. Acesso em: 5 fev. 2016.
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1985
Geração Coca-Cola
Quando nascemos fomos programados
A receber o que vocês nos empurraram
Com os enlatados dos U.S.A., de nove às seis
Desde pequenos nós comemos lixo
Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa vez
Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês
Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola
Depois de 20 anos na escola
Não é difícil aprender
Todas as manhas do seu jogo sujo
Não é assim que tem que ser?
Vamos fazer nosso dever de casa
E aí então, vocês vão ver
Suas crianças derrubando reis
Fazer comédia no cinema com as suas leis
Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
RUSSO, Renato; LEMOS, Fê. Geração Coca-Cola. Disponível em: . Acesso em: 5 fev. 2016. © EMI/1985/Edições Musicais Tapajós Ltda.
Escolhemos exemplos que permitem identificar diferenças no perfil do jovem em duas décadas. Vocês deverão, agora, selecionar músicas que, a partir da década de 1970 até os dias de hoje, ilustrem a mudança sofrida por esse perfil.
Após escolherem os textos que irão compor o painel, procurem também imagens (fotografias, propagandas, cenas de filmes, etc.) que possam complementar os textos escolhidos. Lembrem-se de que um mesmo discurso pode se manifestar por diferentes meios de expressão (linguagem verbal, cinematográfica, musical, etc.).
O resultado da sua pesquisa deverá ser um painel intitulado A imagem do jovem na música popular brasileira entre os anos 1970 e 2010.
2. Elaboração
>> Organizem as informações coletadas durante a pesquisa: que décadas estão representadas pelas letras de música escolhidas? Vocês conseguiram informações sobre como a sociedade via o jovem nessas décadas?
>> No momento de analisar as músicas, procurem determinar, a partir de informações presentes no texto, a que classe social pertencem os jovens nelas apresentados.
• A música estabelece algum projeto de vida associado ao comportamento dos jovens? Que projeto é esse?
Montagem do painel
No momento de montar o painel, vocês deverão seguir os passos abaixo:
>> Organizar cronologicamente a apresentação dos textos, para permitir que o leitor do painel possa acompanhar as mudanças ideológicas e discursivas ao longo do período de tempo considerado.
>> Identificar cada música escolhida (título, compositor, ano de composição).
>> Transcrever a letra da música, destacando os temas e termos correspondentes à formação ideológica por ela representada.
>> Fazer um quadro analisando, brevemente, essa formação ideológica e explicitando a relação entre a música selecionada e a imagem escolhida para complementá-la, quando for o caso.
Apresentação oral do painel
No dia combinado para a apresentação, os vários painéis resultantes do trabalho de cada turma deverão ser expostos, lado a lado, em um local previamente escolhido e divulgado.
Representantes dos vários grupos deverão expor oralmente o resultado da pesquisa realizada e também esclarecer as possíveis dúvidas que surjam por parte dos visitantes da exposição.
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Capítulo 23 A interlocução e o contexto
Leitura
Todos os textos, orais ou escritos, são produzidos levando em consideração o leitor/ouvinte a quem se dirigem. Ao ler o texto transcrito a seguir, observe de que modo essa característica determina a maneira como ele foi elaborado.
Eu tenho um sonho
Estou contente de me reunir hoje com vocês nesta que será conhecida como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.
Há dez décadas, um grande americano, sob cuja sombra simbólica nos encontramos hoje, assinou a Proclamação da Emancipação. Esse magnífico decreto surgiu como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que arderam nas chamas da árida injustiça. Ele surgiu como uma aurora de júbilo para pôr fim à longa noite de cativeiro.
Mas cem anos depois, o negro ainda não é livre. Cem anos depois, a vida do negro ainda está tristemente debilitada pelas algemas da segregação e pelos grilhões da discriminação. Cem anos depois, o negro vive isolado numa ilha de pobreza em meio a um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o negro ainda vive abandonado nos recantos da sociedade na América, exilado em sua própria terra. Assim, hoje viemos aqui para representar a nossa vergonhosa condição.
De uma certa forma, viemos à capital da nação para descontar um cheque. Quando os arquitetos da nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e da Declaração da Independência (Sim), eles estavam assinando uma nota promissória da qual todos os americanos seriam herdeiros. A nota era uma promessa de que todos os homens, sim, negros e brancos igualmente, teriam garantidos os “direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à busca da felicidade”. É óbvio neste momento que, no que diz respeito a seus cidadãos de cor, a América não pagou essa promessa. Em vez de honrar a sagrada obrigação, a América entregou à população negra um cheque ruim, um cheque que voltou com o carimbo de “sem fundos”.
No entanto, recusamos a acreditar que o banco da justiça esteja falido. Recusamos a acreditar que não haja fundos suficientes nos grandes cofres de oportunidade desta nação. E, assim, viemos descontar esse cheque, um cheque que nos garantirá, sob demanda, as riquezas da liberdade e a segurança da justiça.
[...]
Mas há algo que devo dizer a meu povo, diante da entrada reconfortante do Palácio da Justiça: ao longo do processo de conquista do nosso merecido lugar, não podemos nos condenar com atos criminosos. Não devemos saciar a nossa sede de liberdade bebendo da taça da amargura e do ódio. Devemos sempre conduzir a nossa luta no mais alto nível de dignidade e disciplina. Não podemos permitir que o nosso protesto degenere em violência física. [...] A nova e maravilhosa militância que engolfou a comunidade negra não deve nos levar a desconfiar de todos os homens brancos, pois muitos de nossos irmãos brancos, como se torna evidente com a sua presença aqui hoje, compreenderam que o seu destino está ligado ao nosso. Eles compreenderam que a sua liberdade está atada à nossa, de forma inextricável.
Não podemos caminhar sozinhos. E, enquanto caminhamos, devemos prometer que sempre marcharemos adiante. Não podemos voltar. Há quem pergunte aos devotos dos direitos civis: “Quando ficarão satisfeitos?” (Nunca).
Não ficaremos satisfeitos enquanto o negro for vítima dos inenarráveis horrores da brutalidade policial. [...] Não ficaremos satisfeitos enquanto os nossos filhos forem despidos de sua personalidade e tiverem a sua dignidade roubada por cartazes com os dizeres “só para brancos”. [...] Não estamos satisfeitos e nem ficaremos satisfeitos até que “a justiça jorre como uma fonte; e a equidade, como uma poderosa correnteza”.
Não ignoro que alguns de vocês enfrentaram inúmeros desafios e adversidades para chegar até aqui (Sim, Senhor). Alguns de vocês recentemente abandonaram estreitas celas de prisão. Alguns de vocês vieram de regiões onde a busca por liberdade deixou-os abatidos pelas tempestades da perseguição e abalados pelos ventos da brutalidade policial. Vocês são os veteranos do sofrimento profícuo. Continuem a lutar com a fé de que o sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para a Louisiana, voltem para os cortiços e para os guetos das cidades do Norte, conscientes de que, de algum modo, essa situação pode e será transformada (Sim). Não afundemos no vale do desespero.
E digo-lhes hoje, meus amigos, mesmo diante das dificuldades de hoje e de amanhã, ainda tenho um sonho, um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho de que um dia esta nação se erguerá e experimentará o verdadeiro significado de sua crença: “Acreditamos que essas verdades são evidentes, que todos os homens são criados iguais” (Sim).
[...]
Eu tenho um sonho de que os meus quatro filhos pequenos viverão um dia numa nação onde não serão julgados pela cor
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de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter (Sim, Senhor). Hoje, eu tenho um sonho!
[...]
Esta é a nossa esperança, e esta a fé que levarei comigo ao voltar para o Sul (Sim). [...] Com esta fé (Sim, Senhor), poderemos partilhar o trabalho, partilhar a oração, partilhar a luta, partilhar a prisão e partilhar o nosso anseio por liberdade, conscientes de que um dia seremos livres. [...]
E quando acontecer, quando ressoar a liberdade, quando a liberdade ressoar em cada vila e em cada lugarejo, em cada estado e cada cidade, anteciparemos o dia em que todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, juntarão as mãos e cantarão as palavras da velha canção dos negros:
Livres afinal! Livres afinal!
Graças ao Deus Todo-Poderoso,
Estamos livres afinal!
Proferido na Marcha por Trabalho e Liberdade, em Washington, D.C., em 28 de agosto de 1963.
CARSON, Clayborne; SHEPAR, Kris (Org.). Um apelo à consciência: os melhores discursos de Martin Luther King. Trad. de Sérgio Lopes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. p. 73-76. (Fragmento).
MICHAEL OCHS ARCHIVES/GETTY IMAGES
Martin Luther King Jr. discursando na cidade de Nova York, 16 out. 1965.
Martin Luther King Jr. (1929-1968) envolveu-se cedo na luta pelos direitos civis. Pastor protestante, grande orador, tornou-se líder dos movimentos negros nos Estados Unidos, na década de 1960. Organizou boicotes e marchas para reivindicar o direito ao voto, o fim da segregação e da violência, o que despertou a ira de segmentos segregacionistas, concentrados nos estados do sul. Ao receber o Nobel da Paz (1964), afirmou: “Acredito ainda que triunfaremos”. Em 4 de abril de 1968, momentos antes de mais uma marcha pela liberdade na cidade de Memphis, foi assassinado a tiros em uma varanda de hotel.
Análise
1. O texto transcrito na abertura deste capítulo é um célebre discurso feito pelo reverendo Martin Luther King no dia 28 de agosto de 1963, durante a marcha por trabalho e liberdade na capital americana, Washington. A quem ele se dirige?
a) Transcreva no caderno as passagens em que se pode identificar a quem se dirige Martin Luther King.
b) Que termos, nessas passagens, marcam a presença, no texto, dos ouvintes do reverendo?
c) Ao longo do texto, várias vezes aparecem informações entre parênteses: (Sim; Nunca; Sim, Senhor). O que elas representam?
2. No segundo parágrafo, Luther King informa que, cem anos antes, o presidente Abraham Lincoln assinou a Proclamação da Emancipação, dando fim à escravidão nos Estados Unidos. Qual a importância dessa informação para o tema do discurso que ele fará?
a) Transcreva no caderno a passagem em que o reverendo estabelece um contraponto entre o que deveriam ser as consequências da Proclamação da Emancipação e a condição de vida dos ouvintes a quem se dirige especificamente em seu discurso.
b) Segundo Luther King, qual o objetivo da manifestação que fazem em Washington naquele momento?
3. Para ilustrar melhor a distância entre a promessa da Proclamação da Emancipação e a realidade vivida pelos seus ouvintes, o reverendo recorre a uma metáfora. Qual é ela?
> Explique o sentido dessa imagem criada por ele.
4. Outra metáfora é utilizada, no discurso, para representar o modo como a nação norte-americana lidou com as promessas contidas na Proclamação da Emancipação. Que metáfora é essa?
> Explique por que essa é uma boa imagem para dialogar com a primeira metáfora utilizada no texto.
5. No 6º parágrafo, Martin Luther King faz um apelo a seus ouvintes: “Não devemos saciar a nossa sede de liberdade bebendo da taça da amargura e do ódio”. Por que o reverendo faz esse apelo?
6. Esse é o mais célebre dos discursos proferidos por Martin Luther King e ficou conhecido como “Eu tenho um sonho”. Por que o discurso ganhou essa denominação?
De olho no filme
De Selma a Montgomery: uma marcha histórica contra a segregação
Em Selma: uma luta pela igualdade, a diretora Ava DuVernay conta a história de três marchas célebres que ocorreram no Alabama em 1965. Elas foram lideradas por Martin Luther King em defesa do direito dos negros ao voto no sul dos Estados Unidos, onde a segregação racial ainda era uma triste realidade. Os embates sangrentos entre as forças policiais e os manifestantes registram um momento importante da biografia de Luther King e da luta pelos direitos civis dos negros.
REPRODUÇÃO
Cartaz do filme Selma: uma luta pela igualdade, de Ava DuVernay. EUA/ Reino Unido, 2014.
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Os leitores dos textos
Talvez você não tenha parado para pensar sobre isso, mas todo texto, oral ou escrito, dirige-se a um interlocutor com características específicas.
Tome nota
O termo interlocutor designa cada um dos participantes de um diálogo. Os interlocutores de um texto, portanto, são os leitores/ouvintes em quem o autor pensa no momento de elaborá-lo.
Nos textos escritos, a participação dos leitores no diálogo com o autor é sempre indireta, pois ele escreve seus textos com base apenas na imagem que faz de seus interlocutores. Em textos orais, como o discurso de Martin Luther King, além das marcas de interlocução (o reverendo inicia afirmando: “Estou contente de me reunir hoje com vocês”), pode-se ter também a participação explícita dos ouvintes, como registram as informações entre parênteses ao longo do texto transcrito (Sim, Nunca, etc.).
Uma vez definidos os interlocutores de um texto, o autor deve levar em consideração as características específicas deles, ou seja, seu perfil, de modo que garanta a eles a compreensão do que irá dizer.
No caso do discurso analisado, por exemplo, o perfil dos interlocutores leva o autor a fazer, logo no início, uma caracterização das condições de vida dos negros norte-americanos passados cem anos da Proclamação da Emancipação, que pôs fim à escravidão. Observe.
“[...] cem anos depois, o negro ainda não é livre. Cem anos depois, a vida do negro ainda está tristemente debilitada pelas algemas da segregação e pelos grilhões da discriminação. Cem anos depois, o negro vive isolado numa ilha de pobreza em meio a um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o negro ainda vive abandonado nos recantos da sociedade na América, exilado em sua própria terra. Assim, hoje viemos aqui para representar a nossa vergonhosa condição.”
Como sabe que seus interlocutores preferenciais — negros norte-americanos — vieram a Washington participar de uma manifestação contra a segregação racial, o autor precisa recuperar referentes na realidade conhecida por eles para construir a reflexão e a argumentação que faz em defesa da mobilização não violenta dos negros, até que sejam conquistados os direitos civis pelos quais estão lutando.
Esse procedimento revela que, no momento de conceber o texto, o conhecimento do perfil dos interlocutores motivou não só muito daquilo que foi dito pelo autor, mas também a maneira como expressou suas ideias e construiu suas imagens.
O interlocutor universal
Muitos dos textos com os quais entramos em contato, por meio de revistas e jornais, não podem se dirigir a interlocutores muito particulares. De modo geral, seus autores escrevem para um grande número de leitores e isso faz com que o perfil de interlocutor por eles representado tenha de ser mais genérico. Observe o texto a seguir.
Vidas e costumes sob o risco de extinção
Isoladas, tribos indígenas da Etiópia, que mantêm práticas culturais inusitadas, são vítimas de invasões de terra e obras de infraestrutura
A África despede-se aos poucos de um de seus estereótipos mais fortes, suas tribos primitivas. Grupos indígenas desaparecem à medida que surgem quilômetros de asfalto e novas torres de celular. As áreas mais isoladas do continente são conquistadas e não há mais refúgios para as populações nativas. Uma barragem no sul da Etiópia, a maior do país e a mais alta da África, modificará para sempre a paisagem que abriga as diferentes tribos do vale do rio Omo.
Estereótipos: ideias preconcebidas sobre alguém ou algo, resultante de julgamento baseado em generalizações que não correspondem necessariamente à realidade.
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Durante um percurso de 40.000 quilômetros, por 18 países do continente, conheci comunidades nativas que caminham a passos lentos em direção ao século XXI. De todas as etnias, as tribos do vale foram as que mais me impressionaram. A região é enclaustrada: os primeiros ocidentais conheceram o rio e suas etnias há apenas pouco mais de um século. Tribos como hamer, karo, ari, banna ou mursi são os últimos arquétipos de povos nativos com (quase) nenhuma influência da vida moderna. Falam somente seus idiomas, vestem roupas de couro de animais e (ainda) não têm telefones celulares.
Turmi é um vilarejo dentro da área hamer que ganha vida às segundas-feiras, dia de mercado. O movimento só engrena às 11h30: os locais precisam de três a seis horas para chegar a pé até o lugar. Turmi está fora das rotas de comércio e aqui não existem objetos de plástico “made in China”. As mercadorias são básicas: alimentos para sobreviver. É um mercado africano como eram todos os outros há 50 anos. Há mais mulheres que homens e quase todas usam vestimentas nativas. Elas levam um longo pedaço de pele de cabra pendurado no pescoço, cobrindo a frente do corpo. A borda da pele do animal é decorada com búzios. As laterais estão abertas, deixando transparecer os seios. As costas estão nuas. Estou em território nativo, num dos últimos bastiões de tribos de tradição pastoril. “Você pode entender a base da economia dos hamers pelos produtos do mercado”, afirma Adimas Genebo, um intérprete. “Além da manteiga, eles trazem leite, mel e animais vivos. E voltam com sorgo, milho e folhas de tabaco.”
[...]
CASTRO, Haroldo. Época. São Paulo: Globo, n. 730, 14 maio 2012. p. 50-52. (Fragmento).
MEIGNEUX/SIPA/NEWSCOM/GLOW IMAGES
Habitante do vale do rio Omo, Etiópia, 2008.
Enclaustrada: enclausurada.
Arquétipos: modelos que funcionam como essência e princípio explicativo para todos os objetos da realidade material. Representações compartilhadas pelo inconsciente coletivo.
Sorgo: grão semelhante ao milho, muito cultivado na África, Índia e China.
O autor do texto descreve, para leitores de uma revista semanal de atualidades, aspectos da vida de tribos indígenas que mantêm inalterados seus rituais e não incorporaram as influências culturais e tecnológicas do mundo em que ele vive. Ele se preocupa, por exemplo, em indicar que as tribos mencionadas em seu texto ficam na Etiópia. Também informa ao leitor que a proximidade de uma barragem “modificará para sempre a paisagem que abriga as diferentes tribos do vale do rio Omo”. Em outra passagem, descreve brevemente o mercado do vilarejo de Turmi, destacando o fato de que as atividades ali realizadas permanecem inalteradas há décadas: “É um mercado africano como eram todos os outros há 50 anos. Há mais mulheres que homens e quase todas usam vestimentas nativas.”.
Pelas referências feitas no texto, podemos supor que os leitores da revista em que foi publicado são pessoas de idade variada, com diferentes graus de escolaridade, que se interessam por assuntos de cultura geral. É, portanto, um perfil genérico de interlocutor.
Tome nota
Dizemos que um texto se dirige a um interlocutor universal (ou genérico) quando não é possível identificar um perfil de leitor específico que justifique determinadas escolhas feitas no texto. Normalmente, textos jornalísticos de caráter mais geral dirigem-se a interlocutores universais.
REPRODUÇÃO
Capa da revista, jun. 2014.
Considerando a grande diversidade de assuntos e temas abordados nos textos com os quais convivemos diariamente, é frequente que os leitores façam a seleção do que será lido em função de seus interesses pessoais. Isso não significa, porém, que os textos escolhidos por alguns leitores, e não por outros, tenham sido elaborados para interlocutores com um perfil particular. Eles podem ser textos voltados para o interlocutor universal que, pela natureza do tema abordado, interessam a um número reduzido de leitores.
Os textos de divulgação científica publicados em seções específicas de jornais e revistas são exemplo disso. O objetivo dos autores de tais textos é tornar compreensível, para o maior número de leitores possível, algumas descobertas e desenvolvimentos recentes da ciência. Justamente por isso, trabalham com um perfil de leitor universal. Apenas uma parcela do total de leitores dos jornais e revistas costuma ler textos de divulgação científica, mas isso não quer dizer que eles sejam escritos para interlocutores com perfil específico.
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Textos científicos publicados em revistas acadêmicas são exemplo da situação contrária. Nesse caso, os autores dos textos dirigem-se a interlocutores com um perfil mais particular e, por isso, podem pressupor um conjunto de conhecimentos compartilhados no que diz respeito aos temas abordados, aos conceitos discutidos e ao vocabulário utilizado.
• Textos criados para interlocutores específicos
Alguns gêneros textuais têm a sua concepção inteiramente definida pelo perfil do interlocutor a que se dirigem. É o caso, por exemplo, dos textos publicitários.
Como a finalidade desses textos é produzir um efeito específico em seus leitores (convencê-los a “comprar” um produto ou uma ideia), precisam ser concebidos de modo que explorem as características mais marcantes do público a que se dirigem. Observe.
REPRODUÇÃO/BINDER
Disponível em:
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