Língua Portuguesa volume 1



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. Acesso em: 19 abr. 2016.

Como fazer uma petição

O modo de fazer uma petição pode variar de acordo com o que se deseja reivindicar. Entretanto, algumas regras são básicas para diversos tipos de petição. A seguir leia algumas orientações a esse respeito.

http://www.direitoaeducacao.org.br/como-fazer-peticoes/

[...]


Qualquer pessoa pode redigir uma petição, não precisa ser advogado. Pela legislação brasileira, a autoridade é obrigada a atestar o recebimento (normalmente através de um carimbo ou uma certidão com data e assinatura) e responder ao pedido em até 15 dias.

Passo a passo de como elaborar uma petição

Passo 1 — Identifique e descreva a situação de violação aos direitos que você pretende que seja resolvida. Identifique o direito que está sendo violado; o direito que deve ser implementado; quem são as pessoas prejudicadas; as informações que precisam ser obtidas do poder público ou outros pedidos que precisam ser feitos às autoridades responsáveis.

Passo 2 — Identifique quais são os órgãos ou autoridades que devem resolver o problema. Veja a quem você deve encaminhar a petição. Pode ser à direção da escola, ao conselho escolar, à secretaria

de educação ou a outro órgão público (excluído o Poder Judiciário). Você pode tanto direcionar ao órgão público (por exemplo, à secretaria de educação) como ao responsável por aquele órgão ou setor (por exemplo, ao secretário de educação). O importante é que o pedido seja feito a todos os órgãos que tenham poderes para decidir sobre o problema [...].



Passo 3 — Redija o documento. A estrutura é sempre parecida e é formada por três partes: na primeira parte, deve ser feita a identificação da pessoa, grupo de pessoas ou associação que assinam a petição; na segunda parte, vem a descrição detalhada da violação/problema (ou das informações necessárias); caso saiba qual lei está sendo descumprida, você pode citá-la, mas a descrição dos fatos é suficiente; na parte final da petição, deve ser formulado o pedido de providência ou de informação. Coloque a data e assine o documento.

Passo 4 — A entrega do documento. Faça uma cópia do documento. Ao entregar a petição no órgão público, peça para a autoridade ou o funcionário público assinar e colocar a data de recebimento nessa cópia, o que comprova a entrega do original. Em alguns locais, como nas secretarias de educação, prefeituras ou câmaras legislativas, há um setor de protocolo, normalmente logo na entrada do prédio, onde os funcionários recebem o documento, registram o recebimento na cópia e encaminham para o setor responsável. É importante que você identifique o número do telefone do setor responsável, assim, se for necessário, poderá acompanhar o andamento do pedido.

A mesma estrutura pode ser usada em casos de denúncias ou pedidos a serem encaminhados ao Ministério Público ou à Defensoria Pública.

COMO fazer petições?. Disponível em: . Acesso em: 19 abr. 2016.
No caso de produzirem uma petição impressa, sigam o modelo transcrito nesta seção, depois recolham as assinaturas diretamente no papel. Se preferirem escrever uma petição e divulgá-la pela internet, o modelo desta seção pode ajudá-los, mas será preciso entrar em um sistema on-line como o da petição transcrita na seção Para começar deste capítulo e deixá-la disponível para ser assinada on-line.

O fundamental é que as pessoas mais diretamente interessadas nessa melhoria sejam informadas da proposta e possam participar.



3. Recolhidas as assinaturas, encaminhem a petição ao órgão responsável a fim de que a protocolem. Aguardem uma ação de melhoria para o bairro.

©istockphoto.com/pink_cotton_candy

Ao abordar as pessoas para recolher assinaturas, é preciso ser gentil e informar o interesse da proposta.

Aproveite para...

... ler

Companhia das Letras/Reprodução



Antônio Vieira, de Ronaldo Vainfas, editora Companhia das Letras.

Nesse livro, o historiador Ronaldo Vainfas procura reconstituir os momentos considerados decisivos da vida e da obra do padre Antônio Vieira levando em conta seus diversos papéis sociais: jesuíta, político, pregador e escritor.



Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke, editora L&PM.

A obra torna públicas cartas escritas pelo poeta Rainer Maria Rilke a um jovem aspirante a escritor, Franz Kappus. Nessas cartas o poeta exprime opinião sobre seus valores, a criação artística, a necessidade de escrever, o relacionamento entre os seres humanos, a solidão, etc.

©L&PM Pocket/Reprodução

Companhia das Letras/Reprodução

Companhia das Letras/Reprodução

O amor acaba: crônicas líricas e existenciais, de Paulo Mendes Campos, editora Companhia das Letras.

O livro reúne crônicas de Paulo Mendes Campos. O conjunto ressalta sua prosa poética, o escritor em busca pelo instante precioso, pela frase iluminadora e pela cena que justifica o momento vivido.



Poemas, de Rainer Maria Rilke, editora Companhia das Letras.

Trata-se de poemas de Rilke traduzidos para o português por José Paulo Paes. A seleção possibilita ao leitor conhecer um pouco da obra poética desse autor que foi muito admirado por poetas brasileiros: Cecília Meireles, Vinicius de Moraes, etc.



Seleção de sermões de padre Antônio Vieira, de Antônio Vieira, editora Melhoramentos.

Trata-se de antologia com cinco sermões de Antônio Vieira. Esses textos dão uma ideia de que maneira Antônio Vieira faz uso da retórica e do encadeamento lógico de ideias e conceitos para criticar o comportamento dos colonos portugueses, a presença protestante no Brasil e a conduta viciosa de muitos pregadores, entre outros temas de seu tempo.



Sociologia dos movimentos sociais, de Maria da Glória Gohn, editora Cortez.

A obra comenta dois tempos históricos distintos de alguns movimentos sociais: 2011-2012 e 1968. Das situações mais próximas a nós, ela analisa mobilizações no Brasil, além de movimentos em outras partes do mundo como a Primavera Árabe. A professora também comenta as manifestações dos estudantes franceses em maio de 1968.

©L&PM Pocket/Reprodução

... assistir a

Amantes constantes, de Philippe Garrel (França, 2006).

Em meio às revoltas estudantis francesas em maio de 1968, François, um jovem poeta de 20 anos, acompanha amigos na militância política. Dentre as barricadas construídas pelos protestantes e os confrontos com a polícia, ele conhece a escultora Lilie, por quem se apaixona. O romance é vivido de forma distinta pelos dois jovens: ele é romântico e ingênuo, e ela é pragmática e realista. Um ano depois, após o fracasso da revolução, esses jovens vivem uma rotina entre festas e arte. O grupo é tomado por um desequilíbrio emocional e mental, o que põe em dúvida o sonho da revolução.



12 homens e uma sentença, de Sidney Lumet (EUA, 1957).

Um jovem porto-riquenho é acusado do brutal crime de ter matado o próprio pai. Quando ele vai a julgamento, doze jurados se reúnem para decidir a sentença, levando em conta que ele deve ser considerado inocente até que se prove o contrário. Onze dos jurados têm certeza de que ele é culpado e votam pela condenação, mas há um jurado no grupo que defende que é melhor investigar mais antes de se chegar a uma conclusão. Para defender seu ponto de vista, ele precisa enfrentar diferentes interpretações dos fatos, além da má vontade dos outros jurados, que só pensam em voltar para casa.



Palavra e utopia, de Manoel de Oliveira (França/Brasil/Portugal/Espanha, 2005).

O filme procura mostrar as dificuldades enfrentadas pelo padre Antônio Vieira, ligadas ao seu tempo, o século XVII: sacerdote polêmico e influente de seu tempo, reconhecido por sua habilidade como escritor e orador, luta pela liberdade dos indígenas e pela abolição da escravidão no Brasil, enfrentando a perseguição da Inquisição.

©fox home entertainment/Reprodução

... acessar

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=101

Obras escritas pelo padre Antônio Vieira. Acesso em: 5 maio 2016.

http://www.poetryfoundation.org/bio/rainer-maria-rilke

Em inglês, site com textos e informações sobre o poeta Rainer M. Rilke e sua obra. Acesso em: 5 maio 2016.

Unidade 7

Minha pátria é minha língua?

Nesta unidade, você vai ler entrevistas que podem provocar uma reflexão sobre a contribuição de elementos de línguas indígenas e de línguas africanas na formação do português brasileiro. Vai também identificar os elementos organizadores do gênero textual entrevista, planejar uma entrevista e produzi-la, além de observar a formação da imagem de heróis nacionais.



Objetivos

Ao final desta unidade, verifique o que você aprendeu em relação aos seguintes objetivos:

▸ Observar a influência linguística e cultural de nações indígenas e de nações africanas na formação da língua portuguesa praticada no Brasil.

▸ Observar a organização do gênero textual entrevista e seus elementos fundamentais.

▸ Produzir uma entrevista, levando em conta sua estrutura dialogal e o texto introdutório em que se apresenta o entrevistado.

Pesquisar estilos de samba e compartilhar o resultado do trabalho por meio de uma apresentação oral.

▸ Ler e comparar textos literários que procuraram enaltecer a figura dos primeiros habitantes destas terras, transformando-os em heróis do passado nacional.

▸ Observar o convite à reflexão a respeito de heróis nacionais em uma obra de arte produzida em linguagem visual.

▸ Discutir sobre a formação da imagem de heróis na atualidade.

©Aristóteles Barcelos Neto

Festa do apapaatai, do povo Wauja, no Alto Xingu, 2000. Quando alguém do povo Wauja é considerado doente, ou seja, quando é atacado por um feitiço, faz-se necessária a organização de uma festa para os apapaatai, seres extra-humanos responsáveis pelo problema. A alma dessa pessoa só se encontra segura depois dessa festa, que promove uma aliança entre o humano e o apapaatai. A participação do doente na festa não é significativa para sua cura, mas ele deve ser o patrocinador da cerimônia. Afirma-se que os apapaatai adoram alimentos e diversões, por isso recompensam aquele que promove a festa protegendo-o de investidas de outros apapaatai.

Língua e produção de texto

A entrevista

Interdisciplinaridade com: Arte, Geografia, História, Sociologia.

Não escreva neste livro.

Para começar

1. Observe as imagens a seguir, que mostram um pouco de que modo a imagem das mulheres afrodescendentes foi construída na arte produzida no Brasil em momentos diferentes.

Imagem A


Albert Eckhout/Nationalmuseet copenhague, Dinamarca

Albert Eckhout. Mulher africana, 1641. Óleo sobre tela. Dimensões: 282 cm × 189 cm.





O pintor holandês Albert Eckhout (1610-1666) veio ao Brasil com a comitiva de Maurício de Nassau (1604-1679), que se estabeleceria aqui como governador-geral do Brasil holandês, em Pernambuco. Em 1630, os holandeses haviam invadido e dominado Pernambuco, interessados na produção de açúcar do Nordeste. Em 1637, enviada pela Companhia das Índias Ocidentais, chegaria a comitiva de Nassau, para administrar o território e a produção açucareira local. O governo holandês estabeleceu-se em Pernambuco e adjacências de 1637 até 1644. Os artistas que vieram com a comitiva tinham o dever de retratar o Nordeste brasileiro para mostrar aos investidores europeus a riqueza das terras ocupadas.

Imagem B


Jean-Baptiste Debret/Museu Castro Maya, Rio de Janeiro
Jean-Baptiste Debret. Negra com tatuagens vendendo caju, 1827.
Aquarela sobre papel. Dimensões: 15,7 cm × 21, 6 cm.


O pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) chegou ao Rio de Janeiro em 1817 como membro da Missão Artística Francesa, trazida por dom João VI. Os artistas da Missão tinham como objetivo ensinar artes plásticas na cidade que era, então, a capital do Reino Unido de Portugal e Algarves. Além disso, deveriam retratar a família real e as pessoas da terra.

Imagem C


Lasar Segall/Coleção Particular, São Paulo

Lasar Segall. Morro vermelho, 1926. Óleo sobre tela. Dimensões:

115 cm × 95 cm.





Lasar Segall (1891-1957), pintor, gravador e desenhista de origem judaica, nasceu na Lituânia. Na década de 1910, interessou-se pela pintura expressionista e desenvolveu sua obra nessa estética. Em seu trabalho identificou-se com as figuras marginalizadas, oprimidas, que procurou retratar, o que o levou a ser identificado como um artista expressionista, interessado em mostrar com sua arte o cotidiano, denunciando a opressão das camadas marginais da sociedade. Fixou residência em São Paulo em 1923, onde viveu até sua morte. Destacou-
-se como artista do Modernismo, sendo considerado um representante das vanguardas europeias.

Imagem D


Di Cavalcanti/Coleção Gilberto Chateaubriand, Rio de janeiro


Di Cavalcanti. Moças com violões, 1937. Óleo sobre tela. Dimensões: 49,8 cm × 60,8 cm.



Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, conhecido como Di Cavalcanti (1897-1976), foi jornalista, pintor, desenhista e escritor brasileiro, natural do Rio de Janeiro (RJ).

Em sua obra, Di Cavalcanti procurou retratar o que acreditava ser a realidade brasileira. O fato de conhecer a produção artística da Europa e de estabelecer um diálogo com essas produções artísticas contemporâneas levou Di Cavalcanti a criar uma obra que mostra seu ponto de vista sobre a realidade nacional por meio de técnicas bem atuais para a época.



Converse com os colegas: de que modo vocês percebem que, nesses diferentes momentos da pintura produzida no Brasil, as mulheres afrodescendentes foram retratadas? E o que cada obra dessas tem de particular que a distingue das demais?


2. Faça o mesmo com as imagens a seguir, que retratam, ao longo do tempo, diferentes percepções artísticas de mulheres de nações indígenas. Observe as alterações e as permanências. Discuta a esse respeito com os colegas.

Imagem A


MUSEU NACIONAL DA DINAMARCA, COPENHAGE, DINAMARCA

Albert Eckhout. Mulher tupi com criança, 1641. Óleo sobre tela. Dimensões: 274 cm × 163 cm.


Imagem B


Antônio Parreiras/Museu de Arte de São Paulo, São Paulo

Antônio Parreiras. Iracema, 1909. Óleo sobre tela. Dimensões: 61 cm × 92 cm. Obra inspirada pelo romance Iracema, de José de Alencar.



Antônio Parreiras (1864-1917) foi pintor, desenhista e ilustrador, de Niterói (RJ). Estudou inicialmente na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, depois prosseguiu os estudos na Europa. A partir de 1899, recebe encomendas de execução de painéis em alguns palácios e prédios públicos produzindo pinturas de cenas históricas.

Imagem C


Cândido Portinari/Coleção Particular, Rio de janeiro

Cândido Portinari. Índia carajá, 1961.Óleo sobre madeira. Dimensões: 65 cm × 42,5 cm.



Cândido Portinari (1903-1962), pintor, gravador e ilustrador, de Brodósqui (SP). Estudou inicialmente na Academia Nacional de Belas Artes, depois prosseguiu os estudos na Europa. Portinari pretendia criar uma pintura caracteristicamente nacional, baseada em tipos brasileiros, e procurou seguir esse caminho retratando especialmente trabalhadores do Brasil. Também incorporou grande aprimoramento técnico conforme tendências da pintura ocidental na primeira metade do século XX .



3. Reúna-se com alguns colegas para produzir um trabalho de pesquisa a ser exposto no mural da classe. Cada equipe, sob a orientação do professor, ficará responsável pela pesquisa de uma destas questões:

a) Que brasileiras afrodescendentes — do campo político, da cultura, da ciência, da mídia ou de sua família — vocês admiram? Tragam para a escola fotos e textos sobre elas.

b) Que mulheres de nações indígenas se destacam na política, na cultura, na ciência ou na mídia brasileira hoje? Ou se destacam em sua família? Tragam para a escola fotos e textos sobre elas.

Selecionado o material mais representativo da pesquisa, organizem no mural um painel com esses resultados.



4. Tendo em vista os painéis resultantes das pesquisas, discutam na classe:

a) Que equipes tiveram maior dificuldade para encontrar um número significativo de mulheres afrodescendentes e indígenas que se destacam na cultura, na política, na ciência, na mídia? Na opinião da equipe, por que houve tal dificuldade ou facilidade?

b) Qual é a imagem dessas mulheres no Brasil de hoje? Na opinião do grupo, essa imagem corresponde à realidade ou é falsa? Por quê?
c) Indígenas provenientes de diversas tribos e africanos escravizados fizeram parte da formação do povo brasileiro. Na opinião da equipe, em que medida se percebe a influência desses grupos na sociedade brasileira contemporânea? E na língua portuguesa que praticamos no Brasil?
Hoje o português é a língua materna da maioria dos brasileiros. Mas essa hegemonia não se dava nos primeiros tempos da colonização: até o fim do século XVII, o português era só uma das línguas faladas pelos cerca de 300 mil habitantes da América portuguesa.

No caso dos africanos, por exemplo, a comunicação era feita por meio de uma língua veicular, isto é, uma língua de que se serviam os falantes de línguas distintas para se comunicar uns com os outros.

São poucos os estudos sobre a influência das línguas negro-africanas na formação do português praticado no Brasil. Isso se deve ao fato de os escravizados que vieram para cá usarem, em sua maioria, línguas de tradição oral. Como a cultura ocidental atribui à escrita muito prestígio social, ainda hoje há certa resistência à legitimidade dessas influências.

Leia a seguir uma entrevista com Yeda Pessoa de Castro, que é etnolinguista, ou seja, pesquisadora das relações entre as línguas e as visões de mundo de comunidades e povos.



Famílias linguísticas

Denomina-se família linguística o grupo de línguas provenientes de uma mesma linhagem, isto é, que derivam de uma língua ancestral comum.

A língua que falamos, o português, pertence à família linguística
indo-europeia, considerada o eixo comum das línguas oficiais dos países da Europa ocidental, mais especialmente ao ramo românico (de origem latina), assim como o italiano, o francês, o castelhano, etc.

No Brasil, é preciso considerar também a influência de diversas línguas indígenas e de várias línguas africanas na constituição do português praticado aqui.




Texto 1

Nossa língua africana

A proximidade entre o português arcaico e as línguas do grupo banto resultou no português que falamos hoje”. Entrevista com a professora
Yeda Pessoa de Castro.


Por Marcello Scarrone

Em Angola, ela é Yeda “Mun-tu” Castro. Na Nigéria, é Yeda Pessoa “Olobumim” Castro. Vem de longe a relação da etnolinguista e professora da Universidade do Estado da Bahia com a cultura africana. Ainda criança, em Feira de Santana, Yeda viu-se com o desejo de decifrar a incompreensível língua falada pelos negros. Desejo que a levou a desbravar um caminho em tudo pioneiro: mestrado na Nigéria, doutorado no Zaire e a descoberta de uma herança linguística fundamental para o português falado no Brasil.

Se nos orgulhamos de falar “cantano”, devemos agradecer ao gosto das línguas banto pelas vogais. Vem da mesma fonte africana o costume de abolir os plurais, como em “as criança” e “os menino”. A conversa de Yeda Pessoa de Castro com a RHBN foi cheia de exemplos saborosos assim. [...]

Omitida durante muito tempo na história oficial brasileira, a afrodescendência venceu a batalha da língua.

1 Todo brasileiro é culturalmente negro, como disse Gilberto Freyre?

Não podemos generalizar. A cultura brasileira é em parte negra, mas depende do grau de presença africana pelas várias regiões. Mas a língua portuguesa que falamos, sim: esta é culturalmente negra. Ela é resultado de três grandes famílias linguísticas: a família indo-europeia, com a participação dos falantes portugueses, a família tupi, com a participação dos falantes indígenas, e a família níger-congo, com a participação dos falantes da região subsaariana da África.


português arcaico: a língua portuguesa falada e escrita no tempo em que os lusitanos chegaram às terras brasileiras.

Zaire: desde 1997, denomina--se República Democrática do Congo.

Gilberto Freyre (1900-1987): sociólogo, antropólogo e escritor recifense. Sua obra, em que se destaca Casa-grande & senzala (1933), é um marco nos estudos sobre o Brasil: Freyre foi pioneiro na análise da nossa cultura como fruto do encontro de culturas. Seu método foi inovador, pois partiu de observações do cotidiano, de narrativas orais e de documentos pessoais, fontes até então deixadas de lado pelos pesquisadores.

2 Por que a participação da família africana é tão importante?

Durante três séculos, a maior parte dos habitantes do Brasil falava línguas africanas, sobretudo línguas angolanas, e as falas dessas regiões prevaleceram sobre o português. Antes se ignorava essa participação, se dizia que o português do Brasil ficou assim falado devido ao isolamento, à predominância cultural e literária do português de Portugal sobre os falantes negros africanos analfabetos. Eles realmente não sabiam ler ou escrever português, mas essas teorias eram baseadas em fatores extralinguísticos. Eu introduzi nessa discussão a prevalência e a participação dos falantes africanos, sobretudo das línguas níger-congo, que são cerca de 1 530 línguas. As mais faladas no Brasil foram as do Golfo do Benim [“sudanesas”] e da região bantu, sobretudo do Congo
e de Angola.

3 São as chamadas de ioruba?

Ioruba são as línguas antes chamadas de sudanesas. Hoje as chamamos de línguas da África ocidental, ou línguas oeste-africanas. Destas, as mais faladas no Brasil foram o ioruba, que geralmente chamamos de nagô, e a língua fon, do grupo ewe-fon, que nós chamamos de jeje.

[...]


4 Começou sua pesquisa por onde?

Comecei em Salvador, levantando esse vocabulário, essa fala, mas tive a felicidade de poder sair do Brasil. Valia a pena sair do Brasil naquele momento, anos 60, muito conturbados, não é? Fui para a Nigéria, para a cidade de Ibadan, era uma zona de língua ioruba e na vizinhança se falava fon, jeje. Então fiz um trabalho sobre ioruba e fon. Até aquele momento era concepção vigente que a maior influência que havia no Brasil era a da presença ioruba/nagô.

5 Não se conhecia a influência bantu?

Nina Rodrigues, quando estudou a influência africana no Brasil, fez um trabalho primoroso com os dados etnográficos que existiam. As pessoas o acusam de racista, mas eram as teorias vigentes na época. Quem garante que amanhã ou depois alguém não irá dizer que nós também somos racistas, e que essa teoria não vale nada? Nina começou a estudar a população negra africana em Salvador no momento em que havia uma grande concentração de falantes ioruba, ficou impressionado e afirmou que a mais importante influência africana no Brasil era ioruba. [...] Para Nina, o resto é o resto, não tem legitimidade, para Pierre Verger também. [...]

Só mais tarde, em 76, quando voltei a Salvador e fui ao Caribe também, comecei a perceber que havia muito mais coisas que não eram ioruba. Havia bantu. Esqueceram que a maioria, 75% dos cerca de 4 milhões de negros escravizados no Brasil, era de procedência bantu. [...]


O Brasil na década de 1960

Em 31 de março de 1964, um golpe militar afastou o então presidente da República, João Goulart. A ditadura civil-militar iniciada nesse momento se estenderia até 15 de janeiro de 1985. Os militares na época justificaram o golpe sob a alegação de que o país sofria uma ameaça comunista.

Esse período foi marcado pela prática de Atos Institucionais, que respaldavam a censura, a perseguição política, a supressão de direitos constitucionais. O Alto Comando das Forças Armadas controlava a sucessão presidencial, indicando um candidato militar, que era referendado pelo Congresso Nacional.

O país enfrentava uma série de problemas políticos, sociais e econômicos, o que favoreceu às Forças Armadas tomarem o poder e encontrarem apoio em parte da população civil.

Economicamente foi possível fazer com que o país crescesse de 1969 a 1973 por meio de investimentos internos e empréstimos do exterior. Esse crescimento, porém, provocou outro problema grave: os empréstimos contratados geraram uma dívida externa muito elevada.

Enfrentando o fim do desenvolvimento econômico e a crescente insatisfação popular, o general Ernesto Geisel assume o cargo de presidente do Brasil em 1974 e inicia um lento processo de transição para a redemocracia.


Golfo do Benim: situado na parte setentrional do golfo da Guiné, estende-


-se ao longo da costa ocidental da África desde o cabo St. Paul, no Gana, até a foz do rio Níger, na Nigéria.

sudanês: forma como os árabes que ocupavam o norte da África se referiam aos habitantes das regiões ao sul do deserto do Saara. Sudão — termo derivado do árabe bila das-su da n, que quer dizer “país dos negros” — designava então toda a África subsaariana; daí o fato de os povos que lá habitavam serem chamados indistintamente de sudaneses. Tal nomenclatura porém não tem ligação com o país atualmente denominado Sudão.

Nina Rodrigues (1862-1906): médico legista, professor e etnólogo brasileiro. Foi um estudioso da religião e das línguas praticadas pelos afro-brasileiros, sobretudo em Salvador (BA). Seus estudos, de base positivista, são hoje considerados preconceituosos, pois ele defendia a “superioridade” das culturas europeias sobre as africanas e as indígenas.

6 O que descobriu?

[...] No Congo descobri o que aconteceu no Brasil: a proximidade que houve por acaso entre o português arcaico e as línguas do grupo bantu, que resultou no português que falamos hoje.

7 No que resultou a combinação dessas línguas?

As línguas do grupo bantu não têm grupos consonantais, não têm uma sílaba fechada por consoante. O resultado é que nosso português é riquíssimo em vogais, afastado do português lusitano, muito baseado nas consoantes. O baiano fala cantando? Todo brasileiro fala cantando — aliás “cantano”, porque a gente sempre evita consoantes. A parte sonora da palavra é a vogal, e nós fazemos questão de cantar. No futebol nós dizemos “gou”, em Portugal dizem golo, para acentuar a consoante. Nossa língua é vocalizada, nós colocamos vogais até mesmo onde elas não existem. Pneu: nós usamos duas sílabas. [...] Fui ver a estrutura silábica do português arcaico e a formação silábica e o processo fonológico das línguas faladas em Angola e no Congo, e reparei numa extrema coincidência: é o mesmo tipo de estrutura silábica: consoante-vogal-consoante-vogal o tempo inteiro. Houve o mesmo tipo de encontro do português arcaico com essas línguas, que eram faladas majoritariamente no Brasil. Em vez de haver um choque, em vez da necessidade de emergir outro falar, um falar crioulo, não: houve simplesmente uma acomodação, devido às coincidências dessas estruturas linguísticas.

8 Que outras características nosso português herdou?

A eliminação dos plurais, por exemplo. Marcamos o plural pelo artigo que antecede o substantivo, mas o substantivo fica no singular: “os menino”, “as criança”, isso é normal no Brasil. Por quê? Porque nas línguas do grupo bantu o plural das palavras se faz por prefixo. A linguagem popular do Brasil, em qualquer região, tem as mesmas características: evitar grupos consonantais, substantivo sempre no singular, além da dupla negação, “eu não sei não”: isso é africano, o português de Portugal jamais diz isso. Também começar a frase com pronomes átonos: me diga, me fala, a gente começa a frase usando próclise. A mesóclise do português desapareceu na linguagem do Brasil: “dir-te-ei”, ninguém diz isso.

9 Em que situações o português do Brasil é mais africano?

O nível mais próximo que tínhamos de vestígios de línguas africanas é o das linguagens religiosas: a dos vissungos em Minas Gerais, a do candomblé da Bahia, a da umbanda. A linguagem estava lá, não mais como competência linguística, mas como competência simbólica. Esta foi outra descoberta do meu trabalho: a competência simbólica. Quando as pessoas recebem uma entidade, vamos dizer, Oxum, rainha das águas (eu também sou filha de Oxum), há a saudação “Olele ô”. O que é “Olele ô”? Não interessa, a saudação é aquela. Isso é competência simbólica. [...]

©Wikimedia Commons/Charles Mallison



Pierre Verger (1902-1996), fotógrafo, etnólogo, antropólogo e pesquisador francês, viveu grande parte da sua vida na cidade de Salvador (BA). Estudou e fotografou as culturas afro-baianas, particularmente o candomblé. Em 1952, ano em que tirou esse autorretrato, Verger se tornou babalaô (“pai dos segredos”) e assumiu o nome religioso de Fatumbi.

fonológico: relativo à fonologia, área da Linguística que estuda o sistema de sons da língua.

vissungo: canto ritual afro-brasileiro, entoado sobretudo durante o trabalho por escravizados de origem banto trazidos para o Brasil para trabalhar na mineração de ouro e diamante nos séculos XVII e XVIII.

Samuel Casal/Arquivo da editora

10 A língua se transforma segundo o estrato social?

O nível que vem depois da linguagem popular é o do falar mais cuidado, este que nós estamos usando aqui, e com tom regional. E enfim o português literário do Brasil, o português escrito, que obedece aos padrões da norma da língua portuguesa como um todo. À medida que você se aproxima desse nível, a influência africana diminui, devido à escolaridade. Quando somos menos alfabetizados, falamos mais africanizado. Quando somos mais alfabetizados, falamos mais aportuguesado. Mesmo assim não se consegue inibir esses traços, que estão na constituição do português do Brasil. [...]

REVISTA de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, 1o maio 2015. Disponível em:


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