CAPÍTULO 12
De revoluções e provocações
A hostilidade contra o pensamento livre
Em 10 de março de 1610 foi queimado com toda a pompa o The interpreter, de John Cowell, um texto impresso em 1607 por John Legate. O curioso é que se tratava de um dicionário, de uma inocente interpretação do significado de diversas palavras, mas o Parlamento considerou ofensivos os verbetes relativos a "King", "Parliament", "Prerrogative", "Recoveries" e "Subsidies".
Nos Estados Unidos houve queima de livros no século XVII. Em 1634, um livro de um tal de Israel Stoughton foi destruído por ser considerado ofensivo. Em 1650, os parlamentares ingleses conceberam a idéia de aniquilar o regime anterior: imaginaram destruir cada documento capaz de legitimar o passado. Também em 1650, em outubro, a Corte Geral de Boston, Nova Inglaterra, abriu um processo contra William Pynchon por publicar um livro herético chamado The meritorious price a four Redemption. A sentença estabeleceu firmemente a queima do livro no mercado popular de Boston.
Em 1654, voltaram a arder livros em Boston. Obras de John Reeves e Ludowick Muggleton, dois profetas modernos, foram destruídas no mercado à vista de todos. Os escritos de John Rogers foram publicamente queimados, por equívoco, em Boston.
Dezenas de exemplares destruídos reduziram a tiragem de The protestant tutor for children (1685). Hoje só resta um exemplar. Em 1695, um livro de Thomas Maule, intitulado Truth held Forth and Maintained, foi queimado por ordem do Concilio de Boston, sob alegação de incitação às "mentiras e escândalos".
Em 1657, as Cartas provinciais de Pascal, escritas para revelar certos desvios morais dos jesuítas, foram queimadas na França. O rei Luís XVI tampouco aceitava seu conteúdo e as fez queimar numa fogueira. Já Pascal advertira que "os homens nunca agem mal de maneira tão perfeita e aplaudida como quando o fazem movidos pela convicção religiosa".
A atividade alquímica custou a Anders Petrus Kempe uma ordem real na Suécia, datada de 31 de março de 1671, decretando a queima de sua versão do livro Paul Felgenhauer probatorium theologicum (1664). A própria rainha Hedvig Eleonora fez destruir os exemplares de Catechesens enfaldige förklaring (1669), de Erik Gabrielsson Emporagrius, só porque o autor sugeria, veladamente, opiniões que não eram compartilhadas por tão nobre dama.
Um antigo documento, de título comprido, refere-se ao processo de condenação sofrido por um autor no reinado do pacífico Carlos XII. O folheto é Rüttmütigh nüpfst pã den arga fõrrãdarens Johann Rheinhold Patkuls skündelige i trycket uthgijfne deduction (1701). Ao que parece, Johan Reinhold Patkul foi repudiado pela corte em 1694, e em 18 de dezembro de 1701 seus textos foram queimados publicamente. Em 27 de abril de 1702, a destruição de seus escritos sê repetiu, mas em Moscou.
A crônica Beskrifning om Ryszlands belãgenhet (1706), de Jõran Wichzell, foi destruída na Rússia e hoje só restam alguns escassos exemplares. O livro Kort beskrifning och omdõme ófwer almãnna sakernas tilstand i Europa (1739), de Jacob Rõding, provocou uma grande indignação, foi proibido e logo depois feito desaparecer.
Em 1718, segundo Judith Henchy, uma ordem imperial supunha a eliminação de todos os livros vietnamitas escritos na língua nom, considerada vulgar. Uma tentativa do movimento Tay Son de oficializar a língua fracassou com a previsível queima de todos os arquivos relativos ao grupo por parte da dinastia Nguyen. No período de 1774 a 1782, o imperador Kao-Tsung, da dinastia Manchu, ordenou a destruição de toda publicação contrária aos seus propósitos políticos, e mais de dois mil livros arderam.
Em 1754 foi queimado em Boston um panfleto contra a corte de Massachusetts intitulado The monster of monsters.
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