Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim



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2. O ensino de Sociologia

Entender as Ciências Sociais é difícil?

A exigência da disciplina Sociologia em todos os anos do Ensino Médio logo suscitou dúvidas sobre como ministrá-la nessa fase da escolarização, visto se tratar de uma disciplina que o senso comum considera abstrata e de difícil compreensão e, portanto, difícil de ser ensinada. A dificuldade se deve, em parte, ao fato de os conceitos das Ciências Sociais se apresentarem com significados distintos tanto nas disciplinas que as compõem (Sociologia, Antropologia, Ciência Política) quanto nas diferentes tradições teóricas dentro de uma mesma disciplina.

Muitos acreditam que os alunos esperam definições estabelecidas, claras e totalmente objetivas (como pode acontecer com outros tipos de conhecimento), o que contrasta com as múltiplas visões da realidade e diferentes possibilidades interpretativas nas Ciências Sociais. Defendemos, porém, que é um mito a ideia de que os estudantes querem respostas simples, que não conseguem problematizar a realidade ou apreender o fenômeno em sua multidimensionalidade. Percebemos que a compreensão deles depende da forma como os conteúdos são abordados (o que vale também para outros saberes disciplinares). Há caminhos distintos a serem seguidos; há questões em aberto que poderão desdobrar-se em outras.

Consideremos o ponto de vista de duas importantes teorias da aprendizagem. Na clássica abordagem de Jean Piaget (1967) sobre as etapas do desenvolvimento (fixadas de acordo com a idade, maturidade, etc.), o aluno do Ensino Médio já estaria em condições de aprender conceitos abstratos por apresentar flexibilidade de pensamento. Ou seja, o adolescente é capaz não apenas de procurar soluções absolutas e imediatas, mas de compreender e construir sistemas teóricos buscando explicações.

Para Lev Vygotsky (1987), nem toda educação promove o desenvolvimento, mas somente aquela que leva o aluno além do nível por ele já alcançado em determinado momento de sua história pessoal. Segundo esse autor, a escola deve fazer o aluno aprender aquilo que ele não consegue aprender sozinho. Nesse sentido, o papel do professor é o de auxiliar o aluno a ir além daquilo que o senso comum traz, levando-o a desvendar e compreender o que está por trás de informações pretensamente "neutras", discernir interesses e distinguir a "livre opinião" daquela que é balizada cientificamente. O instrumental de análise fornecido pelas Ciências Sociais pode ser decisivo nesse processo.

As Ciências Sociais, presentes especialmente na disciplina Sociologia ministrada nas escolas, não são nem mais nem menos difícil que a Matemática ou a História. Em parte, as dificuldades em seu processo de ensino-aprendizagem podem ser sanadas pelo modo como o conhecimento é organizado, estruturado e construído e também pelas próprias premissas pedagógicas adotadas.



Como estudar as Ciências Sociais?

Pesquisas apontam que os estudantes que usam um método para estudar, com roteiro prévio e estratégias consistentes, têm um melhor aproveitamento em seu aprendizado, seja qual for a área do conhecimento.



Método de estudo: instrumento fundamental para a aprendizagem

Além de ensinar conteúdos das Ciências Sociais para seus alunos, o professor pode ensinar-lhes uma metodologia de estudo, de forma que eles façam melhor proveito dos conteúdos vistos. As atividades desenvolvidas em sala também são importantes na compreensão dos conteúdos, por meio da análise e da inter-relação dos assuntos.

Aprender os conteúdos das Ciências Sociais passa pela estratégia de uma leitura bem-feita, que pode ser mais proveitosa se seguida de uma síntese. Portanto, sugerimos que, ao iniciar os estudos de um determinado conteúdo, o professor oriente o aluno a fazer uma leitura prévia dos textos, atentando para os títulos e subtítulos, identificando o assunto e a temática propostos. A síntese é, grosso modo, a capacidade do aluno de julgar e selecionar quais são os aspectos mais significativos do conteúdo abordado, que serão posteriormente reformulados de modo integrado e resumido. Pode ser interessante apresentar aos alunos a estratégia proposta por Décio Solomon (1999), que parafraseamos a seguir.

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1. Pergunte-se antes de iniciar a leitura: qual é o assunto discutido? Qual é o plano desse capítulo?

2. Realize uma primeira leitura rápida do texto para ter uma visão global do conteúdo que ele traz.

3. Leia novamente, desta vez mais demorada e refletidamente, para:

· assinalar as partes essenciais;

· identificar a ideia principal;

· apreender detalhes importantes;

· relacionar as partes;

· elaborar críticas, quando for o caso;

· levantar dúvidas.

4. Escreva sobre o que leu. As anotações podem ser breves transcrições ou paráfrases, esquemas e/ ou resumos, conclusões obtidas, análises e críticas. Não se esqueça de anotar as referências bibliográficas. Atente para "quem" (autor) disse "o quê" (conteúdo).

Resumindo, o método propõe as seguintes etapas: ler mais de uma vez, com diferentes estratégias e objetivos; anotar as partes principais; fichar o conteúdo estudado. Essas são tarefas fundamentais para um bom entendimento de qualquer texto.



A importância de uma boa técnica de leitura

Uma boa técnica de leitura implica ler com objetivo determinado, propondo-se a compreender determinados assuntos, repassar o conteúdo e responder às questões levantadas. A leitura de textos científicos, como os das Ciências Sociais, exige que o aluno analise e avalie o que leu, estando sempre atento ao vocabulário e aos conceitos utilizados. Nesse ponto, esclarecer dúvidas é um passo indispensável, e os estudantes devem ser encorajados a fazê-lo, seja em aula, seja individualmente, utilizando fontes confiáveis previamente indicadas pelo professor.

Procure recomendar a leitura do capítulo antes da aula para que o estudante possa ser interlocutor, e não mero ouvinte. Em aula, a temática proposta será aprofundada, e os conteúdos serão desdobrados e relacionados com outros já vistos para esclarecê-los.

Leitura, escrita e oralidade são dimensões importantes no processo de ensino-aprendizagem. São habilidades desenvolvidas na escola, por excelência, por meio de diferentes estratégias.

Vejamos algumas estratégias de ensino-aprendizagem para a disciplina Sociologia:

· Leitura prévia: pedir aos alunos que leiam determinado conteúdo em casa e antes da aula possibilita a troca de ideias e um diálogo problematizador entre o professor e a turma. Para isso, é necessário cobrar o conteúdo da leitura cotidianamente para que os alunos se sintam estimulados a falar sobre o que leram. Caso contrário, eles podem abandonar a proposta da leitura prévia. A aula precisa extrapolar o simples conteúdo dos textos, avançando o debate e a crítica.

· Aula expositiva: a parte expositiva das aulas é fundamental para contextualizar e promover a análise conjuntural e estrutural do objeto de estudo. É possível criar formas de estimular os alunos a participar: questionando-os sobre o texto lido; levantando pontos polêmicos trazidos pelo texto; pedindo-lhes que escrevam e/ou apresentem uma ideia central da leitura realizada ou da aula dada; etc. Assim, uma aula expositiva pode ser participativa.

· Oralidade: é importante que os alunos consigam expor oralmente o que leram e como o interpretaram. Isso pode ser feito de diferentes formas, entre elas: participando de debates e discussões preparados com antecedência pelo professor, argumentando, contrapondo, justificando; realizando encenações (dramatizações) de algum conteúdo ou de parte dele; montando e organizando apresentações por meio de um jornal falado; apresentando os trabalhos realizados em equipe ou individualmente. Todas as estratégias que estimulam a oralidade devem ter em vista a elaboração de uma fala assentada no conhecimento acumulado pelo aluno.

· Recurso a linguagens variadas: o uso de linguagens como o vídeo, o cinema, o teatro, a mídia impressa e a digital é importante tanto para a interpretação do conteúdo sociológico como para a apresentação dos trabalhos dos alunos. Explorar notícias, reportagens e artigos das diversas mídias e filmes aproxima o conhecimento teórico e a realidade com que o aluno tem contato. Em cada capítulo do livro, há sugestões de itens sobre fontes e recursos diversos relacionados com o tema tratado. Na apresentação das pesquisas realizadas, os alunos podem produzir vídeos ou escrever e encenar uma peça de teatro sobre a realidade social estudada.

· Integração com as demais disciplinas: para explicar as várias dimensões dos fenômenos sociais, as Ciências Sociais podem e devem dialogar com outras disciplinas, em especial aquelas que compõem a área de Ciências Humanas no ensino básico (História, Geografia e Filosofia). Esse diálogo depende de o



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professor tomar a iniciativa de conversar com seus colegas para adquirir informações e pensar em novas formas de mediar o processo de ensino-aprendizagem, bem como de programar atividades conjuntas sobre temas afins para enriquecer as aulas. Algumas atividades de caráter interdisciplinar são sugeridas nos capítulos desta obra. Possivelmente seus colegas de outras disciplinas também encontrarão esse tipo de indicação no material que tiverem escolhido ou poderão sugerir outras atividades passíveis de um trabalho conjunto.

· Sistematização escrita: grande parte das atividades realizadas pelo aluno deve incluir a sistematização por escrito do conteúdo trabalhado. Além de formas tradicionais, como redações, respostas a questões dirigidas, relatórios de pesquisa e fichamentos de leituras, é possível propor a sistematização e o registro do conteúdo estudado em outros formatos, como frases-síntese em cartazes, notícias para um jornal ou blog, redação de um roteiro cinematográfico, de um conto, de uma crônica, de uma reportagem, de uma narrativa analítica, etc.

De acordo com o que dispõem os Parâmetros Curriculares Nacionais, a escola deve levar o aluno a aprender a aprender, aprender a pensar e aprender a ser. É interessante que as atividades desenvolvidas e as práticas pedagógicas sejam orientadas para que os estudantes consigam controlar o processo de aprendizagem, conhecendo e internalizando os mecanismos de aquisição de certos conhecimentos e de realização de tarefas. Isso possibilita ao aluno uma autonomia de estudo e de aprendizagem cada vez maior.

Além de informações específicas, o desenvolvimento cognitivo do estudante depende de sua experiência concreta. Isso não significa que partilhamos da perspectiva de que a aprendizagem ocorra do próximo para o distante, do particular para o geral, mas da observação orientada da realidade social. Daí a necessidade de dominar os conceitos explicativos das Ciências Sociais, de cuja inter-relação resultam as teorias sociológicas. A aprendizagem está na capacidade de contradizer ideias anteriores e polemizar com os autores estudados e suas próprias posições.

3. Uma metodologia para ensinar e aprender Ciências Sociais

Consideramos que o objetivo da disciplina Sociologia no Ensino Médio é iniciar os estudantes nos saberes sociológicos. Optamos por abordar as temáticas de maneira abrangente, desenvolvendo um conjunto de aspectos centrais e relevantes, mesmo que sem esgotá-las, reportando o estudante ao contexto social e à sua origem teórico-conceitual. Essa metodologia confere maior qualidade à aprendizagem, por se inspirar na Sociologia crítica, cujo objetivo é compreender como as sociedades se organizam, se estruturam, se legitimam e se mantêm, habilitando o cidadão para uma atuação transformadora.

Embora sejam comumente confundidas, estratégias de ensino e metodologia não são a mesma coisa. Elas se complementam. A metodologia não se resume a estratégias ou técnicas, mas é composta de caminhos teóricos que orientam o trabalho em sala de aula, aos quais se somam os recursos didáticos e as estratégias de ensino-aprendizagem.

Sobre o modo de organizar a disciplina e sobre a avaliação do ensino-aprendizagem, muitas questões podem ser postas:

· Os pressupostos orientadores da ação pedagógica privilegiam a transmissão do conteúdo ou uma visão crítica e dialética?

· A disciplina promove o intercâmbio de conhecimentos com outras disciplinas?

· A variedade das teorias permite olhares múltiplos com base em diferentes saberes?

· Quais são os conceitos e as teorias a serem contemplados na análise e como tais conceitos são tratados?

· Qual concepção de ciência é trazida ao abordar determinado conteúdo?

· Qual é a importância da pesquisa para as Ciências Sociais?

· As teorias das Ciências Sociais são diversas e conflitantes. Qual delas privilegiar?

Esta obra apresenta interpretações de autores clássicos e contemporâneos tanto no texto geral quanto em atividades baseadas na leitura de textos sociológicos, dispostas ao longo de cada capítulo. As análises destacam eixos de conteúdo recorrentes, como a relação que se estabelece entre indivíduo e sociedade, estrutura e ação, sujeito e objeto, esfera pública e privada, teoria e pesquisa, entendidos não na condição de dicotomias, mas na de relações de interdependência.



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Domínio de conceitos

A preocupação com um saber que capacite o aluno para ser sujeito autônomo no processo de aprendizagem envolve o aprendizado da linguagem própria da ciência. Isso implica o domínio de conceitos-chave e o desenvolvimento, por meio de atividades, de habilidades de comparação, análise, síntese e generalização.

Essas atividades devem ultrapassar a repetição mecânica e sem significado do conhecimento. Assim, a qualidade do ensino envolve necessariamente o estímulo à formação de um conjunto de atitudes: estudar, aprender, pesquisar, encontrar informações, avaliar, resumir, concluir, cooperar, levantar hipóteses, criticar, solucionar problemas, comparar e generalizar.

Pela caracterização e compreensão da realidade, o estudante pode ancorar sua aprendizagem conceitual. O conceito "modo de produção capitalista", por exemplo, envolve uma teoria, o contexto histórico de sua constituição, a estrutura social e as contradições a ela inerentes. Também se revela importante compreender a interdependência entre grupos de conceitos e o fato de que essa relação sustenta uma teoria, uma explicação sistemática sobre um aspecto da realidade social.

Ao aprender Sociologia, Antropologia e Ciência Política, o aluno é levado a se apropriar dos conceitos de modo contextualizado, estabelecendo relações entre eles. Além disso, deve perceber que esses conceitos são históricos e provisórios e, por isso, necessitam de redimensionamento à medida que se processam as transformações sociais. Um exemplo é o conceito de nacionalismo: embora mantenha uma raiz explicativa em cada contexto social, cultural, político e econômico, ele apresenta especificidades e ambiguidades espaçotemporais que devem vir à tona no processo de discussão.

Livro didático e a mediação do ensino-aprendizagem

O livro didático , especialmente um livro de Sociologia, deve ser visto como uma provocação, um estímulo para iniciar as aulas, e não a única ou a última palavra. As aulas não se encerram no livro didático: ele é o ponto de partida para o professor elaborar suas questões, pensar, construir sua metodologia e orientar suas ações para permitir aos alunos que superem os desafios que se apresentam no processo de aprender o conhecimento sociológico. Nesse sentido, a interpretação que este livro oferece pode e deve ser ampliada, modificada e complementada pelo professor, que é o sujeito da ação pedagógica.

Mais do que propor um trabalho a ser desenvolvido em sala de aula, o livro visa iniciar um processo de construção e reconstrução de conhecimentos das Ciências Sociais. Ele apresenta os conceitos contextualizados no interior dos conteúdos sociológicos, isto é, das explicações dos diversos fenômenos sociais, analisados com base nas teorias clássicas e/ou contemporâneas.

Neste livro, os conceitos não se apresentam fechados ou acabados, ou seja, não esgotam as possibilidades da ciência e da realidade. Nossa perspectiva de trabalho é a de que o professor e o aluno desenvolvam a reflexão acerca do assunto, levantem questionamentos e complementem e aprofundem seus conhecimentos pela interação em sala de aula e pela realização de diversas formas de pesquisa e das atividades propostas.



Diálogo com as outras disciplinas

Para explicar os fenômenos sociais em suas múltiplas dimensões, a Sociologia realiza trocas constantes com outras disciplinas. Pressupõe-se que não há resposta nem teoria explicativa única para as contradições sociais.

A rede de conhecimentos, explícita ou implicitamente, sempre existiu no desenvolvimento da ciência, mas apenas no final do século XX houve um despertar para esse trabalho pluridisciplinar de construção do conhecimento. Listamos abaixo uma série de argumentos em favor da importância do intercâmbio entre as disciplinas científicas.

· Cada vez mais o avanço do conhecimento vale-se de saberes aproximados, acumulados e provisórios. Promover a integração entre as disciplinas é potencializar as explicações em aula e as contidas nos livros e em outras fontes.

· Nas Ciências Sociais, os limites entre os objetos de estudo são tênues, bem como entre os métodos próprios da Sociologia, da História, da Geografia, da Filosofia, de análise literária e de outras disciplinas. Essa proximidade favorece o trabalho conjunto; são muitos olhares sobre uma mesma realidade.

· A questão do tempo e do sentido dos acontecimentos é um dos referenciais para a ciência. Por isso, contextualizar os fenômenos sociais é avaliar as condições em que eles se deram.

· As interpretações da ciência contemporânea esforçam-se em recolocar o ser humano no centro do mundo reflexivo. Só é possível compreender os fenômenos sociais associando ser humano e natureza, sujeito e objeto, teoria e pesquisa.

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· As Ciências Sociais complementam umas às outras e têm-se mostrado indispensáveis para explicar as mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais que se aceleraram no último século.

· As inovações tecnológicas têm propiciado novas formas de atividades, em que os recursos da informática, de novos modelos de comunicação e expressões de criatividade favorecem a apreensão das mudanças. Também o ensino-aprendizagem pede inovação.

Uma vez que as ciências falam de lugares convergentes, há momentos propícios para situar os problemas disciplinares (da natureza do objeto de cada disciplina), transdisciplinares (as indagações que perpassam a dimensão de várias disciplinas) e interdisciplinares (esforço de aprender com os métodos de outras disciplinas). São essas as condições que fazem a ciência amadurecer.

Embora a pluridisciplinaridade - o estudo de um objeto por várias disciplinas simultaneamente - seja um avanço importante, segundo Nicolescu (1999), ela ainda não considera os pontos de ligação entre as disciplinas. Já a interdisciplinaridade diz respeito à transferência do método de uma disciplina para a análise de um ou mais aspectos do objeto estudado por outra disciplina, com maior cooperação e diálogo.

A interdisciplinaridade está presente nos conteúdos dos capítulos deste livro. Os conceitos, as reflexões e teorias das diversas disciplinas se entrecruzam nas Ciências Sociais. Isso é uma condição para se conhecer melhor a realidade, que é social, política, econômica, cultural e histórica.

Quanto às estratégias ou às várias atividades propostas no livro, muitas podem ser desenvolvidas em conjunto com outras disciplinas - e algumas são explicitamente orientadas para isso. As atividades permitem diferentes perspectivas de integração, seja interdisciplinar, seja pluridisciplinar. Por exemplo, nas situações em que a escola toda se envolve em uma discussão sobre a questão ambiental (Capítulo 12), cada disciplina, sob seu olhar, estuda o tema e pode desenvolver atividades práticas (ações como separação do lixo, limpeza de um rio, campanha publicitária, pesquisa sobre as características urbanas da ocupação do espaço, etc.). Esse seria um exemplo de estudo pluridisciplinar. Quando o professor encaminha a atividade para envolver nela os saberes da Geografia, da História, da Arte, da Sociologia, a interdisciplinaridade está presente, como no exemplo tomado do Capítulo 5.

A importância da pesquisa nas Ciências Sociais

O professor de Sociologia, em sua ação mediadora do conhecimento, é um pesquisador por excelência. Seja em fontes primárias (coleta de dados em instituições, ou de informações junto a pessoas), seja em fontes secundárias (pesquisa em livros, revistas, jornais, internet, bibliotecas concretas ou virtuais, etc.), toda pesquisa exige observação atenta e sistematização dos resultados. O professor é pesquisador na medida em que constantemente reflete sobre questões, reformula sua ação pedagógica e possibilita ao estudante que busque o conhecimento e o pensar autônomo. Seguindo Minayo (1999), entendemos por pesquisa



a atividade básica das Ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados.

O termo pesquisa social tem uma carga histórica e, assim como as teorias sociais, reflete posições frente à realidade, momentos do desenvolvimento e da dinâmica social, preocupações e interesses de classes e de grupos determinados. Enquanto prática intelectual reflete também dificuldades e problemas próprios das Ciências Sociais e a sua relativa juventude para delimitar métodos e leis específicas. [...]

Se a teoria, se as técnicas são indispensáveis para a investigação social, a capacidade criadora e a experiência do pesquisador jogam também um papel importante. Elas podem relativizar o instrumental técnico e superá-lo pela arte. Esta qualidade pessoal do trabalho científico, verdadeiro artesanato intelectual que traz a marca do autor, nenhuma técnica ou teoria pode realmente suprir. É em parte o que Wright Mills denomina "Imaginação sociológica" e consiste na capacidade pessoal do pesquisador de fazer, das preocupações sociais, questões públicas e indagações perscrutadoras da realidade. E em parte é a capacidade de perceber através das questões específicas levantadas, as correlações multilaterais e sempre mutáveis que cercam a realidade objetiva, dentro dos limites da "consciência possível". Trata-se de um imbricamento entre a habilidade do produtor, sua experiência e seu rigor científico.

MINAYO, Maria Cecília. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 6ª ed. São Paulo: Hucitec/Rio de Janeiro: Abrasco, 1999, p. 23-24.

De acordo com Minayo (2011), a pesquisa é uma atividade central para a ciência, que por meio de um método e de uma metodologia indaga, constrói a realidade e a explica. Também envolve uma prática teórica que corresponde a um conjunto de conhecimentos e proposições que nos ajudam a explicar uma dada realidade.

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As modalidades de pesquisa são diversas. Segundo Severino (2007), destacam-se as seguintes:

· etnográfica: o pesquisador visa compreender os processos do dia a dia em suas múltiplas modalidades. Valendo-se do método etnográfico, ele seleciona e descreve o fenômeno em observação, atentando a todos os detalhes e às representações simbólicas dele derivadas;

· pesquisa-ação: o pesquisador investiga, analisa e faz diagnósticos de uma determinada realidade social, buscando transformá-la ou intervir nela;

· estudo de caso: o pesquisador estuda uma situação particular, que considera representativa de um conjunto de casos semelhantes. Esse tipo de pesquisa permite fazer novas perguntas para outras situações existentes;

· análise de conteúdo: envolve a análise de conteúdo das mensagens orais, documentais, gestuais, etc. Sua metodologia implica o tratamento e a análise das informações constantes em documentos oriundos de escrita, falas, discursos, entre outros materiais. Esse tipo de pesquisa objetiva a apreensão do sentido das comunicações.

Nas Ciências Sociais, as pesquisas podem ser de caráter exploratório ou explicativo, escreve Severino (2007). A pesquisa exploratória consiste no levantamento de informações sobre um objeto (um fenômeno social) a fim de caracterizá-lo e conhecê-lo em suas manifestações. Ela pode ser um ponto de partida para a pesquisa explicativa, a qual busca identificar e analisar as causas com base em métodos quantitativos (estatísticos) e/ou qualitativos (interpretativos).

Toda pesquisa envolve o uso de técnicas, isto é, de procedimentos operacionais. Vejamos alguns:

a) pesquisa documental: toda forma de registro e sistematização das informações, como livros, jornais, esculturas, fotografias, filmes, discursos, entre outros;

b) entrevista: consiste na coleta de informações diretamente dos informantes, que são muitas vezes os sujeitos da pesquisa;

c) entrevista não diretiva: coleta de dados/informações nas falas e nos discursos livres dos sujeitos. Nessa técnica, o pesquisador se coloca na condição de escuta atenta.

A pesquisa científica, de maneira geral, pode ser:

a) bibliográfica: com base em livros, pesquisas anteriores, etc.;

b) documental: toma como fonte jornais, imagens, gravações, depoimentos, documentos legais, entre outros;

c) experimental: envolve observação e manipulação do fenômeno em condições controláveis (por exemplo, em situação de laboratório). Nas Ciências Sociais, pode-se realizar uma pesquisa experimental quando se tem um grupo de controle, a fim de comparar os resultados com outro grupo social em diferentes condições de análise;

d) pesquisa de campo: implica que o fenômeno seja observado em seu próprio ambiente.

Nas Ciências Sociais, ressalte-se que as pesquisas sociais empíricas envolvem o uso de método (caminho teórico) e metodologia (técnicas e procedimentos operacionais que se baseiam em teorias), o que as distingue das pesquisas de opinião às quais os estudantes normalmente têm acesso em meios de comunicação de massa. A pesquisa de opinião corresponde à investigação de um fenômeno/fato orientada pelo interesse em conhecer a opinião das pessoas sobre algum tema - por exemplo, a opinião sobre uma empresa e seus produtos, sobre candidatos a cargos políticos, etc. Embora também conte com métodos e metodologias próprios, as pesquisas de opinião não têm uma ambição investigativa científica e, menos ainda, explicativa dos fenômenos sociais.

Em sala de aula, não se espera que os alunos desenvolvam, o tempo todo, atividades que utilizem essas técnicas e modalidades da pesquisa científica, dado que o intuito da disciplina Sociologia no Ensino Médio não é o de formar cientistas sociais. No entanto, algumas atividades propostas ao longo do livro introduzem aos alunos modalidades e técnicas empregadas pelas Ciências Sociais, seja em uma breve exposição, seja na própria prática da atividade.



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