Casa dos mortos



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dos sentiram-se não s6 surpresos, mas comovidos. Quando

vi aquele velho, aquele homem de cabelos brancos, separado

da esposa, dos filhos, que ficaram todos na ferra natal, quando

o vi ajoelhar-se e rezar ap6s a iniqua puni‡ão, uma c61era

ferrivel me sufocou; corri para +ras das casernas, e durante

duas horas -Fiquei 16, embrufecido, como bebedo." . ---

Desde então, os for‡ados conquistados por seu silenci , o

'debaixo do a‡oite, mostraram por J-ki uma considera‡ão toda

especial.

Sejamos justos, entretanto, e não julguemos por esse

exemplo a conduta da adminisfra‡ao para com os deportados

de origem nobre, russos ou polacos. Ve-se apenas que um

homem mau, se e o comandante, pode agravar singularmente

a sorte dum exilado quando este lhe desagrada. Mas, con-

fessemo-lo, o alto comando da Siberia. do qual depende a #

i

I



V

RECORDA€õES DA CASA DOS MORTOS

, 369

a

conduta dos subalternos, d' provas de discernimento no que



se refere aos deportados dessa especie; em certas oportu-

nidades, at‚, por causas bem claras - lhes mostra mais

indulgencia que aos outros. Em primeiro lugar, esses chefes

tambern são fidalgos; em segundo, citam-se casos em que

os nobres, de preferencia a receberem os a‡oites, se atira-

riam aos execu+ores, o que acarretaria lamentaveis consequen-

cias; em terceiro lugar, de uns trinta e cinco anos para ca,

~% a Siberia recebeu uma grande quantidade de fidalgos (2).

NEsses barines conquistaram o respeito geral e se fizeram tão

apreciados que no meu tempo, gra‡as a um habito j antigo,

a administra‡ão encarava os criminosos de origem nobre com

olhos bem diversos dos que tinham pelos deportados comuns.

Essa atitude passara do alto comando aos chefes subal+ernos,

os quais calcam seus modos e atos pelos dos superiores.

Entretanto, muitos dentre os inferiores criticavam sem rodeios

o procedimento dos chefes em rela‡ão aos nobres. Ficariam

encantados se lhes fosse dada carta branca, em vez de se

sentirem assim coagidos. Tenho pelo menos fortes razões

para crer nisso, -e ei-las aqui: a segunda categoria do pre-

sidio, a qual eu pertencia, e que era composta por for‡ados

outrora servos, submetidos a autoridade militar, era infinita-

mente mais severa que as duas outras, isto e, a terceira -

(trabalhos de usina) e a primeira (trabalhos de minas); e isso

nao s6 para os nobres, mas para todos os for‡ados, precisa-

mente porque sua organiza‡ão milifarizada se identificava ...

das companhias correcionais da Russia. O regime militar ‚

mais severo, a ordem e mais esfrita, nunca se dispensam as

grilhefas, nem os vigilantes, nem os ferrolhos, o que nao se

ve com rigor idˆntico nas outras categorias . Era pelo menos

~...


o que afirmavam os nossos for‡ados, e não faltavam enfen-

didos entre eles. Teriam passado contentes para a primeira

categoria, -que a lei considerava no entanto como a mais

penosa, e mais de um, ate. -,onhava com essa mudan‡a,

(2) O autor refere-‡e novamente ac "decembristas". (N. de H. MA

I I #


DOSTOIEVSKI

Aqueles dentre os nossos que tinham estado nos presi-

os da Russia, falavam a seu respeito com horror unanime;

arantiam que, em compara‡ão, a vida na Siberia era um pa-

iso. Se, pois, apesar da severidade do noslo regime militar

da presen‡a do propric, governador geral, se apesar de

mor de que alguns funcionarios, levados por excesso de

lo, por inveja ou por maldade, mandassem relatorios se-

retos sobre as trangress6es de um ou outro chefe, - se

essas circunsfancias ainda se encaravam os criminosos no-

r‚s com mais benevolencia que os outros for‡ados, deveriam

ra+6-los com muito maior indulgencia nas duas outras se‡ões.

Dado o lugar em que eu me encontrava, creio poder

eduzir o que se passava em focla a Siberia. As noticias, as

arrafivas que me chegaram,a esse respeifo, por interm‚dio

os for‡ados da primeira e da terceira categoria, confirmam

inhas conclusões. Na realidade, a administra‡ão dava para

onosco provas de certa habilidade. Nos não gozavamos, ‚

laro, de imunidade nenhuma, no que se referia ao +rq~)alho e

reclusão: a mesma farefa, as mesmas grilhe+as, os, mesmos

ferrolhos; tudo, conosco, era igual ao dos demais for‡ados. Era

mpossivel agir de outra maneira: sei que numa ‚poca pouco

longinqua os delatores, os intrigantes, os cavadores de minas

sob os p‚s dos outros pululavam na cidade, e a administra‡ão

se mantinha aler+a-, considerava-se um crime qualquer inclul-

gencia com certa classe de de+en+os. No medo de se pre-

judicarem, de perderem o lugar, os chefes nos tratavam pois

do mesmo modo que aos outros for‡ados: mas faziam exce-

‡ões quanto as puni‡ões corporais. A falar verdade, seria-

mos fustigados direitinho, se o merecessemos, isto e, se corne-

1

fessemos a menor falfa; o regulamento exigia que a igual-



dade ... Entretanto, não se atreveriam a nos punir sem

motivo. E a puni‡5o sem motivo não era nenhum mito e

permitia a certos chefes subalternos, por demais inclinados ao

zelo excessivo, aplica-la a torto e a direito. Soubemos que,

ao infeirar-se do sucedido com o velho J-ki, o governador se

indignara com o maior, e o intimara severamente a conter-se.

RECORDA€õES DA CASA DOS MORTOS

371


Todos me falaram nisso. Sabiamos que o maior levara uma

reprimenda do governador geral em pessoa, - contudo, o

-governador tinha confian‡a no maior. E o nosso tirano nSo

se esquecera disso. Teria muito gosto em fustigar M-cki, a

O~ ~ 11

quem odiava, por causa das dela‡ões de A.; mas nunca con-



i" seguiu satisfazer esse desejo, a despeito das provoca‡ões que #

lhe fazia, da espionagem a que o submetia. Toda a cidade

depressa ficou ao par do caso de J-ki, e o maior teve confra si

toda a opinião p

1 .---£blica; muitos o censuraram, alguns ate lhe

16,


1~n 1

afronfas.

Recordo muito bem o meu primeiro enconfro com o

maior. Durante a nossa estada em Tobolsk, +inham-nos con-

fado ferriveis hisforias sobre o genio pavoroso desse homem.

Alguns fidalgos deporfados, que moravam em Tobolsk havia

vinte e cinco anos, e nos vieram visifar varias vezes enquanto

descansavamos da jornada, fizeram questão de nos prevenir,

para que +orriassemos cuidado. Tinham fambem nos prome-

tido procurar, por in+ermedio de varias pessoas, poupar-nos

...s persegui‡ões do maior. E realmenfe escreveram s fres

filhas do governador geral, vindas da Russia em visita ao pai,

e que provavelmente lhe falaram em nosso favor. Mas que

poderia fazer o governador? Simplesmente advertir o maior

de que mosfrasse mais composfura. Foi pelas fres horas

que meu companheiro e eu chegamos a cidade: os soldados

da escolfa nos levaram direfamente a presen‡a do firano.

Ficaffios em p‚, esperando-o, na an+ecamara. Ja haviam

prevenido o sub-oficial. Assim que esfe apareceu, surgiu

tamb‚m o maior. Aquela cara vermelha‡a, avinhada, hosfil,

nos causou uma impressão dolorosa: parecia uma aranha

feroz pronfa a devorar uma pobre mosca, presa na feia.

Teu nome? pergunfou ao meu companheiro. Falava

em voz corfan+e, desfacada, que visava produzir um deter-

minado efeifo.

Fulano.


E tu? continuou ele, dirigindo-se a mim, e fixando-me

atrav‚s dos ¢culos.

i,, #

372


DOSTOIEVSKI

- Beltrano-

- Sub-ofici¢li Leva-os imedi citam ente ao Presil-3i01

1 . 1 isto e, metade

devem raspar cabelo e barba como CIVIS - a. QUe capo-

da cabe‡a. os ferros serão mudados amanhi

tes são esses, de onde vˆrn? indagou de chofre, avistando

os capotes cinzentos, com c¡rculos amarelos nas costas, que

nos haviam sido entregues em Tobolsk, e nos quais estavarnos

vastidos, sob a inspe‡ão dos seus oculos fuzilantes. -  um-

forme novo? ... Decerto esta em estudos? ... Ordem de

Petersburgo? ironizava, fazendo-nos girar cada um por sua

vez. . . - Não trazem nada consigo? perguntou depois a um

dos guardas que nos comboiava.

- Tem as suas proprias roupas, Excelencia, respondeu

o guarda, que se endireitou logo, e ate mesmo estremeceu de

leve. Todos o conheciam, todos o temiam.

- Tomem conta de tudo: deixem apenas a ro~upa bran-

ca. Se a roupa de baixo for de cor, e não branca, +ornem

+arribem. O resto sera vendido em leilão. O dinheiro ser

inscrito na receita. Um for‡ado não possue nada, acrescen-

+ou, fitando-nos com severidade. E cuidado, porfem-se berni

Não quero ouvir nada, senão ... castigo cor-po-rali Ao

menor delito, - as varas1

Por falta de habito, aquela recep‡ão me deixou meio

doente durante quase toda a noite. O que vi depois no

interior do presidio, so me fez agravar o mal-estar-, todavia

ia falei nisso tudo.

Acabo de dizer que eramos tratados em p‚ de igualdade

com os outros for‡ados. Uma vez, entretanto, procuraram

nos auxiliar; durante +rˆs meses consecutivos fomos emprega-

dos, B-ski e eu, como secrotarios no escri+orio de engenharia.

A cousa foi feita em segredo, por ordem do engenheiro-che-

fe, - quer dizer, aqueles que deveriam saber da nossa pre-

sen‡a Ia, fingiam ignora-la. O caso se passou sob o comando

do feriente-coronel G-kov, que nos caiu por assim dizer do

c‚u, mas que demorou muito pouco tempo - seis meses no

RECORDA€õES DA CASA DOS MORTOS

373

m xirno, se bem me lembro, e retornou a Russia deixando uma



recorda‡ão irdelevel no cora‡ão de todos os for‡ados.

-Pode-se dizer que o amavam, que o adoravam, se cabe aqui

esta palavra. Ignoro como ele o fizera, porem os soubera con-

quisfar a primeira vista. "Um pai, um verdadeiro pai!" excla- #

mavam os presos a cada instante, vendo-o dirigir os trabalhos

de engenharia. Era um homem de pequena estatura. alegre,

de*olhar atrevido, farrista despudorado, que se mostrava

para com os for‡ados de uma amabilidade que ro‡ava

... ternura. Amava-os realmente como um pai. Não sou

capaz de explicar as razões desse amor, mas o fato e que ele

não podia avistar um detenfo sem lhe dizer uma palavra afa-

vel, sem rir e brincar com ele; e agia sem mostrar o minimo

esp¡rito de comando, nada que lembrasse o chefe, ou apenas

a 1 condescendencia do chefe. Senfia-se realmente nele um

camarada, um igual. E apesar desse dernocrafismo intenso,

nem uma umca vez os for‡ados se atreveram a lhe faltar com

o respeito, ou a menor familiaridade. Apenas, o rosto dos

clefen+os se iluminava quando avistavam o comandante: fira-

,vam o gorro, sorriam amplamente, s6 ao vˆ-lo chegar. Se o

comandante lhes dirigia a palavra, parecia que lhe‡ dera um

presente! Eis os efeitos da popularidade! Tinha um olhar

de crian‡a, caminhava com grandes passadas. "Parece uma

aquia!" comentavam os for‡ados. Ele não os podia auxiliar,

4 claro, não lhes podia minorar a sorte porque dirigia apenas

, os trabalhos de engenharia, executados segundo formas legais,

,-~, os+abelecidas ia defi nifiva mente. Mas se por acaso encon-

trava um pelotão de for‡ados cuja tarefa terminara, em vez

de os prender inutilmente, mandava-os embora antes do rufar

do tambor. Os for‡ados adoravam a confian‡a que ele lhes

,testemunhava, seu esp¡rito sem mesquinharias, seu procedi

M, men+o irrepreensivel nas suas rela‡ões de chefe para com os

subordinados. Se o comandante perdesse mil rublos e o mais

empedernido dos nossos ladrões os encontrasse, creio que os

devolveria. Sim, tenho certeza disso. Imagine-se pois com

que profunda emo‡ão souberam que o "nosso" comandante #

374


DOSTOIEVSKI

esfav8 rompido de fogo e sanguŠ com o odioso maior! Foi .

no primeiro mes depois da sua chegada. O maior, não sei

quando, fora companheiro de armas do comandante. Quando

se fornaram a encontrar, apos longa separa‡ão, come‡aram

divertindo-se juntos, todavia, em consequencia de uma dis-

cussão, G-kov ficou inimigo figadal do an+i~o camarada.

Correu ate o rumor de que haviam chegado a vias de fato,

cousa muito possivel com o nosso maior, que finha a nião

leve. Assim que os for‡ados souberam da historia, sua alegria

chegou ao auge: "Claro que "Oifo olhos" não poderia se

dar com um homem daqueles! ... Nosso comandante e um

aguia, enquanto o maior e ... !" - a palavra que o,qualificava

fere profundamenfe a decencia. E os presos desejavam apai-

xonadamente saber qual dos dois homens vencera no pugilato

que lhes era imputado. Se o boato fosse desmentido, teriam

sofrido um enorme desapontamento. "Decerto o coman-

dante escangalhou o maior", diziam; "ele pode ser pequeno,k

mas não sabe o que e medo; o outro e capaz de se fer metido V

debaixo da cama, para se esconder!" Porem em breve G-kov

foi embora, para lufo do pres¡dio infeiro. E' preciso reco-

nhecer que os comandanfes de engenharia eram todos exce-

lentes pessoas. Durante o meu tempo, mudaram-ri s fres ou

quatro vezes! "Nã*o, nunca veremos um igual!" afirmavam

os for‡ados. "Era uma aguia, um anjo da guarda!"

Foi pois ess , e G-kov que nos mandou, a B. e a mim, +ra-

balhar algum tempo no escriforio, por simpatia ante os sofri-

men+os dos deporfados nobres. Depois de sua partida, nossa

situa‡ão ficou de certo modo regularizada. Alguns oficiais

de engenharia (um deles, sobretudo) eram Muito bondosos

conosco. Dev¡amos copiar rela+orios, e nossa caligrafia ia

melhorando, quando de sUbi+o veio ordem superior de+ermi-

nando que volfassemos imediatamente as nossas ocupa‡ões

anteriores. Alguem se dera ao trabalho de nos denunciar!

Não nos entristecemos, porque a vida nos escri+orios come-

‡ava a ser fatigante. Depois, durante dois anos seguidos,

ficamos nas oficinas. Conversavamos, falavamos das nossas

RECORDA€õES DA CASA DOS MORTOS

375

esperan‡as, das nossas cmvic‡ões. O meu excelente B.



finha as vezes opiniões estranhissimas, muito exclusivas. Com

frequencia pessoas infel~genfes se obsiinam em defender

espantosos paradoxos; e que sofreram tanto por suas id‚ias

que lhes seria por demais penoso, quase imposs¡vel, renunciar

a elas. A menor obje‡ão feria B., que sempre me replicava #

---comazedume. Talvez muitas vezes ele enxergasse mais claro

que eu, mas por fim tivemos de nos separar, cousa que

fez sofrer enormemente, porque finhamos muitos ponfos

COMUM.

Entretanto, com o passar dos anos, M-cki tornava-se cada



3/4ez mais sombrio. O desgosto o consumia. Nos primeiros

meses de minha deten‡ão, ele era mais comunicativo, mostra-

1 va mais claramente seus pensamentos. Come‡ava então seu

,,, ferceiro, ano de pres¡dio. A principio inferessava-se principal-

menfe pelo que se passara no mundo durante os Ulfimos dois

anos; inferrogava-me, ouvia, apaixonava-se. Mas pouco a

pouco, fornou-se mais fechado, ia não se expandia. O exfe-

rior ardente cobria-se de cinzas. A amargura crescia nele

mais e mais. "Je hais ces brigands!" repetia ele em frances,

olhando com horror os for‡ados que eu j6 aprendera a conhe-

‡er: nenhuma das minhas explica‡ões a favor daquelas cria-

furas tinha influencia no seu espiri+o. Ele não compreendia

11

que eu falava, se concordava, distra¡do, nem por isso dei



i . , , d pefir no dia seguinte: "Je hais ces brigands!"

xava e re

, Como frequentemente conversavamos juntos em frances, um

,,.,-Vigilante dos f rabalhos, o soldado de engenharia Dranichnikov,

eipelidou-nos, nSo sei por que, de "os enfermeiros". M-cki s6

se animava quando falava em sua mãe. "Esta velha, doente,

gosta de mim mais do que de tudo no mundo, e eu não sei se

ainda e viva ou morta! Foi um golpe forte demais para ela,

saber que me haviam a‡oitado!".. . Como M-cki não era

nobre, tivera que sofrer antes da reclusão o casticio corporal.

Não o recordava nunca sem trincar os dentes e desviar os

olhos. Nos ultimos tempos, procurava cada vez mais a soli-

y #

376


DOSTOIEVSKI

dão. Uma ocasião. ao meio-dia, mandaram-no chamar em

casa do g,;vernador, que o recebeu com um sorriso nos labios:

- Então, M-cki, com que sonhaste esta noite? indagou

o governador.

(Quando ele me perguntou isso, estremec¡, contou m-cki

ao voltar. Era como se me traspassassem o cora‡ão).

- Sonhei que recebia uma carta de minha mãe, res-

pondeu ele.

- Melhor que isso, muito melhor! replicou o governador.

Estas livre! Tua mãe fez uma s£plica, e sua suplica foi levada

em considera‡ão. Esta aqui a carta dela, e esta aqui a +ua'

ordem de soltura; vais deixar imediatamente o presidio!

Ele voltou para junto de nos, livido, abaladissimo pela

noticia. Felicifarrio-lo e M-cki nos apertou as mãos com os

dedos trˆmulos e gelados. Muitos for‡ados lhe deram os

parabens.

Foi ser colono, e ficou na nossa propria cidede, onde lhe

arranjaram logo um emprego. De inicio vinha frequ ente-

mente nos visitar, e quando o podia, comunicava-noS'-a'S noti-

cias: o que mais o interessava era a polifica.

Dos quatro outros polacos (fora M-cki, T-ski, B-ski a J-ki)

dois jovens, deportados por pouco tempo, eram ignorantes,

porem honestos, simples e francos. O terceiro, A-czukovski,

era muito vulgar, mas o quarto, 13-m, homem de idade, nos

produziu uma impressão abominavel. Não pude compreender

a presen‡a dele entre aqueles condenados, e ele proprio ne-

gava qualquer participa‡ão no movimento. Era um alma

grosseira, mesquinhamente burguesa, com h bitos e id‚ias de

vendeiro enriquecido vintem a vin+em. Desprovido de ins-

tru‡ão, não se interessava por nada, salvo por seu oficio de

pintor, no qual era alias um mestre. A administra‡ão de-

pressa se inteirou das suas capacidades, e toda a cidade o

reclamou para decorar paredes e tetos. Em dois anos ele

pOs novas em folha quase todas as res¡dencias dos funciona-

rios; pagavam-no bem, de modo que nunca lhe faltava di-

RECORDA€õES DA CASA DOS MORTOS

377


nheiro. Mas o melhor da hisforia foi que lhe concederam

auxiliares. De tanto o acompanhar, dois dos ajudantes aca-

bararr¡ aprendendo o oficio, e um deles, T-czevski, +orrou-se

+ão bom pintor quanto o mestre. Nosso maior, que morava

numa casa do governo, pediu por sua vez a B-m que lhe pin-

tasse as paredes e o teto. B-m se esfor‡ou tanto, que nem

mesmo a residencia do governador geral se comparava com #

a do maior. Era um velho predio +erreo forrado de madeira,

deprepito e arruinado quando visto de fora, porem decora-

J9 interiormente como um palacio, o maior ficou radiante ...

ESfregava as mãos, contava a quem queria ouvir que ia ca-

sar-se: "Com uma. casa assim, que mais posso fazer?" acres-

confava em tom grave. E estava encantado com B-m e seus

ajudantes. O trabalho durou um mˆs, durante o qual "Oi+o

olhos" mudou comple+amen+e de id‚ia a nosso respeito, e

come‡ou ate a nos proteger. Levou as cousas tão longe

que um belo dia mandou chamar J-ki.

J-ki, falou, eu +e ofendi, mandei +e fustigar sem ra-

zao; sei disso e o lamento. Compreendes? Eu, eu, o Ia-

menfo!


J-ki respondeu que compreendia.

- Compreendes que eu, +eu chefe, +e mandei chamar,

para +e pedir perdão? Sentes isso? Quem es tu, diante de

- mim? Um verme! Menos que um verme! um for‡ado! E

eu, sou maior pela gra‡a de Deus (3)! Maior, compreendes

bem?


Mi respondeu que farribem o compreendia.

- Bem, então, agora, fa‡o as pazes configo.- mas es+6s

sentindo isso, estas sentindo de verdade9 em toda a sua

grandeza? Ser6s capaz de o compreender e o sentir? Ima-

gina apenas: eu, eu, um major ...

E assim por criarife.

O proprio J-ki contou a cena. Via-se pois que algo de

humano dormia ainda dentro daquela besfa avinhada e feroz.

(3) No meu tempo, não s6 o major, como varios outros chefes sub-~Iternos, prin-

CiPalmente os que haviam come‡ado como soldados rasos, empregavam essa expressão.

(Nota do Autor).

26 #


378

DOSTOIEVSKI A

Se tomarmos em considera‡ão suas esfreitissimas id¢ias,'Seu

espirifo limitado, devemos convir que aquele gesto não ca-

recia de certa grandeza de alma. Todavia, o 61cool confri-

buira muito, certamente, para a realiza‡ão da cena toda.

O sonho do maior não se realizou. Não se casou, em-

bora estivesse resolvido a isso, na ocasião em que termi-

naram as repara‡ões da residencia. Em vez de esponsais,

foi levado a julgamento e obrigado a pedir demissão. Velhos

crimes seus tinham voltado ... tona: ele f"ra outrora comis-

sario de policia da nossa cidade. O golpe lhe foi vibrado

inopinadamente. A noticia provocou, na fortaleza uma frans-

bordante alegria; houve uma festa, uma verdadeira soleni-

dade. Contava-se que o maior gemia e choramingava como

uma velha. Mas em vão: teve que se resignar, demitir-se, -e

pedir reforma. Vendeu a principio a parelha de cavalos

ru‡os, depois tudo o que possuia, e acabou caindo na mise-

ria. Nos o encontravamos as vezes, de sobrecasaca puida,

e gorro com tope. Olhava-nos de vies. Porem sei., presfi-

gio desaparecera com a farda. De farda ele egr um deus.

De sobrecasaca, poderia ser +ornado por um lacaio. Com

quanfos outros se da o mesmo! O h6bito e que faz o

monge ...

Uma evasão

ouco depois da demissão do maior, reviraram de alto a

P baixo o nosso presidio. Suprimiram os trabalhos for-

‡ados, e em vez deles, criaram uma companhia corre-

cional, segundo o modelo das da Russia. Isso significava

que não haveria mais na fortaleza condenados e deportados

a gal‚s da segunda categoria; s¢ iam para 16 presos mili-

fares, isto 6, homens privados dos seus direitos civ¡s. Eram

soldados iguais aos ouf ros sodados, mas que haviam sido

fustigados e condenados a seis anos de prisão, no mˆiximo;

quando libertos, voltavam, de pleno direito, para o regimento

de onde haviam saido. Entretanto, os que apareciam na

qualidade de reincidentes, eram como outrora condenados

a vinte anos. Antes dessa transforma‡ão nos ia possu¡amos

uma se‡ão militar, mas os soldados eram deportados para ta #

so DO STO I EVSK I

or falfa de oufro sitio proprio; contudo, agora, essa Se€O9

ornara confa do presidio todo.  claro que os for‡adm


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