Língua, texto e ensino Outra escola possível



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c) exploração de expressões que desempenham funções de abertura ou de fechamento e de síntese do tema ou de um tópico;

d) exploração, ainda, de expressões que permitam, no desenvolvimento do tema, a identificação dos tópicos principais e dos secundários;

e) estudos das relações semânticas entre frases, períodos ou parágrafos, tais como as de 'causa e efeito', 'conclusão', 'oposição', 'concessão', 'comparação, exemplificação' e outras, sinalizadas por seus respectivos conectores;

f) levantamento de expressões que costumam ocorrer para 'modalizar' o que é dito ou marcar a sequência dos segmentos do texto;

g) estudo das convenções ortográficas;

h) recapitulação da pontuação;

i) normas de paragrafação;

j) exploração das opções de título para um

comentário opinativo;

k) normas gerais de apresentação do gênero em estudo.



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É possível perceber que se trata de uma sugestão, de uma espécie de programa, centralizado, como disse, em cada unidade, à volta de deter­minado gênero, o que pode, evidentemente, sofrer qualquer acréscimo ou alteração na dependência das diferentes situações de cada escola, ou dos interesses particulares dos alunos, que podem sugerir um ou outro gênero cuja exploração lhes pareça mais pertinente.

A progressão do objeto de estudo, admitida nas grades apresentadas, está também sujeita a alterações, conforme cada situação, conforme as aptidões demonstradas pelos alunos. É importante que o nível de comple­xidade das leituras, das análises, das produções corresponda ao nível de desenvolvimento dos alunos. Quanto mais alto seu nível de compreensão, mais complexos devem ser os gêneros escolhidos para estudo. Uma aten­ção deve ser dada ao cuidado de não repetir o estudo do mesmo gênero sem alterar seu grau de complexidade.

Também merece atenção a conveniência de se explorar os gêneros tipicamente escolares (ou acadêmicos) - por exemplo, esquema, resu­mo, resenha, resposta a questões, apresentação de justificativas ou de resultados de uma pesquisa, entre outros. A escola, já que é domínio social, também preenche a condição de lugar de comunicação e, por isso, seleciona um grupo de gêneros orais e escritos que fazem parte de seu cotidiano. Consequentemente, deve explicitar as regras de com­posição desses gêneros. O bom desempenho dos alunos nesses gêneros também é relevante para, pouco a pouco, criar e reforçar seu interesse por regular ou monitorar, eles mesmos, suas atividades e seus comporta­mentos com a linguagem.

Uma consideração deve ser feita, ainda, ao estudo das convenções or­tográficas. Pode-se ver que, em cada unidade, está previsto o estudo des­sas convenções. De fato, ele deve perpassar toda a trajetória escolar, so­bretudo, no ensino fundamental, partindo-se do pressuposto de que, no ensino médio, a ortografia já seja um conhecimento dominado. Sem deixar de frisar que é importante o domínio das convenções ortográficas, quero chamar a atenção para o atrativo que os erros de ortografia exercem sobre os professores. Se não há cuidado quanto a isso, esses erros tapam os nos­sos olhos e não vemos mais nada. É natural: eles estão na superfície.

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Uma das grandes vantagens desse planejamento de estudo dos gêne­ros estaria em que seria concedido um tempo específico para cada gênero, pondo-o como referência para as decisões quanto a conteúdos e atividades. O texto sairia da sua condição de objeto indefinido, sem feição própria, ou perderia sua identidade escolar, que é ser, simplesmente, exemplificação de uma gramática. Seria, ao contrário, matéria da vida social das pessoas, que, necessariamente, interagem pela enunciação e pelo entendimento de dife­rentes gêneros textuais. Pode-se perceber que, na explicitação de cada pro­posta de leitura, está prevista a 'análise' de exemplares do gênero-núcleo apontado. Isso implica que um tempo grande deve ser reservado para que os alunos tragam, de casa e dos contextos por onde circulam, esses exem­plares e os analisem na imensa diversidade que, com certeza, eles apresen­tam. Dessa forma, nem é preciso inventar textos, ou formar frases, para que seja visto como as coisas acontecem quando falamos ou quando escrevemos. Por outro lado, a elaboração dos gêneros permitiria que o professor identi­ficasse, com maior clareza e precisão, em que nível estão os alunos, em suas competências já sedimentadas e em suas dificuldades mais salientes.



Não posso deixar de fazer duas observações muito importantes, que dizem respeito ao trabalho com os gêneros orais e ao trabalho com textos poéticos.

Em relação ao primeiro ponto, gostaria de esclarecer que, embora, a proposta apresentada esteja centrada nos gêneros escritos, não deixo de reconhecer a extrema importância de que a escola promova uma consistente intervenção didática em relação aos gêneros orais. Um planejamento semelhante ao que propus poderia ser feito para o trabalho em sala de aula com os gêneros orais. Nesse caso, deveriam ter prioridade os gêneros da oralidade própria dos contextos públicos, em geral, mais formais do que aqueles da oralidade em contextos privados. A simples conversação familiar ou entre amigos íntimos mereceria menos atenção do que, por exemplo, a apresentação de um tema para um grupo de ouvintes, pois deveria língua interessar à escola ultrapassar as práticas orais do

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A proposito do ensino dos gêneros, Schneuwly, Dolz e colaboradores (2004) trazem bons encaminhamentos para o trabalho com os gêneros orais na escola. Merece destaque o capitulo 8 sobre a exposição oral. Também pode ser muito útil a consulta a Matêncio (2001) que põe em confronto o estudo da falada e a aula de língua materna.



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cotidiano para alcançar aquelas mais presas às coerções institucionais. A propósito, a análise dos livros didáticos, em geral, tem revelado que o trabalho com os gêneros orais na escola tem-se limitado a conversas, debates, discussões com os colegas ou combinações acerca da elaboração de um trabalho. Nesses limites, os alunos não chegam a tomar consciên­cia de que podem explorar as características convencionais próprias dos gêneros orais, tão diferentes na imensa gama de suas realizações concre­tas. Também não chegam a desfazer a ideia meio consensual de que as convenções e normas textuais, a escolha certa das palavras, as regras de gramática são coisas do mundo da escrita; não existem para a fala, que é, por isso mesmo, caótica, imprevisível e assistemática.

A segunda observação que pretendo fazer concerne à leitura de textos literários, sobretudo de poemas. Não há uma unidade reservada especificamente para essa classe de texto exata­mente porque, em nosso entender, ele faz parte de todas as unidades. Ler poemas, melhor dizen­do, declamar poemas - a declamação faz parte do gênero - deve ser uma prática diária, algo já pre­visto na programação do dia, naquele momento de mais concentração e 'gozo'. Isso não é impossível: basta a escola sa­ber criar esses momentos. Pode-se aprender tudo na vida, inclusive a sentir o gosto bom que têm os poemas. Não fica descartada aqui a ideia de que se pode analisar questões linguísticas, em um poema, ou em um outro gênero da escrita literária. Afinal, os textos literários também são feitos com um léxico e uma gramática; o que não tem sentido é reduzir a leitura de um poema, por exemplo, à simples tarefa de identificar em seus versos categorias sintáticas ou morfológicas, sem qualquer con­sideração ao que isso implica para a construção da própria condição literária do texto.

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Desconfio que quase nenhum gosto, quase nenhuma emoção há em se ler que "Ivo vê a uva"!



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Sem desconsiderar as enormes dificuldades que tornam precárias as condições de trabalho da maioria dos professores, por conta do descaso público em que tem estado a política educacional do país, quero juntar minha voz à de tantos outros que acreditam na validade de um ensino de línguas que favoreça o exercício da interação humana, como forma de ser

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e de estar realizado, apesar dos inevitáveis conflitos e mal-entendidos, que se estendem ao mundo da natureza e da cultura.

Que não nos apoiemos nas dificuldades existentes para justificar nenhum tipo de inoperância e de conservadorismo estéril. Pelo contrário, que as difi­culdades nos estimulem a lutar pelo fim da escola irrelevante e inócua.

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não é por nós, indivíduos de linguagem, que tudo recobra significação e relevância? e a escola pode ficar fora desse jogo?

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Capítulo 4

IR ALÉM DOS ELEMENTOS? LINGUISTICOS DOTEXTO: um desafio para os interlocutores


Entre as muitas propriedades que fazem de um conjunto de palavras um texto, figuram aquelas ligadas aos interlocutores, as quais, na literatura linguística, têm sido denominadas de intencionalidade e de aceitabilidade. A primeira, concerne ao emissor do ato verbal; a segunda, ao destinatário. Ambas, ressaltam o caráter interati­vo da atividade verbal.

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Este texto foi originalmente publicado na revista Investigações, n. 3, 1993, P- 41-52, com o título: "A insuficiência dos elementos linguísticos: um desafio para os inter­locutores". Como os outros, sofreu algumas alterações.

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Ocorre que essa nomenclatura - sobretudo o nome da primeira propriedade - presta-se a con­fusões, pois os mais iniciantes tendem a confundir a intencionalidade com a intenção (o objetivo ou a força ilocucionária) de quem fala ou escreve.

O sentido da intencionalidade - conforme postulam os estudiosos da linguística de texto - é outro: refere-se à predisposição do falante para com- portar-se eficientemente em sua atividade verbal, ou seja, para apenas dizer coisas que têm sentido - em passagens coesas e coerentes - e que, sejam, portanto, interpretáveis. Essa intencionalidade representa, pois, a



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disposição do interlocutor de cooperar com seu par­ceiro para que ele possa processar, com sucesso, os sentidos e as intenções do que é expresso.

Por outro lado, a aceitabilidade corresponde à outra face da moeda: a também predisposição do par­ceiro para apreender, calcular, captar os sentidos do que é dito pelo outro. Constitui também um esforço de cooperação, no que resulta, para a atividade verbal, a existência de uma cooperação mútua, "um contrato" ou uma via de duas mãos, cujo efeito maior é a comu­nhão de sentidos e de intenções.

Nessa perspectiva, vale a pena relembrar que:

. primeiramente, a atividade verbal é uma atividade necessariamente textual;

. em segundo lugar, essa atividade não se esgota pelo conjunto dos elementos verbais que a cons­tituem. Conta, entre outros fatores, com a inter­venção dos sujeitos participantes que, à partida, se predispõem para produzir e interpretar, de forma coesa e coerente, os eventos linguístico-comunicativos que protagonizam.

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O ensino da produção e da compreensão da atividade textual ganharia maior relevância e se tornaria mais produtivo se o professor ultrapassasse a abordagem puramente linguística que, de forma geral, tem caracterizado esse ensino. Os parâmetros de uma língua que se basta a si mesma, demasiadamente abstrata - e, por vezes, inteiramente descontextualizada - parecem estar na base de uma ineficiência do ensino, a qual tem sido, por muitos meios, atestada e denunciada.

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É em direção a este ponto que oriento a presente reflexão. Tenho em mente a urgente e sempre oportuna necessidade de questionar os pro­cedimentos com que se ensina a prática da composição e da compreen­são de textos orais e escritos. Por isso, vou estar atenta às orientações de como ir além do estritamente linguístico, para surpreender outros fatores responsáveis por sua relevância comunicativa.

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Apesar desses interesses, ainda há escolas onde se acredita que o texto é apenas o lugar de se praticar a aplicação da gramática.

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1. A atividade verbal acontece de qualquer jeito?

A atividade verbal, sob qualquer condição, so­mente se exerce sob o modo da textualidade. Quer dizer, ninguém fala ou escreve, a não ser por meio

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de textos. Esse princípio está bastante consolidado nos meios da pesquisa linguística e tem, sob muitos aspectos, centralizado o interesse dos inves­tigadores, principalmente daqueles que promovem o desenvolvimento e a aplicação de teorias sobre o texto.

Nos desdobramentos desse princípio, ganha relevo a noção de que existem propriedades que regulam o exercício da textualidade e especifi­cam os modos de sua relevância linguística e social. Ou seja, um texto não se faz de qualquer jeito; mas é regulado por um conjunto de propriedades, as quais constituem uma rede de relações, ou seja, assumem um caráter inteiramente relacional, de modo que a aplicação de qualquer uma delas revela-se dependente da aplicação das outras do conjunto.

Daí por que não se pode aceitar a perspectiva reducionista de teorias que veem o texto como objeto meramente linguístico, dominado, apenas, por regras gramaticais e lexicais, que, embora legítimas, não preenchem as exigências da atuação verbal apropriada e relevante.

Começo, pois, por advogar não apenas uma ampliação do objeto lin­guístico até o domínio do texto, mas, e principalmente, por ressaltar que os elementos linguísticos nele presentes formam apenas parte do conjunto dos fatores que lhe conferem sentido e relevância.

Mais especificamente, proponho que o estudo do texto, tão pertinente para a compreensão da interação verbal, seja feito tendo-se em conta a inter-relação que existe entre o linguístico e o extralinguístico em cada atuação verbal.

No momento, meu ponto principal de reflexão concerne ao laço entre coesão e coerência - elementos de seu aparato linguistico (cf. Beaugrande& Dressler, 1981) - e a predisposição dos interlocutores para mutuamente cooperarem na produção e na interpretação dos sentidos e das intenções pretendidos em cada oportunidade.

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Em geral, a preocupação com o entendimento do texto se fixa naquilo que o autor disse, ou seja, no sentido do que e r dito. Pouco se atenta para as intenções com que as coisas são ditas. Na verdade, o sentido é que se conforma à intenção. Ou, a forma como se diz uma coisa está na dependência da intenção que temos ao dizê-la.

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2. O componente linguístico do texto: uma superfície autônoma?

No âmbito dos estudos sobre a materialidade intenção que temos linguística do texto, têm ganhado evidência as teorias ­

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acerca da coesão e da coerência. Em geral, a coesão tem sido definida como um conjunto de recursos léxico-gramaticais destinados a prover e a assinalar a interligação semântica entre os diferentes segmentos que compõem a superfície do texto. A afirmação de que uma sequência alea­tória de palavras ou de frases não constitui um texto encontra um de seus fundamentos na propriedade da coesão. Com efeito, uma característica distintiva das realizações textuais é a inter-relação existente entre seus componentes, ou a propriedade de que os elementos linguísticos, no tex­to, estão vinculados entre si de modo que cada unidade está, de alguma maneira, presa a uma outra antecedente ou subsequente.

Dessa vinculação resultam a continuidade e a unidade semânticas ne­cessárias para que a superfície do texto se mostre coerente, tenha sentido e seja interpretável.

No entanto, vale sublinhar aqui que não se trata de uma coesão mera­mente superficial, que deixa o texto, em si mesmo, totalmente autônomo, em relação a outros fatores. Não basta, por exemplo, que, numa sequência de frases, haja unidades que de uma forma ou outra se retomem. A superfície do texto não é, por si mesma, decisiva na determinação da sua pertinência. Construir um texto não implica, simplesmente, juntar palavras ou justapor uma série de frases, por mais bem formadas que estejam. A rede de rela­ções que se estabelece pela coesão é de natureza semântica. Deste modo, os nexos atestáveis na linha da superfície textual sinalizam as relações que, no nível da estrutura profunda, garantem sua legítima continuidade e sua unidade semântica. O que se pretende pelas marcas da coesão superficial é prover e assinalar a continuidade e a unidade conceitual exigidas.

Por essas considerações, fica já evidente a correlação entre a coesão e a coerência. Se um texto se faz com palavras, postas não aleatoriamente na sequência de sua superfície, ou, ainda, se o aparato linguístico do texto deve interligar-se, outra razão não existe para isso senão a de assegurar e indicar a continuidade de conceitos e de relações subjacentes àquela superfície.

Assim, a exigência de que um texto deve constituir uma unidade se­mântica fundamenta o uso dos vários recursos coesivos. Um texto falho em elementos coesivos concorre para julgamentos de incoerência e dá a

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entender que o locutor parece ter perdido o controle de sua comunicação, como admite Adam, 2008.

Coesão e coerência constituem, assim, duas propriedades da matéria textual, as quais, para se­rem relevantes, devem estar em inteira harmonia e consonância. O plano da superfície, que, conforme vimos, deve estar coesivamente organizado, preen­che a função de promover e assinalar a interligação semântica requisitada pela unidade textual.
3. No entanto, bastam a coesão e a coerência linguísticas?

A dimensão linguística do texto, se é fundamen­tal, é também insuficiente para a determinação de sua relevância sociocomunicativa. Se um texto se faz com palavras, se estas constituem suas instru­ções mais óbvias, é igualmente verdade que elas - as palavras - não pre­enchem a totalidade dos requisitos necessários à sua realização. Um texto é resultado de uma atividade exercida por dois ou mais sujeitos, que, numa determinada situação social, interagem; produzem juntos uma peça de co­municação. Logo, as implicações resultantes das intenções e expectativas desses sujeitos constituem, também, elementos do sentido configurado.

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Uma das tarefas que cabe à linguística de texto é definir quais as grandes categorias desses elementos coesivos que nos per­mitem estabelecer as conexões que abrem ou fecham os diferentes segmentos textuais. A propósito, vale a pena consultar a obra de Jean-Michel Adam (2008), A linguística textual - introdução à análise textual dos discursos. Em mais de um capítulo, o autor trata de questões da coesão e de suas marcas textuais.



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Daí que, conforme sugeri atrás, cuidar da adequada organização dos constituintes linguísticos do texto não esgota as providências necessárias para uma apropriada e relevante interação verbal. Perder de vista outras dimensões textuais pode desvirtuar a compreensão das legítimas con­dições da atividade comunicativa. Parece oportuno, pois, que se procu­re ultrapassar a matéria linguística do texto e se apreenda a intervenção, também decisiva, de outros fatores.

Entre esses fatores, pretendo destacar aqui 05 interlocutores, na con­dição de sujeitos que intentam e que aceitam participar da interação, de modo que ela se revista de todo o sucesso possível. A não ser com "segun­das intenções", ninguém fala ou escreve de forma a não se fazer entender.

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Observações que são feitas em livros de redação podem exemplificar essa visão eminentemente linguística do texto. Por exemplo, quando se diz que se deve evitara repetição de palavras ou o uso de redundâncias, não se deixa uma brecha para que os interlocutores envolvidos na produção desse texto decidam sobre a conveniência de se repetir uma palavra, quantas vezes sejam necessárias, ou de se recorrera uma redundância por mais óbvia que ela possa, em outros contextos, representar. Ou seja, os manuais deveriam mostrar que a última justificativa para usar ou não determinado recurso linguístico está no contexto, está nos sujeitos, conforme suas intenções pretendidas.

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Ninguém, por outro lado, deixa de fazer os cálculos necessários para encontrar sentido naquilo que os outros dizem.

Proponho, assim, que se considere a inter-relação existente entre a dimensão linguística do tex­to e a participação cooperativa dos interlocutores. Meu propósito maior é propor que se ultrapasse o reducionismo de um texto que parece ser apenas linguístico, sem enunciador e sem destinatário, um "produto" desvinculado e solto da interação social de que é, inevitavelmente, parte relevante.

Em suma, a atividade verbal se efetiva por meio do linguístico, mas sob a intervenção e a regência dos interlocutores, o que constitui condição inalie­nável de sua real efetivação.
Qual a disposição do enunciador do texto? Antes mesmo de entrar em ação?

Do lado do interlocutor que toma a palavra (oral ou escrita), existe, em princípio, a predisposição de que sua construção linguística seja coesa e coerente e, en­quanto tal, possibilite a expressão dos sentidos e das intenções previstos. Ou seja, qualquer interlocutor em interação se dispõe a dizer, apenas, coisas que fazem algum sentido, isto é, coisas interpretáveis, que sejam, conforme o contexto de atuação, coesas e coerentes.

Essa disponibilidade do interlocutor abrange não apenas o propósito prévio de construir uma atividade linguística coesa e coerente, mas tam­bém a providência de manter este propósito, no decorrer de toda a inte­ração, pela utilização dos diferentes recursos disponíveis.

Por essas considerações, evidencia-se, sem dúvida, a relação da textualidade com a concepção da linguagem enquanto atividade comunicativa,



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ou seja, enquanto ação empreendida por sujeitos, em contex­tos de comunicação.

Nesta perspectiva, compor um texto é mais do que organizar na linha do tempo, ou sobre o papel, uma sequência de palavras, ainda que sob o cumprimento dos padrões da gramática da língua. Compor um texto é, na verdade, promover uma inter-ação, ao mesmo tempo, linguística e social. Inclui a intromissão de um sujeito, com propósitos prévios e empenhos sucessivos, para que se crie e se mantenha o caráter funcional da produ­ção linguística. Nega-se, assim, qualquer hipótese de passividade ou de alheamento de quem propõe a troca comunicativa, por mais que se consi­dere o teor tácito de seu empenho e de seu envolvimento.

Pela admissão dessa intenção do interlocutor de ser coerente, fica evi­dente a visão ampliada do exercício linguístico, no sentido de que as condi­ções de sua eficiência implicam mais do que seus elementos linguísticos dei­xam perceber. Por outras palavras, o apelo à predisposição do interlocutor abre um espaço para surpreender a presença de quem produz o texto e, mais ainda, o pressuposto de que quem o produz o faz coesa e coerentemente.
5. E como se comporta quem está do outro lado da linha?

O parceiro da interação comunicativa - o ou­vinte ou o leitor - também se dispõem a procurar sentido para o que é dito. Agem assim, exatamente porque pressupõem que a intenção do interlocu­tor foi a de ser cooperativo e, portanto, interpretá­vel, segundo propõem os linguistas Beaugrande & Dressler, em seu livro de 1981, na p. 29.


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