ColecçÃo dois mundos frederick forsyth o punho de deus cmpv tradução livros do brasil lisboa rua dos Caetanos



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177 daquele país libertaram os passageiros de um avião francês desviado por terroristas palestinianos e alemães. Benyamin Netanyahu fora educado parcialmente nos Estados Unidos e, em virtude do seu conhecimento de línguas e arreigado nacionalismo, fazia parte do governo de Itzhak Sha-mir, exercendo com frequência as funções de seu porta^-voz nos contactos com os media ocidentais. Desembarcou no Aeroporto Dalles de Washington dois dias mais tarde, a 14 de Outubro, algo perplexo com a urgência do convite do Departamento de Estado para que se deslocasse aos Estados Unidos, a fim de participar em discussões de importância considerável. Ainda ficou mais perplexo, quando duas horas de diálogo privado com o Subsecretário Lawrence Eagleburger apenas revelaram uma análise pormenorizada dos desenvolvimentos no Médio Oriente desde 2 de Agosto. Por fim, absolutamente frustrado, preparou^se para regressar a Israel num voo nocturno. Quando abandonava o Departamento de Estado, um funcionário entregou-lhe um rectângulo de cartolina, encimado por uma espécie de brasão pessoal, em que o signatário lhe solicitava que não abandonasse Washington sem efectuar uma breve visita a sua casa, para discutirem um assunto urgente "para os nossos países". Ele reconheceu a assinatura -era de um homem das suas relações, abastado e poderoso. A sua limusina aguardava à porta. O ministro israelita tomou uma decisão: ordenou ao seu secretário que regressasse à embaixada, a fim de ir buscar a bagagem, e se encontrasse com ele, duas horas mais tarde, em determinada casa de Georgetown, de onde seguiriam para o aeroporto. Por último, subiu para a limusina. A residência era sumptuosa, situada na M Street, a menos de trezentos metros da Universidade de Georgetown. Foi conduzido a uma biblioteca decorada com esmero e luxo e, momentos depois, surgia o anfitrião, de mão estendida. -Não tenho palavras para lhe agradecer a concessão destes breves minutos, meu caro Bibi. Saul Nahanson era simultaneamente banqueiro e financeiro, actividades que o tinham tornado excepcionalmente rico. À semelhança do político israelita, irradiava elegância e tinha cabelos grisalhos. Instalaram-se em poltronas diante da lareira acesa e um empregado inglês de libré aproximou-se com uma garrafa e dois copos numa salva de prata. Saul Nathanson era demasiado subtil para entrar de chofre no assunto que suscitaria o encontro, pelo que as primeiras 178 palavras abordaram quase banalidades. Em seguida, o diálogo enveredou pelo tema do Médio Oriente. Palpita-me que vai haver guerra -proferiu, com uma expressão de amargura. Não tenho a menor dúvida a esse respeito. Antes de terminar, muitos jovens americanos morrerão, mancebos fortes e saudáveis que não merecem tal sorte. Temos de fazer tudo ao nosso alcance para manter o número de baixas tão reduzido quanto possível, não concorda? Mais vinho? Estou inteiramente de acordo. Onde pretenderia o homem chegar? O diplomata israelita não fazia a menor ideia. -O Saddam é uma ameaça -continuou Nathanson, com o olhar fixo no lume. -Talvez mais para Israel do que para qualquer dos outros estados vizinhos. É o que dizemos há anos. Mas quando lhe bombardeámos o reactor nuclear, a América condenou-nos. A gente de Cárter -proferiu, com um gesto de desdém. -Uma mera atitude de cosmética. Tenho um filho a cumprir o serviço militar no Golfo. Não sabia. Faço votos para que regresse são e salvo. Obrigado, Bibi. -O anfitrião parecia sinceramente impressionado. -Rezo todos os dias para que tal aconteça. Quanto a mim... em face da gravidade da situação... a colaboração entre todos nós deve ser firme e constante. Não creio que haja duas opiniões quanto a isso. - O israelita tinha a desconfortável sensação de que se aproximavam más notícias. Para reduzir as baixas ao mínimo. É essa a razão pela qual solicito a sua colaboração, Benyamin. Estamos do mesmo lado, suponho? Sou americano e judeu. A ordem de precedência com que ele empregou os dois termos ficou a pairar no ar. E eu israelita e judeu -replicou Natanyahu. Precisamente. Mas em virtude de ter sido educado aqui, decerto compreende... como direi?... que os americanos às vezes se tornam muito emocionais. Posso exprimir-me com franqueza? -Decerto-assentiu o israelita, cada vez mais intrigado. - Se se fizesse algo, ainda que insignificante, para reduzir o número de baixas, eu e os meus compatriotas ficaríamos eternamente gratos a quem contribuísse para semelhante fim. A outra metade do sentimento permaneceu omissa, mas Netanyahu era um diplomata demasiado experiente para que lhe escapasse. Se se fizesse ou deixasse fazer algo que 179 contribuísse para aumentar o número de baixas, a memória da América revelar-se-ia longa e a vingança desagradável. - Que pretende de mim? Saul Nathanson levou o copo aos lábios e voltou a fixar o olhar no lume. - Ao que parece, há um homem em Bagdade, com o nome de código de Jericó... Quando os dois homens se separaram, foi um ministro- -adjunto dos Assuntos Estrangeiros que seguiu velozmente para o aeroporto de Dulles, a fim de embarcar no voo que o conduziria à pátria. ?

CAPíTULO 9



A barreira que o interceptou situava-se na esquina da Rua Mohammed ibn Kassem com a Quarta Circular. Quando a avistou de longe, Mike Martin sentiu-se tentado a efectuar uma rotação de cento e oitenta graus e voltar para trás. Mas havia soldados iraquianos postados de cada lado da artéria de acesso ao local de inspecção, aparentemente apenas com essa intenção, pelo que constituiria rematada loucura empreender a fuga. Assim, viu-se forçado a continuar em frente e incorporar-se ha fila de veículos que aguardavam. Como sempre, ao atravessar a cidade do Koweit, procurara evitar os locais mais concorridos, porém o percurso através de qualquer das estradas circulares que envolviam a área numa espécie de faixas concêntricas só se podia efectuar numa encruzilhada importante. Por outro lado, ao fazê-lo a meio da manhã, Martin acalentava a esperança de se perder no meio da confusão do tráfego ou descobrir que os soldados iraquianos se protegiam do calor algures. Mas em meados de Outubro o tempo arrefecera, além de que os membros das forças especiais se revelavam muito mais eficientes do que os do exército popular. Por conseguinte, ele decidiu aguardar pacientemente a sua vez, sentado ao volante da carrinha Volvo branca. Ainda era noite, quando se aventurara no deserto para desenterrar os explosivos e restante equipamento que prometera a Abu Fouad. E, pouco antes da alvorada, procedera à sua transferência do jipe para a Volvo, na garagem de uma rua estreita de Firdous. Entre a transferência de um veículo para o outro e o momento em que calculou que o Sol estaria suficientemente alto e quente para obrigar os iraquianos a protegerem-se à sombra, 181 conseguira passar pelo sono durante cerca de duas horas sentado ao volante da carrinha. Por fim, mudara de roupa, trocando a túnica encardida de beduíno pela indumentária impecável de um médico koweitiano. Os carros que o precediam deslocavam-se lentamente em direcção ao grupo de soldados de infantaria em torno de barricas cheias de cimento que assinalavam a barreira. Em alguns casos, eles limitavam-se a lançar uma olhadela aos documentos de identidade dos condutores e gesticulavam para que prosseguissem o seu caminho; noutros, mandavam-nos abandonar a fila, para uma busca minuciosa. De um modo geral, eram os veículos que transportavam alguma espécie de carga que tinham de se desviar para a berma. Martin achava-se desconfortavelmente consciente dos dois caixotes atrás dele, no sobrado da área de carga da carrinha, que continham material em quantidade mais do que suficiente para justificar a sua detenção e entrega às nada delicadas mãos dos agentes da AMAM. Finalmente, foi a sua vez de se submeter à inspecção. O sargento não se deu ao trabalho de lhe pedir os documentos de identificação. Ao ver os caixotes na retaguarda da Volvo, apontou peremptoriamente para a berma e vociferou uma ordem aos subordinados que se encontravam aí. Surgiu um mal encarado indivíduo fardado do lado da janela do condutor, cujo vidro Martin já baixara. -Cá para fora -ordenou o soldado. Martin obedeceu e empertigou-se, ao mesmo tempo que exibia um sorriso cortês. Aproximou-se outro sargento, e o soldado contornou a viatura e espreitou para dentro. - Documentos-exigiu o primeiro. Examinou o bilhete de identidade que Martin lhe entregou e procedeu à comparação visual do rosto da fotografia com o original. Se notou alguma diferença entre o oficial britânico na sua frente e o empregado da empresa de Al-Khalifa cuja foto fora utilizada para o efeito, não o deixou transparecer. 195

O documento exibia a data de emissão do ano anterior, lapso de tempo durante o qual um homem podia perfeitamente deixar crescer a barba. -É médico? , ; ,: - Exacto, sargento. Trabalho no hospital. ---Qual?



-O da Jahra Road. -Para onde vai? -Para o Hospital Amiri, em Pasman. O homem não possuía cultura especial, pelo que considerava um médico uma pessoa de erudição e importância consideráveis. Por fim, emitiu um grunhido e encaminhou-se para a retaguarda da carrinha. - Abra-a -ordenou. Martin obedeceu e a porta, impelida pela mola, subiu acima das suas cabeças, após o que o iraquiano fixou o olhar nos dois caixotes. Que há aqui dentro? Amostras. Foram pedidas pelo laboratório de pesquisas do Hospital Amiri. Mostre-mas. Martin puxou de um molho de chaves. Os caixotes tinham fechaduras de bronze e, enquanto ele fingia procurar a adequada, observou: Como talvez saiba, o interior está refrigerado. Refrigerado? -repetiu o sargento, como se tivesse dificuldade em entender o significado do termo. Sim, frio. As culturas têm de se manter a uma temperatura constante. Se eu abrir os caixotes, o ar escapa-se e tornam-se muito activas. É melhor recuar um pouco. Ante a advertência, o sargento enrugou a fronte, empunhou a carabina que trazia à bandoleira e apontou-a a Martin, suspeitando de que os caixotes continham armas. Porquê? -inquiriu, em inflexão brusca. Lamento, mas não o posso evitar. Os germes escapam-se para o ar à nossa volta. Quais germes? -Estava visivelmente confuso e irritado, tanto com a sua ignorância como com a atitude do suposto médico. Não lhe disse onde trabalho? -perguntou Martin, em tom quase melífluo. Disse, no hospital. Na secção de isolamento, onde há uma infinidade de amostras de germes de varíola e cólera para análise. Desta vez, o sargento retrocedeu, pelo menos um metro. As marcas que ostentava nas faces constituíam uma recordação pungente da varíola que o atacara em criança e quase lhe provocara a morte. - Leve isto daqui para fora, imediatamente! Martin desfez-se em desculpas, fechou a porta da retaguarda da carrinha, sentou-se ao volante e partiu prontamente. 183 Uma hora mais tarde, entrava num armazém de peixe no porto de Shuwaikh e entregava a carga a Abu Fouad.

Departamento de Estado dos Estados Unidos Washington, DC 20520 MEMORANDO PARA: James Baker, Secretário de Estado DE Grupo Político de Contra-Espionagem e Análise ASSUNTO: Destruição da Máquina de Guerra Iraquiana DATA: 16 de Outubro de 1990 CLASSIFICAÇÃO: Só para os olhos Nas dez semanas que decorreram desde a invasão do Emirado do Koweit pelo Iraque, procedeu-se à mais rigorosa investigação, de nossa parte e dos nossos aliados britânicos, sobre a exacta dimensão, natureza e estado de preparação da máquina de guerra actualmente à disposição do Presidente Saddam Hussein. Os críticos dirão sem dúvida, com o habitual benefício do discernimento, que essa análise se devia ter efectuado antes desta data. Seja como for, os resultados das várias investigações estão agora na nossa frente e apresentam um aspecto assaz preocupante. Só as forças convencionais iraquianas, com o seu exército de um milhão e duzentos e cinquenta mil homens, peças de artilharia, tanques, baterias de mísseis e frota aérea moderna, tornam o Iraque de longe a força militar mais poderosa do Médio Oriente. Há dois anos, estimou-se que, se o efeito da guerra com o Irão consistira em reduzir a máquina de guerra iraniana ao ponto em que não podia constituir uma real ameaça para os seus vizinhos, os danos produzidos pelo Irão à máquina de guerra do Iraque se revestiam de uma importância similar. Torna-se agora claro que, no caso do Irão, o embargo criado deliberadamente por nós e pelos ingleses fez com que a sua situação não se alterasse. No caso do Iraque, porém, os dois anos intermédios foram preenchidos com um programa de rearmamento de um volume assustador. Como recordará, senhor Secretário, a política ocidental na área do Golfo e mesmo em todo o Médio Oriente há muito que se tem baseado no conceito do equilíbrio; a noção de que a estabilidade e, portanto, o statu quo só se podem manter se nenhuma nação da área conseguir adquirir um poder suficiente para ameaçar até à submissão todos os vizinhos e estabelecer assim o domínio total. 184 Só na frente da guerra convencional, é óbvio que o Iraque adquiriu esse poder e se prepara agora para criar o domínio. Mas este relatório preocupa-se ainda mais com outro aspecto dos preparativos iraquianos: o estabelecimento de uma reserva assombrosa de Armas de Destruição Maciça, juntamente com projectos permanentes do seu acréscimo e sistemas de entrega internacionais e porventura intercontinentais. Numa palavra, a menos que se consiga a destruição total dessas armas e respectivos sistemas de entregas, o futuro imediato apresenta-se sob um cariz catastrófico. Dentro de três anos, o Iraque possuirá, de acordo com os estudos apresentados à Comissão Medusa e com os quais os ingleses concordam inteiramente, a sua própria bomba atómica e a capacidade para a lançar em qualquer ponto dentro de um raio de dois mil quilómetros de Bagdade. A esta perspectiva deve acrescentar-se a de milhares de toneladas de gás venenoso e potencial de guerra bacteriológica, que inclui o antraz, tularemia e, possivelmente a peste bubónica e pneumónica. Mesmo que o Iraque fosse governado por um regime benigno e razoável, essa perspectiva seria assustadora. Ora, o seu actual presidente, Saddam Hussein, acha-se claramente dominado por dois flagelos de natureza psiquiátrica: megalomania e paranóia. Dentro de três anos, salvo se houver uma acção preventiva, o Iraque poderá dominar, somente por meio da ameaça, todos os territórios desde a costa norte da Turquia ao Golfo de Adem e dos mares ao largo de Haifa até às montanhas de Kandahar. O efeito destas revelações deve consistir em modificar radicalmente a política do Ocidente. O desmantelamento da máquina de guerra iraquiana e, em particular, das Armas de Destruição Maciça, tem de passar a constituir o objectivo supremo da política ocidental. A libertação do Koweit tornou-se irrelevante e serve apenas de justificação. O alvo pretendido só pode ser frustrado com a retirada unilateral do Koweit pelo Iraque, pelo que se devem desenvolver todos os esforços para garantir que tal não acontecerá. Nessa conformidade, a política dos Estados Unidos, em conjugação com os nossos aliados britânicos, deverá visar quatro metas: a) Na medida do possível, apresentar, secretamente, provocações e argumentos a Saddam Hussein destinados a levá-lo a recusar abandonar o Koweit."

185 Rejeitar qualquer solução de compromisso que ele ofereça para retirar do Koweit, removendo assim a justificação da nossa projectada invasão e destruição da sua máquina de guerra. Instar as Nações Unidas a aprovar, sem mais adiantamentos, a Resolução 678 do Conselho de Segurança



que autoriza os aliados da Coligação a iniciar a Guerra Aérea, assim que eles estiverem preparados. , 4)) Dar a impressão de que se acolhe favoravelmente, mas na realidade frustrar qualquer plano de paz que permita ao Iraque escapar incólume do seu actual dilema. Neste aspecto, o secretário-geral da ONU, Paris e Moscovo constituem os principais perigos, capazes de propor a qualquer momento um esquema inocente susceptível de boicotar o que se deve fazer. É claro que o público continuará a convencer-se do contrário. Respeitosamente, É

Desta vez, temos de alinhar com eles, Itzhak. O Primeiro-Ministro de Israel parecia, como de costume, inferiorizado pela enorme cadeira rotativa e secretária na sua frente, quando o seu adjunto dos Assuntos Estrangeiros o enfrentava no gabinete fortificado; sob a Knesset, em Jerusalém. Os dois pára-quedistas armados do outro lado da porta de aço não podiam ouvir nada do que se dizia no interior. Itzhak Shamir enrugou o cenho, enquanto as pernas curtas oscilavam sobre a carpeta. O adjunto dos Assuntos Estrangeiros diferia do Premier em todos os sentidos -alto, enquanto o dirigente nacional era baixo, elegante e não desleixado como Shamir e delicado, ao passo que este último se revelava bilioso. Não obstante davam-se muito bem e partilhavam o mesmo ponto de vista sobre o seu país e os palestinianos, pelo que o Primeiro^Ministro nascido na Rússia não hesitara em escolher e promover o diplomata cosmopolita. Benyamin Netanyahu expusera a situação com clareza. Israel precisava dos Estados Unidos -da sua boa vontade, outrora garantida automaticamente pelo poder do lobby judaico, mas estava agora sob o fogo cruzado do Capitólio e dos media americanos, seus donativos, armamento e veto no Conselho de í26) Political Intelligence and Analysis Group. (N. do T.] 186 Segurança. Era muita coisa junta para arriscar por um suposto agente iraquiano dirigido por Kobi Dror em Telavive. - Que fiquem com Jericó, quem quer que ele seja -opinou Netanyahu. -Se os ajudar a destruir Saddam Hussein, tanto melhor para nós. O Primeiro-Ministro emitiu um grunhido, inclinou a cabeça e estendeu a mão para o intercomunicador. - Diga ao general Dror que preciso dele aqui, no meu gabinete-indicou à secretária particular. -Quando estiver livre, não. Já! Kobi Dror abandonava os domínios do superior quatro horas mais tarde, dominado por cólera surdia. Na realidade, não se recordava de outra ocasião em que se sentisse tão furioso. Ouvir o Primeiro-Ministro dizer-lhe que procedera mal não se podia considerar nada agradável. Mas ter de se sujeitar ao epíteto de casmurro estúpido excedia tudo o que se lhe afigurava admissível. De regresso ao seu gabinete, mandou chamar Sami Gershon e transmitiu-lhe a novidade. Como raio souberam os ianques? -uivou. Quem deu com a língua nos dentes? Ninguém daqui -asseverou. -Que acha do professor? Sei que acaba de regressar de Londres. Traidor imundo! -bradou Dror. -Quebro-lhe a espinha. Aposto que os "bifes" o embebedaram, para que falasse. Bem, o mal está feito. Como vamos agir? Revelar tudo acerca de Jericó. Mas não conte comigo para isso. O Sharon que se encarregue da tarefa. A reunião efectua-se em Londres, onde ocorreu a inconfidência. Gershon ponderou a sugestão e esboçou um sorriso malicioso. De que se ri? -quis saber Dror. Já não podemos contactar com Jericó. Eles que tentem fazê-lo. Continuamos sem conhecer a verdadeira identidade do filho da mãe. Não me admirava nada que metessem a pata na poça. Envia-se o Sharon esta noite. Depois, lançamos outro projecto. Aliás, já há algum tempo que andava às voltas com ele na cabeça. Chamar-lhe-emos Operação Josué. Porquê? -quis saber Gershon, perplexo. Não se recorda exactamente do que Josué fez a Jericó? A reunião em Londres foi considerada suficientemente importante para Bill Stewart, subdirector de Langley (Operações), cruzar o Atlântico, acompanhado de Chip Barber, da Divisão do Médio Oriente. Instalaram-se numa das casas segu- 187 ras da Agência, um apartamento nas proximidades da embaixada americana, em Grosvenor Square, e jantaram com o subdirector do SIS e Steve Laing. A presença do subdirector devia-se a questões de protocolo, em virtude do grau hierárquico de Stewart. Seria substituído na altura das declarações de David Sharon por Simon Paxman, que tinha a seu cargo a pasta do Iraque. David Sharon deslocou-se de Telavive com um nome suposto e tinha à sua espera um katsa da embaixada israelita, em Palace Green. O serviço de Contra-Espionagem Britânico, Ml.5, que não gosta dos agentes estrangeiros, mesmo os de países amigos, que apreciam as brincadeiras no porto de entrada, fora alertado pelo SIS, pelo que localizou o kotsa da embaixada. Assim que este saudou o recém-chegado "Mr. Eliyáhu", proveniente do voo de Telavive, o grupo do Mv 1.5 entrou em cena para dar as calorosas boas-vindas a Mr. Sharon e prontificar-se para lhe tornar a estada o mais aprazível possível. Os dois irritados israelitas foram escoltados ao carro e depois seguidos noutra viatura até ao centro de Londres. As revelações de David Sharon principiaram na manhã seguinte e prolongaram-se por todo o dia e metade da noite. O SIS decidiu utilizar uma das suas casas seguras -um apartamento bem protegido e "armadilhado" eficientemente, em South Kensington. ; Era (e ainda é) um local espaçoso, em que a sala de jantar serviu de teatro da reunião. Um dos quartos continha os bancos de gravadores e dois técnicos que registavam todas as palavras pronunciadas. Uma jovem esbelta e eficiente requisitada à Century House ocupava-se da cozinha, para que os seis homens não passassem fome. Dois indivíduos de porte atlético permaneceram todo o dia no átrio do prédio para reparar o elevador que funcionava perfeitamente, embora na verdade providenciassem para que só entrassem os habitantes usuais dos diferentes andares. Sentados em torno da mesa da sala de jantar, viam-se David Sharon e o katsa da embaixada de Londres, o qual, de qualquer modo, era um agente "declarado", os dois americanos, Stewart e Barber, de Langley, e os dois representantes do SÍS, Laing e Paxman. Por indicação dos americanos, Sharon contou a sua história pormenorizadamente. -Um mercenário? Um mercenário de "entrada"? -estranhou Stewart, a dada altura. -Suponho que não está a brincar comigo? 188 - Recebi instruções para usar de absoluta sinceridade redarguiu o israelita. -Foi assim que as coisas se passaram. Os americanos não tinham nada contra um mercenário. Na verdade, até constituía uma vantagem. Entre os motivos para trair a pátria, o dinheiro é o mais simples e fácil para a agência recrutadora. Com um mercenário, uma pessoa sabe as linhas com que se cose. Nada de sentimentos torturados de arrependimento, angústia de autodesdém, ego frágil para ser massajado e adulado ou penas eriçadas para alisar. Um mercenário no mundo dos serviços secretos assemelha-se a uma prostituta. Não há necessidade de jantares à luz das velas e pequenas atenções para consumar a conquista. Basta depositar um punhado de dólares em cima da mesa-de-cabeceira. Sharon descreveu a busca frenética de alguém que podia viver em Bagdade sob cobertura diplomática em regime de permanência prolongada e da eventual "escolha de Hobson" de Alfonso Benz Moncada, com o respectivo treino intensivo em Santiago e reinfiltração para "dirigir" Jericó durante dois anos. Um momento-interrompeu Stewart.-Esse amador dirigiu Jericó ao longo de dois anos? Procedeu a setenta recolhas de "cestos" e safou-se? Juro pela minha saúde -confirmou Sharon, secamente. - Que acha, Steve? Laing encolheu os ombros. Sorte de principiante. Em Berlim Oriental ou Moscovo não se safava, de certeza. Exacto-concordou Stewart. -E nunca o seguiram a um "cesto"? Nem se descaiu? Nunca -afirmou Sharon. -Foi seguido algumas vezes, mas sempre de forma esporádica e pouco hábil. No percurso de casa para a Comissão Económica ou vice-versa e uma ocasião quando se dirigia para um "cesto". Mas apercebeu-se a tempo e mudou de rumo. --Suponhamos que o seguiram mesmo até um "cesto". Rapazes da contra-espionagem de Rahmani ficaram de atalaia no local e capturaram Jericó -sugeriu Laing. -Submetido a persuasão suficiente, este viu-se forçado a colaborar... - Nessa eventualidade, o produto perderia grande parte do seu valor -disse Sharon. -Ele estava a produzir estragos profundos. Rahmani não permitiria que isso continuasse. Teríamos assistido ao julgamento público e execução de Jericó, e Moncada seria expulso do país, se a sorte não lhe voltasse as costas. "Tudo indica que os perseguidores faziam parte da AMAM, embora os estrangeiros pertençam à tutela de Rahmani. De 189 qualquer modo, mostraram-se tão ineptos como sempre e Meneada descobriu-os sem dificuldade. Como sabemos, a AMAM gosta de se intrometer nos assuntos da contra-espionagem." Os outros aquiesceram, com inclinações de cabeça. A rivalidade interdepartamental não constituía uma novidade. Também se verificava nos seus países. No momento em que Sharon chegou ao ponto em que foi retirado abruptamente do Iraque, Bill Stewart soltou uma imprecação. Está-nos a dizer que ele desligou, cortou o contacto? Por outras palavras, Jericó anda à solta, sem controlador? Aí é que bate o ponto -replicou o israelita, pacientemente. Virou-se para Chip Barber e prosseguiu: -Quando o general Dror disse que não tinha qualquer agente em Bagdade, falou verdade. A Mossad estava convencida de que Jericó, como operador activo, se encontrava de patas para o ar. -Queremos restabelecer o contacto-declarou Laing, a meia-voz. -Como? Sharon indicou as seis localizações de marcos postais de cartas mortas. No decurso dos seus dois anos, Moncada mudara duas -num dos casos, porque o local estava a ser terraplanado para construção de um bloco habitacional e no outro em virtude de a loja abandonada utilizada ter sido reactivada. No entanto, as indicações agora expostas correspondiiam às válidas na última informação da fontte antes da sua expulsão. A posição exacta desses "cestos" e locais apropriados para as marcas a giz que referiam a necessidade de visitar aqueles achavam-se mencionados com a aproximação de centímetros. Talvez pudéssemos convencer um diplomata de um país amigo a abordá-lo, para revelar que regressava à actividade e a remuneração era mais compensadora -sugeriu Barber.- Evitavam-se essas visitas a esconderijos debaixo de tijolos e lajes. Não-declarou Sharon. -Ou nos conformamos com os cestos ou não haverá a menor possibilidade de estabelecer contacto. Porquê? -perguntou Stewart. -Talvez não acreditem, mas juro que é verdade. Nunca nos inteirámos da sua verdadeira identidade. Os quatro agentes ocidentais fitaram o israelita com incredulidade durante alguns momentos. -Não conseguiram identificá-lo? -articulou Stewart, pausadamente. -Não. Tentámos e insistimos em que nos dissesse quem na realidade era, para sua própria protecção, mas recusou e 190 ameaçou fechar a torneira, se persistíssemos com a ideia. Procedemos a análises da escrita e elaborámos psico-retratos. Comparámos a informação que fornecia com a que se achava fora do seu acesso. Acabámos por ficar com uma lista de cerca de quarenta homens dos círculos de Saddam Hussein, no seio do Conselho do Comando Revolucionário, do Alto--Comando do Exército e das altas patentes do Partido Baath. "Nunca lográmos aproximar-nos mais do que isso. Em duas ocasiões, introduzimos um termo técnico inglês nos nossos pedidos e foi-nos devolvido com o pedido do equivalente em arábico. Parece que domina mal a nossa língua ou a desconhece por completo. É claro que se pode tratar de um subterfúgio. Por conseguinte, escreve sempre em arábico." Stewart emitiu um grunhido de contrariedade, convencido. - Parece a repetição do Garganta Funda. -- Todos se recordavam da fonte secreta no caso Watergate, que fornecera informações confidenciais ao Washington Post. Mas Woodward e Bernstein identificaram-no -argumentou Paxman. É o que eles garantem, mas duvido-volveu Stewart. -Penso que o tipo se manteve imerso na sombra, como esse Jericó. Havia algumas horas que anoitecera, quando os quatro homens permitiram que o exausto David Sharon regressasse finalmente à sua embaixada. Steve Laing tinha a certeza de que, desta vez, a Mossad não guardara qualquer trunfo na manga, pois Bill Stewart explicara-lhe o nível da pressão a que o israelita fora submetido em Washington. Os dois agentes britânicos e outros tantos homólogos americanos, fartos de sanduíches e café, seguiram para um restaurante das proximidades. Stewart, que padecia de uma úlcera gástrica e um stress elevado, de modo algum acalmados por doze horas de sanduíches, contentou-se com uma dose de salmão fumado. - É um filho da mãe, Steve. Um autêntico filho da mãe de quatro olhos. À semelhança da Mossad, vamos ter de tentar encontrar um diplomata acreditado possuidor do tipo de treino conveniente e convencê-lo a trabalhar para nós. Pagamos-lhe, se for caso disso. Langley está na disposição de abrir os cordões à bolsa até onde for necessário. As informações de Jericó podem salvar muitas vidas, quando principiarem os combates. -? Por conseguinte, que temos pela frente? -observou Barber. -Metade das embaixadas em Bagdade já fecharam e as outras devem estar sob vigilância apertada. Há a sueca, a irlandesa, a suíça, a finlandesa... 191

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