Língua Portuguesa volume 1



Yüklə 3,8 Mb.
səhifə38/45
tarix27.12.2018
ölçüsü3,8 Mb.
#87469
1   ...   34   35   36   37   38   39   40   41   ...   45
. Acesso em: 9 abr. 2016.

Texto 2


http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/Estreia-Os-12-trabalhos-de-Ricardo-Elias/12/12608

Estreia Os 12 trabalhos, de Ricardo Elias

Silas Marti

Talvez seja colorida demais a São Paulo retratada por Ricardo Elias em Os 12 trabalhos, segundo longa-metragem do diretor, que estreia sexta-feira, 9, nos cinemas. Numa alegoria paulistana do mito de Hércules, o cineasta apresenta o mundo dos motoboys como uma realidade dura [...].

Héracles, interpretado pelo estreante Sidney Santiago, premiado nos festivais do Rio e de Gramado, é um jovem negro com passagem pela Febem que decide mudar de vida. Ele abandona o tráfico e, com a ajuda do primo Jonas, Flávio Bauraqui [...], vai trabalhar como motoboy, mas, antes de assinar o contrato, terá de passar por 12 provas.

Não por acaso, a empresa se chama Olimpo Express, braço da filial hercúlea montada por Elias na capital paulista. Assim como o herói grego, Héracles busca a redenção, no caso um emprego, que o tire da vida do crime. A escolha de um motoboy como protagonista foi a ideia do diretor para fazer uma radiografia vertical dos estratos sociais de São Paulo.




Na mitologia greco-romana, o herói Hércules é filho de Zeus, o deus mais poderoso, e uma mortal. Seu nascimento provoca a ira de Hera, a esposa de Zeus, que envia duas serpentes para matarem o recém-nascido. Este, porém, sem grande esforço, estrangula as duas, mostrando desde cedo sua força descomunal.

Quando Hércules torna-se adulto, Hera, ainda inconformada, usa seus poderes para provocar um acesso de loucura no herói, que mata então a própria esposa e os filhos. Ao recuperar a razão, Hércules procura o Oráculo de Delfos — o mais famoso templo de consulta às divindades gregas — em busca de orientação.

O Oráculo orienta-o a servir a Euristeu, rei da cidade de Micenas. Este ordena a Hércules a realização de doze tarefas fenomenais, que ele executa com bravura, redimindo-se de seu ato de loucura.

Num mesmo dia, Héracles pode ser terapeuta, assistente social e babá. Os contatos são rasos, mas intensos, já que ele aparece em momentos de dor, separação ou angústia na vida de cada um. Ele transporta e quase perde o gato de uma professora aposentada, acompanha um idoso para fazer exames médicos, [...] presencia a despedida de dois apaixonados no aeroporto e faz as vezes de psicólogo numa conversa com a namorada do primo recém-abandonada.

Tendo as ruas e avenidas de São Paulo como estrutura tensa de trocas, o motoboy circula pelo sistema como célula vital, gozando às vezes da perspectiva de um parasita. Entra nas casas mais humildes e prédios de executivos no mesmo dia, levando pedidos de divórcio e ordens de despejo.

Em tom onisciente, Héracles prevê o futuro de cada personagem que cruza seu caminho. É nesses momentos que o ar profético da narração em off mergulha a trama num fatalismo fácil: uma falta de esperança e desespero às vezes precoce que pouco tem a ver com a cidade ensolarada de cores vibrantes captada pelas lentes de Elias. Não que um filme sobre a falta de perspectivas e a crise da juventude tenha de ser mais agressivo no diálogo e menos colorido nas imagens.

Oscilando entre o risco de morte no asfalto e o contato romantizado com os clientes, sem contar as cenas fantásticas que ilustram os desenhos em quadrinhos que ele rabisca nos momentos livres, o roteiro revela uma esquizofrenia latente entre a vontade de realizar um retrato lírico dos jovens da periferia, longe do fatalismo evidente em algumas cenas, e o gosto amargo do sangue esparramado pelas ruas em acidentes fatais — segundo estatísticas, dois motoboys morrem por dia em acidentes de trânsito em São Paulo.

Mas a esquizofrenia é válida porque não deixa de ser verdadeira numa cidade como São Paulo. E, como mostra o roteiro, há luz no fim do túnel. [...]

Disponível em: 12/12608>. Acesso em: 9 abr. 2016.
©Imovision/Reprodução

Capa do DVD do filme Os 12 trabalhos, de Ricardo Elias, 2007. No destaque, o ator Sidney Santiago no papel de Héracles, o protagonista.

a) No texto 1, qual é a definição de herói?
b) De que modo o filme analisado no texto 2 reafirma o texto 1?
c) Em sua opinião, por que o diretor e o roteirista do filme escolheram a profissão de motoboy para o personagem?
d) Comparando os dois textos, por que podemos dizer que o personagem do filme é um herói do cotidiano?

2. Reúna-se com alguns colegas para resolverem a seguinte questão.

No filme, Héracles, o candidato a motoboy, precisa vencer 12 obstáculos, uma sequência de 12 aventuras que servem de teste para mostrar seu caráter e sua tenacidade e, com isso, garantir-lhe o emprego. A proposta desta atividade é vocês produzirem outras aventuras para esse personagem provar suas habilidades.


a) Cada componente da equipe deverá escolher um obstáculo para Héracles superar. Em relação à aventura escolhida, cada um escreverá: qual é a tarefa, de que modo ele a cumprirá, qual o sentido dela na situação do motoboy, etc. Com base nessas anotações, deve ser criado o esboço de uma cena para a filmagem.

b) Quando a escrita estiver pronta, cada componente deverá ler para os demais do grupo e justificar a escolha da tarefa: por exemplo, a tarefa testa a paciência do garoto ou seu comprometimento com o trabalho?

c) Será importante que as tarefas não se repitam. Se houver repetição, um dos produtores deverá escrever outra tarefa.

d) Quando as tarefas estiverem definidas, o grupo deverá organizar um cartaz com as doze tarefas de Héracles de um lado e as justificativas de outro.


Aproveite para...

... ler

Orlando Villas Bôas: história e causos, de Orlando Villas Bôas,
editora FTD.

Trata-se de uma autobiografia do indigenista Orlando Villas Bôas, falecido em 2002. Ele relembra a trajetória de sua vida, em especial o mergulho na cultura de diversas nações indígenas, a Expedição Roncador-Xingu, assim como a formação do Parque Indígena Xingu. Parte da obra é dedicada à discussão da política indigenista no Brasil. Seu ponto de vista apoia-se em décadas de estudo e em sua vivência entre as etnias do Xingu. O livro reúne fotos, mapas e ilustrações com motivos indígenas de povos dessa região. Para homenagear o indigenista, há um capítulo especial com fotos originais e um texto da família Villas Bôas narrando a cerimônia do Kuarup feita em sua memória.



Contos indígenas brasileiros, de Daniel Munduruku, editora Global.

Essa obra reúne mitos de diversos povos indígenas recontados por Daniel Munduruku. Essas histórias remetem o leitor à sua própria memória ancestral dando sentido à sensação de estar no mundo.



Ore awé roiru’a ma: todas as vezes que dissemos adeus, de Kaká Werá Jecupé, editora Triom.

Nessa obra Kaká Werá Jecupé, dos Caiapó, narra a busca pelas raízes ancestrais ao percorrer aldeias e ao passar por rituais de iniciação espiritual dos povos tapuia e guarani. Ele lamenta o fato de ver sua aldeia ser envolvida pelo crescimento desenfreado da cidade de São Paulo, que interfere nos costumes e na qualidade de vida das comunidades em que vivem os últimos sábios e pajés de seu povo.



Sehaypóri: o livro sagrado do povo Saterê-Mawé, de Yaguarê Yamã, editora Peirópolis.

Esse livro reúne lendas e fábulas de animais criadas e divulgadas com a finalidade de ensinar a origem das coisas, apresentando ao leitor a cultura e o imaginário dos saterê-mawés. Trata-se de uma homenagem aos pajés da nação do autor, Yaguarê Yamã, que buscam no espírito natural a resposta para as dúvidas da alma. Como seus antepassados, o autor narra as memórias de sua gente para preservar a tradição de uma geração para outra, além de, com o registro escrito, compartilhar essas narrativas também com outros povos.



Um dia na aldeia, de Daniel Munduruku, editora Melhoramentos.

A obra mostra o cotidiano de um garoto munduruku — o que ele faz durante o dia, suas brincadeiras com os amigos, as atividades de caça e de pesca da qual participa. O livro apresenta também o modo de ele se relacionar com os demais membros da tribo.



Um estranho sonho de futuro, de Daniel Munduruku, editora FTD.

Um garoto da cidade grande vai passar alguns dias na aldeia munduruku, no Pará. Tendo um narrador munduruku, que acompanha o menino pela viagem, o relato contrapõe todo o tempo o modo de viver dos mundurukus e o da cidade grande, convidando o leitor à reflexão dos conceitos sustentados pelo preconceito, pela intolerância ou mesmo pela falta de informação.


©Editora FTD/Reprodução

©editora global/reprodução

©Editora e Centro de Estudos Triom/Reprodução

©editora melhoramentos/reprodução

©Editora Melhoramentos/Reprodução

©Editora FTD/Reprodução


... acessar

http://indigenas.ibge.gov.br/

Trata-se de página do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) criada em 2012 em comemoração ao Dia do Índio. Acesso em: 13 maio 2016.

http://www.indiosonline.net/

Índios on-line é um portal de diversas comunidades indígenas, produzido para que possam expressar suas ideias de modo que todos possam compartilhar assuntos relacionados a esses povos. Trata-se um canal de diálogo com essas comunidades. É possível encontrar no portal artigos, matérias jornalísticas e fotos relativas à situação desses povos. Acesso em: 13 maio 2016.

http://www.institutotomieohtake.org.br/exposicoes/interna/historias-mesticas

Página sobre a exposição Histórias mestiças, realizada em 2014 no Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, SP). As obras abordam a questão da mestiçagem brasileira, que carrega tanto a ideia de inclusão quanto a de exclusão. A exposição visa despertar, no público, o desejo de conhecer mais profundamente as diferentes histórias silenciadas em nosso processo de formação. Acesso em: 13 maio 2016.

http://www.museudoindio.org.br/

Trata-se de uma revista on-line voltada para a expressão dos povos indígenas e sua cultura. Traz artigos, fotos, informações curiosas. O visitante também pode consultar um dicionário de termos indígenas com indicação da transcrição ortográfica, língua, família e tronco linguístico a que pertence o termo. Acesso em: 13 maio 2016.

http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001545/154565por.pdf

Trata-se de publicação de 2006 disponível on-line produzida pela Unesco a respeito dos indígenas brasileiros. Denominada O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje, a obra foi escrita pelo mestre em Antropologia Social Gersem dos Santos Luciano, dos Baniwa. A obra apresenta diversos dados sobre as condições de vida dos povos indígenas na atualidade e suas perspectivas. Acesso em: 13 maio 2016.
©Dreamstime.com/Allexxandar

Unidade 8

A vida que se recria

Nesta unidade, você lerá trechos de romances e de outras narrativas de autores de diversas partes do mundo: Mia Couto (Moçambique), Italo Calvino (Itália), José Saramago (Portugal), Ondjaki (Angola) e Milton Hatoum (Brasil). Poderá identificar os elementos próprios da organização do gênero textual romance e terá a oportunidade de discutir a relação entre tempo e memória tendo por base textos literários e obras produzidas em linguagem visual.



Objetivos

Ao final desta unidade, verifique o que você aprendeu em relação aos seguintes objetivos:

▸ Ler e interpretar trechos do gênero romance observando os recursos de estilo utilizados.

▸ Relacionar os recursos expressivos ao principal evento do fragmento do romance lido.

▸ Observar a variação da regência de alguns verbos a partir do contexto.

▸ Empregar adequadamente os pronomes pessoais oblíquos.

▸ Observar os diferentes tipos de discurso em uma narrativa e produzir um capítulo de romance.

▸ Produzir com os colegas uma mesa-redonda para discutir se os jovens de hoje gostam ou não de ler.

▸ Identificar a expressão do conceito de tempo e do trabalho com a memória em diversos textos literários e refletir sobre a passagem do tempo e suas marcas.

▸ Observar obras artísticas produzidas em linguagem visual e seu modo de expressar a passagem do tempo.

▸ Ler sobre a imagem que se tem dos idosos em nossa sociedade e refletir sobre esse assunto com os colegas.

Ivan Serpa/Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro


Ivan Serpa. Eles e elas, 1965. Óleo sobre tela. Dimensões: 90 cm × 100 cm. O artista carioca Ivan Serpa fez experiências com diversos estilos de pintura, desenho e gravação no século XX. Na pintura reproduzida acima, nota-se um trabalho figurativo de linhas sinuosas e cores fortes e alegres. A tela se divide em colunas: ocupando metade da tela à esquerda, uma mulher e um homem se destacam; na outra metade, vários rostos, a maioria voltada para essa dupla, dividem o espaço com a figura de uma mulher, talvez a mesma que está à esquerda da tela, agora com o rosto de dois homens próximos a ela. Observe que os perfis da multidão acompanham os encontros e desencontros amorosos pintados: à esquerda, é o homem quem tem o coração exposto no peito; à direita, é a mulher que expõe o coração no peito. Preste atenção à postura dos personagens: à esquerda, a mulher, um pouco tímida, parece ouvir o que o homem, mais à vontade e com o corpo exposto para o leitor, diz; à direita, a mulher domina o espaço, seu rosto se volta sorridente e de forma carinhosa sobretudo para o perfil masculino pintado de verde que a acompanha. A tela dá ideia de histórias de amor alternando o ser que se apaixona, ou retrata uma só narrativa amorosa cujo equilíbrio de forças muda: ora o homem se apaixona e se revela, ora a mulher. O fundo das cenas é tomado por tons de branco e por azul.

O romance

Língua e produção de texto

Interdisciplinaridade com: Arte, Educação Física, Geografia, História, Sociologia.

Não escreva neste livro.

Para começar

1. Você já leu algum livro que tenha realmente prendido sua atenção? Algum livro com uma história envolvente, que tenha feito você mergulhar no mundo dos personagens?

Se isso já aconteceu, responda: qual é o título desse livro? E qual seu autor?


2. Caso isso ainda não tenha acontecido com você, ou seja, ter lido um livro tão envolvente, faça o seguinte exercício: vá à biblioteca da escola ou da cidade onde mora e selecione o livro de ficção que quiser.

Para fazer essa escolha, você pode passear pela biblioteca e:



procurar o nome de um autor de que você goste;

ler os diferentes títulos das obras;

tentar descobrir o assunto de que o livro trata e ler os textos da quarta capa (a capa do lado de trás do livro) e da orelha (um pedaço da capa que costuma vir dobrado para o lado de dentro do livro e que pode servir de marcador de página).
3. Agora, prepare uma exposição oral com as seguintes informações:

título do livro, quem escreveu a obra e do que ela trata;

como esse livro chegou até você;

motivo pelo qual você se interessou por ele;

quem são os personagens principais;

em que situação se encontravam os personagens no começo da história e qual foi o principal conflito vivido por eles.
Em sua apresentação, não conte toda a história: pare no ponto em que ela fica mais interessante para que os colegas possam buscar a continuação no próprio livro.

Se puder, traga o livro para a classe e mostre detalhes de sua confecção para os colegas: capa, quarta capa, ilustrações, orelha, etc.



Texto 1

Você vai ler na próxima página um fragmento do romance Antes de nascer o mundo, do escritor moçambicano Mia Couto.

A história é contada pelo jovem Mwanito, filho mais novo de um homem cujo maior objetivo é recriar, na remota savana moçambicana onde se instalou, um novo e isolado mundo que o mantenha distante do contato com as outras pessoas e, principalmente, de seu passado.

No fragmento que segue, Mwanito fala dos momentos em que ficava em silêncio ao lado do pai para ajudá-lo a se esquecer e a se distanciar, por instantes, de seus ressentimentos.


savana: planície de regiões quentes e secas nas quais predomina vegetação rasteira, com poucas árvores.

Eu, Mwanito, o afinador de silêncios



Mia Couto

[…]


A família, a escola, os outros, todos elegem em nós uma centelha promissora, um território em que podemos brilhar. Uns nasceram para cantar, outros para dançar, outros nasceram simplesmente para serem outros. Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo silêncio é música em estado de gravidez.

Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.

Venha, meu filho, venha ajudar-me a ficar calado.

Ao fim do dia, o velho se recostava na cadeira da varanda. E era assim todas as noites: me sentava a seus pés, olhando as estrelas no alto do escuro. Meu pai fechava os olhos, a cabeça meneando para cá e para lá, como se um compasso guiasse aquele sossego. Depois, ele inspirava fundo e dizia:

Este é o silêncio mais bonito que escutei até hoje. Lhe agradeço, Mwanito.

Ficar devidamente calado requer anos de prática. Em mim, era um dom natural, herança de algum antepassado. Talvez fosse legado de minha mãe, Dona Dordalma, quem podia ter a certeza? De tão calada, ela deixara de existir e nem se notara que já não vivia entre nós, os vigentes viventes.

Você sabe, filho: há a calmaria dos cemitérios. Mas o sossego desta varanda é diferente.

Meu pai. A voz dele era tão discreta que parecia apenas uma outra variedade de silêncio. Tossicava e a tosse rouca dele, essa, era uma oculta fala, sem palavras nem gramática.

Ao longe, se entrevia, na janela da casa anexa, uma bruxuleante lamparina. Por certo, meu irmão nos espreitava. Uma culpa me raspava o peito: eu era o escolhido, o único a partilhar proximidades com o nosso progenitor:

Não chamamos o Ntunzi?

Deixe o seu irmão. É consigo que mais gosto de ficar sozinho.

Mas estou quase a ter sono, pai.

Fique só mais um pouco. É que são raivas, tantas raivas acumuladas. Eu preciso afogar essas raivas e não tenho peito para tanto.

Que raivas são essas, meu pai?

Durante muitos anos alimentei feras pensando que eram animais de estimação.

Queixava-me eu do sono, mas era ele quem adormecia. Deixava-o cabeceando na cadeira e regressava para o quarto onde Ntunzi, desperto, me esperava. O meu irmão me olhava com mistura de inveja e comiseração:

Outra vez essa treta do silêncio?

Não diga isso, Ntunzi.

Esse velho enlouqueceu. E o pior é que o gajo não gosta de mim.

Gosta.

Por que nunca me chama a mim?

Ele diz que sou um afinador de silêncios.

E você acredita? Não vê que é uma grande mentira?

Não sei, mano, que hei-de fazer se ele gosta que eu fique ali, todo caladito?

Você não percebe que isso é tudo conversa? A verdade é que você lhe traz lembranças da nossa falecida mãe.

Mil vezes Ntunzi me fez recordar o motivo por que meu pai me elegera como predilecto. A razão desse favoritismo sucedera num único instante: no funeral da nossa mãe, Silvestre não sabia estrear a viuvez e se afastou para um recanto para se derramar em pranto. Foi então que me acerquei de meu pai e ele se ajoelhou para enfrentar a pequenez dos meus três anos. Ergui os braços e, em vez de lhe limpar o rosto, coloquei as minhas pequenas mãos sobre os seus ouvidos. Como se quisesse convertê-lo em ilha e o alonjasse de tudo que tivesse voz. Silvestre fechou os olhos nesse recinto sem eco: e viu que Dordalma não tinha morrido. O braço, cego, estendeu-se na penumbra:

Alminha!

E nunca mais ele proferiu o nome dela. Nem evocou lembrança do tempo em que tinha sido marido. Queria tudo isso calado, sepultado em esquecimento.

COUTO, Mia. Antes de nascer o mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 13-16.

GlowImages/Alamy/brianafrica



Estrada construída em savana. Moçambique, 2005.

centelha: lampejo, mostra de capacidade.

apurar: tornar puro ou perfeito; aperfeiçoar.

pasmado: espantado, apavorado; parado, inerte.

desempenhado: envolvido em uma atividade.

menear: mover de um lado para o outro.

bruxuleante: oscilante; agonizante.

comiseração: compaixão.

gajo: homem, sujeito, "cara".

caladito: caladinho.

O autor

Mia Couto (1955-), biólogo, jornalista e escritor, nasceu em Beira, em Moçambique. Publicou contos, romances e poemas e foi homenageado com diversos prêmios literários, como o Prêmio Camões, em 2013, o mais prestigioso da língua portuguesa. Em seus textos os dramas reais vividos pelos personagens são narrados em uma prosa poética na qual a tradição narrativa africana ajuda a tecer a trama. Mia Couto é membro correspondente da Academia Brasileira de Letras. Fotografia de 2007.

Futura Press/O tempo/Bruno Figueiredo

Malangatana Ngwenya/Galeria Museu Hloyasi, Moçambique



Malangatana Ngwenya. Onde estão os meus pais, os meus irmãos e os outros?, 1986. Óleo sobre tela. Dimensões: 232 cm × 198 cm.

A difícil história do povo moçambicano é pano de fundo de muitas das obras de Mia Couto. O país que, como o Brasil, foi colônia de Portugal e tem como língua oficial o português, enfrentou sangrentos conflitos armados no século XX, antes, durante e depois de sua independência, em 1975. Os reflexos dessa situação ainda afetam profundamente os moçambicanos.

A pintura do artista plástico moçambicano Malangatana (1936-2011), em que se destacam a cor vermelha e elementos típicos do universo mítico moçambicano, transmite o sangue e o horror próprios de um contexto de guerra.


Interpretação do texto

Todo texto escrito tem um estilo, o qual pode estar em consonância com as características literárias de uma época ou simplesmente ser o modo de expressão encontrado pelo autor para dar voz ao seu narrador e aos seus personagens.

Podemos identificar o estilo de um autor a partir da comparação de seus textos com outros tantos já publicados por autores diversos. Quanto maior o repertório do leitor, mais facilmente ele identifica certas influências e rupturas com obras anteriores.

De qualquer modo, o estilo de um autor evidencia os recursos encontrados por ele para conseguir determinados efeitos pretendidos junto ao leitor. Buscar desvendar esses recursos, longe de ser uma forma de desconstruir uma obra, pode ser uma maneira de lançar luz sobre ela, de melhor interpretá-la.

É impossível ficar indiferente ao estilo de Mia Couto nesse fragmento de Antes de nascer o mundo, em especial porque as sentenças, as frases, são criadas mediante rupturas, quebras de expectativa, buscando a perplexidade do leitor com o enredo e, sobretudo, com o que é sentido pelos personagens.

Vamos dividir o estudo desse texto em duas partes: na primeira, vamos recuperar dados importantes do conteúdo, informações sobre os personagens e os conflitos vividos por eles; na segunda, vamos verificar como a forma e os recursos estilísticos adotados pelo autor contribuíram para a intensificação do conflito dos personagens.



Primeira parte — Conteúdo

1. Quem são os personagens presentes nesse fragmento? Como são as relações entre eles?

2. A que Ntunzi atribui a predileção de Silvestre por Mwanito?

3. Em que momento e de que modo Silvestre teria descoberto o prazer do silêncio na companhia do filho?

Segunda parte — Forma

Observe este trecho:

"Uns nasceram para cantar, outros para dançar, outros nasceram simplesmente para serem outros. Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio."

As orações do primeiro período trazem uma sequência de atividades concretas — cantar, dançar —, de alcance social e que podem depender de uma vocação e de certo esforço para o seu exercício. Essa sequência de atividades é interrompida por outra, que quebra a expectativa criada inicialmente: “nasceram [...] para serem outros. Eu nasci para estar calado”, como se “ser outro” e “estar calado” pudessem ser consideradas ações do mesmo modo que as demais. Com essa construção, o narrador obriga o leitor a uma parada, que é causada pela surpresa de uma vocação inesperada.

Combinações inesperadas de termos e frases são parte da composição linguística dessa história e, por isso, o leitor envolve-se não só com o enredo, mas também com a forma como as sensações e as percepções dos personagens vão sendo mostradas a ele.

4. Releia este trecho para responder às questões propostas.

"[...] um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo silêncio é música em estado de gravidez."


a) Veja novamente o significado do verbo apurar.

Apurar: tornar puro ou perfeito; aperfeiçoar.

Em geral, o silêncio é compreendido como algo absoluto, que não permite variação. Trata-se da ausência de som, apenas. Desse ponto de vista, ele não teria como ser aperfeiçoado.

Considere as razões por que Silvestre queria seu filho mais novo calado, perto dele, e proponha uma interpretação para “um talento para apurar silêncios”.

b) O que significa “todo silêncio é música em estado de gravidez”?


c) A partir disso, explique por que, segundo o narrador, existem silêncios e não um silêncio apenas.

5. Releia o trecho a seguir.

"Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.

Venha, meu filho, venha ajudar-me a ficar calado.

Ao fim do dia, o velho se recostava na cadeira da varanda. E era assim todas as noites: me sentava a seus pés, olhando as estrelas no alto do escuro. Meu pai fechava os olhos, a cabeça meneando para cá e para lá, como se um compasso guiasse aquele sossego. Depois, ele inspirava fundo e dizia:

Este é o silêncio mais bonito que escutei até hoje. Lhe agradeço, Mwanito.

Ficar devidamente calado requer anos de prática. Em mim, era um dom natural, herança de algum antepassado. Talvez fosse legado de minha mãe, Dona Dordalma, quem podia ter a certeza? De tão calada, ela deixara de existir e nem se notara que já não vivia entre nós, os vigentes viventes.

Você sabe, filho: há a calmaria dos cemitérios. Mas o sossego desta varanda é diferente."

a) Destaque do trecho lido todos os termos, expressões e frases que elevam o silêncio à categoria de uma atividade quase artística, que exige vocação, talento, prática e gera reconhecimento alheio.


b) Em “Este é o silêncio mais bonito que escutei até hoje”, há uma aparente incompatibilidade entre o termo silêncio, que significa ausência de ruído, e o verbo escutar, que significa compreender algo pelo sentido da audição. Essa incongruência pode chamar a atenção do leitor, convidando-o a uma parada na leitura para a reflexão. Procure explicar de que modo poderia Silvestre ouvir o silêncio a ponto de julgá-lo o mais bonito.
c) Considerando o conteúdo geral desse fragmento, destaque uma diferença entre a “calmaria dos cemitérios” e o “sossego desta varanda”.
6. Observe novamente o fragmento destacado na atividade 5. Note que, a cada trecho em que o narrador comenta sua habilidade com o silêncio, segue-se uma fala do pai em discurso direto. Nessas falas de Silvestre estão explícitas marcas linguísticas importantes que indicam: aquele que fala, aquele com quem se fala e aquilo sobre o que se fala.

Veja o quadro a seguir.






Marcas linguísticas




Quem fala

Com quem fala

Sobre o que se fala, o tema

“Venha, meu filho, venha ajudar-me a ficar calado.”

me (o pai)

meu filho

ficar calado

“Este é o silêncio mais bonito que escutei até hoje. Lhe agradeço, Mwanito.”

escutei, agradeço (o pai)

lhe, Mwanito

silêncio

“Você sabe, filho: há a calmaria dos cemitérios. Mas o sossego desta varanda é diferente.”

desta (do lugar em que está o pai)

você, filho

calmaria, sossego

a) Releia as falas em discurso direto do pai de Mwanito, atentando para as marcas linguísticas indicadas no quadro. Que aspecto dessa relação entre pai e filho é reforçado pelos elementos destacados na fala de Silvestre?


b) Há, no texto, o narrador em primeira pessoa, Mwanito, que conta sua observação dos fatos e suas reflexões. Na composição da história, há, ainda, a reprodução de falas dos personagens em discurso direto, o que dá ao trecho um efeito de sentido de verdade, como se o narrador pudesse comprovar com essas falas o que conclui em suas observações. Se considerarmos as diferentes representações dos fatos — a visão do narrador, Mwanito, e a visão dos personagens Silvestre e Ntunzi (por meio das falas em discurso direto) —, é possível afirmar que a leitura que Mwanito faz das falas do pai e do irmão o levam a criar uma representação de si mesmo e de sua importância naquele contexto. Explique essa afirmação.
7. Os recursos estilísticos adotados pelo autor garantem certos efeitos de sentido no texto. Como você viu antes, combinações inesperadas de termos (“nasci para estar calado”, “silêncio mais bonito que escutei”) fazem parte da composição da história. Reescreva a frase a seguir no caderno completando-a adequadamente.

Podemos dizer que os recursos estilísticos nesse texto podem funcionar como:

a) uma representação dos medos de Ntunzi, que se sente afastado do pai e do irmão.

b) um modo de representação daquele universo familiar: ainda que surpreendam o leitor, esses recursos parecem ser a forma natural de mostrar o modo de sentir dos personagens.

c) uma forma de convencer o leitor de que os personagens são unidos, já que todos creem na importância do silêncio.

Habilidades leitoras

Ao ler o texto e resolver as questões de interpretação, você:



identificou os personagens e os principais eventos do fragmento lido;

reconheceu algumas das características do estilo de escrita do autor;

distinguiu os recursos expressivos e analisou-os à luz de seus conhecimentos do enredo;

relacionou os recursos expressivos ao principal evento relatado nesse fragmento de romance.

Texto 2

O texto a seguir foi extraído de O barão nas árvores, um romance do escritor italiano Italo Calvino. O livro conta a história do jovem Cosme, que se revolta contra os pais e decide viver nas árvores. Mesmo lá no alto, ele se envolve com os eventos de sua cidade, mas sempre com o distanciamento de quem vê tudo de cima.

Neste trecho, vemos o encontro de Cosme com um dos maiores bandidos da região, João do Mato. Observe como esse encontro desencadeia uma transformação em ambos os personagens.

Uma tarde, enquanto, acomodado em um galho, lia um livro, Cosme encontra João do Mato, que, para não ser preso pela polícia, refugia-se na árvore em que vive o jovem. Depois da partida dos policiais e feitas as apresentações, Cosme empresta ao bandido o livro que está lendo e, a partir desse momento, ocorrem vários encontros entre os dois.

O barão nas árvores

Italo Calvino

[…] João do Mato tinha suas preferências, não era possível dar-lhe um livro qualquer, caso contrário voltava no dia seguinte para Cosme o trocar. Meu irmão estava na idade em que se começa a tomar gosto pelas leituras mais densas, mas era obrigado a ir devagar, desde quando João do Mato devolveu-lhe as Aventuras de Telêmaco advertindo-o de que, se lhe desse outra vez um livro tão chato, ele serraria a árvore em que estivesse.

A esta altura, Cosme gostaria de separar os livros que desejava ler por conta própria, com toda calma, daqueles que conseguia só para emprestar ao bandido. Que nada: pelo menos uma espiada devia dar também nestes, pois João do Mato tornava-se cada vez mais exigente e desconfiado, e antes de pegar um livro queria que ele lhe contasse um pouco da trama, e ai dele se errasse. Meu irmão tentou passar-lhe romances de amor: o bandido aparecia furioso perguntando se o confundira com alguma mulherzinha. Não dava para adivinhar qual era a preferência dele.

Em resumo, com João do Mato sempre nos calcanhares, as leituras de Cosme, de distração nas horas vagas, passaram a ocupação principal, objetivo do dia inteiro. E, à força de manejar volumes, de julgá-los e compará-los, de ter de conhecer sempre outros e novos, entre leituras para João do Mato e a crescente necessidade de leituras suas, Cosme foi arrastado a tamanha paixão pelas letras e por todo saber humano que não lhe bastavam as horas do amanhecer ao pôr do sol para aquilo que gostaria de ler, e continuava também no escuro à luz de lanterna.

Finalmente, descobriu os romances de Richardson. Agradaram a João do Mato. Terminado um, logo queria outro. Orbeque conseguiu-lhe uma pilha de volumes. O bandido tinha o que ler por um mês. Cosme, reencontrada a paz, lançou-se sobre as vidas de Plutarco.

João do Mato, entretanto, estendido em seu catre, os hirsutos cabelos vermelhos cheios de folhas secas na testa enrugada, os olhos verdes que se avermelhavam com o esforço, lia sem parar, mexendo a mandíbula num soletrar furioso, mantendo no alto um dedo úmido de saliva pronto para virar a página. Ao descobrir Richardson, foi tomado por uma predisposição que já vinha incubando: um desejo de jornadas rotineiras domésticas, de parentes, de sentimentos familiares, de virtude, de aversão pelos maus e pelos viciados. Tudo aquilo que o circundava já não lhe interessava, enchia-o de desgosto. Não saía mais do esconderijo a não ser para ir atrás de Cosme e trocar de livro, especialmente se fosse um romance com mais de um volume e tivesse ficado no meio da história. Vivia assim, isolado, sem perceber a tempestade de ressentimentos que gerava contra ele inclusive entre moradores do bosque, antigamente cúmplices fiéis mas que agora já se tinham cansados de aturar um bandido inativo, que atraía todos os policiais.

[...]

Dois outros bandidos, dois jovens que tinham sido protegidos por ele e não conseguiam resignar-se a perder aquele grande chefe, quiseram dar-lhe a chance de reabilitar-se. Chamavam-se Hugão e Bonitão e haviam integrado o bando dos ladrões de fruta. Agora, adolescentes, tinham se tornado bandidos de respeito.


William Hamilton/Heim Gallery, Londres, reino unido

William Hamilton. Calipso recebendo Telêmaco e Mentor na gruta, c. 1791. Óleo sobre tela. Dimensões: 202,7 cm ×
158,8 cm. As aventuras de Telêmaco é um romance do escritor francês Francois de Salignac de la Mothe-Fénelon (1651-1715). Publicado em 1699, conta a história do filho de Ulisses (rei de Ítaca e herói das epopeias Ilíada e Odisseia, de Homero), Telêmaco, quando este sai em busca do pai acompanhado por Mentor, amigo de Ulisses.

Assim, foram procurar João do Mato na caverna. Estava lá, deitado na palha.

— Sim, quem é? — perguntou sem tirar os olhos do papel.

— Queríamos propor uma coisa, João do Mato.

— Hum… O quê? — E lia.

— Sabe onde é a casa de Constâncio, o fiscal da alfândega?

— Sim… sim… Hein? O quê? Quem é o fiscal da alfândega?

Bonitão e Hugão trocaram um olhar contrariado. Se não lhe tirassem aquele maldito livro do alcance da vista, o bandido não entenderia nem uma palavra.

— Fecha o livro um pouco, João do Mato. Ouve o que temos a dizer.

João do Mato agarrou o livro com ambas as mãos, levantou-se de joelhos, deu um jeito para apertá-lo contra o peito, mantendo-o aberto no ponto em que chegara, mas a vontade de continuar a ler era tanta que, sempre tendo-o bem próximo, ergueu-se até poder enfiar o nariz dentro dele.

Bonitão teve uma ideia. Por perto havia uma teia de aranha com sua dona. Bonitão levantou com as mãos ágeis a teia com a aranha dentro e jogou-a em cima de João do Mato, entre livro e nariz. O desgraçado do João do Mato andava tão mole a ponto de ter medo de aranha. Sentiu no nariz aquela mistura de patas de aranha e filamentos pegajosos, e, antes de entender o que era, soltou um grito de susto, deixou cair o livro e começou a abanar as mãos na frente do rosto, os olhos arregalados e a boca cheia de saliva.

Hugão deu um pulo e conseguiu pegar o livro antes que João do Mato pusesse um pé em cima dele.

— Me dá esse livro de volta! — disse João do Mato, tentando livrar-se da aranha e da teia com uma das mãos, e com a outra arrancar o livro das mãos de Hugão.

— Não, ouve antes! — disse Hugão escondendo o livro nas costas.

— Estava lendo Clarisse. Me dá de volta! Estava no ponto culminante…

— Escute. Nós vamos levar hoje de noite um carregamento de lenha na casa do fiscal. No saco, em vez de lenha, vai você. De madrugada, sai do saco…

— Eu quero terminar Clarisse! — Conseguira livrar as mãos das últimas gosmas da teia e tentava lutar contra os dois jovens.

— Ouça… Quando for de madrugada, você sai do saco, armado com duas pistolas, arranca do fiscal tudo o que foi arrecadado na semana, que ele guarda no cofre que está na cabeceira da cama…

— Deixem ao menos eu terminar o capítulo… Sejam gentis…

Os dois jovens pensavam no tempo em que, ao primeiro que tentasse contrariá-lo, João do Mato apontava duas pistolas na barriga. Amarga nostalgia.

— Você pega os sacos de dinheiro, está bem? — insistiram, tristemente —, entrega tudo para nós, que devolveremos o livro e você poderá ler quanto quiser. Está bem assim? Topa?

— Não. Não está bem. Não vou!

— Então não vai… É assim, é… Então olhe! — E Hugão pegou uma página do final do livro (“Não!”, berrou João do Mato), arrancou-a (“Não! Para!”), fez uma bolinha, jogou-a no fogo.

— Aaah! Cachorro! Não pode fazer isso! Vou ficar sem saber como acaba! — E corria atrás de Hugão para arrancar-lhe o livro.

— Agora você vai à casa do fiscal?

— Não, não vou!

Hugão arrancou mais duas páginas.

— Pare com isso! Ainda não cheguei aí! Você não pode queimá-las!

Hugão já tinha mandado as duas para o fogo.

— Porco! Clarisse! Não!

— Então, vai?

— Eu…

Hugão arrancou mais três páginas e atirou-as no fogo! João do Mato sentou-se com o rosto entre as mãos.


— Vou — rendeu-se. — Mas vocês me prometem que vão esperar com o livro fora da casa do fiscal.

O bandido foi fechado num saco, com um feixe de lenha na cabeça. Atrás vinha Hugão com o livro. Às vezes, quando João do Mato com um arrastar de pés ou com um grunhido dentro do saco mostrava estar a ponto de arrepender-se, Hugão o fazia ouvir o rumor de uma página arrancada e João do Mato logo ficava bonzinho.

Deste jeito o levaram, vestidos de lenhadores, até a casa do fiscal e o deixaram lá. Foram esconder-se por perto, atrás de uma oliveira, esperando a hora em que, executado o trabalho, devia alcançá-los.

Mas João do Mato estava com muita pressa, saiu antes de acabar de escurecer, ainda havia muita gente pela casa.

— Mãos ao alto! — Porém, já não era aquele de antes, era como se olhasse de fora, sentia-se meio ridículo.

— Mãos ao alto, eu disse… Todos nesta sala, encostados na parede… — Mas que nada: nem ele acreditava mais naquilo, dizia por dizer. — Estão todos aqui? — Nem notara que uma menina tinha fugido.

De qualquer modo, era coisa para não se perder um minuto. Ao contrário, a cena rendeu, o fiscal bancava o tonto, não encontrava a chave, João do Mato percebia que já não o levavam a sério, e no fundo estava contente que fosse assim.

Finalmente, saiu com os braços cheios de bolsas com moedas. Correu quase às cegas para a oliveira combinada.

— Aqui está tudo o que havia! Devolvam Clarisse!

Quatro, sete, dez braços se lançaram sobre ele, imobilizaram-no das costas até as canelas. Tinha sido preso por um grupo de guardas e amarrado como um presunto.

— Você há de ver Clarisse quadradinha! — e o levaram para o cárcere.

A prisão era uma pequena torre à beira-mar. Um bosque de pinheiros crescia ao lado. Do alto de uma das velhas árvores, Cosme chegava quase à altura da cela de João do Mato e via o seu rosto atrás das grades.

Ao bandido não interessava nada dos interrogatórios e do processo; de um jeito ou de outro, terminaria na forca; mas sua preocupação eram aqueles dias vazios ali na cadeia, sem poder ler, e aquele romance deixado pelo meio. Cosme conseguiu outra cópia de Clarisse e levou-a até o pinheiro.

— Aonde você tinha chegado?

— Ao ponto em que Clarisse foge da casa de má fama!

Cosme folheou um pouco e logo:

— Ah, sim, aqui está. Portanto… — E começou a ler em voz alta, virado para a janela de grades, à qual se agarravam as mãos de João do Mato.

O processo foi demorado; o bandido resistia ao cerco da corda; para fazê-lo confessar cada um de seus inúmeros crimes eram necessários dias e dias. Todos os dias, antes e depois dos interrogatórios ficava escutando Cosme, que continuava a leitura. Terminada Clarisse, sentindo-o um tanto triste, Cosme achou que Richardson, para quem está preso, talvez fosse meio deprimente; e preferiu começar a ler para ele um romance de Fielding, cujo enredo movimentado lhe compensaria um pouco da liberdade perdida. Eram os dias do processo, e João do Mato só tinha cabeça para os casos de Jonathan Wild.


©British Broadcasting Corporation (BBC)/Reprodução

No romance Clarissa Harlowe (1748), do escritor inglês Samuel Richardson (1689-1761), narram-se as desventuras de uma jovem rica, bela e ingênua que foge com um sedutor para escapar de um casamento forçado. Na foto, a capa do DVD da minissérie Clarissa, uma adaptação da obra de Richardson para a linguagem audiovisual dirigida por R. Bierman em 1991, com produção da BBC, inédita no Brasil.

Antes que o romance fosse concluído, chegou o dia da execução. Na carroça, acompanhado por um frade, João do Mato fez sua última viagem como ser vivo. Os enforcamentos em Penúmbria eram feitos num alto carvalho no meio da praça. Ao redor, o povo fazia um círculo.

Já com a corda no pescoço, João do Mato ouviu um assovio entre os galhos. Ergueu o rosto. Descobriu Cosme com o livro fechado.

— Conta como termina — pediu o condenado.

— Lamento dizer, João — respondeu Cosme —, Jonas acaba pendurado pela garganta.

— Obrigado. O mesmo aconteça comigo! Adeus! — E ele mesmo deu um pontapé na escada, enforcando-se.

Quando o corpo parou de se debater, a multidão foi embora. Cosme permaneceu até a noite, apoiado no ramo do qual pendia o enforcado. Todas as vezes que um corvo se aproximava para bicar os olhos ou o nariz do cadáver, Cosme o expulsava agitando o gorro.

CALVINO, Italo. O barão nas árvores. Tradução de Nilson Moulin. São Paulo:
Companhia das Letras, 1991. p. 108-114.

vidas de Plutarco: referência à obra Vidas paralelas, escrita pelo historiador grego Plutarco (c. 46-120). Trata-se de biografias de imperadores e outras figuras ilustres tanto gregas quanto romanas.

catre: cama dobrável de lona; cama de aspecto rude, tosco.

hirsuto: eriçado, duro.

incubar: preparar, elaborar.

filamento: fio muito fino.


©Creative Commons/Henry Fielding

O romance Jonathan Wild, do escritor inglês Henry Fielding (1707--1754), foi publicado em 1743 e baseia-se na história real de um dos maiores criminosos do século XVIII, o Jonathan Wild do título. Na imagem, retrato de Jonathan na prisão de Newgate, em Londres, em ilustração de um relato da vida desse criminoso publicado em 1725.

O autor

Italo Calvino (1923-1985), professor de Literatura, contista e romancista da língua italiana, nasceu em Cuba, e foi com a família para a Itália pouco tempo depois. Em 1946 instalou-se na cidade italiana de Turim, onde se doutorou em Literatura Inglesa. Lançou seu primeiro romance, A trilha dos ninhos de aranha (publicado em português pela editora Companhia das Letras), em 1947. É considerado um dos maiores escritores europeus do século XX.

Fotoarena/Corbis

Interpretação do texto

1. Antes de levantarmos hipóteses de interpretação para o fragmento do romance O barão nas árvores, vamos recuperar algumas informações do texto.

a) Quais são os personagens principais? Caracterize-os brevemente.

b) Em que espaços ocorrem as mais importantes ações do texto?

c) Quanto tempo você imagina que tenha durado o episódio narrado?

d) Quem conta a história? Copie o(s) trecho(s) do texto que comprova(m) sua resposta.

e) Quais são os problemas mais sérios enfrentados pelos personagens centrais ao longo do episódio lido?


Em um romance se encontram todos os elementos que caracterizam as narrativas: personagens, tempo, espaço, narrador e enredo. Os romances costumam ter um conflito principal, que se estende por toda a obra e envolve os personagens centrais, e conflitos menores, entremeados ao texto. Em O barão nas árvores, o conflito fundamental é a recusa de Cosme em descer das árvores, contrariando todos os apelos da família. Esse conflito algumas vezes dá espaço a outros, como o visto no episódio que lemos.
2. O encontro entre Cosme e João do Mato se desenvolve em torno de um elemento comum: ambos estão envolvidos na paixão pela leitura. A partir desse momento, a quantidade de livros que leem é imensa, mas a experiência leitora deles é bastante diferente. Aponte algumas diferenças.

3. A leitura torna-se a ocupação principal de Cosme. Também para o bandido ler passa a ser muito importante. Em que momentos da narrativa essa importância fica evidente para o leitor? E quais são os efeitos da leitura de Clarisse sobre João do Mato?

4. Nessa narrativa, o espaço onde acontecem os fatos é sempre importante para a construção da trama. Tente relacionar a caverna à experiência leitora de João do Mato e as árvores, à experiência leitora de Cosme.



Refletir e intervir

Italo Calvino foi um respeitado romancista do século XX. Criou personagens representativos de diferentes comportamentos sociais observados por ele. Assim, é possível interpretar a atuação de Cosme, que escolhe viver nas árvores dedicando-se ao prazer da leitura, como referência a uma forma específica de atuação na sociedade.

Essa característica do personagem talvez possa ser comparada ao trabalho do intelectual, do analista social ou ainda de qualquer estudioso que tenha necessidade de se distanciar dos padrões impostos pela vida em sociedade para melhor se dedicar à atividade escolhida. Além disso, embora vivesse no alto das árvores, Cosme não deixava de se envolver com os problemas de sua comunidade. Da mesma maneira, as atividades do intelectual, do estudioso, não o afastam do transcorrer comum da história, pois, como todo cidadão, ele também contribui com sua atuação para as questões da vida social.
Conhecimentos linguísticos

Verbos: tempos, regência e transitividade

Para relembrar

Chamamos de regência verbal a relação entre um verbo e seus complementos, por meio da qual o verbo é o termo regente, que “comanda”, e os complementos são os termos regidos, isto é, que dependem do verbo.

Saber qual a regência de um verbo é saber se ele se liga a seu complemento diretamente ou por meio de preposição — e, nesse caso, qual é a preposição. Veja alguns verbos que têm mais de uma regência:

Aspirar


transitivo direto — com o sentido de inspirar, respirar:

A menina aspirou o perfume das flores.



transitivo indireto — pretender, desejar:

Os vestibulandos aspiram a uma vaga na universidade.

Assistir

transitivo direto — prestar assistência, socorrer:

Os responsáveis pela obra assistiram as famílias das vítimas.



transitivo indireto — ver, presenciar:

Assisto ao jornal das sete.

Querer


transitivo direto — desejar profundamente, pretender:

O casal queria um filho.



transitivo indireto — amar, estimar:

A garota quer muito ao namorado.

Will Leite/Arquivo da editora

Responda aos exercícios no caderno.



1. Os verbos são fundamentais para indicar as referências temporais de um texto. Leia os excertos retirados da narrativa escrita por Mia Couto, observando o sentido dos verbos sublinhados para responder às questões a seguir.

1º)
“A família, a escola, os outros, todos elegem em nós uma centelha promissora, um território em que podemos brilhar.”

2º)
Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não um único silêncio. E todo silêncio é música em estado de gravidez.”

3º)
“Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.”

4º)
“Ao fim do dia, o velho se recostava na cadeira da varanda. E era assim todas as noites: me sentava a seus pés, olhando as estrelas no alto do escuro. Meu pai fechava os olhos, a cabeça meneando para cá e para lá, como se um compasso guiasse aquele sossego.”

5º)
“De tão calada, ela deixara de existir e nem se notara que já não vivia entre nós, os vigentes viventes.”

6º)
“— Fique só mais um pouco. É que são raivas, tantas raivas acumuladas. Eu preciso afogar essas raivas e não tenho peito para tanto.
— Que raivas são essas, meu pai?”

7º)
“Mil vezes Ntunzi me fez recordar o motivo por que meu pai me elegera como predilecto. A razão desse favoritismo sucedera num único instante: no funeral da nossa mãe...”


a) Em quais excertos o narrador-personagem reflete no presente sobre os eventos ocorridos em sua vida de menino? Qual tempo verbal é empregado?
b) Em quais excertos os verbos contribuem para a descrição dos personagens? Qual tempo verbal é empregado?
c) Em quais excertos os verbos usados indicam acontecimentos antigos, anteriores ao presente da narrativa?
d) Em quais excertos os verbos indicam o presente da narrativa?
2. Classifique o verbo ler nas frases a seguir como transitivo direto, transitivo direto e indireto ou intransitivo.

a) “[…] preferiu começar a ler para ele um romance de Fielding […]”

b) “[…] eram aqueles dias vazios ali na cadeia, sem poder ler […].”

c) “João do Mato, entretanto, estendido em seu catre, […] lia sem parar, mexendo a mandíbula num soletrar furioso […].”

d) “Hum… O quê? — E lia.”

e) “Estava lendo Clarisse.”


3. Reflita e responda: por que em O barão nas árvores o verbo ler pôde ser empregado tanto como transitivo quanto como intransitivo?

4. Releia este trecho da narrativa de Mia Couto.

"— Esse velho enlouqueceu. E o pior é que o gajo não gosta de mim.

Gosta."


O verbo gostar aparece duas vezes no trecho acima. Em ambas ele apresenta a mesma transitividade? Explique.
5. Leia as frases:
I. Os romances de Richardson agradaram a João.

II. Mwanito agradou os cabelos do pai.

a) Qual é o significado de agradar na frase I? E na II?
b) A mudança da regência desse verbo é determinada pelo significado dele na frase. Em qual frase ele é transitivo direto? Em qual é transitivo indireto?
6. Compare a regência dos verbos sublinhados nas frases do quadro.


Regência 1

Regência 2

Uma multidão assistiu ao enforcamento de João do Mato.

Uma multidão assistiu o enforcamento de João do Mato.

João do Mato visava a uma nova vida, sem crimes.

João do Mato visava terminar a leitura de Clarisse.

a) Classifique os verbos da primeira coluna quanto à regência e identifique seus complementos.

b) O que acontece a esses complementos na segunda coluna (regência 2)?

c) Na língua oral, principalmente, é comum a troca da regência de um verbo pela regência de outro, por associação. É o caso de assistir. Que verbo poderia substituí-lo nos exemplos do quadro, obedecendo ao sentido do contexto?

d) Observe a regência do verbo visar nas duas frases e identifique o sentido dele. Depois, aponte uma diferença quanto à morfologia de seus respectivos complementos.

7. Leia outro trecho de Antes de nascer o mundo, no qual se fala do pai de Mwanito. Atente para a regência do verbo sublinhado.

“Olhou o fogo, fez de conta que se mirava num espelho, fechou os olhos e aspirou os perfumosos vapores da cafeteira.”

COUTO, op. cit., p. 18.

a) Qual é a regência do verbo aspirar nesse trecho?

b) Utilizando o assunto e os personagens de Antes de nascer o mundo, escreva uma frase em que o verbo aspirar apresente regência diferente da empregada na frase acima.
Espaço Ilusório/Arquivo da editora

Colocação pronominal

O emprego adequado dos pronomes oblíquos átonos contribui para tornar um texto coeso e claro.



1. No quadro, há algumas frases tiradas das narrativas lidas neste capítulo. Nelas os pronomes evitaram algumas repetições e, dependendo do contexto, foram colocados de acordo com o registro formal ou mais informal da língua.



Eu, Mwanito, o afiador de silêncios

O barão nas árvores

“— [...] Lhe agradeço muito, Mwanito.”

“— Me esse livro de volta!”

Queixava-me eu do sono...”

“— Me de volta!”

Deixava-o cabeceando na cadeira”




Segundo o padrão formal da língua, o pronome pessoal oblíquo não deve começar orações, mas ser colocado após o verbo (ênclise). Sabendo disso, identifique as frases que não obedeceram a essa regra e reescreva-as no caderno, observando o contexto.


2. Nas frases a seguir, todos os pronomes pessoais oblíquos estão enclíticos, isto é, foram colocados após o verbo.



Coluna 1

Coluna 2

1. “—
Venha, meu filho, venha ajudar-me a ficar calado.”

2. “[...] não era possível dar-lhe um livro qualquer [...].”

3. “Meu irmão tentou passar-lhe romances de amor [...].”

4. “[...] quiseram dar-lhe a chance de reabilitar-se.”

5.
“E corria atrás do Hugão para arrancar-lhe o livro.”


1. “Como se quisesse convertê-lo em ilha [...].”

2. “E, à força de manejar volumes, de julgá-los, e compará-los, de ter de conhecer sempre outros e novos [...].”

3. “[...] que tentasse contrariá-lo [...].”

4. “Você não pode queimá-las!”


a) Os pronomes pessoais oblíquos átonos foram colocados após verbos que se encontram em uma das formas nominais. Escreva no caderno que forma nominal é essa.



infinitivo

gerúndio

particípio
b) Compare as colunas e procure explicar as alterações sofridas por alguns pronomes enclíticos.
É preciso reconhecer que são poucos os casos de ênclise no Brasil, pois preferimos colocar os pronomes antes do verbo (posição proclítica). Mais raro ainda é usarmos em situações informais estruturas como as da coluna 2. Nesses contextos, os pronomes oblíquos que funcionam como objetos costumam ser substituídos pelos pronomes retos. Tais construções, no entanto, não são aceitas em situações formais tanto orais quanto escritas.

Will Leite/Arquivo da editora



3. Observe os pronomes destacados nos trechos dos textos a seguir.

“Por que nunca me chama a mim?”

(COUTO, op. cit., p. 16.)

“[...] não lhe bastavam as horas do amanhecer ao pôr do sol [...].”

(CALVINO, op. cit., p. 111.)

“Que é que me podia acontecer?”

(RAMOS, Graciliano, Angústia.)

“Até a voz, dentro de pouco, já me parecia a mesma.”

(Machado de Assis, Dom Casmurro.)

a) Qual é a posição do pronome oblíquo átono em relação ao verbo nas frases?

b) Leia, no quadro a seguir, algumas regras para a colocação do pronome proclítico. Depois classifique as frases de acordo com as regras de próclise enumeradas.
A próclise ocorre:

(1) em frases interrogativas;

(2) após advérbios em geral.

Conclusão

Alguns verbos podem ser empregados tanto como transitivos quanto como intransitivos, dependendo do contexto:

As adolescentes comeram frutas no café da manhã. (comeram = verbo transitivo direto)

Eu comia muito quando era criança. (comia = funciona como verbo intransitivo)

Os pronomes oblíquos átonos são colocados antes do verbo (posição proclítica) quando:

o verbo é precedido de um advérbio (lá, aqui, não, nunca, depois, sempre, etc.):

Ele amava os livros, por isso não os venderia.



a frase é interrogativa:

Quem lhe contou sobre minha vida?

O pronome vem depois do verbo (posição enclítica) quando:

o verbo está no infinitivo:

Quero dizer-lhe uma coisa.



o verbo inicia a frase ou vem depois de pausa forte:

Traga-me logo os livros.



Atividades de fixação

1. (Enem, 2015)

Em julho de 1913, embarquei para a Europa a fim de me tratar num sanatório Suíço. Escolhi o de Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito dele me falara João Luso, que ali passara um inverno com a senhora. Mais tarde vim a saber que, antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo Antônio Nobre. “Ao cair das folhas”, um de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está datado de “Clavedel, outubro, 1895”.

Fiquei na Suíça até outubro de 1914.

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.

No relato de memórias do autor, entre os recursos usados para organizar a sequência dos eventos narrados, destaca-se a:

a) construção de frases curtas a fim de conferir dinamicidade ao texto.

b) presença de advérbios de lugar para indicar a progressão dos fatos.

c) alternância de tempos do pretérito para ordenar os acontecimentos.

d) inclusão de enunciados com comentários e avaliações pessoais.

e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do escritor.

Leia a história em quadrinhos abaixo para resolver as atividades propostas.

©Galvão


GALVÃO. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2015.

2. Complete as frases a seguir no caderno.

a) Na terceira cena, nota-se que a atitude do rapaz causa estranhamento, pois ele:



frustra a expectativa dos pais ao responder algo fora do contexto.

frustra a expectativa de seu pai por estar sonolento e sem vontade de conversar.

provavelmente não gosta de estudar e o súbito interesse pelos estudos surpreende os pais.

b) Na primeira fala do pai do personagem Fabinho e na primeira fala do colega do Fabinho há


uma colocação pronominal típica da linguagem informal. Trata-se:

da ênclise com verbo que inicia a frase.

da próclise com verbo que inicia a frase.

c) Na frase “Getúlio Vargas visava com seu governo a unir os inúmeros setores que o apoiaram […]”, o verbo visar está sendo usado como:



transitivo indireto.

intransitivo.

transitivo direto
3. Na antepenúltima cena, que elementos visuais e verbais mostram o desequilíbrio do personagem?

4. O que provoca humor é o personagem responder a perguntas triviais com conteúdos das matérias estudadas. No final a situação se altera e essa modificação é um novo elemento de humor. Explique o final da história.

5. Leia o título de notícia a seguir observando os verbos que o compõem.

http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2015/08/



Empresa espanhola fabrica camiseta que repele mosquitos.

Disponível em:


Yüklə 3,8 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   34   35   36   37   38   39   40   41   ...   45




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin