1 Luiz Fernandes de Oliveira



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Dialogando com a turma

1 - É uma condição natural da humanidade a divisão entre ricos e pobres? Por quê?



2 - Discuta com seus colegas e faça uma pesquisa sobre os tipos de mobilidade social existentes na cidade onde você reside. A partir do resultado da pesquisa, elabore um texto expondo as suas conclusões.

Verificando o seu conhecimento

1 - (ENEM, 2009)

Os Yanomami constituem uma sociedade indígena do norte da Amazônia e formam um amplo conjunto linguístico e cultural. Para os Yanomami, urihi, a "terrafloresta", não é um mero cenário inerte, objeto de exploração econômica, e sim uma entidade viva, animada por uma dinâmica de trocas entre os diversos seres que a povoam. A floresta possui um sopro vital, wixia, que é muito longo. Se não a desmatarmos, ela não morrerá. Ela não se decompõe, isto é, não se desfaz. É graças ao seu sopro úmido que as plantas crescem. A floresta não está morta, pois, se fosse assim, as florestas não teriam folhas. Tampouco se veria água. Segundo os Yanomami, se os brancos os fizerem desaparecer para desmatá-la e morar no seu lugar, ficarão pobres e acabarão tendo fome e sede.

ALBERT, B. Yanomami, o espírito da floresta. Almanaque Brasil Socioambiental. São Paulo: ISA, 2007 (adaptado).

De acordo com o texto, os Yanomami acreditam que:

(A) a floresta não possui organismos decompositores.

(B) o potencial econômico da floresta deve ser explorado.

(C) o homem branco convive harmonicamente com urihi.

(D) as folhas e a água são menos importantes para a floresta que seu sopro vital.

(E) Wixia é a capacidade que tem a floresta de se sustentar por meio de processos vitais.

2 - (ENEM, 2009)

Entre 2004 e 2008, pelo menos 8 mil brasileiros foram libertados de fazendas onde trabalhavam como se fossem escravos. O governo criou uma lista em que ficaram expostos os nomes dos fazendeiros flagrados pela fiscalização. No Norte, Nordeste e Centro-Oeste, regiões que mais sofrem com a fraqueza do poder público, o bloqueio dos canais de financiamento agrícola para tais fazendeiros tem sido a principal arma de combate a esse problema, mas os governos ainda sofrem com a falta de informações, provocada pelas distâncias e pelo poder intimidador dos proprietários. Organizações não governamentais e grupos como a Pastoral da Terra têm agido corajosamente, acionando as autoridades públicas e ministrando aulas sobre direitos sociais e trabalhistas.

"Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo". Disponível em: http://www.mte.gov.br. Acesso em: 17 mar. 2009 (adaptado).

Nos lugares mencionados no texto, o papel dos grupos de defesa dos direitos humanos tem sido fundamental, porque eles:

(A) negociam com os fazendeiros o reajuste dos honorários e a redução da carga horária de trabalho.

(B) defendem os direitos dos consumidores junto aos armazéns e mercados das fazendas e carvoarias.

(C) substituem as autoridades policiais e jurídicas na resolução dos conflitos entre patrões e empregados.

(D) encaminham denúncias ao Ministério Público e promovem ações de conscientização dos trabalhadores.

(E) fortalecem a administração pública ao ministrarem aulas aos seus servidores.

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Pesquisando e refletindo

LIVROS

HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. 21ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 1986.

Livro de leitura agradável que explica a História pelo estudo da teoria econômica e ao mesmo tempo faz o contrário, isto é, explica a economia através do estudo da História.

PINSKI, Jaime. As primeiras civilizações. São Paulo: Atual, 1990. (Coleção Discutindo a História). Este livro descreve de forma clara e objetiva as características das primeiras organizações sociais e sociedades humanas na História.



FILMES

EVOLUÇÃO (Evolution, Canadá, 1971). Direção: Michael Mills. Duração: 10 min.

Desenho animado. Trata do processo evolutivo do homem. Vencedor de nove prêmios internacionais. [Ver em http://www.nfb.ca/film/evolution_en. Acesso em janeiro de 2013].

A LENDA DA TERRA DOURADA (La legende de la terre dorée, Suíça, 2007). Direção: Stéphane Brasey. Duração: 54 min.

Documentário-denúncia que aborda as condições de vida de centenas de migrantes que chegam ao estado do Pará. Na região, conhecida como a mais violenta do Brasil, no que se refere a questões agrárias, eles são aprisionados em grandes fazendas de gado e tratados como escravos. O filme recolhe depoimentos de trabalhadores e de fazendeiros da região.

INTERNET

"MANGUE SOCIOLÓGICO": http://bit.ly/1gkuxzl

Interessante blog, contendo uma página que descreve e explica os conceitos de estratificação social e mobilidade social. Fazendo referência a sociólogos e autores estudados neste capítulo, traz também um pequeno vídeo sobre mobilidade social. Acesso: janeiro/2016.

ECONOMIA INDÍGENA: http://bit.ly/1krXLlC

Neste site, André Baniwa, um índio Baniwa que mora na região amazônica, dá uma palestra sobre as formas de viver e produzir das comunidades Baniwa. Interessante vídeo para discutir os diversos modos que as sociedades se organizam e trabalham. Acesso: janeiro/2016.

MÚSICAS

O PEQUENO BURGUÊS - Autor e intérprete: Martinho da Vila.

Um dos primeiros sucessos de um sambista clássico do Rio de Janeiro, cuja letra apresenta uma história que se relaciona com a discussão sobre mobilidade social. Vale a audição e o debate com os colegas.

CANOA, CANOA - Autores: Nelson Ângelo e Fernando Brant. Intérprete: Milton Nascimento.

A música faz uma homenagem a um dos povos indígenas brasileiros ameaçados de extinção, os avás-canoeiros - conhecidos como a "tribo invisível", pela sua capacidade de se esconder nas árvores. Habitantes da região do rio Araguaia, em Goiás, eles foram praticamente dizimados por um massacre na década de 1960. Em 2013, essa etnia contava com apenas sete sobreviventes. Escute a música e aproveite para pesquisar sobre a história dos avás-canoeiros, suas tradições e suas esperanças.

FILME DESTAQUE



A GUERRA DO FOGO

(La Guerre Du Feu)

FICHA TÉCNICA:

Direção: Jean-Jacques Annaud

Elenco: Everett McGill, Rae Dawn Chong

Duração: 97 min.

(França, Canadá 1981)

FONTE: International Cinema Corporation (ICC)/Jean-Jacques Annaud

SINOPSE:

O filme se passa nos tempos pré-históricos, em torno da descoberta do fogo. A tribo Ulam vive em torno de uma fonte natural de fogo. Quando este se extingue, três membros saem em busca de uma nova chama. Depois de dias andando e enfrentando animais pré-históricos, eles encontram a tribo Ivakas, que descobriu como fazer fogo.

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Aprendendo com jogos



Nadando com tubarões

A ILUSÃO DO LIVRE MERCADO

O jogo do banco imobiliário (ou Monopoly) foi criado por Charles Darrow em 1935. É uma defesa ideológica do livre mercado. Nele, o jogador deve conquistar o máximo de territórios possíveis, evoluir propriedades, ganhar muito dinheiro e levar os adversários à falência. O interessante é que o jogo teve por base um outro jogo de tabuleiro (The Landlord's Game, de Elizabeth J. Magie Phillips, 1904) que tinha por finalidade exatamente a denúncia do capitalismo. Existem inúmeras versões publicadas em diferentes países e as regras do jogo variam levemente de versão a versão. Você pode consultar as regras mais comuns a partir de uma dentre as versões existentes em http://goo.gl/NOiIhM. Nesta adaptação, o objetivo permanece o mesmo: tornar-se o grande vencedor ao levar seus adversários à falência. Mas algumas regras novas exigirão a sua reflexão sobre o jogo real de uma economia capitalista.

Como jogar:



1. Construa o tabuleiro junto com os seus colegas. Os participantes devem começar o jogo com valores iniciais diferentes atribuídos aleatoriamente, mantendo-se a mesma diferença entre cada um deles e produzindo uma hierarquia gradual. O jogador de menores recursos precisa ter 10% do jogador com maiores recursos. A ordem dos jogadores é definida pelos recursos de que dispõem: quem tem mais começa o jogo, que segue essa ordem decrescente. O jogador lança dois dados e avança o número de casas por estes indicado. Um jogador representará o Banco. O Banco poderá fornecer empréstimos e cobrará juros sobre os empréstimos sempre que você completar uma volta no tabuleiro. Os juros serão menores quanto maior o volume financeiro emprestado. O volume emprestado variará conforme as propriedades que você tiver. O jogador poderá cair em casas do tabuleiro em que tenha de pagar imposto ao governo. Se o jogador terminou numa casa de propriedade ainda não comprada por nenhum jogador, poderá comprá-la pelo valor impresso no tabuleiro. Se não quiser ou não puder comprar a propriedade, esta será leiloada pelo Banco entre todos os jogadores, incluindo aquele que desistiu de comprá-la. Você deverá construir as suas casas nas suas propriedades o mais rápido que puder (para aumentar o aluguel de quem cair em sua propriedade). Para isso, você precisa adquirir todas as propriedades de um mesmo conjunto (um bairro ou uma cor no tabuleiro) e, nos seus turnos e enquanto for proprietário deste conjunto, adquirir casas ou hotéis para as mesmas. Mas essas construções custam parte de seus recursos. Esses diferentes valores deverão estar impressos no tabuleiro. Se a propriedade tem já um dono, o jogador que aí parou terá que pagar ao proprietário o valor do aluguel correspondente, que estará impresso no tabuleiro. Caso existam casas ou hotéis na propriedade, esse valor será maior. As propriedades que forem empresas podem ser compradas e fornecerão renda a cada rodada, mas nunca terão casas ou hotéis. No entanto, você somente poderá comprar uma empresa se não tiver dívidas. Você deve buscar a ajuda de "amigos empresários", do governo ou do Banco. No tabuleiro, haverá uma casa para o governo, que apenas ajudará quem tiver o patrimônio maior no momento em que cair nessa casa. Os jogadores podem se ajudar como, por exemplo, deixando de cobrar algum aluguel em troca de um benefício futuro. Isso deve ser um acordo entre dois jogadores no momento em que desejarem durante a partida. Mas não é permitido ajudar quem tiver dívidas com o banco. Existem, por fim, a casa em branco em que não acontece nada, a casa da sorte que faz o jogador ganhar uma receita inesperada impressa no tabuleiro e a casa que envia o jogador para a cadeia. Um jogador que termine o movimento na casa cadeia não está preso. Isto só acontece a quem termina na casa "Vá para a cadeia". Para sair da cadeia você precisará tirar dois números iguais nos dados. Após três rodadas na cadeia você poderá sair. É possível sair também com a ajuda do governo que o liberará se você for o jogador com maior recursos no momento ou pagando uma multa impressa no tabuleiro.

2. Ao final do jogo discuta com os seus colegas as seguintes questões: as regras do jogo foram justas? Quais regras especificamente o prejudicaram ou o ajudaram no jogo? Quais regras deveriam ser alteradas para um jogo equilibrado? Essas regras existem "no mundo real"?

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UNIDADE 2 - Trabalho, Política e Sociedade

A ideia principal dos capítulos que compõem esta Unidade é realizar o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo, as quais consideramos como fundamentais para que os estudantes iniciem uma reflexão mais aprofundada sobre os processor e dinâmicas econômicas, sociais e políticas que envolvam as sociedades em geral.

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Capítulo 9 - "Tudo que é sólido se desmancha no ar": capitalismo e barbárie

LEGENDA: Os EUA representaram, no século XX, o maior exemplo vitorioso do desenvolvimento social e econômico proporcionado pelo capitalismo. Na foto, tirada na década de 1930, em Nova York, trabalhadores da construção civil pendurados em uma viga de aço durante o horário de almoço, no alto - 69° andar - do futuro Rockfeller Center (um dos prédios a ser chamado, na época, de "arranha-céus").

FONTE: Charles C. Ebbets. New York Herald Tribune, Folhapress

A História da humanidade foi marcada pela existência de diversos tipos de sociedades, cada uma delas com características bem distintas. Vamos destacar, neste capítulo, alguns aspectos do modo de produção capitalista, que neste século XXI domina quase praticamente todo o nosso planeta.



E a humanidade inventa o capitalismo...

Os homens, ao longo da História, ao se organizarem em sociedade, estabeleceram formas diferentes de produzir os bens necessários à sua sobrevivência. Pois bem, um desses modos de produção, vigente na grande maioria das sociedades existentes hoje em dia, inclusive no Brasil, é chamado de capitalismo. O que significa? Por que este nome? Como surgiu?

Vamos procurar entender o capitalismo e, assim, compreender a importância do seu estudo, através da resposta a esta última pergunta.

Como se viajássemos na "máquina do tempo", vamos estacioná-la na Europa, durante a Idade Média, entre os séculos IV a XIV (do ano 301 até, aproximadamente, o ano 1400). O modo de produção existente então era conhecido pelo nome de feudalismo.

Uma das características da sociedade feudal era a sua falta de mobilidade social, ou seja, aquele mundo, regido pela Igreja Católica, reproduzia, segundo essa instituição, "a vontade de Deus": se uma pessoa nascesse em uma família pertencente à "nobreza" teria, o que costumamos denominar por "sangue azul", segundo o dito popular, sendo transformada em herdeira das terras em torno do castelo e "ungida" pelo Criador como destinatária de toda a riqueza produzida e dos impostos e taxas pagos pelos que necessitassem atravessar as terras do feudo.

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Mas, se nascesse "servo", seria um "plebeu", nada mais lhe restando do que trabalhar, resignadamente, para o seu senhor durante toda a vida, tornando-se um "abençoado merecedor do reino de Deus" quando viesse a falecer. Este mundo, organizado dessa forma, de "cima para baixo" - ou "de Deus para os homens" -, não poderia sequer ser questionado, quanto mais modificado.

Grandes mudanças, porém, começaram a ocorrer em toda a Europa durante esse período, independentemente da vontade daqueles que detinham o poder e a riqueza. Foram mudanças que aconteceram lentamente, de forma gradativa, praticamente imperceptíveis para quem vivia naquela época.

Entre as diversas mudanças, podemos destacar como muito importante o surgimento de novos grupos sociais: comerciantes, artesãos e camponeses livres. Estes últimos haviam surgido a partir da cessão a grupos de servos, mediante pagamento de taxas e estabelecimento de outros compromissos de obediência, de terras consideradas inférteis ou improdutivas, principalmente em regiões pantanosas. Deve-se registrar que, na Europa do século XII, eram cultiváveis apenas a metade das terras francesas, um terço da atual Alemanha e um quinto da Inglaterra (HUBERMAN, 2010).

Já o grupo social composto pelos comerciantes havia surgido nos entroncamentos das diversas rotas comerciais existentes na Europa, que formavam grandes "feiras" onde eram negociados os valiosos produtos originários do Oriente, com destaque para as chamadas especiarias. Essas feiras acabaram se transformando em verdadeiras cidades fortificadas, inicialmente chamadas de burgos - daí o nome burgueses, pelo qual aqueles comerciantes passaram a ser conhecidos.

Pois bem, como destacamos acima, qual era o modo de produção existente na Europa naquela época? Feudalismo, certo? Mas se você entendeu o funcionamento do feudalismo, pode imaginar que esses novos grupos sociais "não tinham nada a ver" com o antigo sistema social, político e econômico - os camponeses livres - porque, apesar de minoritários, haviam se colocado à margem da servidão feudal e - os artesãos - porque trabalhavam por conta própria nas cidades, aproveitando-se também do renascimento comercial.

LEGENDA: A cidade de Assis (Itália), um típico burgo medieval.

FONTE: Acervo dos autores

Quanto aos burgueses, deve-se destacar que o seu rápido enriquecimento acabou por gerar mudanças profundas naquela velha ordem, onde não havia lugar e reconhecimento para essa nova classe social. As mudanças abrangiam desde contestações à filosofia da Igreja Católica, que condenava como pecado a obtenção de lucros, os juros e a usura - aspectos de um conjunto de mudanças que resultou na Reforma Protestante -, como também ao poder acumulado pela nobreza feudal.

Neste caso, a burguesia ascendente tratou de reforçar e centralizar o poder na pessoa do rei, numa aliança que fez nascer as chamadas Monarquias Nacionais e que possibilitou as grandes navegações, capitaneadas por Portugal e Espanha. Assim, no meio da ordem feudal, estava sendo gestado, aos poucos, um novo sistema social e econômico, o capitalismo. Com o tempo, ia desmoronando a velha sociedade estamental, como viria depois a ocorrer definitivamente com as revoluções inglesas do século XVII e a Revolução Francesa de 1789.

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Acumulando capital e revolucionando a indústria

O capitalismo se tornou o modo de produção dominante a partir da Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra. Entretanto, para o capitalismo vigorar como tal fazia-se necessária uma fase anterior de "acumulação de capital". Vamos entender melhor isso.

Para alguém iniciar um negócio, uma empresa, hoje, é necessário obter capital. A mesma coisa ocorria com os burgueses da época. Então, para entender melhor como surgiu o capitalismo, seu principal estudioso, Karl Marx, se debruçou em pesquisas sobre o que ocorreu na Inglaterra em seu período pré-capitalista. Em sua análise, Marx denominou esse processo como acumulação primitiva de capital. Mas, afinal, o que Marx descobriu em seus estudos? Simples: como as relações de produção pré-capitalistas existentes na Inglaterra eram predominantemente agrícolas, a única forma de se transformar essas relações em capitalistas era através da apropriação da terra pela burguesia, com a total expulsão dos camponeses que lá viviam. E foi exatamente isso o que ocorreu: os camponeses foram expropriados, separados da sua terra, e não lhes restou nada mais que não fosse a venda da sua força de trabalho. Se antes os camponeses eram proprietários, agora eram trabalhadores assalariados. E foram esses trabalhadores que serviram de mão de obra para as indústrias que surgiam, principalmente, mas também para a penetração das relações capitalistas no próprio campo, onde os ex-proprietários foram empregados depois, ironicamente, como assalariados... Segundo Marx, esse foi o "segredo" da acumulação primitiva de capital: transformar radicalmente (revolucionar), à força, as relações de produção até então existentes no campo (cf. BOTTOMORE, 2001, p. 2).

Você talvez pergunte se em toda a Europa o capitalismo surgiu da mesma forma. Bem, este foi o caso analisado por Karl Marx. Mas, e depois, como aconteceu a expansão do modo de produção capitalista? Podemos responder que, de fato, as mudanças ocorreram de formas diferenciadas, em tempos distintos, de acordo com uma série de variáveis. Alguns estudiosos sobre o tema, por exemplo, chamam a atenção para o papel decisivo desempenhado nas cidades europeias pelo comércio, pelas trocas de mercadorias (BOTTOMORE, 2001, p.3). De qualquer forma - considerando como elemento principal do processo de acumulação primitiva de capital - a análise de Marx a respeito da expropriação da terra, com todas as mudanças radicais e violentas que ela proporcionou, podemos dizer que o capital prosseguiu em seu processo de acumulação com a multiplicação dos centros comerciais existentes nas cidades (burgos), mas também, de uma forma extremamente relevante e mais decisiva, através da expansão do chamado "capital mercantil", com a apropriação da riqueza existente em outras terras do planeta, através das grandes navegações e "descobrimentos". Assim, o processo de acumulação de capital foi se desenvolvendo através do financiamento de corsários e piratas (sim, aqueles que vemos nos filmes e desenhos animados), do tráfico de escravos (principalmente os africanos), com o empréstimo de dinheiro a juros por intermédio da organização de instituições bancárias (no mesmo sentido dos chamados agiotas atuais), com o pagamento de salários miseráveis aos artesãos empregados nas manufaturas e, evidentemente, vencendo guerras, comerciando e impondo tratados a países fracos.

Depois da indústria, o comércio passou a ser a atividade mais importante da burguesia inglesa - exatamente como forma de transportar e comercializar os seus produtos industriais. Os comerciantes ingleses e seus navios estavam por toda parte do mundo. Quanto maior a atividade comercial, maior era a concorrência. Cada mercador inglês queria abater seus concorrentes e, para vencer os competidores, era preciso oferecer produtos mais baratos. Então, como baixar cada vez mais os custos da produção?

A resposta estava no uso de máquinas. Desse modo, foi a pressão do mercado que levou a burguesia inglesa a aprimorar suas máquinas e a instalar mais indústrias.

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Mas, o capital depende do trabalho. Ou seja, a burguesia necessitava de operários para instalar suas indústrias e fazê-las operar. Para encontrá-los, era necessário ir ao campo, onde estava a mão de obra.



O aparecimento do capitalismo estimulou os fazendeiros a investir capital na produção agrária. Para desenvolver as áreas de cultivo, ocuparam terras onde habitavam os camponeses e forçaram as famílias a ficar em pequenos territórios cercados. Como eram milhares, imagine o que aconteceu. Os terrenos eram tão pequenos que os camponeses quase não tinham como continuar a viver ali. A saída foi buscar trabalho e moradia em outro lugar. Assim, as cercas expulsaram as pessoas do campo. Conclusão, depois de perder as terras, não podendo trabalhar mais nelas, restou ir para onde? Adivinhou quem respondeu "para as cidades". Para não morrer de fome, eles aceitavam trabalhar por horas e horas nas fábricas, recebendo salários miseráveis.

LEGENDA: O surgimento da indústria alterou profundamente a paisagem europeia, obrigando os trabalhadores a abandonar os campos e migrar para as cidades. Tela de Philippe-Jacques de Loutherbourg, "Coalbrookdale, à noite" (1801).

FONTE: Acervo do Museu de Ciência de Londres

O desenvolvimento industrial arruinou os artesãos, já que os sapatos e os tecidos eram confeccionados mais rapidamente e de uma maneira mais barata numa fábrica do que nas oficinas dos artesãos, sapateiros ou tecelões. Por tabela, os artesãos também tiveram de buscar emprego de operários nas fábricas. Havia, então, uma multidão de homens e mulheres que não conseguiam mais viver por conta própria. Agora, era pegar ou largar. Era trabalhar para um patrão em troca de um salário - formou-se, assim, uma nova classe social chamada proletariado.

No século XIX, a Revolução Industrial alcançou outros países europeus como França, Alemanha, Itália (norte) e Rússia. Nos Estados Unidos, as primeiras indústrias foram instaladas no final do século XVIII, mas o seu desenvolvimento se deu na segunda metade do século XIX.

LEGENDA: Trabalhadores e máquinas numa fábrica de velas. Gravura de 1870, de autoria de Ralf Hettler.

FONTE: Getty Images

Assim, o capitalismo inicia-se de forma triunfante, trazendo grandes transformações para a humanidade. As grandes potências mundiais da época eram todas capitalistas. Fábricas, terras, matérias-primas, comércio, bancos, máquinas, tudo pertencia aos capitalistas que manipulavam o capital com um único objetivo: obter lucro, ganhar dinheiro.

A Revolução Industrial trouxe seu símbolo máximo: a máquina a vapor. Era o sinal dos novos tempos: barcos a vapor, trens a vapor, ferros de passar roupa a vapor, banhos a vapor etc. Começou, então, a produção em massa, e o desejo do lucro tornou-se um ideal a ser seguido.

As pequenas oficinas tornaram-se grandes fábricas, apareceram as chaminés, construíram-se pontes, túneis, minas...

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Enfim, o capitalismo colocou tudo a seu serviço. Ou, como diziam Marx e Engels em 1848: "tudo que era sólido se desmancha no ar" (MARX; ENGELS, 1998, p. 11).



LEGENDA: O trem a vapor foi um dos símbolos - e um dos motores - da Revolução Industrial.

FONTE: Getty Images

Mas nem tudo era progresso. A situação daqueles que construíam tudo - os operários - era cada dia pior. Não havia leis trabalhistas que os protegessem, eram proibidos de organizar sindicatos, não tinham aposentadoria, não recebiam horas extras, não tinham assistência social. Educação para os filhos dos operários? Nem pensar!

O regime de trabalho das fábricas na Europa era o pior possível para os trabalhadores. Mas quem eram esses operários? Crianças, mulheres grávidas etc., que trabalhavam de 12 a 18 horas por dia. Então, você deve perguntar: se os operários faziam tudo, por que o Estado e os políticos da época nada faziam para melhorar essa situação?

Ora, o Estado era capitalista. Os políticos representavam os capitalistas, os juízes faziam leis para proteger o capital, a polícia tinha a função de fazer cumprir essas leis. Os trabalhadores não sabiam, de início, como reagir. Mas, na sua revolta inconsciente, com medo, eles identificavam nas máquinas o grande inimigo público, e tratavam de destruí-las.

Porém, os capitalistas reagiram. Em 1812, o parlamento inglês aprovou uma lei condenando à pena de morte reivindicações de melhores salários e a diminuição da jornada de trabalho, o aumento da produção e os lucros. E mais: diziam que leis que beneficiavam os trabalhadores prejudicariam o bom andamento dos mercados, dos negócios e do livre-comércio, isto é, da concorrência.

Mas, apesar de toda essa pressão dos capitalistas, os sindicatos sobreviviam e cresciam.



LEGENDA: A exploração da mão de obra infantil era uma prática constante do processo de acumulação de riquezas proporcionado pela Revolução Industrial. Menina trabalhadora em indústria de algodão, fotografada entre máquinas de fiação. Newberry, Carolina do Sul, Estados Unidos da América, 1908.

FONTE: Wikimedia Commons


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