de "liquefação" nos hábitos culturais, ao mostrar a quebra de padrões de
comunicação e coordenação das instituições que serviam de referência para as
ações dos indivíduos e das coletividades humanas, como a família, a classe, a
escola, o bairro. O que se apresentava "sólido", "seguro", orientador de ações
individuais e coletivas, foi afetado pela dispersão, pela inconsistência, pela
liberação de "ações -escolhas possíveis". Em outras palavras:
[...] os poderes que liquefazem passaram do "sistema" para a "sociedade", da
"política" para as "políticas da vida" - ou desceram do nível "macro" para o nível
"micro" do convívio social.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 14.
FONTE: Filipe Rocha/Arquivo da editora
A tecnologia é um conhecimento específico altamente desenvolvido que se
articula, na sociedade capitalista, com os processos educacionais. Na
sociedade moderna, o aperfeiçoamento tecnológico não se limita às máquinas
e aos equipamentos: relaciona-se também com o conjunto das ideias sobre a
sociedade e o conhecimento.
A produção que se automatiza torna-se autorregulável e, em tese, libera o ser
humano para a esfera do não trabalho. As máquinas, que antes realizavam
funções básicas, agora realizam operações complexas, múltiplas, amplas e por
tempo prolongado. No entanto, aquele que domina e controla esse processo
continua sendo o ser humano.
Neste mundo novo, a sobrevivência econômica está ligada, como jamais
esteve, à competência da mão de obra e até dos consumidores - portanto, de
populações inteiras. A educação fundamental - quer dizer, o ensino
universalizado e eficaz do idioma, da matemática, das ciências - virou condição
prevalente do desenvolvimento econômico.
RIBEIRO, Sérgio. Construir o saber. In: Veja 25 anos: reflexões para o futuro.
São Paulo: Abril, 1993. p. 208.
Consideradas as novas configurações da competição econômica no
capitalismo atual, o domínio da tecnologia define tanto a posição dos países no
mercado internacional como a dos indivíduos no interior das sociedades. Dessa
forma, cresce a pressão sobre a escola no sentido de redefinir seus conteúdos
para integrar os alunos às novidades tecnológicas.
O filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas (1929-) vê nesse momento da
sociedade moderna a instrumentalização da técnica e da ciência. Por meio da
ideologia, de modo sutil, o progresso técnico-científico é posto a serviço do
sistema - ou seja, do dinheiro e do poder - e acima das demais questões.
LEGENDA: Público participa de feira de robótica em João Pessoa (PB). Foto
de 2014.
FONTE: João Medeiros/Fotoarena/Folhapress
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A forma privada da valorização do capital e a existência de uma chave de
distribuição das compensações sociais [...]
permanecem, como tais, fora de
discussão. O que aparece então como variável independente é um progresso
quase autônomo da ciência e da técnica, do qual depende, de fato, a mais
importante variável singular do sistema, a saber, o crescimento econômico.
Resulta daí uma perspectiva na qual o desenvolvimento do sistema social
parece ser determinado pela lógica do progresso técnico-científico.
HABERMAS, Jürgen. Técnica e ciência enquanto "ideologia". In: Textos
escolhidos (Benjamin, Horkheimer, Adorno, Habermas). São Paulo: Abril
Cultural, 1975, p. 303-333, 321.
Por esse ponto de vista, uma educação que apenas atualizasse as
competências e os conhecimentos técnicos, sem problematizá-los de forma
crítica, perpetuaria um modelo controlador de sociedade. Habermas propõe
que a educação não seja apenas uma maneira de dar ao ser humano acesso
ao conhecimento mas também de formar o indivíduo para reelaborar esse
conhecimento no sentido da emancipação e da transformação social.
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