A queima de papiros secretos
O leitor deve se lembrar do mito egípcio de Ra e Ísis. O deus Ra tinha um nome secreto e decidira ocultá-lo dos outros deuses, talvez por bons motivos, mas a picada de um escorpião colocado por Ísis o deixou numa situação difícil: se não dissesse seu verdadeiro nome sofreria terríveis tormentos; se dissesse, Ísis dominaria sua vida. Saber o nome, naquela ocasião, era ter poder sobre o nomeado. De alguma maneira, os papiros tinham esse poder e só podiam ser lidos por um grupo de sacerdotes cujo medo aos castigos divinos era superior ao desejo de obter triunfes graças à aplicação de seus conhecimentos.
A conspiração contra Ramsés III, bem documentada por fontes diversas, oferece ao leitor uma explicação dessas crenças. O rei, depois de seu assassinato [sic], ordenou, por meio de uma mensagem do além, que se iniciasse uma investigação cujos pormenores revelaram os nomes de todos os conspiradores. Um dos rebeldes confessou ter conseguido alcançar seu objetivo por possuir um rolo mágico de papiro cuja leitura o convertia num verdadeiro deus, tão poderoso quanto o próprio faraó.
Akhnaton, como bom monoteísta, foi um dos primeiros a queimar livros. Mandou destruir os textos secretos no afã de consolidar sua religião, como relatou o historiador A. Weigall:
"[...] Akhnaton lançou todas essas fórmulas nas chamas. Duendes, espectros, espíritos, monstros, demiurgos e o próprio Osíris, com toda sua coorte, foram consumidos pelo fogo e reduzidos a cinzas! ...]."
O resto é conhecido: como vingança, seus sucessores apagaram até seu rosto das pedras, seu nome, e restituíram de memória o conteúdo de muitos dos papiros antigos.
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