. Acesso em: 15 jan. 2016.
A autora
Yeda Pessoa de Castro (1937-) nasceu em Salvador (BA). É etnolinguista, doutora em línguas africanas pela Universidade Nacional do Zaire, consultora técnica em Línguas Africanas do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo e membro da Academia de Letras da Bahia. Fotografia de 2003.
Agência O Globo/Gustavo Stephan
Interpretação do texto
1. A entrevista com a etnolinguista Yeda Pessoa de Castro foi extraída do site da Revista de História da Biblioteca Nacional. Essa biblioteca, que se localiza na cidade do Rio de Janeiro, é a mais antiga instituição cultural brasileira. O entrevistador é Marcello Scarrone, doutor em História.
a) Qual seria o público-alvo dessa entrevista?
b) Essa entrevista foi divulgada também pelo site da ONG “Geledés, Instituto da Mulher Negra”, que tem como objetivo lutar contra discriminações de que são alvo as mulheres em geral e os negros na sociedade brasileira. É possível perceber, no texto, indícios de que essa ONG teria interesse na divulgação da entrevista? Quais?
2. O título “Nossa língua africana” e os parágrafos que antecedem a entrevista buscam atrair o leitor, incentivá-lo a ler a matéria inteira.
a) O que chama a atenção do leitor no título? Explique.
b) A interpretação do significado desse título muda depois da leitura do texto? Explique.
c) Quanto aos parágrafos introdutórios, identifique elementos do texto que exemplifiquem estas estratégias adotadas para estimular o leitor a continuar a leitura:
▸ Despertar a curiosidade.
▸ Fornecer dados da entrevistada que mostrem sua competência para falar do assunto.
▸ Resumir os principais temas abordados na entrevista.
▸ Anunciar que a entrevista contém passagens interessantes mesmo para o público leigo.
d) Pelo texto lido, pode-se inferir a que famílias linguísticas pertencem os nomes “Mun-tu” e “Olobumim”, pelos quais a etnolinguista é conhecida em Angola e na Nigéria?
3. Veja o mapa abaixo. Ele ajudaria o leitor da entrevista a situar melhor os povos e as línguas africanas comentados pela entrevistada? Se a entrevista tivesse sido publicada para o público em geral, a inclusão do mapa ajudaria? Explique.
Regiões de origem dos africanos escravizados e trazidos para o Brasil a partir do século XVI
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Elaborado com base em: HAYWOOD, John. Atlas histórico do mundo. Colônia: Könemann, 2001. p. 162-163.
4. Na entrevista são mencionados estudiosos de temas semelhantes aos do interesse de Yeda Pessoa de Castro. Quem são esses estudiosos? Com que finalidade foram citados?
5. A entrevistada afirma que uma das famílias linguísticas africanas durante muito tempo foi considerada a mais influente na formação do português brasileiro.
a) Que família era essa e que língua, em particular, teria exercido maior influência?
b) Segundo a entrevistada, outras línguas, faladas em outra região da África, teriam tido grande influência na formação do português praticado no Brasil. De que região africana ela fala?
c) Para justificar essa opinião, a entrevistada demonstra seu espanto com a não observação, por parte de outros estudiosos, de um fato. Qual?
6. Tal descoberta levou a etnolinguista a uma conclusão sobre o português tal como o falamos hoje no Brasil. Qual?
7. Ao responder às duas questões finais da entrevista conforme reproduzida aqui, a pesquisadora indica que se percebe melhor a influência africana na formação do português brasileiro na modalidade oral ou escrita? Explique.
Habilidades leitoras
Para ler a entrevista de Yeda Pessoa de Castro aqui apresentada, inicialmente você precisou:
▸ conhecer o público-alvo e o suporte em que foi divulgada;
▸ analisar a relevância do título a partir do assunto a ser tratado;
▸ reconhecer a importância das citações de autores que dão credibilidade ao assunto pesquisado;
▸ identificar dialetos que mais influenciaram o português falado no Brasil;
▸ perceber os vestígios dos dialetos africanos na pronúncia do português falado no Brasil.
A entrevista que você vai ler a seguir trata da influência das famílias linguísticas indígenas no português praticado no Brasil. O entrevistado é também um estudioso de línguas e culturas, que tem como interesse principal de suas pesquisas as línguas indígenas, que já existiam aqui antes de a colonização portuguesa começar. Leia o texto com atenção.
MEC: Ministério da Educação.
Texto 2
Nossa pátria ainda é nossa língua
Maurício Guilherme Silva Jr.
Apesar de sua extrema cordialidade, ele mal consegue atender a este repórter. Olhar tranquilo, sorriso espontâneo, Aryon Dall’Igna Rodrigues tem, a cada passo, um novo interlocutor. Afinal, todos querem, ao menos por um segundo, reverenciar aquele que, em mais de 60 anos de ofício, tornou-se um dos mais importantes linguistas do país. Professor do Instituto de Letras da Universidade de Brasília (UnB), Aryon é mundialmente conhecido por estabelecer a classificação, em famílias genéticas, das línguas indígenas faladas no Brasil.
No dia 2 de março, enquanto participava do 5o Congresso Internacional da Associação Brasileira de Linguística, realizado na Faculdade de Letras (Fale) da UFMG, Aryon Rodrigues conversou com a reportagem do BOLETIM. Nesta entrevista, ele comenta a preservação do patrimônio linguístico brasileiro, a extinção de 85% das línguas do País [...].
1 O senhor trabalha com o tema da preservação de línguas indígenas há mais de 60 anos. Os brasileiros preservam o patrimônio linguístico com o devido cuidado?
Não. Só agora começa a desenvolver-se uma preocupação com as línguas indígenas e com a preservação delas, exatamente depois da última Constituição, que é a de 1988. As anteriores não davam espaço para as línguas indígenas. Até porque o capítulo da educação, nas constituições anteriores, estabelecia que o ensino fundamental seria ministrado, unicamente, na língua nacional, ou seja, em língua portuguesa. Do ponto de vista legal, isso só mudou quando conseguimos introduzir na Carta de 1988 não só o direito dos povos indígenas às terras, mas também o direito de preservar suas culturas e línguas. Em consequência disso, o MEC acabou criando uma Secretaria para Educação Indígena, que existe há mais de dez anos e financia, aprova e regulamenta a educação escolar indígena.
Esse movimento também chegou a estados e municípios, embora haja alguns mais sensíveis à questão. Mato Grosso, por exemplo, já tem uma experiência muito positiva, ao instalar o primeiro curso universitário para índios, na fronteira com a Bolívia.
2 Muitas línguas indígenas foram extintas no País?
Eu tenho um trabalho — publicado nas revistas Ciência Hoje e na da Abralin — em que faço estimativa do número de línguas faladas no território brasileiro antes do descobrimento. Calculo que havia aqui 1 250 línguas. Hoje, temos 180. Ou seja, 85% delas desapareceram. Sobre algumas temos algum conhecimento, mas da maioria não sabemos nada.
3 Podemos dizer, ainda hoje, que “nossa pátria é nossa língua”? O patrimônio linguístico de uma nação permanece como um dos principais itens para a demarcação de territórios? Como se dá a relação entre as línguas e o processo de globalização?
A língua é um dos elementos mais fortes da identidade de uma sociedade. A primeira maneira de identificar uma pessoa é por meio da língua e não pela forma como ele está vestido. No caso do Brasil, temos uma situação muito peculiar, que é o fato de o
português ser uma língua maciçamente majoritária, embora outras línguas sejam faladas aqui. E disso decorre um problema. O IBGE não conta línguas, e só agora é que há um esforço para convencer o órgão a fazer um censo linguístico. Quanto à globalização, a maioria da população nem se dá conta que existe essa hegemonia linguística.
REVISTA da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, UFMG, ano 33, n. 1568, 12 mar. 2007.
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