. Acesso em: jan. 2016.
Catálise heterogênea: os catalisadores automotivos
Os motores veiculares são responsáveis por mais de 50% das emissões antropogênicas de monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (CxHy) e óxidos de nitrogênio (NOx). O estado da Califórnia, nos Estados Unidos, foi o pioneiro no controle das emissões automotivas, em 1960, em razão da abundância de carros e luz solar nessa cidade. Promulgada em 1970, a lei estabelecia uma redução de 90% nas emissões desses poluentes. Dessa necessidade surgiram os conversores catalíticos — popularmente chamados de catalisadores. Acompanhe na tabela as reduções geradas na Califórnia entre 1970 e 1985 pelo uso desses equipamentos.
Redução de emissão de poluentes resultante do uso de catalisadores automotivos
|
Poluente (g ⋅ km−1)
|
Ano
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1970
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1975
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1980
|
1985
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Monóxido de carbono
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20
|
9
|
5
|
1,8
|
Hidrocarbonetos
|
2
|
1
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0,6
|
0,6
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Óxidos de nitrogênio
|
(não havia controle)
|
1,9
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1,2
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0,67
|
Fonte: RANGEL, M. C.; CARVALHO, M. F. A. Impacto dos catalisadores automotivos no controle da qualidade do ar. Química Nova,v. 26, n. 2, 2003. p. 274.
Observa-se uma redução significativa nas emissões dos três poluentes citados após 1970, ano em que começaram a ser implantados os catalisadores automotivos. No Brasil, em 1976 começou-se a estabelecer padrões nacionais de qualidade do ar: níveis máximos de concentração toleráveis de poluentes atmosféricos. Porém, apenas em 1986 foram estabelecidas leis para o controle da qualidade do ar, sendo criado o Proconve – Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores –, que estabelecia limites de emissão para o monóxido de carbono, os hidrocarbonetos e os óxidos de nitrogênio.
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Como os catalisadores reduzem as emissões de óxidos de nitrogênio, esse tipo de catálise tem papel fundamental também no combate à poluição ocasionada pela produção de ozônio troposférico. Veja no esquema, de maneira simplificada, o funcionamento de um catalisador automotivo.
ilustrações: Adilson Secco
Esquema simplificado do funcionamento de um catalisador automotivo: conversão de gases poluentes tóxicos em gases menos nocivos ao meio ambiente. Representação sem escala; cores fantasia.
No conversor catalítico automotivo acontecem basicamente dois tipos de transformação em que poluentes são convertidos em espécies químicas menos nocivas ao meio ambiente:
• hidrocarbonetos (CxHy) não queimados e monóxido de carbono (CO) são transformados em gás carbônico (CO2) e água (H2O);
• óxidos de nitrogênio (NO e NO2) são transformados em gás nitrogênio (N2) e gás oxigênio (O2).
Veja a seguir as equações que representam algumas das reações que ocorrem nesses conversores.
2 CO(g) + O2(g) ⇌ 2 CO2(g)
2 NO(g) ⇌ N2(g) + O2(g)
Essas são reações exotérmicas, o que explica por que a estrutura do conversor aquece bastante com o funcionamento do motor. A última transformação é a que indiretamente diminui o teor de dióxido de nitrogênio no ar e, consequentemente, combate a formação do ozônio troposférico.
Metais como a platina, o paládio e o ródio aceleram o processo de modo que ocorra a diminuição de emissões de óxidos de nitrogênio em um percentual que pode variar de 80% a 90%, ainda que o contato entre os gases e a superfície do catalisador aconteça apenas por alguns décimos de segundo. A imagem a seguir destaca os principais metais utilizados como catalisadores.
Metais usados frequentemente na catálise heterogênea.
Fonte: CHANG, R. Química geral: conceitos essenciais. 4. ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2010. p. 469.
A solução de engenharia encontrada pelos cientistas foi construir o conversor na forma de colmeia, em geral constituída de minúsculos canais impregnados com os metais que atuam como catalisadores, de modo que haja uma enorme superfície de contato para promover a adsorção dos gases. A ideia é expor ao máximo os gases à ação do catalisador.
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As imagens e esquemas a seguir mostram o catalisador e o mecanismo de ação de catálise.
A Clive Streeter/Getty images
B Loraks/Shutterstock
C ILUSTRAÇÕES: ADILSON SECCO
Em (A), tem-se uma visão do interior de um catalisador automotivo e, em (B), a imagem ampliada do formato do catalisador. Em (C), há um esquema em modelo submicroscópico que descreve simplificadamente o mecanismo de catálise. Representação sem escala; cores fantasia.
Na conversão do gás NO nos gases N2 e O2, a superfície de um metal como a platina pode acelerar o processo por auxiliar na quebra das ligações entre os átomos de N e O. As espécies adsorvidas pelos catalisadores metálicos têm suas ligações interatômicas enfraquecidas. Isso diminui a energia de ativação do processo, que, então, fica mais rápido.
Note que, no caso do catalisador automotivo, os reagentes estão na forma gasosa, enquanto o catalisador é um sólido. A catálise em que reagentes e catalisador estão em estados de agregação distintos é chamada de catálise heterogênea.
Enzimas: catalisadores biológicos
A água oxigenada, solução aquosa de peróxido de hidrogênio (H2O2(aq)), que se costuma ter em casa para desinfetar ferimentos, se armazenada corretamente – em local isento de luz e ventilado –, pode permanecer utilizável por muitos meses. Isso acontece porque, nessas condições, a decomposição do H2O2 formando água e gás oxigênio é lenta. Contudo, se for adicionado dióxido de manganês (MnO2) a um frasco contendo água oxigenada, a decomposição será bastante acelerada. Observe:
FOTOS: Charles D. Winters/Getty images
A adição do catalisador MnO2(s) acelera a decomposição exotérmica da água oxigenada; o calor liberado é suficiente para vaporizar a água.
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2 H2O2(aq) 2 H2O(l) + O2(g) + energia
Uma das defesas do inseto conhecido como besouro-bombardeiro (Brachynus crepitans) envolve a decomposição do peróxido de hidrogênio e outra reação química. Ele armazena em seu corpo uma solução aquosa de H2O2 e da substância chamada hidroquinona. Ao sentir-se ameaçado, essa solução entra em contato com as enzimas catalase e peroxidase, armazenadas estrategicamente em outro compartimento de seu corpo, dando início a reações exotérmicas que prosseguem rapidamente. Como resultado, o inseto é capaz de lançar um jato de água fervente e uma substância irritante (para-benzoquinona) em seus predadores.
As enzimas são, em sua maioria, proteínas. Sua função é acelerar reações como as representadas acima, uma vez que possibilitam um mecanismo alternativo para o processo; nesse novo mecanismo, a energia de ativação é menor. Sem as enzimas simplesmente não haveria vida como a conhecemos, pois são elas que possibilitam a rapidez e a especificidade necessárias para as reações que compõem o metabolismo.
Metabolismo: conjunto das transformações químicas realizadas por um ser vivo.
Os reagentes das reações catalisadas por enzimas recebem um nome especial: substratos. Diferentemente da platina e de outros metais utilizados como catalisadores, não é em toda a superfície da enzima que ocorrem as conversões catalíticas. A região específica da estrutura tridimensional das enzimas em que se ligam os substratos é chamada sítio ativo. Por vezes, as enzimas precisam estar associadas a outras substâncias que auxiliam o seu funcionamento e são denominadas cofatores. Esses cofatores são geralmente íons ou pequenas moléculas derivadas de vitaminas.
Apesar de muito eficientes, a funcionalidade das enzimas é muito sensível à temperatura e ao pH. Em altas temperaturas, por exemplo, pode haver o rompimento de ligações intermoleculares, que são responsáveis pela estrutura tridimensional da enzima, fenômeno conhecido como desnaturação.
A fixação do nitrogênio e a nitrogenase
O nitrogênio é um dos elementos mais essenciais aos organismos vivos. Ele é encontrado em muitos compostos fundamentais para a vida, incluindo as proteínas, os ácidos nucleicos, as vitaminas e os hormônios. As plantas usam compostos contendo nitrogênio muito simples, especialmente NH3, NH4+ e NO3−, como materiais de partida a partir dos quais compostos complexos e biologicamente necessários são formados. Os animais são incapazes de sintetizar os compostos complexos de nitrogênio de que necessitam a partir de substâncias simples usadas pelas plantas. Em vez disso, contam com precursores mais complicados presentes nos alimentos ricos em proteínas e vitaminas.
O nitrogênio é continuamente reciclado pela arena biológica de várias formas, como mostrado no ciclo de nitrogênio na figura a seguir.
Adilson Secco
Figura simplificada do ciclo do nitrogênio. Os compostos de nitrogênio no solo são espécies solúveis em água, como NH3, NO2− e NO3−, que podem ser levados do solo pela água do subsolo. Esses compostos de nitrogênio são convertidos em biomoléculas pelas plantas e são incorporados aos animais que as comem. Os dejetos dos animais e de plantas e animais mortos[...] liberam N2 para a atmosfera. N2 atmosférico é fixado no solo principalmente pela ação de determinadas plantas que contêm enzima nitrogenase, consequentemente completando o ciclo.
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Por exemplo, determinados microrganismos convertem o nitrogênio [presente] em dejetos animais e plantas mortas em nitrogênio molecular, N2(g), que retorna à atmosfera. Para que a cadeia alimentar seja mantida, deve existir uma maneira de reincorporação desse N2 atmosférico em uma forma que as plantas possam utilizar. O processo de conversão de N2 em compostos que as plantas podem utilizar é chamado fixação de nitrogênio. A fixação de nitrogênio é difícil, pois N2 é uma molécula excepcionalmente não reativa [...]. Algum nitrogênio fixado resulta da ação dos relâmpagos na atmosfera, e outro tanto é produzido industrialmente [...]. Entretanto, aproximadamente 60% do nitrogênio fixado é consequência da ação de uma enzima complexa e notável chamada nitrogenase. Essa enzima não está presente nos homens ou outros animais; mais propriamente, é encontrada em bactérias que vivem nos nódulos das raízes de determinadas plantas, como leguminosas, trevo e alfafa.
A nitrogenase converte N2 em NH3, um processo que, na ausência de um catalisador, tem energia de ativação muito grande. Esse processo é uma redução do nitrogênio – durante a reação, seu estado de oxidação é reduzido de 0 em N2 para −3 em NH3. [...]. Do mesmo modo que muitas enzimas, inclusive a catalase, o sítio ativo da nitrogenase contém átomos de metais de transição; tais enzimas são chamadas de metaloenzimas. Uma vez que os metais de transição podem variar o estado de oxidação rapidamente, as metaloenzimas são especialmente úteis para realizar transformações nas quais os substratos são oxidados ou reduzidos.
Sabe-se [...] que uma parte da nitrogenase contém [...] ferro e molibdênio. Acredita-se que essa parte, chamada cofator FeMo, sirva como sítio ativo da enzima. O cofator FeMo da nitrogenase é um aglomerado (cluster) surpreendente de sete [...] Fe e um [...] Mo, todos unidos por átomos de enxofre (veja a figura a seguir). [...]
[...] Por causa dessa enzima, o nitrogênio é continuamente reciclado entre seu papel comparativamente inerte na atmosfera e seu papel crítico nos seres vivos; [...].
dr. Jeremy Burgess/Science Photo Library/Latinstock
Adilson Secco
Representação do cofator FeMo da nitrogenase [...]. A nitrogenase é encontrada nos nódulos das raízes de certas plantas, como nas raízes do trevo branco, mostrado à esquerda. [...].
Fonte: BROWN, T. L. et al. Química: a ciência central. 9. ed. São Paulo: Pearson, 2005. p. 517-518.
Perguntas sobre o texto
Responda em seu caderno
1 Segundo o texto, a conversão de N2 em NH3:
a) é acelerada pela ação da enzima nitrogenase, que aumenta a energia de ativação da reação.
b) só ocorre na presença da enzima nitrogenase.
c) tem como catalisador a enzima nitrogenase, que diminui a energia de ativação da reação.
d) na presença de nitrogenase ocorre com maior rendimento.
2 Apresente um motivo de natureza estrutural para explicar a baixa reatividade química da molécula de gás nitrogênio.
3 Considerando a fixação do nitrogênio um processo endotérmico, esboce um gráfico em que a linha tracejada represente a reação catalisada de conversão do N2 em NH3 e a linha cheia represente a reação não catalisada. Considere também que o catalisador atue em duas etapas, com diferentes valores de energia de ativação.
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Questões para fechamento do tema
Responda em seu caderno
1 Nas modernas máscaras de oxigênio dos aviões, o gás O2 pode ser produzido a partir da decomposição térmica do clorato de sódio:
2 NaClO3(s) ⇌ 2 NaCl(s) + 3 O2(g)
Como essa reação é muito lenta, o clorato de sódio pode ser armazenado por longos períodos. Quando necessário, o passageiro é instruído a puxar a máscara em sua direção, o que desencadeia uma reação exotérmica entre limalha de ferro e clorato de sódio:
4 Fe(s) + 4 NaClO3(s) ⇌ 2 Fe2O3(s) + 4 NaCl(s) + 3 O2(g)
David R. Frazier Photolibrary, Inc./Alamy/Fotoarena
O gás oxigênio disponibilizado nas máscaras utilizadas em aviões é resultado de uma reação química.
Como resultado, inicia-se a decomposição do clorato de sódio, que, assim, fornece o gás oxigênio respirado pelos passageiros.
a) Qual é a função da reação entre a limalha de ferro e o clorato de sódio no funcionamento dessas máscaras?
b) Misturando MnO2 com o NaClO3, a decomposição desse último é altamente acelerada. Qual é a função do MnO2 nessa situação?
2 Explique os fenômenos descritos a seguir em função dos conhecimentos adquiridos sobre cinética química.
a) Os gases oxigênio (O2) e nitrogênio (N2) comumente não reagem entre si para formar monóxido de nitrogênio (NO) na atmosfera. No entanto, quando há chuvas acompanhadas de muitos relâmpagos essa reação acontece.
b) Um palito de fósforo não se acende espontaneamente em condições ambiente. Porém, um ligeiro atrito com uma superfície áspera costuma ser suficiente para que ele, imediatamente, entre em combustão.
3 A decomposição da água oxigenada pode ser acelerada por diversos catalisadores: platina(s), prata(s) e íons brometo(aq) são alguns exemplos. A reação de decomposição da água oxigenada pode ser representada pela seguinte equação:
2 H2O2(aq) ⇌ 2 H2O(l) + O2(g)
Com base nessas informações, responda:
a) em que caso(s) a catálise será homogênea?
b) em que caso(s) a catálise será heterogênea?
4 Analise a seguinte afirmação: “Na natureza, a destruição e a produção do ozônio na estratosfera apresentam taxas semelhantes; como resultado, a concentração de ozônio ali é mantida praticamente constante. Nas últimas décadas, porém, moléculas de cloro formadas a partir dos gases CFCs possibilitaram um novo mecanismo para a destruição do ozônio – mecanismo esse com uma energia de ativação maior que o original. Consequentemente, a camada de ozônio ficou ainda mais rarefeita, permitindo a passagem da radiação ultravioleta, antes completamente bloqueada pelo ozônio.”
a) Quantos erros há na afirmação acima? Transcreva-os no caderno.
b) Supondo que um único átomo de cloro ocasione a decomposição de 2 milhões de moléculas de ozônio, 242 gramas de CCl2F2 – valor próximo à produção anual desse gás (por habitante) em 1986 – poderiam decompor qual quantidade de ozônio? Dê a resposta em toneladas.
[Massa molar do CCl2F2 = 121 g/mol.]
5 Algumas reações químicas ocorrem em apenas uma etapa, como a síntese da amônia a partir dos gases nitrogênio e hidrogênio. Mas outras podem ocorrer em mais de uma etapa, como a depleção do ozônio em gás oxigênio pela ação de um átomo de cloro reativo, que faz o papel de catalisador da reação. Considere a reação genérica:
BC(g) + D(g) ⇌ CD(g) + B(g)
que ocorre em duas etapas:
1ª etapa: A(g) + BC(g) ⇌ AC(g) + B(g)
2ª etapa: AC(g) + D(g) ⇌ A(g) + CD(g)
Indique, em seu caderno, se as afirmações a seguir são verdadeiras (V) ou falsas (F).
I. O composto AC(g) não aparece na equação global, pois é um produto da primeira etapa e um reagente da segunda etapa, tratando-se, portanto, de um intermediário.
II. A substância AC(g) é o catalisador da reação.
III. A catálise é do tipo heterogênea.
IV. A substância A(g) não aparece na equação global, pois é reagente na primeira etapa e produto na segunda etapa, tratando-se, portanto, de um intermediário.
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TEMA 4
Lei cinética de reação
Neste tema serão discutidas as relações quantitativas estabelecidas pela lei cinética de reação, que permitem calcular a taxa instantânea de uma reação com base nas concentrações dos reagentes a determinada temperatura.
123RF/Easypix BrasiL
Ao abanar uma fogueira ou um carvão vegetal em brasa, a chama se reaviva, pois aumenta-se o fornecimento de gás oxigênio – comburente essencial para as combustões – nas proximidades do material combustível em chamas.
Breve histórico e a expressão matemática da lei cinética de reação
Conforme abordado no Tema 2, há uma estreita relação entre a concentração de um reagente e a rapidez da reação envolvida. Mas será que ao dobrar a concentração dos reagentes a rapidez da reação também duplicará?
A primeira relação quantitativa entre taxa de reação e concentração dos reagentes foi desenvolvida em 1850 pelo químico alemão Ludwig F. Wilhelmy (1812-1864), com base em seus estudos sobre a hidrólise da sacarose catalisada por ácidos. Algumas décadas depois, o químico holandês Jacobus van’t Hoff (1852-1911) estendeu e generalizou a análise matemática do progresso de uma transformação química que tinha sido realizada anteriormente por Wilhelmy e outros. Essa relação matemática entre a taxa de reação e a concentração dos reagentes recebe hoje o nome de lei cinética de reação.
Considere a reação genérica:
A(g) + B(g) ⇌ AB(g)
A lei cinética dessa reação pode ser escrita como:
Ti = k ⋅ [A]x ⋅ [B]y
em que:
• k é a constante de rapidez, que é característica da reação e depende da temperatura, mas não da concentração das espécies químicas;
• x e y são as ordens da reação em relação aos reagentes A e B, respectivamente;
• [A] e [B] são as concentrações dos reagentes A e B, respectivamente, em mol/L.
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Como exemplo, considere a reação entre o monóxido de nitrogênio e o gás hidrogênio representada pela equação:
2 NO(g) + 2 H2(g) ⇌ N2(g) + 2 H2O(g)
Agora analise os dados obtidos em três experimentos, realizados a 1.280 °C, em que se variou a concentração inicial dos reagentes e mediu-se a taxa instantânea de reação (Ti) no instante t = 0.
Dados experimentais das taxas iniciais com diferentes concentrações de reagentes a 1.280 °C
|
Experimento
|
[NO] (mol ⋅ L−1)
|
[H2] (mol ⋅ L−1)
|
Ti (mol ⋅ L−1 ⋅ s−1)
|
I
|
5,0 ⋅ 10−3
|
2,0 ⋅ 10−3
|
1,25 ⋅ 10−5
|
II
|
10,0 ⋅ 10−3
|
2,0 ⋅ 10−3
|
5,0 ⋅ 10−5
|
III
|
10,0 ⋅ 10−3
|
4,0 ⋅ 10−3
|
10,0 ⋅ 10−5
|
Fonte: CHANG, R.; GOLDSBY, K. A. Química. 11. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. p. 575.
A lei cinética dessa reação pode ser escrita, preliminarmente, como:
Ti = k ⋅ [NO]x ⋅ [H2]y
Uma das maneiras de determinar os expoentes x e y é procurar por padrões nos dados experimentais obtidos, analisando um reagente de cada vez. Por exemplo, o efeito da variação da concentração de NO pode ser mais bem observado mantendo a concentração de H2 constante, pois nessa situação qualquer variação da rapidez da reação será atribuída apenas à variação da concentração de NO.
Analisando os experimentos I e II, nota-se que, quando a concentração de NO é duplicada, a taxa instantânea da reação quadruplica, o que pode ser constatado pela razão entre as taxas instantâneas de reação dos experimentos II (Ti(2)) e I (Ti(1)):
= = 4
Fazendo a razão entre a lei cinética da reação referente aos experimentos II e I, tem-se:
4 =
Simplificando, tem-se:
4 = 2x
22 = 2x
x = 2
Portanto, a ordem da reação em relação ao reagente NO é igual a 2.
Analisando os experimentos II e III, nota-se que, quando a concentração de H2 é duplicada e a concentração de NO é mantida constante, a taxa instantânea da reação duplica, o que pode ser constatado pela razão entre a taxas de reação dos experimentos III (Ti(3)) e II (Ti(2)):
= = 2
Fazendo a razão entre a lei cinética da reação referente aos experimentos III e II, tem-se:
2 =
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Simplificando, tem-se:
2 = 2y
21 = 2y
y = 1
Portanto, a ordem da reação em relação ao reagente H2 é igual a 1. Assim, a lei cinética de reação pode ser expressa pela equação:
Ti = k ⋅ [NO]2 ⋅ [H2]1
Pode-se dizer que a reação é de segunda ordem em relação ao NO (exponente 2), de primeira ordem em relação ao H2 (expoente 1) e de terceira ordem quando se analisa a ordem global da reação (soma dos exponentes: 2 + 1 = 3).
Os expoentes da lei cinética de reação são geralmente números inteiros e pequenos, mas números fracionários e negativos são possíveis, e há até mesmo ordens de reação igual a zero. Reações de ordem zero geralmente envolvem catalisadores saturados com os reagentes. Nesse caso, a reação se processa com rapidez constante até que todo o reagente tenha sido consumido. Um exemplo desse tipo de reação envolve o metabolismo do etanol pelo fígado. Independentemente do nível de etanol no sangue, a rapidez com que ele é metabolizado é constante, pois o número de enzimas no fígado é constante. Outro exemplo é a decomposição de NH3(g) em H2(g) e N2(g) sobre uma superfície de platina aquecida.
Aplicação da constante de rapidez de uma reação
A partir da expressão da lei cinética de uma reação, pode-se realizar previsões de qual seria o valor da taxa instantânea de uma reação a certa temperatura. Por exemplo: qual seria a taxa instantânea da reação a 1.280 °C se as concentrações iniciais de NO e H2 fossem iguais a 2,5 ⋅10−1 mol ⋅ L−1 e 1,0 ⋅ 10−1 mol ⋅ L−1, respectivamente?
Para responder a essa pergunta, é preciso antes determinar o valor da constante de rapidez, k, a 1.280 °C. Para isso, pode-se utilizar os dados da tabela Dados experimentais das taxas iniciais com diferentes concentrações de reagentes a 1.280 °C.
Selecionando os dados do experimento I, por exemplo, e substituindo-os na lei cinética de reação, tem-se:
Ti = k ⋅ [NO]2 ⋅ [H2]1
1,25 ⋅ 10−5 mol ⋅ L−1 ⋅ s−1 = k ⋅ [5,0 ⋅ 10−3 mol ⋅ L−1]2 ⋅ [2,0 ⋅ 10−3 mol ⋅ L−1]1
k =
k =
k = 2,5 ⋅ 102 mol−2 ⋅ L2 ⋅ s−1
Sabendo o valor da constante de rapidez da reação, pode-se enfim fazer a estimativa da taxa instantânea da reação quando as concentrações de NO e H2 forem iguais a 2,5 ⋅ 10−1 mol ⋅ L−1 e 1,0 ⋅ 10−1 mol ⋅ L−1.
Ti = k ⋅ [NO]2 ⋅ [H2]1
Ti = 2,5 ⋅ 102 mol−2 ⋅ L2 ⋅ s−1 ⋅ [2,5 ⋅ 10−1 mol ⋅ L−1]2 ⋅ [1,0 ⋅ 10−1 mol ⋅ L−1]1
Ti ≅1,6 mol ⋅ L−1 ⋅ s−1
Reações elementares e não elementares
Já na década de 1970, o químico estadunidense Harold S. Johnston (1920-2012), da Universidade da Califórnia, em Berkeley, chamou a atenção para o perigo que os óxidos de nitrogênio (NOx), entre eles o NO, produzidos em razão das altas temperaturas atingidas pelos motores dos aviões supersônicos, representavam para o ozônio estratosférico.
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Considere novamente a reação de consumo do ozônio estratosférico pela reação com monóxido de nitrogênio formado por aviões supersônicos.
O3(g) + NO(g) ⇌ NO2(g) + O2(g)
A lei cinética dessa reação pode ser escrita, preliminarmente, como:
Ti = k ⋅ [O3]x ⋅ [NO]y
Para determinar as ordens de reação em relação aos dois reagentes, pode-se analisar a tabela a seguir, que mostra medições realizadas a 25 °C.
Dados experimentais a 25 °C da reação de depleção do ozônio pelo monóxido de nitrogênio
|
Experimento
|
[O3] (mol ⋅ L−1)
|
[NO] (mol ⋅ L−1)
|
Ti (mol ⋅ L−1 ⋅ s−1)
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I
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1,00 ⋅ 10−6
|
3,00 ⋅ 10–6
|
0,66 ⋅ 10–4
|
II
|
1,00 ⋅ 10–6
|
6,00 ⋅ 10–6
|
1,32 ⋅ 10–4
|
III
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1,00 ⋅ 10–6
|
9,00 ⋅ 10–6
|
1,98 ⋅ 10–4
|
IV
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2,00 ⋅ 10–6
|
9,00 ⋅ 10–6
|
3,96 ⋅ 10–4
|
V
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3,00 ⋅ 10–6
|
9,00 ⋅ 10–6
|
5,94 ⋅ 10–4
|
Fonte: Olimpíada de Química do Rio Grande do Sul, 2011. Disponível em:
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