1 Luiz Fernandes de Oliveira



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Interdisciplinaridade

Conversando com a Arte



Evolução do desenho dos objetos: uma contribuição da Bauhaus

Dione Lins & Ricardo Pereira

A arte não é algo isolado das demais atividades humanas. Ela está presente nos inúmeros artefatos que fazem parte do nosso dia a dia. Muitas coisas que hoje observamos nos museus, ontem faziam parte do cotidiano do ser humano. Ou seja, temos um convívio diário com objetos que, na sua maioria, não são considerados objetos artísticos - que foram feitos em série nas indústrias e estão agora disponíveis para o consumo de toda a sociedade.

Então, cabe perguntar: se tudo o que nos cerca, se tudo o que as pessoas fabricam fosse arte, fosse "belo", a nossa vida seria outra? Como seriam as nossas vidas se tudo que se fabricasse fosse ARTE?

Foi a isso que respondeu, em 1919, na Alemanha, a fundação da Bauhaus*, uma escola de artes diferente de todas que havia até então - arquitetura, pintura, fabricação de objetos, de cartazes, de tecidos, etc. Foram fundadores ou mestres na Bauhaus muitos arquitetos e pintores hoje bastante conhecidos: Gropius, Paul Klee, Wassily Kandinsky, dentre outros. Estes fizeram profundas transformações nos modos de projetar casas e de fazer pintura e, ao mesmo tempo, se preocupavam com o formato de todos os objetos do nosso cotidiano, porque entendiam que essas questões poderiam influenciar na criação de outra sociedade, em que o trabalho coletivo predominasse, onde a divisão de classes sociais desaparecesse, bem como a distância entre "artista" e "artesão", e onde surgisse um "novo homem".

Os objetos produzidos por esses artistas e artesãos, mestres e aprendizes da Bauhaus colocavam claramente em questão o "belo" estabelecido e o processo de fabricação da arte, ou que envolviam a arte. Foram, na época, usados evidentemente por poucas pessoas e certamente não pelo conjunto de trabalhadores daquela sociedade. Hoje, são peças de museus. Mas, muito dos talheres, dos pratos, das luminárias, das cades traçados pelos criadores da Bauhaus não foram alcançados e a indústria moderna se apropriou do conceito de funcionalidade dos objetos depois de sua refundação pelo artista Lászlo Moholy-Nagy, em Chicago, em 1937, a qual ficou conhecida como New-Bauhaus.

Dione Souza Lins e Luís Ricardo Pereira de Azevedo são professores de Artes. Dione leciona na Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro e é licenciada em Educação Artística - Artes Plásticas, pela UFRJ. Ricardo é professor da Rede Estadual e da Rede Municipal do Rio, e licenciado em Educação Artística - História da Arte, pela UERJ. Ambos são Especialistas em Ensino da Arte pela Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro.

* Instituição artística fundada em Weimar (Alemanha), pelo arquiteto Walter Gropius, transferindo-se para Dessaul, em 1925, e para Berlim, em 1932, onde foi fechada com o advento do nazismo, em 1933. Escola de Arquitetura, Decoração e Design, seu propósito era promover a fusão de todos os aspectos das Artes. (MARCONDES, Luiz Fernando. Dicionário de termos artísticos. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1998).

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Interatividade



Revendo o capítulo

1 - Quais as principais características do capitalismo?

2 - De acordo com o texto, quais as consequências das crises econômicas no capitalismo? Descreva também as críticas formuladas por Karl Marx.

3 - Como Marx e Lênin entendiam o socialismo?



Dialogando com a turma

1 - O capitalismo promove o progresso da humanidade? Justifique a sua resposta.

2 - Levando em consideração as características do socialismo apresentadas no capítulo, podemos afirmar que ele foi de fato implantado em algum país? Pensando no futuro da humanidade, podemos dizer que o socialismo ainda é uma alternativa possível?

Verificando o seu conhecimento

1 - (ENEM, 2010)

O movimento operário ofereceu uma nova resposta ao grito do homem miserável no princípio do século XIX. A resposta foi a consciência de classe e a ambição de classe. Os pobres então se organizavam em uma classe específica, a classe operária, diferente da classe dos patrões (ou capitalistas). A Revolução Francesa lhes deu confiança; a Revolução Industrial trouxe a necessidade da mobilização permanente.

No texto, analisa-se o impacto das Revoluções Francesa e Industrial para a organização da classe operária. Enquanto a "confiança" dada pela Revolução Francesa era originária do significado da vitória revolucionária sobre as classes dominantes, a "necessidade da mobilização permanente", trazida pela Revolução Industrial, decorria da compreensão de que:

(A) a competitividade do trabalho industrial exigia permanente esforço de qualificação para o enfrentamento do desemprego.

(B) a completa transformação da economia capitalista seria fundamental para a emancipação dos operários.

(C) a introdução das máquinas no processo produtivo diminuía as possibilidades de ganho material dos operários.

(D) o progresso tecnológico geraria a distribuição de riquezas para aqueles que estivessem adaptados aos novos tempos industriais.

(E) a melhoria das condições de vida dos operários seria conquistada com manifestações coletivas em favor dos direitos trabalhistas.

2 - (ENEM, 1999)

A Revolução Industrial ocorrida no final do século XVIII transformou as relações do homem com o trabalho. As máquinas mudaram as formas de trabalhar, e as fábricas concentraram-se em regiões próximas às matérias-primas e grandes portos, originando vastas concentrações humanas. Muitos dos operários vinham da área rural e cumpriam jornadas de trabalho de 12 a 14 horas, na maioria das vezes em condições adversas. A legislação trabalhista surgiu muito lentamente ao longo do século XIX e a diminuição da jornada de trabalho para oito horas diárias concretizou-se no início do século XX.

Pode-se afirmar que as conquistas no início deste século, decorrentes da legislação trabalhista, estão relacionadas com:

(A) a expansão do capitalismo e a consolidação dos regimes monárquicos constitucionais.

(B) a expressiva diminuição da oferta de mão de obra, devido à demanda por trabalhadores especializados.

(C) a capacidade de mobilização dos trabalhadores em defesa dos seus interesses.

(D) o crescimento do Estado, ao mesmo tempo em que diminuía a representação operária nos parlamentos.

(E) a vitória dos partidos comunistas nas eleições das principais capitais europeias.

Pesquisando e refletindo

LIVROS

CATANI, Afrânio Mendes. O que é capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1980. (Coleção Primeiros Passos).

De forma clara, este livro reflete o que é o capitalismo a partir de vários autores.

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Além de analisar o desenvolvimento e as crises do sistema no âmbito internacional.

SPINDEL, Arnaldo. O que é comunismo. São Paulo: Brasiliense, 1980. (Coleção Primeiros Passos).

Neste livro se faz uma reflexão sobre o comunismo como o movimento político que surge com a Revolução Russa e que se espalhou por muitos países.

FILMES

CAPITALISMO: UMA HISTÓRIA DE AMOR (Capitalism: a love story. EUA, 2009). Direção: Michael Moore. Duração: 127 min.

Documentário que apresenta uma análise de como o capitalismo corrompeu os ideais de liberdade previstos na Constituição dos Estados Unidos.

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS (Animal Farm, EUA, 1999). Direção: John Stephenson. Duração: 90 min.

Sátira sobre a Revolução Russa e seus desdobramentos. Narra o levante dos animais de uma fazenda, revoltados contra os maus-tratos por parte dos donos.

INTERNET

ENTREVISTA COM ERIC HOBSBAWM: "O socialismo fracassou, agora o capitalismo faliu; o que virá a seguir?" - http://goo.gl/3Cbd48 Página do jornal Folha de São Paulo que traz uma entrevista realizada em 15 de setembro de 2009 com o historiador Eric Hobsbawm. Nessa entrevista, o historiador reflete sobre o capitalismo e o socialismo, e as perspectivas para o futuro. Acesso: janeiro/2016.

ARGUMENTOS EM DEFESA DO CAPITALISMO E EM DEFESA DO SOCIALISMO:

CAPITALISMO: http://goo.gl/PYOmu0

SOCIALISMO: http://goo.gl/i5wk1Q

Dois sites que defendem posições antagônicas. Os argumentos pró-capitalismo constam de vários artigos do Instituto Ludwig von Mises - Brasil (IMB), que se apresenta como "uma associação voltada à produção e à disseminação de estudos econômicos e de ciências sociais que promovam os princípios de livre mercado e de uma sociedade livre". Já os argumentos pró-socialismo podem ser encontrados na revista Socialismo e Liberdade, publicada pela Fundação Lauro Campos (FLC). O site da fundação informa que ela estimula "um pensamento crítico comprometido com os valores do socialismo e da liberdade, e promovendo o debate de proposta programáticas para a transformação social do país". Acesso: janeiro/2016.



MÚSICAS

CAPITALISMO - Autores e intérpretes: Ratos de Porão.

A letra é bem direta ao caracterizar os males do capitalismo. Fica a discussão: você concorda?

REVOLUTION - Autores: John Lennon & Paul McCartney. Intérpretes: The Beatles.

Em plena efervescência dos movimentos jovens de 1968, os Beatles tomam posição a respeito do clamor por mudanças. Escute a música e leia a tradução da letra.

FILME DESTAQUE



A CULPA É DO FIDEL

(La Faute à Fidel)

FICHA TÉCNICA:

Direção: Julie Gavras

Elenco: Nina Kervel-Bey, Julie Depardieu, Stefano Accorsi, Benjamin Feuillet, Martine Chevallier

Duração: 99 min.

(França/Itália, 2006)

FONTE: Gaumont /Julie Gavras

SINOPSE:

Anna tem nove anos, mora em Paris e leva uma vida tranquila. Em 1970, a prisão e morte do seu tio espanhol, um militante comunista convicto, muda completamente a vida da sua família. Com isso, aos poucos, a menina adquire uma nova compreensão do mundo.

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Aprendendo com jogos



Civilization V (2K Games, 2010)

O ESTADO SOMOS NÓS: UMA DEMOCRACIA SIMULADA



FONTE: Divulgação: Steam

Você teve a oportunidade de conhecer esse jogo, que foi apresentado no capítulo 1: Civilization V é um jogo de estratégia por turnos onde o jogador assume o papel de um líder político de uma civilização à sua escolha e seu objetivo é conduzir a sociedade que se forma à prosperidade. O jogador deve alcançar esse objetivo através do desenvolvimento econômico e cultural. Você criará sua civilização novamente do zero, contando com a experiência anterior. Mas agora você fará isso junto com toda a classe! E através de um processo democrático e participativo. O objetivo do jogo é manter a civilização da turma no primeiro lugar em pontuação do jogo. O objetivo da atividade é experimentar os procedimentos democráticos em sala de aula.

Como jogar:



1. Organize-se em "grupos políticos". Todos os participantes serão políticos e os grupos serão representantes de interesses diferenciados da sociedade fictícia que irão criar. Inclusive, podem se dividir em "partidos". Deixem a criatividade solta! Criem partidos diferentes que irão compor o "Congresso" e não se esqueçam que em uma sociedade democrática há distintos interesses em conflito num congresso! Vocês podem utilizar as três principais possibilidades de vitória do jogo para dividirem os interesses: cultura, tecnologia e desenvolvimento militar. Criem também uma equipe econômica que será a responsável por dar sugestões sobre investimentos e gastos. O congresso e a equipe econômica serão compostas por representantes de todos os partidos.

2. Ao criarem a civilização da turma, façam uma votação inicial para decidir qual será a tecnologia a ser pesquisada e o que será construído na capital. Para fazer as votações de maneira ágil, não há necessidade de fazer votos secretos. Utilize a velha técnica do "levante a mão quem quer...". Deve ser garantido um tempo antes das votações, para que os partidos negociem e os colegas possam convencer uns aos outros de suas propostas.

3. À medida que as construções e pesquisas terminarem no jogo, a turma deve fazer novas votações para decidir qual será o próximo passo.

4. As relações diplomáticas também devem ser decididas em grupo a partir de votação. Elas incluem estabelecer relações diplomáticas e comerciais com outras civilizações controladas pelo computador. A decisão de entrar em uma guerra também deve ser proposta e votada em assembleia.

5. À medida que novas cidades são criadas, elas podem ser entregues a grupos de colegas que terão autonomia na administração da mesma. Não precisa ser para um "partido" necessariamente e isso pode ser decidido pela assembleia. Apenas as decisões referentes às construções que são feitas na cidade Capital da civilização devem ir para a assembleia e nela serem decididas.

6. Se houver mais de uma turma do mesmo ano cursando a disciplina, pode-se organizar uma competição e ao final do prazo combinado (no mínimo 200 turnos) a turma que tiver a melhor pontuação no jogo será a vencedora.

7. Ao fim da atividade, escrevam trabalhos individuais contando as suas experiências como "políticos". Comparem as suas experiências com o que aprenderam na disciplina e com suas ideias sobre o funcionamento da política.

8. Organizem um debate na escola sobre "democracia e neoliberalismo". (Dica: leiam o Capítulo 10)

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Capítulo 10 - "Todo mundo come no Mc Donald's e compartilha no Facebook?" Globalização e neoliberalismo

Em 1848, na Europa, as pessoas não sabiam o que era globalização. O mundo à sua volta, na visão da maioria, estava bem confuso, com revoluções e guerras acontecendo, algumas nações ainda se formando. Leia o texto de Marx e Engels escrito naquele ano:

Boxe complementar:

A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção e, por conseguinte todas as relações sociais. (...) A necessidade de mercados sempre crescentes para seus produtos impele a burguesia a conquistar todo o globo terrestre. Ela precisa estabelecer-se, explorar e criar vínculos em todos os lugares.

Pela exploração do mercado mundial, a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. Para grande pesar dos reacionários, ela retirou a base nacional da indústria. As indústrias nacionais tradicionais foram, e ainda são, a cada dia destruídas. São substituídas por novas indústrias, cuja introdução se tornou essencial para todas as nações civilizadas. Essas indústrias não utilizam mais matérias-primas locais, mas matérias-primas provenientes das regiões mais distantes, e seus produtos não se destinam apenas ao mercado nacional, mas também a todos os cantos da Terra. Ao invés das necessidades antigas, satisfeitas por produtos do próprio país, temos novas demandas supridas por produtos dos países mais distantes, de climas os mais diversos. No lugar da tradicional autossuficiência e do isolamento das nações surge uma circulação universal, uma interdependência geral entre os países. E isso tanto na produção material quanto na intelectual.

Os produtos intelectuais das nações passam a ser de domínio geral. [...] Os preços baratos de suas mercadorias são a artilharia pesada com a qual ela derruba todas as muralhas da China [...]. Sob a ameaça da ruína, ela obriga todas as nações a adotarem o modo burguês de produção; força-as a introduzir a assim chamada civilização, quer dizer, a se tornar burguesas. Em suma, ela cria um mundo à sua imagem e semelhança.

A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou cidades enormes, aumentou prodigiosamente a população urbana em comparação com a rural e, dessa forma, arrancou uma grande parte da população do embrutecimento da vida do campo. Assim como colocou o campo sob o domínio da cidade, [...], as nações agrárias sob o jugo das burguesas, o Oriente sob o Ocidente.

(MARX; ENGELS, 1998, p. 11-12 - os grifos não constam do original)

Frases em negrito: a burguesia a conquistar todo o globo terrestre; criar vínculos em todos os lugares; derruba todas as muralhas da China; Criou cidades enormes, aumentou prodigiosamente a população urbana em comparação com a rural.

Fim do complemento.

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Reparou que destacamos em negrito algumas frases? Pois é, na época em que Marx e Engels escreveram esse texto (1848), o mundo não era como o nosso hoje, em que marcas famosas, por exemplo, invadem todo o globo, imprimem um caráter cosmopolita à sua produção e consumo, empregam matérias-primas de muitos lugares ou entram na China e contribuem para fortalecer e crescer grandes centros urbanos. Calma! Karl Marx não era um bruxo e nem fazia exercícios de futurologia. Mas, a partir de sua análise sobre a lógica de funcionamento do capitalismo, ele acreditava em algumas tendências de desenvolvimento desse sistema econômico que, como veremos neste capítulo, desembocou naquilo que chamamos hoje de globalização, sob o ponto de vista econômico, social, cultural e político. Neste último aspecto, temos também o chamado neoliberalismo.



LEGENDA: Na globalização atual, os satélites artificiais revolucionaram a comunicação em todo o planeta.

FONTE: Public-domain-image.com

O que é um mundo globalizado e neoliberal?

A palavra globalização tem sido frequentemente utilizada para definir a imensa interligação comercial e cultural que vem ocorrendo de forma acelerada entre os diversos países do planeta, determinada principalmente pela "terceira revolução tecnológica": processamento, difusão e transmissão de informações e, inclusive, de bilhões de dólares em poucos segundos. Portanto, podemos entender que a globalização teria se iniciado no começo dos anos 1980, quando a tecnologia de informática associou-se à de telecomunicações.

Mas, antes de continuarmos a desenvolver este tema, vamos refletir sobre alguns dados estatísticos, publicados por um jornal diário brasileiro, exatamente na época em que a mídia ressaltava, o tempo todo, os benefícios da globalização. Por causa disso, as informações a seguir deixam de ser até surpreendentes.

Boxe complementar:

- Em 1960, os estratos mais ricos da população mundial ganhavam 30 vezes mais que os estratos mais pobres. Em 1994, os primeiros 20% mais ricos acumulavam uma renda 78 vezes superior aos 20% mais pobres, abocanhando 86% de tudo o que foi produzido no mundo.

- O patrimônio conjunto dos 447 bilionários existentes no mundo em 1994 equivalia à renda somada da metade mais pobre da população mundial (cerca de 2,8 bilhões de pessoas).

- Desde o fim da II Guerra Mundial, em 1945, o comércio mundial cresceu 12 vezes, chegando a US$ 4 trilhões por ano na década de 1990. Mas com 10% da população do planeta, os países mais pobres detêm apenas 0,3% do comércio mundial. Esse percentual equivale à metade do que detinham há 20 anos.

- Nesse mesmo período, o preço dos produtos agrícolas (a principal exportação dos países mais pobres) caiu 45%.

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Mas os países ricos gastaram US$ 182 bilhões em subsídios à agricultura (a metade de tudo o que colheram). Se esses subsídios fossem diminuídos em 30%, os países ditos "em desenvolvimento" ganhariam US$ 45 bilhões por ano.



- Um terço dos habitantes desses países em desenvolvimento (1,3 bilhão de pessoas) vive com menos de US$ 1 por dia.

- Mais de 90% dos investimentos estrangeiros são efetuados nos EUA, Europa, Japão e oito províncias da China - que, juntos, reúnem um total de 30% da população mundial.

- Das 100 maiores economias do mundo, 50 são megaempresas. A General Motors, por exemplo, possui faturamento superior ao PIB (Produto Interno Bruto) de países como Turquia, Dinamarca e África do Sul.

(cf. Folha de São Paulo: Caderno Especial Globalização, 02 de novembro de 1997)

Fim do complemento.

Você prestou bastante atenção nas informações que acabou de ler? Conseguiu identificar o porquê dos meios de comunicação sempre apresentarem a globalização como positiva para toda a população? "Pois é, mas hoje é diferente", você poderia dizer! Afinal, estes dados se referem a um mundo que ficou no século passado, certo?

Então, vamos atualizar essas informações! Esses dados estão sendo apresentados aqui somente para que você tenha uma ideia de que, no mesmo momento em que a Grande Mídia - ou seja, as megaempresas de comunicação que controlam as informações que circulam na maior parte do mundo - comemorava de forma exaltada a chamada "era da globalização", uma simples análise de alguns números demonstrariam que não havia qualquer motivo para isso...

Segundo estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas - ONU, em 2006, mais da metade da riqueza mundial estava nas mãos de apenas 2% dos adultos do planeta, enquanto os 50% mais pobres têm só 1%, com 90% da riqueza concentrada pela população dos países mais ricos (O Globo, 06/12/06, p. 31).

Nesta segunda década do século XXI, no entanto, praticamente não se fala mais em globalização. Apesar da constatação de que, de fato, vivemos em um "mundo globalizado", principalmente em função da rede mundial de comunicações comandada pela Internet, esse termo não aparece com frequência nos noticiários. Pelo contrário, desde 2008 a economia mundial entrou em mais uma crise, de grandes proporções - e, desde então, somente se fala sobre isso, ou seja, sobre a crise e seus efeitos, como, por exemplo, a queda na produção industrial e o aumento do desemprego, principalmente nos países mais pobres.

De acordo com dados apurados pela instituição financeira Credit Suisse, em seu Informe sobre a Riqueza Global, "2015 será lembrado como o primeiro ano da série histórica no qual a riqueza de 1% da população mundial alcançou a metade do valor total de ativos" (FARIZE, 2015). Isto significa dizer que, no ano citado, 1% da população mundial (ou seja, os habitantes que têm bens patrimoniais avaliados em cerca de 760.000 dólares), possuem tanto dinheiro quanto os demais 99% restantes do planeta. Essa diferença enorme só faz aumentar desde 2008, a ponto do Credit Suisse concluir que, se a crise for interrompida, os ricos sairão dela ainda mais ricos, "tanto em termos absolutos como relativos, e os pobres, relativamente mais pobres" (Idem, ibidem). Para ilustrar, confira a seguir um gráfico bastante esclarecedor, baseado no estudo citado acima, publicado no jornal espanhol El País:



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Atualizando alguns dados do final do século XX, ficamos sabendo, portanto, que:

- um de cada 100 habitantes do mundo tem tanto quanto os 99 restantes;

- 0,7% da população mundial monopoliza 45,2% da riqueza total e os 10% mais ricos têm 88% do total de bens;

- o número dos muito ricos (patrimônio igual ou superior aos 50 milhões de dólares) diminuiu cerca de 800 pessoas desde 2014, mas o dos considerados "ultrarricos" (patrimônio de 500 milhões de dólares) cresceu para quase 124.000 pessoas.

- levando-se em conta a distribuição dos muito ricos pelos países do mundo, quase a metade (59.000 pessoas) vive nos EUA, 10.000 vivem na China e 5.400 no Reino Unido (FARIZE, 2015).

A dimensão dessa desigualdade foi constatada também pelos estudos desenvolvidos pelo ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2001, Joseph E. Stiglitz. Em sua obra O preço da desigualdade (2013), ele afirma que "um ônibus que por ventura transporta 85 dos maiores multimilionários mundiais contém tanta riqueza quanto a metade mais pobre da população mundial" (cf. FARIZE, 2015).

Mas, vamos procurar entender melhor do que estamos falando. Neste capítulo, pretendemos debater exatamente de que forma todos esses dados estatísticos - que representam tanto o período de auge da globalização, nos anos de 1990, quanto à última crise da economia neste século XXI - nos ajudam a entender esse fenômeno da desigualdade sob o ponto de vista sociológico.

Bem, além da ideia de uma interligação acelerada dos mercados nacionais, proporcionada pela Terceira Revolução Tecnológica, a chamada globalização também pode ser identificada com a queda das barreiras comerciais entre os países, provocada pela OMC - Organização Mundial do Comércio.

Esta última ideia aproxima-se daquela que é defendida pelo professor Paul Singer, da USP - Universidade de São Paulo. Para ele, a globalização:

Boxe complementar:

(...) resulta da superação de barreiras à circulação internacional de mercadorias e de capitais. Trata-se de uma expansão dos mercados, antes contidos em fronteiras nacionais ou dentro de blocos regionais de comércio. Essa abertura dos mercados pode resultar de avanços técnicos no transporte e na comunicação e/ ou de mudanças institucionais que consistem, em geral, na remoção de barreiras políticas ao intercâmbio.

(SINGER, 1997, p. 2)

Fim do complemento.

Refletindo sobre esta definição apresentada pelo professor Singer, podemos dizer que a globalização somente pôde ocorrer com o fim de obstáculos legais e territoriais à expansão do comércio, associado à descoberta de novas tecnologias. Se pensarmos dessa forma, podemos inserir na "pré-história" da globalização os grandes descobrimentos que inauguraram a Era Moderna, na Europa, possibilitados pela adoção da bússola e do astrolábio, aliada aos seus progressos na navegação à vela. É claro que essas mudanças somente puderam ocorrer a partir da unificação de reinos europeus, iniciada com Portugal (século XIV) e Espanha (século XV), que resultou na eliminação das barreiras que dificultavam o comércio entre os feudos.

Em 1780, a Primeira Revolução Industrial, na Inglaterra, trouxe como produtos: a ferrovia, a navegação a vapor e o telégrafo (revoluções no transporte e nas comunicações).

Já a Segunda Revolução Industrial - ocorrida na segunda metade do século XIX e caracterizada pela expansão da industrialização para outros países capitalistas como EUA, Alemanha e Japão - foi marcada por uma violenta expansão colonialista em busca de novos mercados e de fontes de matérias-primas, resultando, por exemplo, na partilha do território africano. Essa expansão capitalista ficou conhecida com o nome de Imperialismo e foi a principal causa para a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

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De fato, em todas essas fases da História, nós tivemos interesses que foram favorecidos e outros que foram contrariados, resultando em diferentes lutas políticas. Mas o que de fato acabou ocorrendo durante todo esse período - desde as navegações iniciadas no século XV - foi a expansão do capitalismo, em suas diferentes formas, para além da sua fronteira europeia original. A continuidade dessa expansão até os dias atuais, na forma de um capitalismo financeiro, é que passou a receber o nome de globalização - fenômeno que também é chamado por alguns estudiosos, como François Chesnais (1998), de mundialização financeira.



FONTE: © Angeli - Folha de S. Paulo 28.02.2005

Além desse caráter financeiro, a atual expansão capitalista é global porque atingiu uma série de países que anteriormente se definiam como pertencentes ao modo de produção socialista. Portanto, à queda do Muro de Berlim, em 1989, e à dissolução da URSS, em 1991, aliou-se a rapidez das comunicações provocada pelos avanços da informática para dar a "cara" dessa globalização que vemos acontecer nos dias de hoje.

Percebendo a globalização como mais uma etapa do modo de produção capitalista é que podemos entender os dados listados no quadro anteriormente apresentado. Michel Chossudovsky (1999) inventou inclusive uma nova expressão: a globalização da pobreza. Ele é bastante claro ao definir a globalização como sendo o resultado da ação das principais instituições financeiras internacionais - como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BIRD) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) - sobre, principalmente, os países do Terceiro Mundo e do Leste Europeu, forçando-os, em função do peso adquirido pelas suas dívidas externas, a aderir a um programa de "reformas" (ou "ajustes") que se alimenta da destruição do meio ambiente, que gera apartheid social, estimula o racismo e os conflitos étnicos e ataca os direitos conquistados pelas mulheres nas últimas décadas.



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