A Revolução Cultural na China
Em 18 de agosto de 1966, o mundo tomou conhecimento das Guardas Vermelhas, um exército de militantes fanáticos do comunismo na China. O impacto causado por essa descoberta foi enorme, por diversos motivos. O primeiro porque esse grupo de jovens vindos das cidades e do campo vociferava, na Praça da Paz Celestial, em Pequim, citações do Livro vermelho de Mao Tsé-tung e, em nome desse livro, pedia uma transformação radical do país. O segundo porque, junto com eles, cabeça reclinada, vários intelectuais e antigos dirigentes caminhavam carregando cartazes onde se descreviam seus delitos contra-revolucionários, seu oportunismo, suas mesquinharias contra o povo e toda espécie de pecados capitais.
De certa maneira, Mao Tsé-tung, em 1966, sabia que era necessário mudar as estratégias porque seus inimigos se apoderavam de espaços políticos e militares importantes, e as grandes contradições e fracassos do Grande Salto para a Frente, que o obrigaram a abandonar o cenário público, exigiam uma resposta rápida. Na XI Sessão Plenária do VIII Comitê do Partido, em 8 de agosto, fez promulgar a Grande Revolução Cultural Proletária, num texto que ia ser conhecido como o dos Dezesseis Pontos.
Dias depois se reuniu com o movimento Hongweibing (Guardas Vermelhas), integrado por jovens de 12 a 30 anos, organizados em seções e destacamentos, com quartéis generais provinciais e municipais. Na praça, mostrou aos opositores seu novo instrumento de luta e, para demonstrar o apego aos rebeldes, cobriu-se com uma faixa vermelha. O novo grupo, que chegaria a contar com milhões de membros, era muito útil porque garantia manter à distância qualquer dissidente por meio de ações de vigilância e intimidação.
A Revolução Cultural se pôs, então, em marcha. No fundo, destinava-se a introduzir a análise marxista da sociedade para destruir os focos de resistência intelectual e popular e as tendências "capitalistas" da população e dos membros do Partido Comunista. Mao queria enquadrar os vícios no que chamou de os Quatro Velhos: costumes, hábitos, cultura e pensamento. Tomou como objetivo a construção de um novo país, mas sob a premissa de que não existe "nenhuma construção sem destruição" e que "é justo se rebelar contra os reacionários". A magnitude dessa Revolução Cultural, no entanto, tornou-se conhecida quando começaram as prisões domiciliárias e os ataques contra os professores. Desde 1967 se tornou óbvio que o terror seria o símbolo desse processo.
A esposa de Mao, Jiang Qing, que fora atriz, ocupou-se da Ópera de Pequim e a transformou a tal ponto que conseguiu depreciar os antigos temas operísticos chineses para dar lugar a cantos e histórias de natureza ideológica. Em pouco tempo, os intelectuais classificados como "oportunistas" sofreram ataque e prisão. Nas ruas, milhões de guardas vermelhos, vestidos da mesma maneira, amedrontavam os líderes mais moderados e submetiam pela força qualquer escritor que não dedicasse sua obra à revolução. Desde 1949, a queima de livros era bastante popular, mas se intensificou em 1967, em plena Guerra Fria, quando sobreveio uma etapa de destruição maciça de livros, em todo o país. A Universidade de Pequim sofreu o confisco e a queima de todos os livros considerados nocivos à consciência do povo. Era tamanha a histeria que um autor como Pa Kin confessou: "Destruí livros, revistas, cartas e manuscritos que armazenei durante anos [...]. Eu negava completamente a mim mesmo, a literatura e a beleza [...]."
Gao Xingjian, prêmio Nobel de Literatura de 2000, foi enviado ao campo de reeducação e teve de queimar uma maleta com todos seus textos inéditos. Como ele, milhares de escritores ficaram confinados e acabaram seus dias humilhados e esquecidos.
A ocupação chinesa do Tibet, em 1950, condenou dezenas de escritos ao desaparecimento, mas em 1966 o número aumentou de forma alarmante e um monge poderia ser preso ou morto se fosse encontrado com certos textos, como confirmou E. M. Neterowicz. Pelo menos seis mil mosteiros e mais de cem mil monges foram atacados.
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