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A religião em tempos de globalização
Em seu estudo sobre o protestantismo, Weber escreve que religiões como
essa progressivamente abriam mão de rituais e símbolos com poderes
mágicos. Por outro lado, recorriam cada vez mais a explicações sistematizadas
sobre o mundo. Weber deu o nome "desencantamento do mundo" a esse
movimento em que a esfera do sagrado vai se tornando menos mágica e mais
racionalizada, o que repercutiria em outras esferas da vida.
Com a consolidação do Estado moderno e a secularização das instituições,
ambos se afastaram da influência religiosa e a religião deixou de ser o
elemento central de organização da sociedade. Por sua vez, com a emergência
das ciências, a magia e a religião perderam espaço como explicações para o
mundo. Muitas vezes esse debate inspira discussões sobre um possível "fim da
religião", reavivando o confronto entre revelação e razão para explicar a
realidade social.
Diante da ascensão de novas denominações religiosas, do fundamentalismo e
dos conflitos religiosos, autores defendem que vivemos um retorno ao sagrado.
Porém, não se trata de um consenso. Na visão do sociólogo brasileiro Renato
Ortiz (1947-), a religião nunca deixou de estar presente na sociedade. Nesse
sentido, vale indagar se nos deparamos com o declínio, a transformação ou o
renascimento da religiosidade, como sugere o sociólogo polonês Zygmunt
Bauman (1925-).
A ideia do fim da religião ou do seu enfraquecimento nas relações sociais está
associada, muitas vezes, à perspectiva positivista, que prevê etapas
sucessivas de desenvolvimento na sociedade em direção ao progresso.
Seguindo essa linha, diversas teorias conceberam o término da religião como
decorrência dos avanços científicos e consideraram as sociedades tradicionais
"arcaicas", por se orientarem pelos valores morais da religião. Entretanto,
diversos pensadores refutam tal opinião, como Baechler:
LEGENDA: O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em foto de 2015.
FONTE: Andrea Astes/Corbis/Fotoarena
Normalmente, o progresso técnico contemporâneo deveria fazer recuar e
desaparecer o recurso à magia e à intercessão. Este "normalmente"
proporciona-nos uma outra maiúscula, a maiúscula do Progresso. Com efeito,
para o Homem, a magia e o recurso aos deuses retrocederam perante a
eficácia técnica. Hoje em dia, o Homem recorre mais prontamente aos
antibióticos do que aos amuletos, e aos adubos químicos do que à bênção dos
campos. Mas as coisas nem sempre são assim tão simples. As técnicas
eficazes podem ser inacessíveis. A eficácia nunca vai a ponto de excluir o
fracasso. Apesar de todos os progressos da Medicina, os homens contraem
doenças e acabam por morrer. Sobretudo, a vida de cada um é dominada pela
incerteza radical que afeta tudo aquilo que advém da ação: ninguém controla
jamais o resultado nem as consequências de qualquer empreendimento. Essa
incerteza faz a fortuna das cartomantes, das quiromantes, dos fazedores de
horóscopos, de todos os que prometem reduzir ou suprimir a incerteza através
de métodos que só podem ser irracionais, dado que a matéria tratada é
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