História Universal da Destruição dos Livros Das Tábuas Sumérias à Guerra do Iraque Fernando Báez



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Os anabatistas de Münster
Os anabatistas escolheram um caminho radical de salvação do cristianismo durante os anos da Reforma de Lutero. Devido à perseguição aos seus membros, hoje não dispomos de muitas provas sobre sua origem em Zurique, mas conhecemos bem suas propostas extremistas. Ao que parece, eram partidários da separação da Igreja e do Estado, se opunham ao batismo das crianças, ao batismo como salvação dos adultos, eram a favor da liberdade de consciência, do repúdio ao trabalho industrial, ao pagamento de impostos e, o que é mais interessante, assumiam literalmente cada proposta da Bíblia. Acreditavam, como ainda hoje muitos acreditam, na iminência do fim do mundo. Dessa forma, os profetas anabatistas tentaram convencer o povo da necessidade de expiar as culpas e de se redimir.

A grande oportunidade dos anabatistas surgiu com a queda da cidade de Münster, em Vestfália. Liderados inicialmente por Huter e, com sua morte, por Jan Matthys, um orador alto e barbudo, criaram uma comunidade baseada em seus princípios religiosos. No último dia da tomada da cidade - sede de um bispado -, os anabatistas queimaram os livros da biblioteca, especialmente os livros sobre teologia: "Os anabatistas se vangloriavam de sua indiferença pelos conhecimentos livrescos, acrescentando que eram os incultos os escolhidos por Deus para redimir o mundo. Quando saquearam a catedral, mostraram particular interesse arrancando folhas, destruindo e queimando os livros e manuscritos de sua antiga biblioteca. Finalmente, nos últimos dias de março, Matthys proibiu todos os livros, à exceção da Bíblia. Todas as demais obras impressas, incluindo as que se mantinham em regime de propriedade privada, deviam ser transferidas para a praça da catedral e lançadas na fogueira [...].

As coleções particulares foram empilhadas numa fogueira pública que ardeu uma noite inteira. A intenção dos líderes era bem clara: tratava-se de abolir o passado e proporcionar aos anabatistas um controle absoluto sobre a interpretação da Bíblia. Em 5 de abril de 1534, Matthys saiu à rua e informou sua gente que ele era o eleito de Deus. Como tal, enfrentou, com apenas vinte fiéis, o bispo agressor de Münster. A batalha, no entanto, contestou sua divindade e ele morreu de maneira horrível.

Vale a pena acrescentar o seguinte: a primeira edição alemã do herege anabatista David Joris (1501-1556) foi proibida na Holanda e seus exemplares foram confiscados e destruídos. Intitulava-se David Georgen ausz Holand dess Ertzktzers warhafftige histori seines lebens unnd verf (1559). De certa forma, fez-se com esse texto o mesmo que já se fizera com o próprio David Joris. Era um personagem fascinante com audácia suficiente para exercer a pregação das mais controvertidas teses contra a Igreja católica romana, e um belo dia, sem avisar, apresentou-se no povoado de Basle e adotou o nome de Jan van Brugge, o que lhe permitiu morrer completamente em paz. Uma descoberta inesperada de uma comissão da Universidade de Basle revelou sua verdadeira identidade, e em 13 de maio de 1559 a Igreja ordenou a exumação de seus restos e a queima pública juntamente com todos os livros e folhetos referentes a ele.



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