Otto maria carpeaux



Yüklə 3,26 Mb.
səhifə42/55
tarix01.03.2018
ölçüsü3,26 Mb.
#43594
1   ...   38   39   40   41   42   43   44   45   ...   55

O fato de o latim hoje não ser, como no século XVI, uma língua que tôdas as pessoas cultas dominam, não é responsável pelo esquecimento radical da literatura neolatina(:").

Erasmo não foi esquecido. Na literatura neolatina há evidente falta de originalidade, e "poderosa" só pode ser chamada pelo número das produções, em todos os gêneros,

e pelo papel, de agente e modêlo entre as literaturas nacionais. Tem grande significação histórica, mas só exige resumo rápido. A lírica petrarquesca está representada

- se bem que em metros diferentes - pelas elegias eróticas do holandês Johannes Everaerts Secundus (1511-1536) e pelas poesias religiosas do alemão Petrus Lotichius

(1528-156O). Duas traduções latinas de Ariosto representam romantismo de cavalaria, e as éclogas latinas constituíam quase um dever dos poetas. As peças do holandês

Georgius Macropedius (j- 1558) ainda estão ligadas, em parte pelos assuntos bíblicos, ao moralismo das "Morality Plays"; o Hecastus é versão latina do Everyman.

Mas o Jephtah (1554) e o Baptistas (1578), do escocês Georgius Buchanan, já estão a meio caminho entre a imitação renascentista de Sófocles e a imitação barrôca

de Sêneca. E os tratados de filosofia platônica são quase todos em latim- O papel de intermediário dessa literatura sem originalidade é muito grande.

Outro meio importante de divulgação da cultura humanistica é a tradução; e na tradução os humanistas se revela

1) F. A. Wright e T. A. Sinclair: A History of Later Latin Litera

tura to the End of the Seventeenth Century. London, 1932.

P. van Tieghem: La littérature latina de Ia Renaissance. Paris, 1944.

HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL 511

ram mais originais do que na criação de obras originais. O próprio conceito da tradução é obra do humanismo. Nem a Antiguidade nem a Idade Média conheceram traduções;

aquilo a que damos êsse nome entre as obras medievais, são versões livres, libérrimas mesmo, adaptações mais ou menos inescrupulosas, e plágios. De nada importava

ao leitor medieval a origem e a estrutura formal de uma obra alheia; apenas desejava conhecer o conteúdo. Só o humanismo criou a consciência da relação entre forma

e conteúdo, da importância de verter letra e espírito do original, da necessidade eventual de reconstituir um texto corrompido; e da propriedade literária. São êsses

os elementos que constituem o conceito da tradução em sentido filosófico; a mentalidade estética da Renascença acrescentou a vontade de transformar a tradução mais

ou menos literal em obra de arte na nova língua.

Os humanistas italianos deram os primeiros exemplos disto. Algumas das suas traduções - o Asino Xoro de Apuleio, traduzido por Firenzuola; as Metamorfoses, de Ovídio,

traduzidas por Andrea Dell:" Anguillara; a Eneida, traduzida por Annibale Caro - pertencem aos clássicos

da língua italiana. Até entre os espanhóis, talvez menos capazes de assimilar valores alheios, se encontra um clás

sico da tradução : Diego López de Cortegana, o alegre cônego de Sevilha, que traduziu aquêle romance divertido e

licencioso de Apuleio. Mas foi principalmente na França e

na Inglaterra que a arte da tradução contribuiu decisiva

mente para a evolução da língua literária.

Os tradutores franceses (2) pertencem em grande par

te ao círculo da Pléiade: Lazare Baïf, que traduziu a Elec

tra, de Sófocles (1537); seu irmãc Jean-Antoine Baïf, tra

dutor da Antigone; Remi Belleau, tradutor das odes ana

creônticas (1556); e o humanista Etienne Dolet, tradutor

das cartas e das Tusculana, de Cícero (1543). O mestre é,

2) F. Hennebert: Histoire das traducteurs Trançais d:"auteurs grecs et latins pendant le XVIe et XVIle siècle. Gant, 1853.

#512 OTTO MARIA CARPEAU%

HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL

513

porém, Jacques Amyot (3), bispo de Auxerre e grecista erudito, tradutor de Heliodoro e Longos, :"e principalmente das obras de Plutarco. A língua de Amyot tem a



graça

do francês arcaico; a primeira impressão é algo como a de Joinville. Mas o estilo é perfeitamente clássico, elevando-se sem retórica à sublimidade dos assuntos.

O Plutarco, de Amyot, é, históricamente, um dos livros mais importantes da língua francesa: exerceu profunda influência na idéia que o século XVIII francês formou

da Antiguidade; e no século XVIII inspirou heroísmo "plutárquico" aos que não sabiam ler os originais, como Vauvenargues, Rousseau e Napoleão, e, fora da França,

a Alfieri e Schiller. Mas a maior glória de Amyot é a sua influência na Inglaterra do seu próprio tempo.

As chamadas "Tudor Translations" (4) nem sempre deram resultados muito bons em versos. Mas com elas nasceu a prosa inglêsa. Cita-se até hoje com veneração o nome

do mestre Philemon Holland, tradutor de Lívio (16OO) e Suetônio (16O9) e das obras morais de Plutarco (16O3). Lembram-se o Tucídides, de Thomas Nicolls (155O), e

as obras morais de Sêneca, traduzidas magistralmente pelo dramaturgo Thomas Lodge (1614) ; a Renascença inglêsa chega, como as datas indicam, um pouco atrasada,

já coexistindo o estilo barroco. A maioria das obras

mencionadas não foi traduzida diretamente do grego ou do

latim, mas por intermédio de traduções italianas e france

sas. O que se perdeu, assim, em exatidão filológica, ga

nhou-se em modernidade da expressão, renovando-se a pro

sa inglêsa. Uma dessas traduções indiretas, através de

3) Jacques Amyot, 1513-1593.

Vie des hommes illustres grecs et latins (1559, 1565, 1567) ; Oeuvres morares et méMes de Plutarque (1572). Edição completa de Didot, 25 vols., Paris, 1818/1821.

R. Sturel: Amyot traducteur des Vies Parallèles de Plutarque. Paris, 19O9.

4) F. Schoell: É:"tude sur 1:"humanisme continental en Angleterre a Ia /in de Ia Renaissance. Paris, 1926.

Amyot, é o Plutarco, de Thomas North (5) : mas é uma obra inteiramente nova, de estilo heróico como o de um romance de cavalaria, e de uma vivacidade quase dramática,

mas conservando sempre a dignidade greco-romana. Shakespeare encontrou em North os enredos de Coriolano, Júlio César e Antônio e Cleópatra, inserindo nas peças frases

inteiras do tradutor; e parece prosa do próprio Shakespeare, o que dispensa elogios. O North da poesia é o dramaturgo elisabetano George Chapman (s), o tradutor

de Homero. A tradução nem é literal nem dá o espírito do original; Chapman era poeta romântico, de vitalidade assombrosa e linguagem musical. O seu Homero é um poema

entre Shakespeare e Beaumont e Fletcher, ou antes, entre Marlowe e Webster, um imenso palácio ou jardim encantado da língua inglêsa - Keats, que pretendeu reconhecer

em Chapman o seu próprio sonho de poesia, confessou num sonêto famoso - e a confissão é a da alma romântica

da Inglaterra

"Oft one wide expanse had I been told

That deep-brow:"d Homer ruled as his demesne: Yet did I never breathe its pure serene

Till I heard Chapman speak out loud and bold".

5) Sir Thomas North, 1567-16O1.

Lives o/ the Nobre Grecians and Romans (1579).

Edição em "Tudor Translations" (Nutt), 6 vorá., London, 1895. G. Wyndham: "North:"s Plutarch". (In: Essays in Romantic Li

teratura. London, 1919)

6) George Chapman, 1559-1634. (Cf. "Teatro e Poesia do Barroco Protestante", nota 53.)

Iliad (1598/1611); Odyssey (1614/1615).

Edições: vols. II/III da Edição das Obras, por R. H. Shepherd, 3 vorá. London, 1874/1889.

Edição da Iliad por H. Morley, 2 vorá. London, 1883.

Edição da Odyssey em Temple Classics, 2 vols. London, 1897. A. C. Swinburne: The Age o/ Shakespeare. London, 19O8. H. Ellis: George Chapman. London, 1934.

James Smith: "George Chapman". (In: Scrutiny, III/4, 1935, e

IV/1, 1935.)

#i

514 OTTO MARIA CARPEAU%



As traduções criaram o ideal literário da época. O

ideal humano foi criado pelo Cortegiano, de Castiglione,

um dos livros mais traduzidos e mais lidos de todos os

tempos. Em 1528 publicou-se a obra; já em 1534 existe

ela em espanhol (por Boscán) ; em 1537, em francês (por Jacques Colin) ; em 1561, em inglês (por Thomas Hoby) ;

em 1566, em polonês (por Lukas Gornicki). Os poetas mais nobres da época - o espanhol Garcilaso de Ia Vega, o inglês Sir Philip Sidney - são encarnações perfeitas

do "cortegiano" ideal. A idealização do cavaleiro não progride sem encontrar obstáculos em outros tipos ideais ou "ideais": Monluc (:") representa o cavaleiro cristão,

valente e pio, um dêsses de que Deus se serve para os "Gesta Dei per Francos"; e o seu antípoda Brantôme (8) representa o bon-vivant epicureu, de uma grosseria ainda

meio medieval e já meio barrôca. O ideal do "cortegiano" não poderia ser mantido sem exagerá-lo até o extremo, transformando o cavaleiro, diplomata e humanista em

dualista, falador e bel esprit espirituoso; essa transformação é a obra do espanhol Antonio Guevara (s), que estabelece, em plena Renascença, um ideal barroco; a

conseqüência será um Barroco literário antes mesmo do Barroco: é o "eufuísmo".

O eufuísmo inglês do século XVI e as suas paralelas barrôcas - o marinismo e o gongorismo - são pre

7) Blaise de Monluc, 15O2-1577.

Commentaires (1592).

Edição por A. de Ruble, 3 vols., Paris, 1864/1867.

J. Le Gras: Blaise de Monluc, héros malchanceux et grano écrivain. Paris, 1927.

8) Pierre de Bourdeilles, abbé et seigneur de Brantôme, 154O-1614. Vias das grands capitaines étrangers; Vie das grands cap?taines Trançais; Recueil das Damas galantes;

Recueil das Damas iltustres, etc.

Edição completa, 1665/1666; edição moderna por L. Labanne, 14 Vols., Paris, 1864 (1882).

F. Crucy: Brantôme. Paris, 1934. 9) Cf. nota 87.

HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL 515

parados pelas metáforas preciosas e antíteses afetadas do petrarquismo; e o petrarquismo é o estilo em que o "cortegiano" exprime os movimentos da sua alma, particularmente

os eróticos, admitindo-se, como expressão subsidiária, o bucolismo. Pelo petrarquismo em primeira linha, a literatura italiana exerceu no século XVI a hegemonia

sôbre tôdas as literaturas da Europa (1O).

Uma das portas de saída do petrarquismo italiano era Nápoles, a capital italiana que se encontrava havia muito sob domínio espanhol. Havia relações íntimas entre

Nápoles e Barcelona, onde se formara Ausias March, o primeiro grande petrarquista fora da Itália, ainda figura isolada no século XV. March não deixou de exercer

influên

cia sôbre Juan Boscán (11), que foi definitivamente con


vertido em poeta petrarquista pelo latinista italiano Andrea Navagero, embaixador de Veneza na Espanha, e pelo seu amigo Baldassare Castiglione. Boscán não foi grande

poeta; atribui-se-lhe a categoria de Bambo, embora alguns dos seus sonetos e canções revelassem certa frescura nacional. Em todo o caso, Boscán realizou duas obras

excelentes e uma obra-prima. A primeira é a tradução castalhana do Cortegiano. A segunda é a introdução dos metros italianos na poesia espanhola: o hendecassílabo,

o sonêto, a canção petrarquesca, a écloga dialogada. A terceira obra - a obra-prima - é o seu discípulo Garcilaso.

1O) A. Meozzi: Il petrarchismo europeo nel secolo XVI. Pisa, 193411) Juan Boscán de Almogávar, c. 15OO-1542.

As suas obras poéticas publicaram-se, juntas com as de Gar

cilaso, em 1543; também nas edições modernas de Garcilaso, cf.

nota 12.


M. Menéndez y Pelayo: Antologia de poetas líricos castellanos.

Vols. XIII/XIV. Madrid, 19O8.

M. de Riquer: Juan Boscán y su cancionero barcelonés. celona, 1946.

E. Segura Covarsi: Le canción petrarquesca en Ia lírica es~to

ia de1 Siglo de Oro. Madrid, 1949.

Bar-


#516) OTTO MARIA CARPEAUX

HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL

517

Garcilaso de Ia Vega (12) é, em certo sentido, o maior poeta de língua espanhola, porque nenhum outro foi tão exclusivamente poeta. Mas isso não se entende no sentido



de poesia pura, separada da vida. Ao contrário, Garcilaso transformou em poema a sua vida tôda: os estudos clássicos e as contemplações platônicas, a vida de soldado,

o exílio nas ribeiras do Danúbio, e até a sua morte no campo de batalha. É um "uomo universale" no sentido da Renascença, a encarnação espanhola do "cortegiano".

Mas o único assunto da sua poesia é o amor, só modificado, às vêzes, pelo tom pastoril, nas éclogas, que são as suas poesias mais elaboradas. Mas Garcilaso não idealiza

a realidade, e as metáforas e antíteses petrarquianas são tão pouco afetadas e artificiais como as reminiscências de Virgílio e Sannazaro nas suas éclogas. Garcilaso

não transfigura as suas damas em ninfas; as suas damas são ninfas. Garcilaso não se imagina cavaleiro; é cavaleiro. Só vive naquele mundo poético, e do outro mundo,

o da nossa pobre realidade, entra na poesia de Garcilaso apenas uma sombra, uma melancolia ligeira e serena. Para nós, homens modernos, falta em Garcilaso o sentimento

da natureza; os seus rios, prados e bosques são decorações de teatro, sem vida própria. Isto acontece porque Garcilaso, ao contrário de tôda a poesia romântica,

não se identifica com a Natureza: ela não lhe significa o ambiente da sua alma, e é antes decoração divina através da qual o poeta adivinha o

12) Garcilaso de Ia Vega, 15O3-1536. (Cf. nota 62.)

Obras poéticas (junto com as de Boscán, 1543). Edição por T. Navarro Tomás, Madrid, 1924.

H. Keniston: Garcilaso de Ia Vega. A Criticai Study of His Life and Works. New York, 1922.

M. Arce Blanco: Garcilaso de Ia Vega. Madrid, 193O.

M. Altolaguirre: Garcilaso de Ia Vega. Madrid, 1934.

G. Diaz Plaja: Garcilaso y Ia poesia espanola. Barcelona, 1937. P. Salinas: "The Idealization of Reality". (In: Reality and the Poet in Spanish Poetry. Baltimore,

194O.)

R. Lapesa: La trayectoria poética de Garcilaso. Madrid, 1948. Dám. Alonso: Poesia espanola. Madrid, 195O.



mundo das idéias eternas. Daí a nossa impressão de rios

- prados estilizados: "el sitio umbroso, el manso viento, el suave olor de aquel florido suelo" são presságios da beatitude eterna entre as idéias platônicas de

todos os sítios, todos os ventos e todos os solos floridos. Garcilaso, sem ter escrito jamais um verso de conteúdo filosófico, é um poeta filosófico: o poeta do

platonismo. Não deixa de ser realista espanhol. O Tejo, na sua poesia, é o Tejo,

- o Danúbio é o Danúbio. Mas a música, a harmonia extraordinária do seu verso aristocrático, transforma tudo na paisagem divina, até o rio do exílio:

"Danubio, rio divino,

que por fieras naciones

vas con tus claras ondas discurriendo".

O aristocrata da Renascença está em tôda a parte do mundo em casa, e o místico platônico da Renascença está em tôda a parte do mundo no céu das idéias. Tôda a vida

real de Garcilaso é poesia, e a sua poesia era a realidade cotidiana da sua vida. Tinha dito à amada que

"por vos nací, por vos tengo Ia vida, por vos he de morir y por vos muero" -

- os versos parecem escritos como que depois de o poeta ter cumprido a promessa. A morte não inspira angústia ao enamorado

"Contigo mano a mano

busquemos otro llano,

busquemos otros montes y otros rios, otros valles floridos y sombrios,

donde descanse, y siempre pueda verte" -

porque a identificação entre a dama e a beleza divina, recurso artificial do petrarquismo platonizante, é em Garcilaso a coisa mais natural do mundo. O seu amor

é o


#518 OTTO MARIA CARPEAUX

HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL :"

519

.j

único assunto da sua poesia, e a sua poesia é o único coriteúdo do seu mundo divino, sinfonia celeste na qual a morte no campo de batalha perde todo o terror. Nenhum



poeta dá como Garcilaso a impressão da intemporalidade, da imortalidade.

Não convém mencionar outros petrarquistas espanhóis ao lado de Garcilaso. Na mesma geração, só Aldanr. digno da sua companhia, e depois, só Fray Luis de León é superior,

o maior de todos; mas êstes dois, poetas do amor divino, pertencem a um outro mundo, o mundo do humanismo cristão, que Garcilaso, o poeta sem outra religião à não

ser a devoção à sua dama, ignorava. O verdadeiro continuados de Garcilaso é Fernando de Herrera; nêle, a estilização garcilasiana transforma-se em retórica sublime:

é o comêço do Barroco.

Mas ao lado do elemento barroco há um outro fator na poesia de Garcilaso e uma outra possibilidade: a melancolia da realidade. O poeta dessa melancolia é Fran

cisco de Ia Torre (13), poeta misterioso do qual não sabe

mos quase nada. E misteriosa também é a sua poesia, poesia da noite: "Clara y amiga noche" e "Noche que en tu amoroso y dulce ouvido". Francisco de Ia Torre escreve

com grande perfeição. É classicista, também no hábito de encher as suas poesias com reminiscências alheias, de Horácio, de Virgílio, e principalmente de Tasso. Contudo,

a paisagem das suas éclogas é inconfundivelmente espanhola, e na atmosfera há certa frescura mais rústica que em Garcilaso; em todo petrarquismo (menos no italiano)

manifesta-se a tendência de voltar à inspiração nacional. O papel de Francisco de Ia Torre na história da poesia espanhola é, porém, diferente: Quevedo publicou,

em 1631, as

13) Francisco de Ia Torre, c. 1534-1594.

As poesias foram publicadas por Quevedo, em 1631. Edição por A. M. Huntington, New York, 19O3.

I. P. W. Crawford: "Francisco de Ia Torre y sus poesias". (In: Homenaie a Menéndez Pidal. Vol. II. Madrid, 1925.)

obras dêsse poeta esquecido para desafiar o gongorismo barroco. Dêste modo, Francisco de Ia Torre encontrase, paradoxalmente, na fila da reação classicista que na

Espanha, como em tôda a Europa, acompanhou e interrompeu a evolução da poesia barrôca.
O promotor do petrarquismo português, Francisco

de Sá de Miranda (14), parente de Garcilaso de Ia Vega,


não tem nada do seu gênio. O papel de Sá de Miranda foi o de Boscán, e a sua própria poesia italianizante é pesada e sem graça. Mas Sá de Miranda era um homem, talvez

mesmo um grande homem. Com preocupação dolorosa viu o patriota a corrução moral de Portugal pelo poder e pelas riquezas da índia, e nas suas "cartas" poéticas transformou

a "Epístola", forma metrificada da sabedoria serena de Horácio, em vaso de graves advertências e admoestações, até ao próprio rei. Escreve artigos de fundo metrificados;

mas o sentimento é sincero. Em Camões, o mesmo tom patriótico se distingue na epopéia; o lugar de Camões, tão grande poeta lírico e talvez o maior de todos os petrarquistas

do século, está, no entanto, acima e, neste sentido, fora da corrente petrarquesca. O "tom nacional", não no sentido patriótico mas no sentido do sentimento da natureza,

é representado por Diogo Ber

nardas (c.153O-c.16OO), do qual não se pode dizer coisa
melhor do que esta: várias das suas poesias foram con

fundidas com as de Camões. Enfim, o mais original dos

petrarquistas portuguêses é o irmão de Diogo Bernardas,

Fr. Agostinho da Cruz (15), que deixou o mundo para

14) Francisco de Sá de Miranda, c. 1485-1558.

Edição das obras por Carol. Michaëlis de Vasconcelos, Halle, 1885. Teóf. Braga: Sá de Miranda e a Escola Italiana. Pôrto, 1896. A. Forjai de Sampaio: Sá de Miranda.

Lisboa, 1926.
16) Frey Agostinho da Cruz, 154O-1619.

Edição das obras (com prefácio) por Mendes dos Remédios, Coim


bra, 1918.

Felic. Ramos: "A ascensão mística de Fr. Agostinho da Cruz".

(In: Ensaios de Crítica Literária. Coimbra, 1933.)

#52O OTTO MARIA CARPEAUX

se dedicar à purificação da sua alma. Entre os inúmeros poetas renascentistas que metrificaram o motivo horacia

no da retirada para a vida pacífica nos campos, Fr. Agostinho talvez seja o único que realizou a resolução poética: tornou-se eremita. Em Fr. Agostinho existe algo

do sentimento da natureza dos franciscanos; mas nada da alegria celeste do santo úmbrico. A "saudade" portuguêsa aparece nesse monge como grave melancolia, como

arrependimento perpétuo da vida passada, e o poeta desesperaria, se a luz mística do outro mundo não lhe aparecesse na oração. Fr. Agostinho da Cruz não possui a

profundeza dos místicos espanhóis; mas é o único poeta do petrarquismo internacional que se parece com os poetas religiosos do petrarquismo italiano.

A porta de entrada do petrarquismo na França é a

cidade de Lião, importante centro do comércio com a Itália; do petrarquismo platonizante deriva a arte de Scève e Louise Labé. Mas a "école de Lyon" e a poesia renascentista

francesa não são idênticas; ao contrário, as relações da Pléiade com os poetas de Lião não são muito densas, e a origem do petrarquismo francês, embora não constitua

problema difícil, é bastante complicada (16)

Chamavam-se "Pléiade", lembrando os 7 poetas famosos de Alexandria, alguns alunos do colégio de Coqueret: Ronsard, Baif, Belleau, Du Bellay, Jodelle e Pontus de

Tyard, convidando como sétimo companheiro o seu professor de Grego, Jean Daurat. Quer dizer, a primeira ins

piração veio dos estudos clássicos (17). O título de uma obra do famoso grevista Guillaume Budé (1467-154O) é o programa: De studio litterarum recte ac commode instl

tuendo (1527). O programa foi executado por grevistas e latinistas como o próprio Budé, Etienne Dolet, tradutor de Platão, os lexicólogos Robert e Henri Estienne;

finalmente, fundou-se o Collège de France. As influências italianas vieram depois, através dos numerosos artistas italianos que trabalhavam na França, das missões

diplomáticas, e do chamado "tour de chevalier"; a cultura de um cavaleiro não era considerada completa sem a viagem para a Itália. Se a influência italiana só veio

"depois", não foi menos intensa do que em outra parte, e não se manifestou apenas na adoção do sonêto e da filosofia "platônica" do amor; nos poetas da Pléiade,

como aliás em todos os petrarquistas europeus, muito do que parece original é tradução ou adaptação de poesias italianas da época; um Philippe Desportes, assim como

Francisco de Ia Torre, é antes tradutor do que poeta original. Contudo, a atmosfera é diferente; e, com efeito, existe uma terceira fonte da poesia renascentista

francesa, uma fonte nacional, e sem isso a Pléiade teria ficado o que foi a "école de Lyon", uma planta exótica. "O poeta nacional% quer dizer, de temperamento "gaulês",

da época, é Marot. Mas não parece menos importante o poeta belga Jean Le Maire de Belges, que se diz discípulo dos poetas borgonheses do século XV; e Ronsard fêz,

em 1538, uma viagem para Flandres, onde recebeu sugestões importantes (1S). Eis as três raízes - o humanismo, o italianismo, a poesia borgonhesa, "flamboyante" -

da poesia francesa do século XVI e, em par

ticular, da Pléiade (19),

HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL

521

18) P. Laumonier, in: Reme de Ia Renaissance, I, 19O1.



16) I. Vianey: Le Pétrarquisme en France au XVIe siécle. 2 vois. 19) H. Guy: Histoire de ia poésie française au XVIe siècle. 2 vols.

Paris, 19O6/19O7.

H. Paris, 191O/1926.

17) Chamard: Les origines de Ia Poésie française de Ia Renaissan P. de Nolhac: Tableau de Ia poésie française au XVIe siècle.

ce. Paris, 192O.

J. Plattard: La Renaissance des lettres en France. 2 ~a ed. Paris,


Yüklə 3,26 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   38   39   40   41   42   43   44   45   ...   55




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin