Ataques contra intelectuais na França
A França foi o berço da liberdade européia porque também foi o berço da censura.
As Cartas filosóficas de Voltaire, publicadas em abril de 1734, provocaram a ira da Igreja. O escritor foi detido e um decreto do Parlamento autorizou um carrasco a despedaçar e queimar as epístolas por "inspirar a libertinagem mais perigosa para a religião e para a ordem da sociedade". No epistolário, numa das cartas pessoais, dirigida ao conde de Rochefort, com data de 2 de novembro de 1768, Voltaire disse, com toda sua ironia, que "o melhor seria realizar uma nova noite de São Bartolomeu de todos os filósofos, e que se degolassem na cama todos os que tivessem em sua biblioteca Locke, Montaigne e Bayle. Desejaria até que se queimassem todos os livros, todos menos a Gazeta Eclesiástica e o Diário Cristão [...]."
Voltaire manifestou idêntico cinismo numa carta de 29 de setembro de 1764, dirigida a um tal de Damilaville: "[...] Lancei ao fogo esse desventurado Portátil [refere-se ao Dicionário filosófico], que acabara de comprar, e a tragédia de Pedro, e todos meus papéis; decidi definitivamente dedicar o resto de minha vida a só me ocupar de agricultura [...]."
Em 1750, a publicação do primeiro tomo da Enciclopédia provocou tal escândalo que as autoridades suspenderam a licença de impressão em 1759 e confiscaram numerosos exemplares, posteriormente eliminados. O próprio editor, Le Breton, destruiu muitos exemplares. O Discurso preliminar foi escrito pelo filósofo Jean-Baptiste Le Rond D’Alembert.
Logo que saiu, os Pensamentos filosóficos (1746), de Denis Diderot, foram queimados por ordem do Parlamento de Paris, devido, entre outras coisas, ao seu ateísmo. O livro foi caçado em todo o país.
O espírito das leis (1748), de Montesquieu, também foi um livro fustigado. O Índice de Livros Proibidos o incluiu em sua lista de 1790. Os reis da Espanha impediram que fosse divulgado nas colônias americanas e os exemplares confiscados nos navios eram destruídos regularmente.
Claude-Adrien Helvetius, autor de Do espírito, provocou a ira da Universidade da Sorbonne, do Parlamento de Paris, do papa, do bispo de Paris e de todos os sacerdotes franceses, e em conseqüência o livro foi queimado publicamente.
Em 1762, o Parlamento de Paris repudiou as teses de Émile, de Jean-Jacques Rousseau. O livro foi queimado e o autor teve de fugir, embora a tolerância das cidades o tenha incentivado a escapar para as terras de Frederico, o Grande. Rousseau disse: "[...] Ouvia-se os indivíduos do Parlamento afirmarem sem rebuço que de nada adiantava queimar os livros e que seria necessário queimar os autores [...]. Mais adiante acrescentou: "[...] Queimaram meu livro e decretaram minha prisão no dia 18, isto é, nove dias depois da queima em Paris." Em outro trecho, Rousseau menciona o escândalo causado por suas Cartas da montanha, em 1765: "Começaram os murmúrios e queimaram o livro não sei onde."
O medo começou a gerar reações violentas entre os reis e os membros da nobreza francesa. Em 1768, o Parlamento de Paris mandou prender J. B. Jossevand, Jean Lécuyer e Marie Suisse, e os sentenciou a vários anos de prisão por vender livros proibidos do barão D'Holvach, Voltaire ou Dubois Fontanelle. Os textos foram queimados, seguindo instruções de um funcionário chamado Saint-Fargeau.
O profundo escândalo provocado por Porte-feuille d'un talon rouge (Paris, Paradès, 178?), livro em que se relatavam os excessos sexuais mais incríveis do grupo de Maria Antonieta, levou a seu confisco e queima em abril de 1783.
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