Fédon (a imortalidade da alma)


partirem as cordas, e as próprias cordas, todas elas de natureza m orta, e



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Platao-Fedon


partirem as cordas, e as próprias cordas, todas elas de natureza m orta, e
desaparecer a harm onia, da m esm a natureza e da fam ília do divino e do im ortal,
que assim viria a ser destruída até m esm o antes do que é perecível. Não,
prosseguiria essa pessoa; necessariam ente a harm onia terá de continuar em
qualquer parte, por ser forçoso que a m adeira apodreça prim eiro, e as cordas,
antes de acontecer àquela algum a coisa. A esses respeito, Sócrates, creio que tu
m esm o j á consideraste que a noção da alm a adm itida por nós é m ais ou m enos a
seguinte: Da m esm a foram que tem os o corpo distendido e coeso pelo calor e o
frio, o seco e o úm ido, e tudo o m ais do m esm o gênero, viria a ser nossa alm a a
m istura e a harm onia de todos esses elem entos, quando com binados em j usta
proporção. Ora, se nossa alm a for um a espécie de harm onia, é evidente que, ao
ficar relaxado o corpo, ou distendido em excesso, por doenças e outras


perturbações, forçosam ente a alm a fenecerá logo, em que pese à sua natureza
divina, tal com o se dá com as outras harm onias, tanto as resultantes de sons com o
das dem ais obras dos artista; ao passo que os despoj os do corpo perduram por
m uito tem po, até que o fogo os destrua ou venham a apodrecer. Vê, portanto, o
que devem os opor a esses argum entos, no caso de alguém nos vir dizer que a
alm a, por ser a m istura dos elem entos do corpo, é a prim eira a fenecer naquilo
que cham am os m orte.
XXXVII - Sócrates se conservou durante algum tem po com o olhar parado,
com o era seu costum e; depois falou, sorrindo: A obj eção de Sím ias, declarou, é
procedente. Se algum de vós estiver em m elhores condições do que eu, por que
não responde a ele? O argum ento dele é m uito feliz. Porém antes de form ular
qualquer resposta, sou de parecer que devem os prim eiro ouvir o que tem Cebete
a opor à nossa tese, pois assim ganharem os tem po para refletir no que será
preciso dizer. E depois de ouvir a am bos, dar-lhes-em os nossa aprovação, se nos
parecerem bem afinados os argum entos; caso contrário; dizendo logo o que te
deixa atrapalhado.
Vou dizer, respondeu Cebete. A m eu parecer, nosso argum ento não saiu do
lugar e continua com o alvo das m esm as obj eções de antes. Que nossa alm a j á
existisse antes de assum ir esta form a, é proposição que não m e repugna aceitar,
por engenhosa e - salvo im odéstia de m inha parte - suficientem ente
dem onstrada. Porém que subsista algures depois de estarm os m ortos, com isso é
que não posso concordar. Não aceito, tam bém o reparo de Sím ias, quando
afirm a que a alm a não é m ais forte nem m ais durável do que o corpo, pois sob
am bos os aspectos ela se distingue im ensam ente dele. Por que então, lhe diria o
argum ento, ainda te m ostras incrédulo, se estás vendo que depois da m orte do
hom em sua porção m ais fraca ainda subsiste? Não te parece que a porção m ais
durável terá forçosam ente de sobreviver igual tem po? Vê agora se o que digo
contém algum a substância. Para m aior com odidade vou socorrer-m e, com o o
fez Sím ias, de um a im agem . Para m im , falar desse j eito é o m esm o que fazer as
seguintes considerações a respeito de um velho tecelão que acabasse de m orrer:
o hom em não está m orto: continua vivo em algum a parte; e para prova dessa
afirm ação, apresentasse a roupa que ele então trazia no corpo, tecida por ele
m esm o, conservada e sem ter ainda perecido. E se alguém se m ostrasse
incrédulo, poderia perguntar o que é por natureza m ais durável, im aginaria ter
dem onstrado que com m aioria de razões o hom em terá de estar bem , visto não
haver perecido o que por natureza é m enos durável. Porém a m eu ver, Sím ias, a
realidade, é m uito diferente. Presta atenção ao seguinte: Não há quem não vej a
quanto é fraco sem elhante argum ento. Havendo gasto m uitas roupas por ele
próprio tecidas, o nosso hom em m orreu, de fato, depois de todas, e não foram
poucas, porém antes da últim a, segundo penso; m as nem por isso o hom em é
inferior ou m ais fraco do que a roupa. Essa im agem , quero crer, se aplica tanto à
alm a com o ao corpo, e quem argum entasse desse m odo com relação ao corpo,
falaria com m uito m ais propriedade, a saber: que a alm a é m ais durável e o
corpo m ais fraco e transitório, pois fora acertado acrescentar que cada alm a
consom e vários corpos, principalm ente quando vive m uitos anos. Se o corpo se


escoa e se deliquesce enquanto o hom em vive, a alm a retece de contínuo o que
for consum ido. Forçoso será, por conseguinte, que, no instante de m orrer, ainda
estej a a alm a com a últim a vestim enta por ela feia, só vindo a m orrer antes da
últim a. Desaparecida a alm a, m ostra, de pronto, o corpo sua fraqueza natural e
se desm ancha pela putrefação. Por isso m esm o, com base nesses argum entos
não podem os confiar que nossa alm a subsista algures depois da m orte. E se
alguém concedesse ao expositor de tua proposição m ais ainda do que fazes e lhe
desse de barato não penas que nossas alm as existem antes do tem po do
nascim ento, sendo que nada im pede, até m esm o depois de nossa m orte,
existirem algum as e continuarem a existir, e m uitas vezes renascerem e
tornarem a m orrer, por serem de natureza bastante forte para suportar esses
nascim entos sucessivos: se lhe concedêssem os esse ponto, de todo o j eito ele se
recusaria a adm itir que a alm a não se esgota nesses nascim entos sucessivos, para
acabar num a dessas últim as m ortes, por desaparecer de todo. Dessa m orte
últim a, poderia acrescentar, e dessa decom posição do corpo que leva para a
alm a a destruição, ninguém pode ter conhecim ento, por não estar em nós
experim entá-la. Se as coisas se passam m esm o dessa form a, por força terá de
ser irracional a confiança de qualquer pessoa diante da m orte, a m enos que esse
alguém pudesse dem onstrar que a alm a é absolutam ente im ortal e im perecível.
Sendo isso im possível, não há com o evitar que o m oribundo se arreceie de que no
instante em que sua alm a se desaparecer do corpo, venha a desaparecer de todo.
XXXVIII - Ao ouvi-los falar dessa m aneira, todos nós nos sentim os
desagradavelm ente im pressionados, conform e depois confessam os a nós
m esm os; firm em ente convencidos com o ficáram os, ante os argum entos
anteriores, as palavras de agora com o que nos deixavam inquietos e nos levavam
outra vez a duvidar, tanto com relação ao que j á fora dito com o ao que ainda
restava por dizer. Ou éram os m aus j uízes ou o assunto não adm itia prova.
Equécrates - Pelos deuses, Fedão! Com preendo o que se passou convosco,
pois agora m esm o, perguntei-m e em que argum ento poderem os confiar daqui
por diante, se o que Sócrates acabou de desenvolver, com ser tão convincente,
perdeu de todo o crédito? É m aravilhosa a atração que sobre m im sem pre
exerceu, e ainda exerce, a doutrina de que nossa alm a é um a espécie de
harm onia. O que acabaste de expor m e fez lem brar que até ao presente eu a
aceitava. Mas agora necessito de novos argum entos para convencer-m e de que a
alm a não m orre j untam ente com o corpo. Dize logo, por Zeus, de que m odo
Sócrates prosseguiu na sua argum entação? Porventura revelou desânim o, com o
disseste ter acontecido com todos vós, ou, pelo contrário, defendeu a sua opinião
com a serenidade habitual? Foi com pleta ou falha nalgum ponto sua defesa?
Conta- nos tudo com a m aior exatidão possível.
Fedão - Em verdade, Equécrates, por m ais que antes eu tivesse adm irado
Sócrates, nunca m e senti tão arrebatado naquele instante. Não é de espantar que
um hom em do seu estofo pudesse sair-se bem em sem elhante conj untura. Mas o
que nele, prim eiro de tudo, m e adm irou ao extrem o foi a m aneira delicada,
cordial e deferente com o que acolheu as obj eções dos m oços; depois, a
sagacidade com que observou o efeito de suas palavras sobre nós e, por últim o,


com o soube curar-nos: de fugitivos e derrotados, fez-nos voltar e concitou-nos a
segui-lo, para considerarm os j unto o argum ento.
Equécrates - De que m odo?
Fedão - Vou te dizer com o foi. Aconteceu que eu m e achava, j ustam ente à
sua direita, num banquinho ao pé do catre, ficando ele num plano m uito m ais
alto. Afagando- m e a cabeça e abarcando com a m ão os cabelos que m e
cobriam a nuca - pois sem pre que se lhe oferecia ocasião gracej a a respeito de
m inha cabeleira - m e disse: Decerto é am anhã, Fedão, que vais pôr abaixo esta
bela cabeleira?
Penso que sim , Sócrates, respondi.
Não, se m e aceitares um conselho.
Que devo, então, fazer? Perguntei.
Hoj e m esm o, disse, cortarei a m inha, com o farás com a tua, se nosso
argum ento vier a m orrer e nos revelarm os incapazes de lhe dar lum e e vida. De
m inha parte, se eu estivesse em teu lugar e o argum ento m e escorregasse por
entre os dedos, faria um j uram ento à feição dos Argivos, de não deixar crescer
os cabelos enquanto não vencesse em luta franca a proposição de Sím ias e
Cibete.
Mas, com o se costum a dizer, obj etei-lhe, contra dois nem Hércules aguenta.
Então, cham a- m e em teu auxílio, enquanto é dia; serei o teu Iolau.
Bem , cham arei, lhe respondi; porém não na qualidade de Herácles: Iolau é
que vai cham ar Herácles em seu auxílio.
Tanto faz, m e disse.
XXXIX - Inicialm ente, precatem o-nos contra certo perigo.
Qual será? Perguntei.
Para não ficarm os m isólogos, disse, com o outros ficam m isantropos. O que
de pior pode acontecer a qualquer pessoa é tornar-se inim igo da palavra. A
m isologia e a m isantropia têm a m esm a origem . O ódio aos hom ens nasce do
excesso de confiança sem razão de ser, quando consideram os alguém fiel,
sincero e verdadeiro, e logo depois descobrim os que se trata de pessoa corrupta e
desleal, e depois outra m ais nas m esm as condições. Vindo isso a repetir-se várias
vezes com o m esm o paciente, principalm ente se se tratar de am igos íntim os e
com panheiros de alto crédito, depois de decepções seguidas, acaba essa pessoa
por odiar os hom ens e acreditar que ninguém é sincero. Nunca observaste que é
assim m esm o que as coisas se passam .
Sem dúvida, respondeu.
E não é isso vergonhoso? Continuou. Pois é claro que esse indivíduo procura o
convívio com seus sem elhantes sem conhecer devidam ente a natureza hum ana,
pois se dispusesse de algum a experiência nas suas relações com eles, teria
com preendido com o é realm ente o m undo, isto é, que são poucos os indivíduos
inteiram ente bons ou m aus de todo, e que a m aioria constitui o m eio-term o.
Com o assim ? Perguntou.


É o m esm o que acontece, prosseguiu, com as pessoas excessivam ente baixas
ou excessivam ente altas. Julgas que pode haver nada m ais raro do que
encontrarm os um hom em m uito grande ou m uito pequeno, ou um cão, ou sej a o
que for? O m esm o se diga do veloz e do lento, do feio e do belo, do branco e do
preto. Ou não percebeste que em tudo isso os extrem os são raros e pouco
num erosos, e os da m ediania, extrem am ente freqüentes e em grande núm ero?
Perfeitam ente, respondi.
E não te parece, continuou, que se se organizasse um concurso de m aldade,
os prim eiros se apresentariam em núm ero m uito reduzido?
É m uito provável, respondi.
Sim , m uito provável, continuou. Porém não é sob esses aspecto que os
argum entos se parecem com os hom ens. Neste passo não fiz senão seguir tua
orientação. A sem elhança consiste no seguinte: quando se adm ite a exatidão de
um argum ento, sem ser-se versado na arte da dialética, pode acontecer que logo
depois ele nos pareça falso, às vezes com fundam ento, outras vezes sem nenhum ,
e depois m ais outro e m ais outra da m esm a natureza. Com o sabes, é o que se
verifica com os disputadores de razões contraditórias, que acabam por
considerar-se os m aiores sábios, por serem os únicos a reconhecer que nada há
de são e firm e, nem nas coisas, nem no raciocínio, encontrando-se tudo, em
verdade, em perm anente agitação, tal com o se dá com as águas do Euripo, sem
perm anecer nada, um só instante, no m esm o estado.
É m uito certo o que dizes, observei.
E se, de fato, existe raciocínio verdadeiro e estável, capaz de ser
com preendido, não seria de lastim ar, Fedão, no caso de ouvir alguém esses
argum entos que ora parecem verdadeiros ora falsos, em vez de inculpar-se ou à
sua própria incapacidade, acabasse por irritar-se e com prazer-se em tirar de si a
culpa para lançar no raciocínio, e passar, daí por diante, o resto da vida a odiá-lo
e a depreciá-lo, com o que só alcançaria privar-se da verdade e do
conhecim ento das coisas?
Por Zeus, lhe disse; seria, de fato grande lástim a.
XL - Assim , continuou, de início precisam os acautelar- nos contra
sem elhante perigo; não perm itam os o ingresso em nossa alm a da idéia de que
não há nada são em nosso raciocínio; digam os, isso sim , que nós é que ainda não
estam os suficientem ente sãos, m as que devem os esforçar-nos para alcançar esse
desiderato, tu e os dem ais, por causa da vida que ainda tendes pela frente; eu, por
m otivo, j ustam ente, da m orte. Receio m uito que, neste m om ento em que a m orte
é tudo, não m e haj a com o filósofo ou am igo da sabedoria., com o se dá com os
indivíduos m uito ignorantes. Estes tais, quando debatem algum tem a, não se
preocupam absolutam ente de saber com o são, de fato, as coisas a respeito de que
tanto discutem , senão em deixar convencidos os circunstantes de suas próprias
asserções. Nisso põem todo o em penho. Eu, tam bém , num ponto apenas, agora,
m e diferencio deles: não m e esforço por dem onstrar aos presentes a verdade do
que afirm o, a não ser com o acessório, m as por convencer-m e, tanto quanto
possível, a m im m esm o. Meu cálculo, com panheiro, é o seguinte; observa quanto


o argum ento é interesseiro: Se for verdade o que eu disse, só haverá vantagem
em fortalecerm os essa convicção; porém se nada m ais houver depois da m orte,
pelo m enos não im portunarei os presentes com m inhas lam entações no
pouquinho de tem po que ainda m e resta para viver. Aliás, esse estado de coisas
não vai durar m uito, o que seria m au; acabará dentro de pouco. Preparado desse
m odo, Sím ias e Cebete, continuou, é que aceitou a discussão. Quanto a vós outros,
se m e aceitardes um conselho, concedei pouca atenção a Sócrates, porém m uito
m ais a verdade; se vos parecer que há verdade no que eu digo, concordai
com igo; caso contrário, resisti quanto puderdes, acautelando-vos para que no
m eu entusiasm o não venha a enganar-vos e a m im próprio e m e retire com o as
abelhas, deixando em todos vós o aguilhão.
XLI - Porém prossigam os, continuou. Inicialm ente, lem brai-m e do que
dissestes, se vos parecer que não m e recordo m uito bem de tudo, Ou m uito m e
engano, Sím ias, ou tens dúvidas de receio de que a alm a, apesar de m ais bela e
divina do que o corpo, pereça antes deste, por ser um a espécie de harm onia.
Cebete terá adm itido que a alm a é m ais durável do que o corpo, m as que
ninguém pode saber se depois de gastar sucessivam ente m uitos corpos, não
acabará tam bém por desaparecer, quando abandonar o últim o corpo, vindo a ser
isso, precisam ente, a m orte: a destruição da alm a, visto não parar nunca o corpo
de m orrer. Não é isso m esm o, Sím ias e Cebete, o que precisam os exam inar?
Am bos confirm aram a pergunta.
E os argum entos anteriores, prosseguiu, aceitai-os por j unto, ou adm itis alguns
e rej eitai outros?
Alguns, sim , responderam , outros não.
E que dizeis, então, continuou, daquilo do com eço de que aprender é
recordar, e que se for assim , a nossa alm a terá de existir em algum a parte, antes
de vir a ficar presa ao corpo?
Quanto a m im , falou Cebete, convenceste-m e à m aravilha com tua
exposição, não havendo outro argum ento que até agora m e tivesse despertado
m aior entusiasm o.
Com igo, falou Sím ias, dá-se a m esm a coisa, sendo difícil de conceber que eu
venha a m udar de opinião.
Então, falou Sócrates: No entanto, forasteiro de Tebas, é o que terás de fazer,
se continuares a dizer que a harm onia é algo com posto, e a alm a, um a espécie de
harm onia resultante da tensão dos elem entos constitutivos do corpo. Pois decerto
não te perm itirás afirm ar que a harm onia, sendo um com posto, é anterior aos
elem entos de que é form ada. Ou afirm arás isso m esm o?
De form a algum a, Sócrates, respondeu.
E não percebes, continuou, que é j ustam ente o que se dá quando declaras que
a alm a existia antes de ingressar no corpo do hom em e de lhe assum ir a form a,
porém é com posta de elem entos que até então não existiam ? Harm onia não é o
que afirm as em tua com paração; ao contrário: prim eiro existem a lira, as cordas
e os sons, sem nenhum a harm onia. Esta é a últim a a form ar-se, com o é tam bém


a que desaparece m ais cedo. De que m odo porás em consonância esta asserção
com o que disseste antes?
Não há j eito, respondeu Sím ias.
No entanto, prosseguiu, se é preciso haver consonância, é quando se trata de
harm onia.
Sem dúvida, observou Sím ias.
Tuas proposições são desarm ônicas, disse. Por conseguinte, qual delas
escolhes: a de que aprender é recordar ou a de que a alm a é a harm onia?
Sobre todos os pontos, Sócrates, eu prefiro a prim eira, porque a outra foi
aceita sem dem onstração, por parecer-m e verossím il e algum tanto conveniente,
razão de adm iti-Ia a m aioria dos hom ens. No entanto, estou certo de que as
dem onstrações nessas com parações não passam de im postura, capazes de iludir-
nos se não tom arm os as devidas precauções, em geom etria com em tudo m ais.
Mas o argum ento relativo ao conhecim ento e à rem iniscência se baseia num
princípio digno de aceitação, pois foi asseverado que nossa alm a existe antes
m esm o de ingressar no corpo, com o o exige tua relação com a essência daquilo
que denom inam os O que é. Ora, essa proposição, conform e estou convencido,
foi por m im adotada com argum entos m uito sólidos. Daí, ver m e forçado, ao que
parece, a não perm itir que nem eu, nem ninguém afirm e que a alm a é
harm onia.
XLII - E o seguinte, Sím ias, perguntou, com o te parece: és de opinião que a
harm onia, ou qualquer outro com posto, poderá proceder de m aneira diferente da
dos elem entos se que é feito?
De form a algum a.
Com o tam bém não poderá, segundo penso, fazer ou sofrer o que quer que
sej a que não façam ou sofram aqueles elem entos.
Concordou.
É que não com pete à harm onia conduzir os elem entos que a com põem ,
porém seguilos.
Declarou-se tam bém de acordo.
Logo, de nenhum j eito a harm onia poderá m over-se ou soar, ou fazer sej a o
que for em contrário dos elem entos?
Não com preendo, disse.
Pois não é certo que se ela estiver m ais harm onizada ou em grau m aior, a
adm itirm os que sej a possível sem elhante hipótese, tanto m ais harm onizada será e
em m aior grau, e se estiver m enos e em grau m enor, será m enos harm onizada e
em grau m enor?
Perfeitam ente.
E da alm a, j ustificar-se-á dizer a m esm a coisa, que revela diferença, em bora
m ínim a, em ser m ais alm a e em grau m aior do que outra, ou m enos alm a e em
grau m enor, nisso, j ustam ente, de ser alm a?
Nunca dos nuncas, respondeu.


Passem os adiante, continuou, por Zeus! De um a alm a não dizem os que é
dotada de razão e de virtude, e que é boa, e de outra, pelo contrário, que é
destruída de senso, viciosa e m á? E não estão certos os que afirm am sem elhante
proposição?
Certíssim o, respondeu.
Sendo assim , os que adm item que a alm a é harm onia, com o explicarão a
existência dessas qualidades na alm a, a saber, a virtude e o vício? Dirão,
porventura, que se trata de um a harm onia ou desarm onia de outra espécie? Que
um a delas, a boa, foi harm onizada e que, por ser harm onia, possui em si m esm a
essa m odalidade de harm onia, enquanto a outra, por não estar harm onizada,
carece absolutam ente de harm onia?
Não sei o que responda, falou Sím ias; porém quero crer que o adepto dessa
doutrina se expressaria m ais ou m enos nesses term os.
No entanto, num ponto j á ficam os de acordo, continuou: que nenhum a alm a é
m ais alm a ou m enos alm a do que outra, o que eqüivale a aceitar que nenhum a
harm onia poderá ser m ais harm onia ou m aior - ou o inverso - do que outra, não é
verdade?
Perfeitam ente.
Ora, se a harm onia não adm ite graus, não se concebe, tam bém , que possa
ficar m ais ou m enos harm onizada. Não é isso m esm o?
Certo.
Mas a harm onia que não for nem m ais harm onizada nem m enos, poderá
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