruzadores e se dirigiram para os navios americanos e australianos e foram ouvidos pelos americanos que comunicaram a presença de aviões não identificados sobre eles. Ainda assim, os vasos japoneses não foram avistados. À 01:00 h do dia 9 de agosto, um avião do Chokai lançou foguetes luminosos sobre os transportes americanos. Ao mesmo tempo, os navios japoneses navegaram entre o Blue e o Ralph Talbot protegidos pela escuridão. Nem o radar nem os vigias informaram da presença dos intrusos, embora o Blue, em particular, estivesse muito perto dos navios inimigos que passavam pelo canal.

 

Uma vez cruzada a entrada, Mikawa mandou que se aumentasse a velocidade para 30 nós. Então seus navios abriram fogo e lançaram torpedos contra o Canberra e o Chicago; a marinha americana estava prestes a sofrer uma das suas mais desastrosas derrotas. O Canberra foi destruído e seu casco arruinado acabou de ser afundado, na manhã seguinte, por destróieres americanos. O Chicago ficou avariado, tendo sua proa arrancada. Agindo com precisão, a força de Mikawa dividiu-se em duas, com quatro vasos dirigindo-se para nordeste e três para norte. A 01:45 h, os navios japoneses atacaram o Astoria, o Quincy e o Vincennes; os comandados por Mikawa iluminaram os navios americanos com seus refletores e desfecharam terrível ataque com granadas de 8 polegadas e torpedos. O Astoria revidou, mas foi destruído pelo fogo, afundando no dia seguinte. O Quincy foi a pique às 02:00 h. Quinze minutos depois, o Vincennes afundou. Mikawa conseguira a mais espantosa vitória naval. Os transportes americanos estavam indefesos à sua frente. Se Mikawa tivesse avançado e os destruído, é possível que o rumo da campanha de Guadalcanal, e mesmo da guerra do Pacífico, tivesse sido diferente, mas o almirante não fez nada disso. Havia várias razões para sua cautela. Uma granada do Astoria destruíra a praça de controle do Chokai; seus navios tinham demorado a se reagrupar, e havia a possibilidade de que aviões dos porta-aviões da "Força-Tarefa 61" destruíssem a sua força. Levando tudo isso em conta, o Almirante Mikawa entendeu que tinha feito o bastante. Às 02:23 h ele ordenou que seus navios se retirassem. Na entrada do canal, ao largo da Ilha de Savo, houve breve combate com o Ralph Talbot em meio a violenta tempestade e o navio americano foi danificado antes que os japoneses ficassem fora do seu alcance.



 

Mikawa retornou a Rabaul e às saudações dos seus conterrâneos. Houve uma tranqüila palavra de reprovação do seu superior, Almirante Yamamoto, Comandante-Chefe da Frota Combinada, por não ter também atacado os transportes, mas, no todo, os japoneses trataram a Batalha da Ilha de Savo como a vitória retumbante que realmente fora. Mesmo o fato de Mikawa haver perdido um navio, o Kako, afundado por um submarino americano na viagem de volta, não diminuiu a significação de seus esforços.

 

Desde as primeiras horas da manhã de 9 de agosto, os barcos de salvamento estiveram ocupados no recolhimento dos sobreviventes ao largo de Guadalcanal. Em cinco horas, cerca de 700 homens foram levados para terra. Os relatos desses sobreviventes deram aos fuzileiros navais, na ilha, uma idéia muito clara da extensão da vitória japonesa durante a noite. Num esforço para evitar que o público no país ficasse deprimido, King demorou algumas semanas para liberar os detalhes da derrota ao largo de Ironbottom Sound, como veio a ser chamada a ação. Quando ele veio a saber da plenitude da derrota naval sofrida pelos navios comandados por Crutchley, a imprensa desfechou violenta campanha contra o infeliz inglês.



 

O desastre da Ilha de Savo justificou os desejos de Fletcher de retirar sua força-tarefa da área de perigo. O resto das horas diurnas de 9 de agosto foi gasto nos preparativos para a partida. Ao anoitecer, a "Força-Tarefa 61" afastou-se de Guadalcanal, deixando os fuzileiros navais entregues à própria sorte.

 

 

Contra-ataque



 

Em Guadalcanal, Vandegrift examinou a situação, cujas perspectivas não eram nada encorajadoras. Os americanos haviam perdido o controle dos mares em torno das Salomão e a fonte mais próxima de apoio aéreo era Espírito Santo, nas Novas Hébridas. Não houvera tempo para descarregar metade dos suprimentos antes que a "Força-Tarefa 61" fosse embora, e já havia séria escassez de alimentos e materiais. Estava baixo o moral dos soldados, que sofriam da terrível combinação do calor e da umidade, e desanimados diante do que consideravam a deserção da marinha.

 

Vandegrift decidiu que não estava em posição de atacar, e o plano que traçou salientava vigorosamente a defesa. O projeto mais importante e imediato era fazer com que o aeródromo ficasse em condições de operar. Até que isto fosse feito, ele formaria um muro defensivo em torno do mesmo; essa linha de defesa se estendia desde a área do Lunga até o Rio Ilu. Ao mesmo tempo, seus navais tinham de estar alerta, à espera de um ataque japonês pelo mar. Era o caso de entrincheirar-se, e foi exatamente isso que os fuzileiros fizeram. Uma linha de tocas fortificadas circundava o perímetro da área a ser defendida; instalaram-se metralhadoras de calibres .30 e .50, apoiadas por canhões de 37 mm. Canhões antiaéreos de 90 mm foram colocados ao redor do aeródromo e Vandegrift deu ordens para que seus blindados estivessem em constante prontidão para entrar em combate.



 

Felizmente o tempo em agosto, embora opressivo, era bom. Só mais tarde é que as chuvas chegaram. Entrementes, era preciso enfrentar os mosquitos transmissores de malária e doenças tropicais. Havia também os bombardeios japoneses a pequena altitude e os bombardeios esporádicos, de navios e submarinos, ao largo da costa de Guadalcanal.

 

Vandegrift despachou patrulhas de sondagem e se tornou evidente que os japoneses haviam recuado para oeste e estavam acampando às margens do Rio Matanikau, perto de Kukum. Quaisquer patrulhas americanas que se aventuravam a atravessar esse rio eram repelidas pelo fogo certeiro de armas portáteis, às vezes com perdas de vida. Foi perto do Matanikau que Vandegrift perdeu seu oficial do serviço de inteligência, Tenente-Coronel Goettge, e mais de 20 homens de uma patrulha despachada para investigar o informe de um prisioneiro, segundo o qual os japoneses, na área, estavam esperando para se renderem. A patrulha sofreu uma emboscada e somente três homens escaparam com vida.



 

Muitos dos fuzileiros navais em Guadalcanal achavam que tinham sido largados ali para morrer, comparando sua situação com a dos homens deixados em Bataan. A sensação de isolamento que os assaltava diminuiu um pouco a 14 de agosto, quando três transportes-destróieres, o Little, o Mckean e o Gregory, sofrendo embora as aperturas dos ataques de aviões e navios inimigos, conseguiram desembarcar combustível, munição e suprimentos vários.

 

A 17 de agosto, preocupado com a proximidade dos japoneses na margem oeste do Matanikau, Vandegrift realizou uma pequena operação para proteger suas linhas, fazendo recuar o inimigo. O empreendimento, com três pontas, foi bem sucedido, mas Vandegrift ficou intranqüilo com o número de detalhes que saíram errados. Três companhias de fuzileiros receberam instruções para atacar os japoneses. Uma, sob o comando do Capitão Lyman Spurlock, penetraria uns 800 m, cruzaria o rio e então atacaria de volta, na direção do mar, isto é, na direção de onde tinha iniciado sua progressão. O fogo de cobertura seria proporcionado da margem leste do rio, por uma companhia comandada pelo Capitão William Hawkins, que mais tarde cruzaria o rio, se possível. O Capitão Bert Hardy Jr. levaria a terceira companhia, de barco, até 3.200 m a oeste do rio, desembarcaria em Kokumbona e avançaria para o leste.



 

A operação teve lugar a 19 de agosto, dois dias depois de planejada, e tornou-se o primeiro encontro considerável entre as duas foiças inimigas, em Guadalcanal. Destacado para proporcionar o fogo de cobertura, Hawkins verificou que sua própria companhia estava retida por metralhadores japoneses instalados do outro lado do Matanikau. Contudo, Spurlock levou sua companhia avante, com algumas perdas, até a aldeia de Matanikau. Como acontecia com freqüência, as comunicações pelo rádio se interromperam e a terceira companhia, comandada por Hardy, atrasou-se muito, porque seu pequeno barco fora bombardeado por um submarino japonês enquanto costeava a ilha.

 

A guarda avançada de Spurlock já estava sendo atacada. Ele decidiu não romper contato com o inimigo, e deu ordens para avançar. Os japoneses reagruparam-se e desfecharam um ataque a baioneta, um dos famosos ataques Banzai, contra os americanos; as automáticas Browning mataram 65 japoneses e o resto fugiu.



 

Entrementes, a companhia de Hardy, tendo evitado o submarino, encontrou-se com dois destróieres japoneses, mas conseguiu escapar e completar um desembarque atrasado, perto da aldeia de Kokumbona, ocupada pelo inimigo. Depois de breve combate, os japoneses fugiram para a selva; os americanos haviam garantido suas linhas e tornado sua cabeça-de-praia um pouco mais segura.

 

Vandegrift ficou satisfeito com esta sua primeira ação terrestre, mas estava longe de se sentir contente com a situação geral. Ele não dispunha de homens ou suprimentos suficientes para avançar, e tinha dúvidas quanto à capacidade dos seus homens de repelir um ataque constante de forças japonesas mais fortes, opinião esta partilhada por Ghormley, que advertiu King de que os japoneses poderiam rechaçar os fuzileiros, fazendo-os voltar para o mar, a menos que se lhes enviassem reforços. Em Washington, prevalecia na cúpula militar o sentimento de que, embora o desembarque nas Salomão tivesse sido bem sucedido, não houvera planejamento ou preparativo suficiente para a guerra de atrito que parecia aproximar-se. Poucos membros dos Chefes Conjuntos de Estados-Maiores teriam concordado com os termos da mensagem do Presidente Roosevelt a Stalin, de 19 de agosto: "Conseguimos um ponto de apoio no sudoeste do Pacífico, de onde os japoneses terão muita dificuldade em nos desalojar... e vamos manter o inimigo sob intensa pressão".



 

Felizmente para a causa Aliada, o comando militar japonês parecia estar tão confuso com a campanha de Guadalcanal quanto os americanos. Em Tóquio, a princípio acreditava-se que os americanos em pouco abandonariam essa ilha "insignificante". Quando se tornou evidente que Vandegrift estava-se entrincheirando, aí então foram apressados planos para desalojá-lo. O Tenente-General Haruyoshi Hyakutake e o 17o Exército receberam ordens para retomar Guadalcanal e Tulagi antes de passarem à tarefa mais importante de capturar Port Moresby. Havia 50.000 homens na força de Hyakutake, mas não estavam todos no mesmo lugar. A 2a Divisão encontrava-se em Java e nas Filipinas e outras unidades, na Nova Guiné e em Guam. O general não estava indevidamente preocupado com sua falta de efetivos. Julgava ele que uma unidade de combate de elite deveria bastar para expulsar os americanos das Salomão. O Coronel Kiyanao Ichiki e o 28o Regimento de Infantaria, de Guam, deviam ser capazes de realizar a tarefa antes que o resto do 17o Exército se reagrupasse e atacasse a Nova Guiné.

 

O Coronel Ichiki era um oficial valente e experimentado: Lutara com distinção na China. Os acontecimentos mostraram ser ele rude e impetuoso. Em agosto de 1942 ele foi considerado o homem ideal para retomar Guadalcanal. Suas ordens eram para "recapturar rapidamente os aeródromos em Guadalcanal. Se não for possível, este destacamento ocupará uma parte de Guadalcanal e aguardará a chegada de tropas a sua retaguarda". Ichiki recebeu ordens para formar uma ponta-de-lança de 900 soldados, levá-la em seis destróieres e desembarcar na Ponta de Taivu, a cerca de 32 km dos americanos, logo depois da meia-noite de 18 de agosto. Os 2.500 homens restantes do seu destacamento viriam logo atrás, por certo dentro de sete dias.



 

Em Guadalcanal, o General Vandegrift continuava despachando patrulhas. A 14 de agosto, um jovem inglês, barbado e maltrapilho, apresentou-se ao QG americano, tendo passado pelas linhas japonesas com 20 nativos, transportando oferendas de frutas frescas! Era Martin Clemens, a sentinela costeira e ex-delegado distrital. Vandegrift aceitou grato a oferta de ajuda do inglês. Os relatórios do serviço de inteligência sobre os movimentos dos navios mercantes japoneses lhe tinham sido enviados, enquanto o próprio Clemens confirmava o aumento de forças japonesas no leste. Clemens e seus exploradores, entre os quais o Sargento-Ajudante Jacob Vouza, um policial reformado que se tinha apresentado para oferecer seus serviços, ao irromperem as hostilidades nas Salomão, realizou várias patrulhas em cooperação com os fuzileiros navais.

 

Por volta de meia-noite de 18 de agosto, as sentinelas postadas na praia de Guadalcanal ouviram o marulho de navios que passavam. Eram os destróieres da ponta-de-lança de Ichiki, prestes a desembarcar soldados a 35 km a leste da cabeça-de-praia americana. Na manhã seguinte, o Sargento-Ajudante Vouza foi despachado, à frente de pequena patrulha, para ver o que podia descobrir. Naquela mesma manhã, o Capitão Charles Brush, acompanhado de quatro policiais das Ilhas Salomão e 80 fuzileiros navais da Companhia Able, do 1o RFN, dirigiram-se para leste, rumo à Ponta de Koli, em idêntica empresa de busca. Alguns soldados japoneses foram avistados ao meio-dia, e soube-se que pertenciam à força de Ichiki. Brush tomou posição diante dos japoneses e mandou seu oficial executivo, Tenente Joseph Jachym, para a direita, a fim de tomar posição à esquerda e atrás deles. Os dois grupos de fuzileiros abriram fogo ao mesmo tempo, matando 31 dos 34 japoneses. Ao serem examinados os mortos, descobriu-se que eram pessoal do exército, e não os homens da marinha que antes vinham combatendo os americanos em Guadalcanal. Também havia elevada proporção de oficiais entre os mortos. E mais importante ainda era o fato de que alguns dos oficiais traziam consigo mapas exatos da área de Tenaru, salientando os pontos fracos da defesa dos fuzileiros navais. Mais tarde, descobriu-se que os japoneses, do Monte Austen, haviam examinado as linhas americanas com extremo cuidado.



 

Era evidente que forças do exército japonês haviam desembarcado e que seu serviço de inteligência era bom. O que não era tão evidente era o momento do ataque e a sua direção. Vandegrift deu ordens para que toda sua força ficasse em constante estado de alerta.

 

Enquanto o Capitão Brush e a Companhia Able tinham estado eliminando os japoneses, a patrulha de Vouza também travara combate com o inimigo. Na verdade, ele foi capturado e os japoneses amarraram-no a uma árvore e o interrogaram, dizendo-lhe que seria morto se não revelasse a localização de todas as tropas americanas na área. Vouza manteve-se calado, recebendo golpes de baioneta no rosto, no pescoço e no peito. Seu braço foi talhado com uma espada e deixaram-no como morto. Depois que os japoneses se foram, Vouza conseguiu soltar-se e arrastar-se até as linhas americanas, fazendo um relatório sobre os efetivos japoneses, antes de ser hospitalizado. Por seu heroísmo, Vouza foi agraciado com a "Estrela de Prata" e a "George Medal Britânica".



 

Foi bem cedo, na manhã de 21 de agosto, que Ichiki iniciou seu ataque à linha americana, perto da foz do Arroio Aligátor, no Rio Ilu (que os americanos ainda conheciam como Tenaru). Ichiki decidira que os 900 homens que tinha consigo bastavam para a tarefa e não precisava esperar pelos 2.500 que ainda seriam transportados para Guadalcanal. Chegara a hora do contra-ataque japonês.

 

Este ocorreu às 02:40 h. A "Operação Ka", a tentativa japonesa de retomar Guadalcanal, estava em andamento. Ichiki reuniu seus homens na selva, a leste do rio, defronte ao banco de areia. Sua artilharia leve abriu fogo contra os americanos do outro lado do rio e suas metralhadoras pesadas Nambu também entraram em ação. A seguir, Ichiki liderou 500 dos seus homens numa investida Banzai pelo banco de areia. Os americanos abriram fogo com tudo o que tinham: metralhadoras, fuzis automáticos, morteiros e granadas. Muitos japoneses morreram ao atravessar o rio; alguns alcançaram a outra margem e foram detidos pelo arame farpado e massacrados enquanto tentavam livrar-se. Os sobreviventes voltaram em fuga para a margem leste do rio.



 

Às 05:00 h eles tentaram novamente. Desta feita, Ichiki conduziu seus homens flanqueando o banco de areia, na foz do rio, passando pela arrebentação que vinha do mar. Canhões e morteiros lhes davam pouca cobertura. O objetivo do seu ataque era a posição americana na praia, muito menos fortificada do que as outras. Esta era comandada pelo Tenente-Coronel Edwin Pollock, chefe do II Batalhão do 1o RFN. Berros de "Fuzileiro, você morrer!" anunciaram a chegada dos japoneses. Os bons atiradores de Pollock alvejaram-nos um a um, e uma vez mais Ichiki foi obrigado a recuar, com seu comando dizimado.

 

Mas alguns dos japoneses permaneceram; era possível ouvi-los movendo-se pela selva, do lado leste do rio, erroneamente considerado como o Tenaru. O Coronel Gerald Thomas, Oficial de Operações da Divisão, insistiu junto a Vandegrift para que este ordenasse um avanço imediato. Centenas de corpos de japoneses jaziam no banco de areia e nas duas margens do rio. Um ataque rápido poderia envolver os sobreviventes e expulsá-los para o mar. Vandegrift concordou e foi ao posto de comando de Cate para dar a instrução. O batalhão de reserva, o (I/1o RFN de Cate), sob o comando do Tenente-Coronel Creswell, recebeu ordens para cruzar o rio mais acima, dobrar à direita e empurrar os japoneses para o mar, enquanto o de Pollock desfechava uma chuva mortífera de artilharia, do outro lado do rio. Um pelotão de tanques leves seria trazido para ajudar no empreendimento. Também se poderia usar aviões dos fuzileiros.



 

A operação teve sucesso. Os fuzileiros navais de Creswell atravessaram o rio e expulsaram os japoneses das suas tocas. Com a pista de pouso livre de empecilhos, puderam os aviões sair para operações de bombardeio. A artilharia de Pollock e o fogo das armas automáticas contribuíram para a carnificina, enquanto os tanques que atravessavam pesadamente o banco de areia esmagavam cadáveres com suas lagartas, até que, nas palavras de Vandegrift, "as traseiras dos tanques pareciam máquinas de moer carne".

 

No final da tarde, a Batalha de Tenaru (Ilu) terminara; 800 japoneses haviam sido mortos, 15 feitos prisioneiros e muitos dos sobreviventes morreram na selva, em conseqüência de ferimentos. Os americanos tiveram 43 mortos. O Coronel Ichiki estava entre os sobreviventes que conseguiram chegar a Taivu. Com ele, sua bandeira regimental. O coronel despejou óleo sobre a bandeira esfrangalhada, queimou-a e, depois, matou-se.



 

De muitas maneiras, a Batalha de Tenaru foi um momento decisivo. Sobretudo, ela destruiu o mito da supremacia nipônica. Os japoneses ainda eram, obviamente, combatentes decididos. Até mesmo os feridos que jaziam nas margens do Tenaru continuaram lutando enquanto puderam lançar granadas ou apertar um gatilho, mas não eram mais os super-homens da lenda. Eles podiam ser derrotados, e os americanos provaram isto nas ilhas em torno de Tulagi e o confirmaram às margens do Rio Ilu. Também ficou provado que a superioridade da estratégia militar japonesa era em grande parte ilusória. O Coronel Ichiki errara seriamente na Batalha de Tenaru. Seu ataque frontal à principal posição americana fora desastroso, depois que sua patrulha exploratória fora quase que totalmente eliminada, o que parecia exigir uma aproximação mais cautelosa, rio acima e pela selva. Eles fizeram, entretanto, o que a arrogância de Ichiki determinou, baseado na crença, na época partilhada pelo pessoal do Alto-Comando japonês, de que os americanos em Guadalcanal não estavam em condições de resistir a um ataque decidido. A suposição de Ichiki revelou-se incorreta, e o resultado disso foi um reforço incalculável para o moral do povo dos Estados Unidos e para os fuzileiros navais em Guadalcanal.

 

Apesar da vitória local sobre Ichiki, havia muito o que fazer antes que se pudesse considerar segura a posição de Vandegrift em Guadalcanal. Os japoneses estariam mais que nunca decididos a retomar a ilha e; no processo, salvar as aparências, obtendo a vitória mais completa possível sobre os americanos. A "Operação Ka" estava longe de poder ser considerada terminada. O Comandante dos navais recorria à ajuda de forças de terra e mar. Engenheiros do Corpo de Fuzileiros Navais esforçavam-se, usando equipamento japonês capturado, por tornar a pista de pouso utilizável e já a 22 de agosto, um aerobote Catalina, pilotado por um ajudante-de-ordens do Contra-Almirante McCain, encarregado das operações aéreas baseadas em terra, pousou no aeródromo. O ajudante então inspecionou a pista, de apenas 800 m de comprimento; ela não tinha cobertura de tela de aço nem pistas de rolamento e não havia sistema de drenagem. Dependendo do tempo, o aeródromo ou era um pântano ou um mar de poeira. Contudo, o ajudante-de-ordens o considerou adequado para operações de aviões-caça.



 

A pista de pouso, logo batizada com o nome "Campo Henderson", em homenagem a um herói de Midway, recebeu seu primeiro contingente de aviões operacionais a 20 de agosto, a tempo de se juntarem às operações de limpeza depois da Batalha de Tenaru. Eram 31 aviões entregues pelo Long Island, um navio convertido em porta-aviões e ancorado ao largo de San Cristobal. Foi uma visão agradável para os fuzileiros, em terra, quando eles fizeram um circuito sobre a cabeça-de-praia antes de aterrissar. Doze bombardeiros de mergulho Dauntless eram comandados pelo Major Richard Mangrum, e 19 caças Wildcat estavam sob a supervisão do Capitão John Smith, todos pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais. Não eram muitos, mas esses aviões teriam um efeito espetacular sobre a campanha de Guadalcanal.

 

Vandegrift esperava que a marinha desse idêntico apoio. Era certo que os vasos japoneses em breve estariam desembarcando reforços em Guadalcanal. Aliás, esses homens já estavam a caminho. O restante da força de Ichiki, juntamente com a 5a Força Naval Especial de Desembarque, embarcara em Truk no transporte Kinryu Maru e em quatro navios convertidos em destróieres e que estavam sendo escoltados para as Salomão pelo veterano Contra-Almirante Raizo Tanaka. Uma força muito maior viria logo após e, mais importante ainda, uma grande força naval recebeu ordens de se fazer ao mar para destruir os porta-aviões americanos - que, segundo se informava, estavam em algum ponto entre as Salomão e as Novas Hébridas - bombardear e destruir o "Campo Henderson" e prover fogo de artilharia para proteger os homens que estavam sendo escoltados pelo Almirante Tanaka. Doze submarinos japoneses já estavam à espreita nas águas ao largo de Guadalcanal e Tulagi.



 

Os relatórios do serviço de inteligência informavam a Vandegrift que uma grande força naval inimiga se reunira em Rabaul e rumava para Guadalcanal. A princípio, não se percebeu muito bem o vulto desta armada. Havia duas forças-tarefas, consistindo, ao todo, de três porta-aviões, 8 couraçados, 4 cruzadores pesados, 21 destróieres e vários outros vasos de guerra, navegando sob a proteção de aviões da 25a Flotilha Aérea baseada em Rabaul. Nesse momento, as forças navais americanas estavam navegando a cerca de 160 km a sudeste de Guadalcanal. O Almirante Fletcher tinha sob seu comando 3 porta-aviões, 1 couraçado, 4 cruzadores e 10 destróieres. Os aviões de patrulha americanos avistaram diferentes navios japoneses nos dias 23 e 24 de agosto, enquanto os aviões de observação japoneses reconheceram a força americana a 24 de agosto.

 

A Batalha das Salomão Orientais, travada a cerca de 320 km de Guadalcanal, foi, em muitos aspectos, semelhante à de Midway. Toda a ação teve lugar entre aviões atacantes e navios. Nenhum vaso de superfície entrou em contato um com o outro. Ao contrário de Midway, a Batalha das Salomão Orientais não foi uma nítida vitória americana, transformando-se numa espécie de impasse. A 24 de agosto, 38 aviões Dauntless e Avenger, do porta-aviões Saratoga, atacaram e afundaram o porta-aviões japonês Ryujo. Na mesma tarde, os japoneses atacaram o porta-aviões americano Enterprise. Fletcher tomara o cuidado de manter 53 Wildcat em vôo sobre o porta-aviões. Estes se abateram sobre os Zero, Kate e Yal ao mesmo tempo que os canhões antiaéreos do porta-aviões abriam fogo. Houve terrível e encarniçada luta naquela área do Pacífico. O Enterprise foi seriamente avariado, mas conseguiu afastar-se, escoltado por vários cruzadores e destróieres, enquanto os aviões japoneses eram obrigados a retornar aos seus porta-aviões.



 

Houve outras baixas na Batalha das Salomão Orientais. Além de Ryujo, os japoneses perderam um destróier e um cruzador, e o porta-hidroaviões Chitose e um cruzador ficaram avariados. Noventa aviões japoneses foram derrubados, contra um total de 20 americanos. O Almirante Fletcher retirou seus navios ao entardecer de 24 de agosto, esperando voltar e reiniciar a batalha no dia seguinte, mas os japoneses também romperam o combate e se afastaram para área distante. A Batalha das Salomão Orientais chegara a um fim inconcludente.

 

Antes que o Ryujo fosse atacado por aviões americanos, 21 dos seus aviões haviam decolado para atacar Guadalcanal. A estes juntaram-se alguns bombardeiros Betty, de Rabaul, e todos se dirigiram para o "Campo Henderson". Foram recebidos pelos Wildcat da "Força Aérea Cactus", em Henderson. Dezesseis aviões japoneses foram derrubados. Quatro dias depois, aviões do "Campo Henderson" interceptaram quatro transportes japoneses que traziam 3.500 soldados. O destróier Asagiri explodiu, o Yugiri foi incendiado e o Shirakuma ficou avariado.



 

As condições em que os pilotos e as tripulações de terra trabalhavam nos primeiros tempos de funcionamento do "Campo Henderson" eram infernais e não melhoraram nada com a falta de previsão em Washington, notadamente por causa da predileção do General Arnold pelos P-40. Os pilotos desses aviões precisavam de oxigênio de alta pressão, para voar a grandes altitudes, e não havia oxigênio engarrafado sob alta pressão em Guadalcanal. Limitados a uma altitude de uns 3.000 m, o P-40 era um alvo fácil para qualquer Zero que passasse por ali. No final, Vandergrift deu ordens para que esses aviões fossem equipados com uma bomba de 500 libras e os usassem somente em missões de bombardeio.

 

Outro caso típico de projeto falho, para as condições, aconteceu com o SBD, cujos pneus, de borracha maciça, talvez fizessem dele um avião adequado para pousar no convés de um porta-aviões, mas eles destruíam a pista de pouso do "Henderson". No começo não havia guinchos para as bombas. Estas tinham de ser postas no porta-bomba a mão. A tripulação de terra também suava para bombear manualmente a gasolina de tambores de 50 galões, levando horas para reabastecer um punhado de aviões. Acrescente-se a isto as condições de vida dos pilotos, obrigados a viver em barracas, mais freqüentemente em trincheiras, e a comer arroz, alimento enlatado e picadinho como alimentação básica, e indigna de qualquer elogio.



 

Mas esses homens, apesar das condições em que viviam, contribuíram bastante para restabelecer o equilíbrio de poder em Guadalcanal. Eles certamente fizeram muita coisa para impedir que os fuzileiros navais de Vandegrift fossem expulsos da sua cabeça-de-praia, nos dias negros de agosto e setembro de 1942. Os pilotos eram valentes e hábeis, e tinham no Grumman Wildcat um avião digno deles. Em combate singular, o Wildcat não era páreo para um Zero, mas os americanos criaram um sistema tático segundo o qual cada Zero era sempre combatido por dois adversários. Se um Wildcat sozinho encontrasse um Zero, a prática aceita era o avião americano descarregar sua munição numa rajada rápida e rumar para o "Henderson" o mais rápido possível. De igual modo, os ataques a bombardeiros japoneses eram feitos diretamente de cima destes, ou descendo sobre eles pelo lado, evitando assim o artilheiro da cauda do avião inimigo.

 

Aos poucos, o número de aviões começou a aumentar, no "Campo Henderson". A 22 de agosto, 5 P-40 do exército pousaram ali. Às 14:30 h de 30 de agosto, 31 aviões chegaram, comandados pelo Coronel Wallace. Vieram depois 19 F4F-4 comandados pelo Major Robert Galer e 12 SBD-3, dirigidos pelo Major Smith. Em fins de agosto, Guadalcanal tinha 84 aviões americanos e 86 pilotos.



 

 


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