. Acesso em: 16 abr. 2012.
Provocações
1. Na primeira fala que dirige ao companheiro, o Diabo diz “Que é muito boa a maré!”.
a) O que essa expressão pode significar entre os pescadores?
b) E na fala do Diabo?
2. Releia.
“O primeiro que surge é um Fidalgo, que chega com um pajem que lhe segura a longa cauda do manto e carrega uma cadeira.”
a) O que a presença de um pajem carregando a cauda de um manto pode revelar sobre o Fidalgo? Estabeleça relações com o que você discutiu antes em “Conversa afinada”.
b) E a presença da cadeira? Estabeleça relações com a “filosofia do bem sentar”, que você conheceu na peça Gota d’água, no capítulo anterior.
3. Releia os diálogos entre o Diabo e o Fidalgo até o momento em que este decide procurar a barca do céu.
a) Copie no caderno a afirmação que melhor resume como se comportou o Fidalgo no início da conversa com o Diabo.
• Com medo do inferno, mas confiante de que a religião o salvaria.
• Com arrogância pela aparência do barco e a certeza de que não iria nele.
• Com prepotência diante do Diabo, mas desconfiança sobre a própria salvação.
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b) Cite duas falas da personagem que lhe permitiram chegar a essa conclusão.
c) Com que informações o Diabo abalou as certezas do
Fidalgo?
d) O que uma representação no teatro deveria propor para ser mais fiel à personagem “Diabo” sugerido pelo texto?
• Crueldade, autoritarismo.
• Ironia, deboche.
4. Releia os diálogos entre o Anjo e o Fidalgo.
a) Copie no caderno o substantivo que melhor resume a atitude do Anjo diante da chegada do Fidalgo.
• Piedade.
• Indiferença.
• Interesse.
b) O que você observou no texto que lhe permitiu chegar a essa conclusão?
c) Explique a ironia nas falas com que o Anjo recusa definitivamente a entrada do Fidalgo na barca do Céu. Estabeleça relações com os itens a e b da questão 2.
5. Por que possíveis razões o Fidalgo quis rever sua “dama querida”?
• Como o Diabo fez com que ele desistisse dessa ideia?
6. Que mudança houve no comportamento da personagem “Fidalgo” em relação ao Diabo, ao longo da cena?
• Que relações há entre essa mudança e o desfecho dado à cadeira e ao pajem? Estabeleça relações com o que você discutiu nos itens a e b da questão 2.
Gostou de conhecer um fidalgo do século XVI à beira da barca do Inferno? Então, não deixe de conhecer os outros tipos que tentaram se livrar do ardente batel de Gil Vicente: procure e leia o texto todo!
Auto da compadecida: um acerto de contas com o diabo
A condenação ao inferno é tema que aparece também em uma das peças mais importantes da comédia brasileira: Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.
Ambientado no sertão nordestino brasileiro, o texto traz tipos representativos de costumes e valores locais, mas consegue também representar contradições humanas universais, isto é, ações que ocorrem em diferentes tempos e espaços: buscar privilégios, enganar, trair, errar, sentir a culpa, enfrentar a morte...
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Entre os tipos que aparecem no auto, um merece mais destaque: João Grilo, o pobre que, para sobreviver, só pode contar com a aguçada inteligência e com certo gosto por trapalhadas (e que trapalhadas!).
Outra característica bem interessante nele é que é uma personagem feita de outras personagens. Como assim? É que, na verdade, João Grilo apareceu antes na literatura de cordel. Há também quem diga que ele é parente muito próximo de outra personagem traquina e famosa na literatura oral: Pedro Malasartes ou Pedro Malazarte ou, ainda, Pedro Malasarte, que é conhecido por todos esses nomes (e, claro, também por suas confusões).
Antes de tomarmos contato com o João Grilo do texto teatral, vamos, então, visitar essas outras duas personagens que teriam lhe dado origem. Para isso, leia os textos a seguir.
Quem é
Ariano Suassuna nasceu em João Pessoa (PB), em 16 de junho de 1927. Advogado, professor, teatrólogo e romancista, também foi membro da Academia Brasileira de Letras. Em 1970, iniciou em Recife o Movimento Armorial, voltado para a expressão dos movimentos populares tradicionais.
Dentre suas obras, destacam-se Auto da Compadecida (1957) e o romance A Pedra do Reino (1971). Faleceu em 2014.
Leitura
Se julgar oportuno, pode aproveitar a leitura desses textos para relembrar com os alunos os modos de organização da ficção literária. Para isso, mostre como no texto da literatura de cordel e no conto popular as histórias são narradas por vozes que organizam tudo, inclusive as falas das personagens. Trata-se da voz lírica, no poema (que nesse caso se comporta muito como uma voz narrativa, já que temos uma prosa poética, isto é, uma história contada sem versos), e do narrador, no conto. Já no texto teatral, não aparece essa voz organizadora (há apenas indícios dela nas rubricas); são os próprios diálogos trocados diretamente entre as personagens que vão organizando o texto.
Texto 1
[...]
Um dia a mãe de João Grilo
Foi buscar água à tardinha
Deixou João Grilo em casa
E quando deu fé, lá vinha
Um padre pedindo água
Nessa ocasião não tinha
João disse: só tem garapa
Disse o padre: d’onde é?
João Grilo lhe respondeu:
É do engenho Catolé
Disse o padre: pois eu quero
João levou uma coité.
O padre bebeu e disse:
Oh! Que garapa boa!
João Grilo disse: quer mais?
O padre disse: e a patroa
Não brigará com você?
João disse: tem uma canoa
Glossário
Garapa: caldo de cana.
Coité: cuia feita da casca da fruta coité.
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João trouxe uma coité
Naquele mesmo momento
Disse ao padre: bebe mais
Não precisa acanhamento
Na garapa tinha um rato
Estava podre e fedorento
O padre disse: menino
Tenha mais educação
E por que não me disseste?
Oh! Natureza do cão!
Pegou a dita coité
Arrebentou-a no chão.
João Grilo disse: danou-se!
Misericórdia, São Bento!
Com isso mamãe se dana
Me pague mil e quinhentos
Essa coité, seu vigário
É de mamãe mijar dentro.
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