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Concluindo a Unidade 1
Atividade interdisciplinar: Geografia, Física e Biologia. Leia o texto, reflita e depois responda às questões propostas.
Sol, praia, fuso horário e saúde
O Sol quase incessante é uma atração das praias do Nordeste brasileiro, mas também traz riscos à saúde. A elevada incidência de câncer de pele na região, estimada em 32 mil novos casos apenas em 2010, está diretamente associada aos elevados índices de radiação ultravioleta presentes nos raios solares.
As praias nordestinas são espaços de lazer muito frequentados [...]. No céu da região, o Sol brilha forte e com poucas interrupções, reforçando, em especial nas capitais estaduais, o costume de tomar banhos de mar ou apenas ir à praia para se bronzear e encontrar os amigos. No entanto, a localização geográfica e os hábitos sociais da região, combinados, criam condições favoráveis ao surgimento de câncer de pele em frequentadores dessas áreas litorâneas.
Agora, porém, estudo realizado em conjunto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte indica que o fuso horário adotado para a região pode contribuir para aumentar o perigo.
Os fusos horários
Em 24 de junho de 2008 passou a vigorar a Lei n. 11.662, que estabeleceu os novos limites dos fusos horários do território nacional [veja novamente o mapa que mostra a configuração dos fusos horários na página 11]. No entanto, muito antes disso toda a costa brasileira utilizava o mesmo fuso horário, o que cria situações peculiares. As cidades de João Pessoa, no litoral da Paraíba (latitude de 7°06' sul e longitude de 34°51' oeste), e Jacareacanga, no oeste do Pará (latitude de 6°13' sul e longitude de 57°45' oeste), por exemplo, têm latitudes semelhantes, mas uma diferença de quase 23 graus na longitude. Como estão dentro dos limites do mesmo fuso horário, em novembro o nascer do Sol ocorre em torno de 4h50 em João Pessoa, mas somente após as 6h25 em Jacareacanga.
Outra peculiaridade do sistema brasileiro está na diferença média de longitude entre Brasília (sede do horário oficial) e as capitais nordestinas mais orientais, que chega a cerca de 13 graus, o que corresponde, em termos de horário real, a uma defasagem de quase uma hora (52 minutos no caso de João Pessoa e Recife, 51 minutos no de Natal e 48 minutos no de Maceió). Quais as consequências da adoção do mesmo fuso horário para regiões separadas por quase 15 graus de longitude? Uma delas causa preocupação: mesmo seguindo a recomendação de se expor ao Sol somente até as 10h, o banhista estará sujeito a níveis mais elevados de radiação ultravioleta. Essa situação é bem evidente no caso da cidade de Natal, onde o IUV atinge nível 6 (alto) a partir das 9h e à 1h já passa do nível 8 (muito alto) durante todo o ano. Considerando-se que as longitudes das capitais mais orientais são praticamente iguais e as diferenças máximas nas latitudes são menores que 4 graus, pode-se considerar que o problema ocorre em todas.
A análise dos índices de radiação ultravioleta registrados em Natal, entre janeiro de 2001 e dezembro de 2008, pelo Laboratório de Variáveis Ambientais Tropicais, do CRN/Inpe, revela a dimensão dessa diferença e a necessidade de modificar as campanhas educativas, que em geral recomendam à população não se expor em demasia ao Sol entre 10h e 15h. Em todos os anos do estudo, o índice - médias anuais - atingiu valores superiores ao nível 6 (risco alto) a partir das 9h10 e inferiores a esse nível após as 13h30. No mesmo período, o nível mais elevado foi atingido por volta das 11h20. Nesse horário, os índices de radiação ultravioleta sempre chegaram bem próximos do nível 11 (risco extremo).
Assim, com base nos resultados obtidos em Natal, pode-se afirmar que, em todas as cidades situadas no litoral dos estados mais orientais (do Rio Grande do Norte a Sergipe), a exposição ao Sol oferece riscos à saúde a partir das 9h, antes do horário normalmente divulgado pelos meios de comunicação, nas campanhas de prevenção do câncer de pele. O correto, devido à diferença de longitude em relação à Brasília, seria evitar a permanência nas praias daquelas cidades no período entre 9h e 14h. Como os valores do estudo são médias anuais, é possível que em certos dias de verão os índices fiquem acima desses níveis.
FONTE: LAVAT - INPE - CRN (2010)
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Isso é mostrado no registro da variação desse índice na praia de Ponta Negra, em Natal, em 6 de janeiro de 2007: o nível de risco alto (6) foi atingido já às 8h20 e o de risco extremo (11), antes das 10h. Nesse dia (11h e 12h), o IUV ultrapassou o nível 14.
LEGENDA: O registro feito na praia de Ponta Negra, em Natal (RN), mostra níveis prejudiciais à saúde das 8h20 às 13h20. As "falhas" (quedas bruscas nas medições) observadas no registro devem-se à presença de nuvens.
FONTE: LAVAT - INPE - CRN (2010)
Além dos valores naturalmente elevados no índice de radiação solar ultravioleta, o fuso horário contribui para aumentar o risco de doenças decorrentes da exposição ao Sol, por lazer ou necessidade, nas praias nor des tinas. Esse fator, portanto, também precisa ser levado em conta nas recomendações de horários de exposição veiculadas nos meios de comunicação, para evitar que as pessoas recebam informações incorretas e se exponham a riscos desnecessários.
SILVA, F. R.; OLIVEIRA, H. S. M. de; MARINHO, G. S. Sol, praia, fuso horário e saúde. Ciência Hoje, v. 49, p. 42-45, 2012. (Adaptado.)
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