Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim



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cultura   legítima,   ou   seja,   aquela   composta   pelos   signos   culturais   que

permitem a ascensão social. Outro signo incluído na cultura legítima no Brasil

seria   uma   forma   de   falar   e   escrever   a   língua   portuguesa   legitimada   como

"correta"




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(denominada "norma culta" pela sociolinguística). Essa forma é caracterizada

por determinadas maneiras de falar, empregar palavras e construir frases que,

na maioria das vezes, indicam a posição social dos indivíduos. Podemos citar

outros exemplos, como as formas de se colocar em entrevistas de emprego ou

até mesmo de se vestir. Dominar a cultura "legítima"  resulta em vantagens

sociais, políticas e também financeiras. Por este motivo, o domínio da cultura

legítima é chamado por Bourdieu de capital cultural.

O processo de reprodução social descrito é sustentado, entre outras coisas,

pela aceitação desses padrões de conhecimento e comportamento. Controlar

esse processo é uma forma que os grupos dominantes têm de se manter no

poder,   e   a  escola   contribui   para   isso   ao   transmitir   modos   de   agir,   sentir   e

pensar em conformidade com os interesses objetivos, materiais e simbólicos

das elites. Essa imposição de padrões culturais é vista por Bourdieu como uma

forma de violência simbólica, que pode ser exercida não só pela escola mas

também por instituições como o Estado, a mídia, as famílias, entre outros.

Outro pensador que considera que a instituição escolar - bem como o acesso

ou não a ela - produz diferenças associadas à posição social é o austríaco Ivan

Illich (1926-2002). Segundo esse autor:

LEGENDA: Público visita exposição com obras do pintor italiano Caravaggio

(1571-1610) no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), em

São Paulo (SP), em 2012. Para Bourdieu, a familiaridade com a cultura dita

legítima resulta em vantagens sociais, políticas e financeiras.

FONTE: Evelson de Freitas/Agência Estado



Deveria ser óbvio que, havendo à disposição escolas de igual nível, a criança

pobre raramente tem a possibilidade de ultrapassar a rica. Podem frequentar

escolas   de   igual   qualidade   e   começar   na   mesma   idade,   mas   às   crianças

pobres faltam, em grande parte, as ocasiões didáticas que estão normalmente

disponíveis à criança da média burguesia. Estas vantagens vão das conversas

aos livros que têm em casa e em viagens durante as férias, a uma consciência

de si mesma que a criança usufrui na escola ou fora dela. Por isso, quando as

possibilidades de progredir ou de aprender dependem da escola, o estudante


mais   pobre   permanecerá   geralmente   atrás.   Os   pobres   têm   necessidade   de

aprender e não de obter um certificado atestando a assistência recebida por

sua presumida insuficiência.

ILLICH, Ivan. Descolarizzare la società. Milano: Mondadori, 1972. p. 29. Texto

traduzido.

Ligada   a   esse   processo   de   reprodução   social   pela   via   educacional   está   a

autoevasão da escola: muitos alunos deixam de frequentá-la, atribuindo a si

próprios   a   culpa   pelo   insucesso   escolar   e   considerando-se   incapazes   de

acompanhar   os   estudos   formais.   Ivan   Illich   propõe,   como   solução,   a

desescolarização, ou seja, a substituição da instituição escolar por uma teia de

aprendizagem formada por grupos, em que cada um ensinasse conforme suas

habilidades.

Por sua vez, o sociólogo francês Bernard Lahire (1963-) concluiu que o meio

social   que   cerca   a   criança   tem   influência   decisiva   em   sua   educação.

Analisando os resultados escolares de estudantes de baixa renda na França,

Lahire percebeu que o envolvimento da família e de outras pessoas com as

quais   a   criança   e   o   jovem   convivem   serve   de   apoio   para   dar   sentido   à

experiência escolar. Esse autor considera que apenas investir em formação de

educadores e estrutura física das escolas não é suficiente para aproximar o

aluno   da   escola   e   possibilitar,   por   exemplo,   a   redução   das   desigualdades

sociais por meio da formação educacional.

FONTE: Filipe Rocha/Arquivo da editora

Glossário:




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