Autobiografia de um Iogue


Capítulo 49 - O período de 1940 a 1951



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Capítulo 49 - O período de 1940 a 1951


“Aprendemos realmente o valor da meditação e sabemos que nada pode perturbar a nossa paz interior. Nas últimas semanas, durante as reuniões, ouvimos as sirenes prenunciadoras de ataques aéreos e o estrondo de bombas de ação retardada, mas nossos estudantes ainda se congregam e apreciam, de começo a fim, nosso ofício religioso, de tanta beleza. “

Esta corajosa mensagem, escrita pelo líder do Centro de SRF em Londres, foi uma das muitas que recebi da Inglaterra e da Europa devastadas pela guerra durante os anos que precederam a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.

O dr. L. Cranmer Byng, de Londres, ilustre editor da coleção de obras A Sabedoria do Oriente, escreveu me em 1942:

“Lendo a revista East West426, tive consciência da distância que parece existir entre nós; vivemos, aparentemente, em dois mundos diversos. A beleza, a ordem, a calma e a paz chegam a mim de Los Angeles, como um barco carregado das bênçãos e consolações do Santo Graal entra no porto de uma cidade sitiada,

“Vejo, como em sonhos, o bosque de palmeiras e o templo de Encinitas com sua amplidão de oceano e seu panorama de montanhas; e acima de tudo está a confraria de homens e mulheres de tendências espirituais   uma comunidade implantada na unidade, absorvida em trabalho criador e revitalizada pela contemplação ... Saudações a toda a Fraternidade, enviadas por um soldado raso, de sua torre de vigia, aguardando a aurora.”

Uma Igreja de Todas as Religiões, em Hollywood, na Califórnia, foi construída por discípulos de SRF e consagrada em 1942. Um ano depois, fundou se outra igreja, em San Diego, na Califórnia; e mais uma em Long Beach, também na Califórnia, em 1947.427

Uma das mais lindas propriedades rurais do mundo, mirífico país de flores, em Pacific Palisades, distrito de Los Angeles, foi doada 9 SRF em 1949. A propriedade, com uma área de 48.500 m² é um anfiteatro da nature2a, cercado de colinas verdejantes. Um grande lago natural, jóia azul engastada num diadema de montanhas, deu à pro­priedade o seu nome de Santuário do Lago (SRF Lake Shrine). Um curioso moinho holandês abriga uma capela de SRF, impregnada de paz. Junto de um jardim aquático, enorme roda hidráulica respinga sua preguiçosa música. Duas estátuas de mármore, provenientes da China, adornam o lugar   uma do Senhor Buda e outra de Kwan Yin (a personificação chinesa da Mãe Divina). Uma estátua de Cristo em tamanho natural, com suas vestes esvoaçantes e com seu rosto impres­sionantemente iluminado à noite, é visível no alto de uma colina, tendo, a seus pés, uma queda de água.

Aí, no Santuário do Lago, em 1950, ano que assinalou o trigésimo aniversário de SRF nos Estados Unidos428, consagrei um Monumento à Paz Mundial, em memória do Mahátma Gandhi. Um punhado de cinzas do Mahátma, remetidas da índia, foi guardado como relíquia num sarcófago de pedra datando de mil anos.

Em Hollywood, em 1951, fundou se um Centro da índia, outro empreendimento de SRF. O vice governador da Califórnia, sr. Goodwin J. Kníght, e o cônsul geral da índia, sr. M. R. Ahuja, acompanharam me no ofício religioso da consagração. No local, existe um auditório com capacidade para 250 pessoas429.

Os recém chegados aos vários centros de SRF costumam solicitar maiores esclarecimentos sobre ioga. Ouço, às vezes, esta pergunta: “É verdade, conforme asseveram certas organizações, que a ioga não pode ser estudada com bons resultados através de material impresso, mas deveria ser praticada somente sob a orientação imediata de um ins­trutor ? “

Na Idade Atômica, a ioga deve ser ensinada por um curso impresso de instruções, como as Lições de SRF, ou a ciência da libertação nova­mente se limitará a alguns eleitos. Seria, de fato, uma bênção inapre­ciável se cada estudante pudesse ter a seu lado um guru, na posse perfeita da sabedoria divina; mas o mundo é constituído de muitos “pecadores” e poucos santos. Como poderão as multidões, neste caso, receber o auxílio da ioga, a não ser pelo estudo, em seus lares, de instruções escritas por verdadeiros iogues?

A única alternativa seria ignorar o “homem comum” e privá lo do ,conhecimento da ioga. Mas este não é o plano de Deus para a nova era. Bábají prometeu proteger e guiar todos os Kriya Yogis sinceros na senda para a Meta Suprema430. Precisa se de centenas de milhares de Kríya Yogis e não apenas de meia dúzía, para tornar realidade o mundo de paz e de abundância que aguarda os homens quando tiverem feito o esforço necessário para restabelecer seu “status”como filhos do Pai Divino.

Fundar no Ocidente uma organização como SRF, “uma colmeia para o mel espiritual”, foi a tarefa que Sri Yuktéswar e Bábají me atribuíram. O cumprimento desta sagrada missão de confiança não tem sido isenta de dificuldades.

  Francamente, Paramahânsaji, valeu a pena?   Esta lacônica pergunta foi feita, certa noite, pelo dr. Lloyd Kennell, dirigente da Igreja de SRF em San Diego. Compreendi que era este o sentido da pergunta:   O senhor foi feliz nos Estados Unidos? Que tal as falsi­dades difundidas por pessoas mal orientadas, ansiosas de impedir a expansão da ioga? Que tal as decepções, as mágoas, os dirigentes de centros que não puderam dirigir, os estudantes que não puderam ser ensinados?

E respondi:   Abençoado o homem a quem Deus submete a provas! De vez em quando, Ele se recordava de pôr em meus ombros algum fardo.   Pensei, então, em todos os que permaneceram fiéis, e no amor, na devoção e no entendimento que iluminam o coração dos Estados Unidos. Devagar, com ênfase, prossegui:   Mas minha res­posta é sim, mil vezes sim! Valeu a pena, muito mais do que sonhei, ver o Oriente e o Ocidente estreitarem sua proximidade pelo único vínculo duradouro, o espiritual.

Todos os grandes mestres da índia, que demonstraram agudo interesse pelo Ocidente, compreenderam muito bem as condições mo­dernas. Eles sabem que os problemas do mundo continuarão insolúveis enquanto todas as nações não assimilarem melhor as virtudes características do Oriente e do Ocidente. Cada hemisfério necessita daquilo que o outro tem a oferecer de melhor.

No decurso de minha viagem pelo mundo, observei com tristeza muito sofrimento431. No Oriente, acentuado sofrimento no plano ma­terial. No Ocidente, sobretudo, miséria mental e espiritual. Em todos os países repercutem os dolorosos efeitos de civilizações desequilibradas. A índia e muitos outros países orientais poderão beneficiar se imensamente se tratarem de competir com o senso prático de empre­sários, a eficiência material das nações ocidentais, como os Estados Unidos. Os povos ocidentais, ao contrário, necessitam compreender com maior profundeza a base espiritual da vida, e especialmente as técnicas científicas que a índia desenvolveu, desde a antigüidade, para a comunhão consciente do homem com Deus.

O ideal de uma civilização equilibrada não é quimérico. Durante milênios, a índia foi, simultaneamente, o país da luz espiritual e de bem distribuída prosperidade material. A pobreza dos últimos duzentos anos é, na longa história da índia, apenas uma fase cármica passageira. Proverbial em todo o mundo, século após século, era a expressão “fausto das índias”432. A abundância, material e espiritual, vem a ser uma manifestação da estrutura de ritá, lei cósmica ou justiça natural. Não há parcimônia no Espírito Divino, nem em Sua deusa dos fenômenos, a exuberante Natureza.

As Escrituras hindus ensinam que o homem é atraído para este pla­neta a fim de aprender, e aprender melhor em cada vida sucessiva, as infinitas variantes em que o Espírito pode, não só expressar se através das condições materiais, mas também governá las. O Oriente e o Oci­dente estão aprendendo esta grande verdade, de maneiras diversas, e deveriam partilhar de bom grado, um com o outro, as Suas descobertas. Acima de qualquer dúvida, agrada ao Senhor que Seus filhos terrenos lutem por alcançar para o mundo uma civilização livre de pobreza, doen­ça e ignorância espiritual. O esquecimento, pelo homem, de seus divi­nos recursos é resultado do uso incorreto de seu livre arbítrio433 e cau­sa primeira de todas as outras formas de sofrimento.

Os males atribuídos a uma abstração antropomórfica chamada “so­ciedade” podem ser imputados, mais realisticamente, a cada homem434. A utopia deve medrar na intimidade de cada peito humano, antes que possa florir em virtude cívica, pois as reformas internas conduzem na­turalmente às externas. Um homem que se reformou a si mesmo, re­formará milhares de outros.

As Escrituras do mundo, submetidas ao teste do tempo, são, em essência, uma só, inspirando o homem em sua jornada ascendente. Pas­sei um dos períodos mais felizes de minha vida, ditando para SeIf Reali­zation Magazine minha interpretação de trechos do Novo Testamento. Implorei fervorosamente ao Cristo para que me guiasse na apreensão do verdadeiro significado de suas palavras, muitas das quais têm sido gravemente desvirtuadas durante vinte séculos.

Uma noite, quando silenciosamente me entregava à prece, minha sala de trabalho no eremitério de Encinitas inundou se de luz azul cor-­de opala. Contemplei a forma resplandecente do abençoado Senhor Je­sus. Parecia um jovem de vinte e cinco anos, com barba esparsa; seu longo cabelo preto, repartido ao meio, apresentava um balo de ouro cintilante.

Seus olhos eram eternamente maravilhosos; enquanto eu os fitava, eles se alternavam infinitamente. A cada mudança divina em sua ex­pressão, eu compreendia intuitivamente a sabedoria que eles transmi­tiam. Em seu olhar glorioso, senti o poder que sustém miríades de mundos. Um Santo Graal apareceu lhe na boca; desceu aos meus lábios e, a seguir, voltou a Jesus. Alguns momentos depois, ele pronunciou palavras belíssimas, tão pessoais em sua natureza que eu as guardo em meu coração.

Em 1950 e 1951, passei muito tempo em um retiro de SRF, pró­ximo ao deserto de Mojava, na Califórnia, onde traduzi o Bhágavad Gíta e escrevi um detalhado comentário435 aos seus versículos que abordam as várias sendas de ioga.

Referindo se duas vezes436, explicitamente, a uma técnica iogue (a única mencionada no Bhálgavad Gita, e a mesma que Bábají chamou, simplesmente, de Kriya Yoga), a maior Escritura da índia proporciona duplo ensinamento, o moral e o prático. Em nosso mundo sonho (um oceano), nossa respiração (uma tempestade específica da ilusão) pro­duz a consciência de nossas formas de homens e de todos os outros ob­jetos materiais (ondas individuais). O mero conhecimento filosófico e ético é insuficiente para despertar o homem do doloroso sonho de que sua existência é separada das outras: sabendo o, o Senhor Krishna deu realce à ciência sagrada que possibilita ao homem dominar o seu corpo e convertê lo, à vontade, em energia pura. A possibilidade desta proeza iogue não está além da compreensão teórica dos cientistas modernos, pioneiros de uma Idade Atômica. Já se provou que toda matéria é re­dutível à energia.

As Escrituras hindus exaltam a ciência porque é aplicável, sem exceção, a todos os homens. O mistério da respiração, é verdade, já foi algumas vezes desvendado, sem o emprego de técnicas iogues formais, co­mo no caso de místicos não hindus que possuíam poderes transcendentes de devoção ao Senhor. Tais santos do cristianismo, do islamismo e de outras religiões foram observados, de fato, em transe de imobilidade e ausência de respiração (sabikálpa samádhi)437, sem o qual ninguém pode penetrar nas primeiras fases da percepção de Deus. (Contudo, de­pois que um santo alcançou nirbikálpa, ou o mais elevado samádhí, acha se irrevogavelmente estabelecido no Senhor   respire ou não, es­teja imóvel ou ativo).

Frei Lawrence, místico cristão do século 17, conta nos que teve seu primeiro vislumbre da experiência de Deus ao contemplar uma ár­vore. Quase todos os seres humanos viram uma árvore; poucos, infeliz­mente, viram, através dela, o Criador da árvore. A maioria é absoluta­mente incapaz de invocar aqueles poderes de devoção irresistíveis, pos­suídos sem esforço por alguns ekantins, santos de um só e supremo ob­jetivo, encontrados em todas as sendas religiosas, sejam do Oriente ou do Ocidente. Entretanto, o homem comum438 não se acha, por isso, excluído da possibilidade de comungar com Deus. Para despertar a me­mória de sua própria divindade, ele de nada mais precisa que a técnica de Kriya Yoga, a observância diária dos preceitos morais e a aptidão de clamar sinceramente: “Senhor, anseio conhecer Te! “

A ioga tem, assim, interesse universal porque permite a todos apro­ximar se de Deus, pelo uso diário de um método científico, em vez de um fervor religioso que, para o homem comum, está além de seu alcan­ce emocional.

Vários grandes mestres do jainismo na índia têm sido chamados de tírthakaras, “construtores de vaus”, porque revelam a passagem atra­vés da qual a humanidade desorientada pode atravessar e vencer os ma­res tempestuosos de samsára (a roda cármica, a recorrência de vidas e mortes). Samsára (literalmente, “boiando a favor”da correnteza dos fenômenos) induz o homem a tomar a linha de menor resistência. “Quem for, pois, amigo do mundo, é inimigo de Deus”439. Para tor­nar se amigo de Deus, o homem deve vencer os demônios, isto é, os males de suas próprias ações ou carma, que sempre o incitam a uma des­fibrada aquiescência às ilusões do mundo (máya). Quem se empenha numa busca séria é encorajado, pelo conhecimento da férrea lei do car­ma, a encontrar a saída, a liberação final de seus grilhões. já que a es­cravidão cámica dos seres humanos tem sua raiz nos desejos das men­tes obnubiladas por máya, o iogue se interessa pelo controle da mente440. E despoja se de vários mantos de ignorância cármica, para con­templar se a si mesmo em sua essência nativa.

O mistério da vida e da morte, cuja solução é o único objetivo da passagem do homem pela Terra, está intimamente entrelaçado com a respiração. Ausência de respiração é ausência de morte. Tendo experiência desta verdade, os antigos ríshis da índia apoderaram se desta chave única, a da respiração, e desenvolveram uma ciência, racional e exata, de não respiração.

Não tivesse a índia outra dádiva para oferecer ao mundo, e Kriya Yoga, só por si, bastaria como presente régio.

A Bíblia contém passagens reveladoras de que os profetas hebreus estavam cientes de ter Deus criado a respiração para servir de vínculo sutil entre o corpo e a alma. O Gênese afirma: “O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o alento de vida; e o homem tornou se uma alma vivente”441. O corpo humano compõe­-se de substâncias químicas e metálicas que também se encontram no “pó da terra”. A carne do homem jamais poderia desenvolver qualquer atividade, ou manifestar energia e movimento, se não fossem as corren­tes vitais transmitidas pela alma ao corpo, por intermédio da respiração (energia gasosa). Nos homens não iluminados, as correntes de vida, operando no corpo humano sob a forma de prana quíntuplo ou cinco energias vitais sutis, são manifestações da vibração Aum da alma oni­presente.

O reflexo, a verossimilhança, da vida que, refulgindo nas células da carne, tem sua origem na alma, é a causa única do apego do homem ao corpo; é óbvio que ele não prestaria solícita homenagem a um pu­nhado de argila. Um ser humano identífica se falsamente com sua forma física porque as correntes vitais da alma são transportadas pela respira­ção para o interior da carne, com tamanha intensidde, que o homem toma o efeito pela causa, e supõe, idolatramente, que o corpo tem vida própria.

O estado consciente do homem associa se à percepção do corpo e da respiração. No estado subconsciente, ativo durante o sono, a mente separa se, temporariamente, do corpo e da respiração. Em estado super­consciente, o homem se liberta da ilusão de que a “existência”depende do corpo e da respiração442. Deus vive sem respirar; a alma criada à Sua imagem torna se consciente de si mesma, pela primeira vez, apenas durante o estado de ausência de respiração.

Quando o carma evolutivo corta o laço respiratório entre corpo e alma, segue se a transição abrupta denominada “morte”; as células fí­sicas revertem à sua natural impotência. O Kriya Yogi, porém, corta o vínculo respiratório à vontade, com sabedoria científica, sem a rude in­tromissão da necessidade cármica. Senhor de experiência efetiva, o iogue já é cônscio de sua essência incorpórea e dispensa a insinuação, um tanto contundente da Morte, de que o homem anda mal avisado ao de­positar sua confiança no corpo físico,

Vida após vida, cada homem progride (em seu próprio passo, ainda que erradio), rumo à apoteose de si mesmo. A Morte, que não interrom­pe este avanço, simplesmente lhe oferece um ambiente de maior afini­dade no mundo astral para nele se purificar de suas escórias. “Não se perturbe o vosso coração ... Na casa de meu Pai há muitas moradas”443 . É deveras improvável que Deus tenha esgotado Sua faculdade in­ventiva ao criar este mundo, ou que, no seguinte, Ele nada tenha a oferecer de mais para o nosso interesse do que o arranhar de harpas.

A morte não é a destruição da existência, a derradeira fuga à vida; nem é a porta para a imortalidade. Quem perdeu o seu eterno Eu nos prazeres terrenos, não O recapturará entre os delicados encantos do mundo astral. Ali, acumula simplesmente percepções mais refinadas e adquire maior sensibilidade para o belo e o bom que são uma e a mesma coisa. É na bigorna deste planeta grosseiro que o homem deve forjar o imperecível ouro da identidade espiritual. Exibindo em sua mão esse ou­ro arduamente ganho, único presente aceitável para a Morte voraz, o ser humano conquista sua libertação definitiva dos ciclos de reencarna­ção física.

Durante muitos anos, dei aulas em Encinitas e Los Angeles sobre os Yoga Sutras de Patânjali e outras obras profundas da filosofia hindu.

  Mas por que tinha Deus de juntar alma e corpo?   pergun­tou me, certa vez, um estudante.   Qual era o Seu objetivo ao imprimir o primeiro movimento a este drama evolutivo da criação?   Inúmeros outros homens fizeram as mesmas perguntas; filósofos procuraram, em vão, respondê las satisfatoriamente.

  Deixe alguns mistérios para explorar na Eternidade   costu­mava dizer Sri Yuktéswar com um sorriso.   Como poderiam os limi­tados poderes de raciocínio do homem compreender os motivos incon­cebíveis do Absoluto Incriado? A faculdade raciocinal no homem, limitada pelo princípio de causa e efeito do mundo dos fenômenos, des­concerta se ante o enigma de Deus, o Sem Princípio, o Incausado. Con­tudo, embora a razão humana não possa sondar os mistérios da criação, cada um dos enigmas será afinal decifrado para o devoto pelo próprio Deus.

Quem anseia sincera e ardentemente pela sabedoria, contenta se em iniciar sua busca pela aprendizagem humilde de um simples abece­dário dos planos divinos, sem exigir prematuramente um gráfico ma­temático exato da “Teoria Einsteiniana” da vida.

“Nenhum homem jamais viu Deus (nenhum mortal sujeito ao “tem­po”, às relatividades de máya444 pode ter experiência do Infinito); o Filho Unigênito, que está no seio do Pai (a Consciência Crística, re­flexo do Pai ou projeção exterior da Inteligência Perfeita que, guiando todos os fenômenos estruturais, através da vibração Aum, emergiu do “seio” ou das profundezas do Divino Incriado a fim de expressar a mul­tiplicidade da Unidade) revelou (sujeitou à forma, manifestou) esse mesmo Pai”445.

“Em verdade, em verdade vos digo   explicou Jesus   o Filho por si mesmo nada pode fazer, mas apenas o que vê o Pai fazer: porque tudo o que o Pai fizer, o Filho também o faz”446.

A tríplice natureza de Deus, conforme Ele se revela no mundo dos fenômenos, é simbolizada nas Escrituras hindus por Brahma, o Criador, Vishnu, o Conservador, e Shiva, o Destruidor Renovador. Sua atividade, trina e una, patenteia-se incessantemente através da criação vibratória. Como o Absoluto situa se além dos poderes de concepção do homem, o hindu devoto adora O nas augustas corporificações da Trindade447.

O aspecto universal de Deus, de criador conservador destruidor, não é Sua natureza última nem mesmo essencial (pois a criação cósmica é apenas Seu fila, esporte criador)448. Sua natureza intrínseca não pode ser compreendida, nem mesmo compreendendo se todos os misté­rios da Trindade, porque Sua natureza extrínseca, que se manifesta na criação atômica regida por leis, limita se a expressá Lo sem O revelar.

A natureza última do Senhor só é conhecida quando “o Filho sobe ao Pai”449. O homem liberto ultrapassa os reinos vibratórios e entra na Origem Sem Vibração.

Todos os grandes profetas permaneceram silenciosos quando soli­citados a desvendar os segredos últimos. Quando Pilatos perguntou: “Que é a Verdade?”450, Cristo não respondeu. As indagações muito pomposas de racionalistas como Pilatos raramente procedem de um ar­dente espírito de pesquisa. Tais homens preferem falar com essa arrogância vazia que considera a falta de convicção sobre os valores espíri­tuaís451 como um sinal de “mentalidade aberta”.

“Nasci para este fim e vim ao mundo para (servir) esta causa, a de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade, ouve a mi­nha voz”452. Nestas poucas palavras, Cristo falou volumes. Um filho de Deus “dá testemunho” com a sua própria vida. Ele encarna a verda­de; se também a explica, trata se de generosa redundância.

A verdade não é teoria, nem sistema especulativo de filosofia, nem súbita compreensão intelectual. A verdade é a exata correspondência com a realidade, Para o homem, a verdade é o inabalável conhecimento de sua natureza real, de sua alma ou Ser eterno. Jesus, em cada ato e palavra de sua vida, provou conhecer a verdade de seu ser   sua origem divina. Totalmente identificado com a Consciência Crística oni­presente, ele podia dizer, em caráter final: “Todo aquele que é da ver­dade, ouve a minha voz”.

Buda também se recusou a lançar luz sobre as questões derradeiras da metafísica, assinalando secamente que os poucos momentos do ho­mem na Terra seriam melhor empregados no aperfeiçoamento de sua natureza moral. O místico chinês Lao tsé ensinou corretamente: “Quem sabe, não o diz; quem diz, não o sabe”. Os mistérios últimos de Deus não se acham “abertos à discussão”. A decifração de Seu código secreto é uma arte que o homem não pode comunicar ao homem; aqui, só o Senhor é o Mestre.

“Aquietai vos, e sabei que eu sou Deus”453. Nunca fazendo alarde de Sua onipresença, o Senhor só é ouvido nos silêncios imacula­dos. Reverberando por todo o universo como vibração criadora Aum, o Som Primordial traduz se instantaneamente em palavras inteligíveis para o devoto com Ele sintonizado.

O objetivo divino da criação, até onde a razão humana pode com­preendê lo, está exposto nos Vedas. Os ríshís ensinaram que cada ser humano foi criado por Deus como alma que manifestará, de modo ím­par, algum atributo especial do Infinito, antes de reassumir sua Abso­luta Identidade. Todos os homens, assim dotados com uma faceta da Individualidade Divina, são igualmente amados por Deus454.

A sabedoria acumulada pela índia, irmã mais velha das demais na­ções, é uma herança de toda a humanidade. A verdade védica, como toda verdade, pertence ao Senhor e não à índia. Os ríshis, cujas mentes eram receptáculos puríssimos onde se verteram as divinas profundezas dos Vedas, foram membros da raça humana, nascido neste planeta, e não em outro, para servir a toda a humanidade. Distinções de raça ou de na­cionalidade não têm sentido no reino da verdade, onde a única qualifi­cação é a capacidade espiritual para recebê la.

Deus é Amor; logo, Seu plano para a criação só pode ter raiz no amor. Não oferece este simples pensamento mais consolo ao coração humano que todos os raciocínios dos eruditos? Todo santo que penetrou no âmago da Realidade deu testemunho de que existe um planejamento divino do universo, pleno de beleza e de alegria.

Ao profeta Isaías, Deus revelou Suas intenções nestas palavras: “As­sim será a palavra (Aum criador) que sair de minha boca: ela não vol­tará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo pa­ra que a enviei. Porque com alegria saireis e em paz sereis guiados; os montes e as colinas prorromperão em cânticos diante de vós e todas as árvores do campo baterão palmas”455.

“Saireis com alegria e sereis guiados em paz”. Os homens do atri­bulado século 20 ouvem nostalgicamente esta promessa maravilhosa. A verdade total nela contida pode ser comprovada por todo devoto de Deus que desenvolva um esforço varonil para recuperar sua divina herança.

A função abençoada de Kriya Yoga no Oriente e no Ocidente está apenas em seu começo456. Possam todos os homens saber que existe uma técnica científica, definida, para o Encontro com Deus e a supera­ção de toda miséria humana!

Ao enviar vibrações mentais de amor aos milhares de Kriya Yogis, esparsos pela Terra como jóias rútilas, quantas vezes penso, agradecido: - Senhor, Tu deste a este monge uma grande família!



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