Mais bibliotecas em ruínas
A história cultural da Grécia clássica, como se viu, é também a história de dezenas de bibliotecas desaparecidas. Além das que foram mencionadas, que por sinal são as de maior prestígio, houve outras. - Aulo Gélio comentou que a biblioteca do tirano Pisístrato foi levada pelo persa Xerxes e devolvida pelo rei Seleuco.
No século II a.C., Mar Ibas insistiu em que Seleuco, ao ser nomeado rei, queimou todos os livros encontrados no mundo "porque queria que a contagem do tempo começasse por ele". Nas chamas da biblioteca de Atenas ardeu o manuscrito da História, de Tucídides, e, de acordo com seu estranho relato, Demóstenes voltou a ditar o livro porque o sabia de memória. Segundo Luciano de Samósata, o orador copiou à mão oito vezes esse volume. Outros livros que devem ter queimado foram as edições da Ilíada e da Odisséia, cuja primeira edição escrita foi produzida pelo tirano Pisístrato.
Não há como saber o que aconteceu com bibliotecas como a de Atenas, fundada por Adriano. Os ptolomeus mandaram construir também em Atenas o Ptolemaion, um prédio que tinha uma biblioteca regular. Há uma inscrição onde se pode ler que "[...] dedicaram um copo à deusa mãe e a Estefanoro 17 dracmas, de acordo com o decreto de Dioscorides, filho de Dioscorides de Fegas. Também doaram cem livros à biblioteca no Ptolemaion segundo o decreto [...]".
E, assim como esse texto, conservaram-se outros. Nada sobrou da biblioteca construída por Arquimedes de Siracusa para o tirano Hierão num navio de luxo chamado Alexandrina. Eurípides teve uma extraordinária biblioteca particular, que se dispersou com sua morte.
Na Anábase há uma passagem memorável (VII, 5, 14) em que o narrador, depois de uma tentativa de motim, referiu-se à sua chegada a Salmideso, em cuja costa encontraram "muitas camas, muitas arcas, muitos livros e muitos objetos transportados pelos navegadores em baús [...]". O espetáculo impressionou Xenofonte, aluno e amigo de Sócrates.
Há uma inscrição com um catálogo alfabético relativo à biblioteca de Rodes. A ordem mantida oferece um modelo do que era um catálogo:
Beócios
Aristaichmos, um
Cleon, um
Fedondas ou sobre a [oligarquia]
Sobre a legislação dos atenienses, cinco
Hegésias, Discursos em favor dos atenienses
Aspásia, um
Alcibíades, um
Teodectes, Arte, quatro
Sobre a Anfictionia, um
De Teopompo, Lacônico, um
Corintíaco, um
Mausolo, Olímpico, um
Felipe, um
Encômio de Alexandre, um
Antíoco III, o Grande, fundou uma biblioteca na Síria e designou o poeta Euforião de Caleis (276 d.C.-200 a.C.) como diretor. Uma inscrição do século II a.C. prova que existiu uma biblioteca em Cos, apoiada por benfeitores interessados em contar com melhores textos. Entre outros dados, a inscrição registra uma doação de 100 dracmas. Hoje sequer as ruínas dessas duas bibliotecas subsistem.
A epigrafia tornou possível conhecer outras bibliotecas como a de Milasa, na Ásia Menor. "Em Tauromênio houve, segundo uma inscrição descoberta, uma biblioteca anexa ao ginásio. A mesma coisa se pode dizer de Olímpia, Afrodísia, Corinto, Dirráquio, Edesa, Nisa, na Caria, Prusa, Esmirna, Solos e em Pela, construída por Felipe da Macedônia. Também não sobreviveram.
Em Delfos, houve uma biblioteca com livros de ouro: "Um livro de ouro de Aristômaco de Eritréia, que ganhou o concurso duas vezes com um poema épico, foi dedicado ao tesouro dos Siciônios de Delfos [...].” Temos provas da existência de bibliotecas em Egina, Creta, Chipre e Eritréia, igualmente extintas. Os arquivos dos santuários não se preservaram: nada resta dos textos e registros de Pritaneu, de Metrão, de Dura Europos, de Creofilakião, de Epidauro.
O fim do domínio grego legalizou, por assim dizer, o esquecimento e condenou à destruição milhares de obras e centros intelectuais. Segundo Galeno, fatores como incêndios e terremotos, abundantes nesse tempo, destruíram igualmente incontáveis livros entre os gregos.
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