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A pintura em grandes dimensões
PRÉ-HISTÓRIA (2 milhões a.C.-3000 a.C.)
Figura 40
Arte Rupestre na Serra da Capivara, Piauí, 5000-3000 a.C., que traz imagens do dia a dia do homem primitivo.
Marcos André/Opção Brasil
IDADE ANTIGA (3000 a.C.-476 d.C.)
Figura 41
No Egito Antigo, as paredes eram revestidas de pinturas e relevos. Cena de caça encontrada na tumba de Nakht, escriba e sacerdote de Tutmés IV.
Jack Jackson/Glow Images
Figura 42
Na China, há grandes pinturas nas paredes dos templos e locais sagrados.
G. Sioen/De Agostini/Getty Images
IDADE MÉDIA (sécs. V-XV)
Figura 43
Afrescos nas paredes da capela do Mosteiro de São Moisés, na Síria, séculos XI e XII. Na Idade Média, o tema das grandes pinturas volta-se para o Cristianismo.
Joel Carillet/Getty Images
IDADE MODERNA (sécs. XV-XVIII)
Figura 44
Entre as mais notáveis obras do Renascimento, estão as pinturas de Michelangelo. Detalhe da representação do juízo final, na Capela Sistina, em Roma, Itália.
Michelangelo. Séc. XVI. Afresco. Capela Sistina. Museus do Vaticano. Foto: Getty Images/Lonely Planet Images
Figura 45
Teto do Salão de Hércules, em Versalhes, França, pintado por François Lemoyne no período do Rococó, século XVIII.
François Lemoyne. Séc. XVIII. Afresco. Casteki de Versailles. França. Foto: Print Collector/Getty Images
IDADE CONTEMPORÂNEA (sécs. XIX-hoje)
Figura 46
A Batalha do Avaí, de Pedro Américo, 1872-1877. Óleo sobre tela, 600 cm ×1 100 cm. Durante o Romantismo do século XIX, o artista brasileiro realizou grandes pinturas como essa.
Pedro Américo. 1872-77. Óleo sobre tela. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
Figura 47
Detalhe do painel Guerra e Paz, de Candido Portinari, 1952-1956. Painel a óleo/madeira compensada. 1 400 cm ×953 cm.
Candido Portinari. 1952-1956. Óleo sobre madeira. 140,5 ×95 cm. ONU, Nova Iorque. Reprodução autorizada por João Candido Portinari
Figura 48
O povo na universidade e a universidade para o povo, de David Alfaro Siqueiros, 1952-1956. Mural em edifício da Universidade Nacional Autônoma do México, na Cidade do México.
David Siqueiuros. 1952-1956. Mural Universidade Nacional Autônoma do México. Méxicoi, Foto: Moment Editorial/Getty Images
Figura 49
Artistas do grupo OPNI pintam parede de casa da região em que moram, retratando a comunidade da Zona Leste da cidade de São Paulo.
Toni William Crosss
Figura 50
O Favela Painting, projeto de Haas&Hahn, elabora pinturas gigantescas nas comunidades do Rio de Janeiro desde 2005.
Haas &Hahn
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FIGURA EM PÁGINA DUPLA COM A PÁGINA ANTERIOR
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UNIDADE 2 - Raízes
A arte é feita por pessoas que vivem nas florestas, nas cidades, nos campos e litorais. Nasceu pela necessidade de imaginar e criar. Navegou por mares pelo desejo de buscar por mais saberes e criação. Foi registrada em cestos, pinturas místicas e religiosas, azulejos, partituras e textos dramáticos. Manifestou-se na cultura indígena, na portuguesa e agora é arte brasileira.
Figura 1
Crédito das imagens: 1. Renato Soares/Imagens do Brasil; 2. Albert Eckout, 1641.
Óleo sobre tela. Museu Nacional da Dinamarca, Copenhage; 3. DK Limited/Corbis/Latinstock; 4. Renato Soares/Pulsar; 5. Pedro Motta/Banco de Imagens Giramundo; 6. Coletivo MUDA; 7. Séc. XVIII. Pintura em azulejo. Claustro do Mosteiro de São Vicente de Fora. Lisboa. Foto: Jose Elia/StockPhotosArt - Landmarks/Alamy/Latinstock; 8. Séc.
XVIII. Pitura em azulejos. Foto: De Agostini/G. Dagli Orti/Glow Images; 9. Renato Soares/Imagens do Brasil; 10. Oséias Leiras Silva, 2003. Óleo sobre tela. Coleção particular; 11. Victor Meirelles. 1860. Óleo sobre tela. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
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Trajetórias para a arte:
Capítulo 1 / A floresta
Capítulo 2 / A caravela
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Capítulo 1 - A FLORESTA
Arte e você em:
A floresta dos curumins
Seres imaginários
Balaio de histórias
Linguagem das artes visuais
Figura 1
Renato Soares/Imagens do Brasil
Indígena Kayapó pintando figura geométrica em tecido. Aldeia Moykarakô, São Felix do Xingu, Pará, 2015.
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FIGURA EM PÁGINA DUPLA COM A PÁGINA ANTERIOR
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VEM IMAGINAR!
Observe a imagem a seguir.
Figura 2
Maluana (maruana ou maruanan) é uma roda de madeira confeccionada para ser posta no teto das casas comunitárias dos povos Wayana e Aparai.
Renato Soares/Imagens do Brasil
Uma roda!
Roda, imaginação!
Quem são esses seres?
Serão “seres gente” ou “seres bichos”?
Se são gente, que gente são?
Se são bicho, que bicho são?
Como é o fundo?
As cores saltam da escuridão ou será que mergulham nessa imensidão?
Que povo criou tais criaturas?
Será que são seres da floresta criados pelos povos de lá?
Escolha uma figura. Olhe, invente uma ideia.
Para onde voa sua imaginação?
Texto poético dos autores especialmente para esta obra.
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VEM TRAMAR!
Observe a imagem a seguir.
Figura 3
Urupema, peneira de buriti com trançado típico da etnia Kaiabi.
Renato Soares/Imagens do Brasil
Entrelaçar linhas e pensamentos...
O que pensar ao olhar?
Alguém tramou em duas cores.
Será que foram pintadas antes ou isso foi feito depois?
Parecem tecer fios e culturas...
Que povos inventaram essas figuras?
Lembram algo natural ou sobrenatural?
São figuras da natureza?
Ou são padrões abstratos tramados com destreza?
Será que contam a história de alguém? Quem?
A cada enlace, o desenho vai aparecendo e a peneira também.
O que será que ela penera?
Desenhos em fios combinados que tecem essa mania de criar cestaria.
É a arte indígena. E o indígena faz arte todo dia.
Texto dos autores especialmente para esta obra.
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Tema 1 - A floresta dos curumins
Observe a imagem a seguir.
Figura 4
Crianças da etnia Yawalapiti brincando em meio a revoada de borboletas na beira do rio Tuatuari, em Gauchá do Norte, Mato Grosso, 2013.
Renato Soares/Pulsar
Agora, leia o trecho da letra de música a seguir.
Minha Mamãe soberana
Minha Floresta de joia
Tu que dás brilho na sombra
Brilhas também lá na praia
Beija-flor me mandou embora
Trabalhar e abrir os olhos
Letra da música Benke. NASCIMENTO, Milton; BORGES, Márcio. Benke. Intérprete: Milton Nascimento. In: _____. Txai. Rio de Janeiro: CBS, 1992. CD. Faixa 10.
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Benke, um menino falando para as pessoas do mundo inteiro sobre seu amor pela floresta, por seu povo, pela vida. A voz de um curumim entoando seu canto, arte indígena do povo Kampa, um dia emocionou o compositor Milton Nascimento (1942). Em homenagem a esse menino, ele criou a música Benke (1992).
Em 1992, aconteceu no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Cnumad), também conhecida como Rio-92, Eco-92 ou, ainda, Cúpula da Terra. Nesse evento, Benke entoou um canto tradicional do seu povo e depois falou para os representantes de 108 países do mundo, que ali estavam, sobre a importância de preservar a floresta em sua natureza, assim como a arte e cultura das pessoas que vivem nesses locais.
Quando começou a colonização do Brasil, em 1500, viviam aqui, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 3 milhões de indígenas. Dados do Censo Demográfico de 2010 mostraram que, nesse ano, existiam apenas 817 963 indígenas. Arte, cultura e saberes da floresta desaparecidos. Entre as comunidades existentes, há muita luta para que suas artes, línguas e conhecimentos sejam preservados.
AMPLIANDO
Curumim é uma palavra de origem tupi (kunu’mi/kuru’mi) e significa pequeno homem ou menino.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é uma fundação pública federal responsável por realizar pesquisas para levantar dados sobre o Brasil, sua cultura e sua gente, entre outros aspectos.
A arte dos povos indígenas
A arte dos povos indígenas brasileiros está em todos os lugares. Do norte ao sul do Brasil, vemos grupos mais numerosos ou pequenas comunidades que se estabelecem próximo às cidades, em zonas rurais, regiões e cidades litorâneas, assim como também existem povos indígenas morando em florestas. A tradição da arte indígena nasceu do encontro de pessoas com a natureza e da vida em harmonia com ela.
Quando a floresta é destruída, muita coisa se perde. Entre essas perdas, estão a arte e a natureza. São riquezas nunca mais recuperadas, como a cena capturada na fotografia das crianças da etnia Yawalapiti brincando entre as borboletas nas margens do rio Tuatuari, na página ao lado.
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Tema 2 - Seres imaginários
Observe a imagem a seguir.
Figura 5
Dragão oriental de templo religioso da cidade de Surat Thani, em Chonburi, na Tailândia, 2015.
DK Limited/Corbis/Latinstock
Observou bem a imagem? Que ser é esse? Está em que lugar?
Pessoas de diferentes culturas contam histórias. Quando alguém nos conta uma história, podemos criar imagens em nossa mente. Podemos, também, depois de ouvir uma história, desenhar, pintar, esculpir ou usar outra forma de construir imagens para representar visualmente os personagens ou as cenas mais significativas.
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Você costuma dar nomes aos seus desenhos? Como você escolhe esses nomes?
As explicações para os motivos que levam os artistas a escolher o nome das suas obras podem ser as mais diversas. Cada artista e cada povo têm maneiras próprias de imaginar, criar figuras, nomear, contar e recontar histórias por meio de imagens. Percebemos isso em muitas obras visuais que fazem parte do acervo da história da arte brasileira e mundial.
Vamos analisar algumas dessas obras? Veja a seguir.
Híbrida? Hã? Ahhh...
O dragão é um personagem que aparece em muitas histórias contadas pelo mundo. No mito do dragão oriental, esse ser imaginário é um dos quatro animais sagrados que ajudaram a criar tudo o que existe na Terra. Geralmente, a imagem desse dragão é composta de vários animais. Em uma das esculturas existentes em um templo religioso na Tailândia, na cidade de Surat Thani, vemos os detalhes dessa representação.
Figura 6
Templo oriental decorado com detalhe das esculturas coloridas de dragões. Província de Chonburi, Tailândia, 2015.
Fotos: Deposit Photos/Glow Images
Figura 7
Detalhe da escultura de dragão.
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O dragão oriental é uma figura híbrida. Possui grandes olhos de tigre, corpo de serpente, patas de águia, chifres de veado, orelhas de boi, bigodes de carpa e partes características de outros bichos.
Já as imagens criadas no Ocidente mostram dragões alados que possuem asas parecidas com as dos morcegos ou pássaros e corpo com aparência de lagartos gigantes; por vezes há feições de cachorro.
Observe as imagens a seguir.
Figura 8
São Jorge e o dragão, de Rafael, c. 1506. Óleo em painel, 215 cm × 285 cm.
Raphael, c. 1506. Óleo sobre painel. National Gallery of Art, Washington
Figura 9
Detalhe de São Jorge e o dragão, de Rafael, c. 1506.
AMPLIANDO
Híbrido é algo que nasceu da mistura de duas ou mais coisas. Em imagens mitológicas ou lendas, vemos seres misturados, híbridos.
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Figura 10
São Jorge e o dragão, de Jacopo Tintoretto, 1594. Óleo sobre tela, 158,3 cm × 100,5 cm.
Jacopo Rubusti: Tintoretto séc. XVI. Óleo sobre tela. 157,5 cm ×100,3 cm. National Gallery, Londres. Foto: Interfoto Scans/Easypix
Figura 11
Detalhe de São Jorge e o dragão, de Jacopo Tintoretto, 1594.
Em ambas as culturas, os dragões cospem fogo; porém, para os povos asiáticos, o fogo lançado pelos dragões representa a energia da vida que se renova. Nas imagens de tradição europeia, principalmente as que contam as aventuras de cavaleiros e santos medievais, esses seres são apresentados como malvados e têm o fogo como sua arma mortal. Frequentemente, nessas imagens, os dragões são derrotados pelos cavaleiros ou por São Jorge, a exemplo das pinturas dos artistas italianos Rafael (1483-1520), em São Jorge e o dragão (1506), e Tintoretto (1518-1594), em São Jorge e o dragão (1594).
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Observe a imagem a seguir, que mostra uma construção arquitetônica conhecida como Templo de Kukulcán (séc. XII), construída pelos maias na cidade arqueológica de Chichén Itzá, no México.
AMPLIANDO
Cidade arqueológica ou sítio arqueológico refere-se a locais que apresentam vestígios ou evidências de ocupação por povos do passado. Geralmente, esses locais são preservados para estudo de patrimônio histórico e cultural.
Figura 12
Templo de Kukulcán (séc. XII), cidade arqueológica de Chichén Itzá, no México. Destaque da imagem da serpente emplumada, detalhe da escultura do templo.
Tono Balaguer/Low Budget/Easypix
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Você consegue identificar a forma de um animal? Qual?
Na parte de baixo da pirâmide existe uma escultura que mostra uma cabeça de serpente. Há certos momentos do ano (ao entardecer, durante os equinócios da primavera e do outono) em que se pode ver o corpo da serpente emplumada descendo a escada, por causa da percepção da sombra projetada. Para os maias, povo que viveu na região da América Central, a serpente era um ser divino que podia viver tanto na terra como no céu. Imagens de serpentes mágicas aparecem na arte de muitas culturas, e para cada uma há significados diferentes.
AMPLIANDO
Equinócio é o nome dado para um período do ano em que o Sol projeta maior intensidade de raios sobre a linha do equador.
Agora, vamos conhecer a arte do povo egípcio antigo.
Observe a pintura a seguir.
Figura 13
Rá, o deus Sol, em forma de gato, matando a serpente Apófis. Pintura egípcia antiga, da tumba de Nekhtamun, 19.a Dinastia (c. 1297-1185 a.C.).
c. 1297-1185 a.C. Mural. Deir el-Medina, Tebas, Egito. Foto: Ancient Art and Architecture Collection Ltd. / Bridgeman Images / Easypix
Na cultura egípcia, imagens também contam muitas histórias. Esse povo acreditava em uma continuidade da vida, na existência eterna. Assim, muitos seres mágicos habitavam o imaginário dessas pessoas. Histórias, imagens, músicas e danças foram criadas para cultuar suas crenças. Uma cultura que começou a existir por volta de 3100 a.C. e durou até o fim da Idade Antiga, quando a cultura cristã começou a influenciar o abandono dessas crenças, em cerca de 476 d.C.
Uma das histórias mais conhecidas da cultura egípcia é a luta entre Apófis (serpente gigantesca moradora do rio Nilo) e o deus Rá, divindade importante dessa cultura, que era responsável por levar o dia e trazer a noite.
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A história conta que a serpente atacava o barco de Rá todas as manhãs e também ao entardecer. Às vezes, quando Rá era envolvido pelo corpo gigantesco de Apófis, o Sol não nascia e as pessoas viam a Terra escurecer em um eclipse. Esse ser também habitava o mundo dos mortos, o submundo, na mitologia egípcia. Assim, vemos muitas imagens de serpentes representadas em cenas de passagem para a vida eterna.
Veja algumas imagens da arte egípcia em que a serpente aparece pintada em coloridos afrescos.
AMPLIANDO
Afresco é uma técnica usada desde a Antiguidade que consiste em pintar usando pigmentos líquidos sobre uma base de argamassa (reboco).
Figura 14
Pintura que mostra Apófis, a eterna inimiga de Rá. Tumba de Ramsés I, da 19ª Dinastia, em Luxor, no Egito.
Universal Images Group/DeAgostini/Alamy/Latinstock
Figura 15
Imagem do Livro dos Portões (c. 1295-1294 a.C.), no túmulo de Ramsés I, em Luxor, no Egito.
Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock
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Figura 16
Destaque da pintura em mural do Livro dos Portões, no túmulo do rei Seti I (1304-1290 a.C.), 19ª Dinastia, no Vale dos Reis, em Luxor, Egito.
De Agostini Picture Library/The Bridgeman Art Library/Easypix
A serpente troca a sua pele de tempos em tempos; por isso, na arte egípcia, encontramos imagens de faraós com enfeites mostrando esse animal, que eles consideravam encantado.
Na cultura egípcia, há histórias em que a serpente representa força e renovação da vida.
A arte egípcia antiga, como outras ao redor do mundo, é cheia de histórias que contam sobre seres imaginários.
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Observe a imagem a seguir.
Figura 17
Egyptian Museum, Cairo. Foto: Sandro Vannini/Corbis/Latinstock
Máscara do faraó Tutancâmon, que reinou no Egito de 1334 a 1325 a.C. Artista desconhecido. Ouro cravejado por pedras preciosas e vidro colorido, 54 cm × 39,5 cm. A peça encontra-se no Museu Nacional do Egito, no Cairo, Egito.
Figura 18
Detalhe da máscara mortuária de Tutancâmon. A serpente, elemento tradicional para enfeitar a cabeça de um faraó, era uma deusa protetora do Baixo Egito. Ao seu lado está o emblema da deusa abutre Nekhbet, encarregada de proteger o Alto Egito.
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No Brasil, também temos obras de arte repletas de histórias que podem ser encontradas em todos os lugares e em várias linguagens artísticas. Na canção do maranhense Zeca Baleiro (1966), composta em parceria com os músicos Ramiro Musotto (1963-2009) e Celso Borges (1959), a lenda da serpente (2001) é cantada com toques contemporâneos.
Leia o trecho da letra da música a seguir.
céu azul rio anil
dorme a serpente
levanta miss serpente
põe tua lente de contato
mira dos mirantes
os piratas não param de chegar
vem vem ver como é que é
vem sacudir a ilha grande
vem dançar vem dançar
Alhadef te espera na Casa de Nagô
[...]
Letra da música A serpente (a outra lenda). BALEIRO, Zeca; MUSOTTO, Ramiro; BORGES, Celso. A serpente (a outra lenda). Intérprete: Zeca Baleiro. In: _____. Pet shop Mundo Cão. São Paulo: MZA/Abril Music, 2002. CD. Faixa 13.
Figura 19
Serpente Lulu (Serpente da Lagoa da Jansen), de Jesus Santos, 2001. Objeto flutuante, 68 m × 6,7 m. Lagoa da Jansen, São Luís, Maranhão.
Jesus Santos. Serpente Lulu, 2001. Lagoa da Jansen, São Luís, MA. Foto: Diego Chaves/OIMP/D.A Press
Agora, observe a escultura acima e o meio em que está inserida. Uma serpente parece passear nas águas da Lagoa da Jansen, na cidade de São Luís do Maranhão (MA), criação do artista também maranhense José de Jesus Santos (1950). No Brasil, seres fantásticos inspiram a criação de esculturas enormes para representar essas lendas. Que relação há entre a música de Zeca Baleiro e a escultura Serpente Lulu (2001)? Será que contam a mesma história? Que história é essa?
São Luís do Maranhão, no passado, foi um lugar onde vivia grande número de indígenas conhecidos como Tupinambás. Histórias contando sobre serpentes são bem comuns entre as lendas indígenas. Com a vinda dos colonizadores franceses e portugueses, essas histórias foram se modificando e gerando outras versões.
Por que as lendas têm tantas versões?
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A Lenda da serpente adormecida (ou Lenda da serpente encantada) conta que, ao redor da ilha de São Luís do Maranhão, vive um ser misterioso em forma de uma serpente gigante que vem crescendo cada vez mais e há muito tempo. Dizem que quando seu rabo encontrar a parte da cabeça, a serpente destruirá toda a cidade, levando para sempre a ilha para as profundezas do mar.
Observe a imagem a seguir. Mais gente andou falando sobre essa lenda.
Figura 20
Imagem de carro alegórico com a serpente encantada, lenda maranhense, no desfile da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, do Rio de Janeiro, que homenageou o Maranhão com o tema São Luís, o poema encantado do Maranhão. Carnaval de 2012.
Wagner Meier/Fotoarena
Essa história já virou enredo de escola de samba, em 2012, quando a escola de samba Beija-Flor cantou no Carnaval do Rio de Janeiro as belezas e os mitos da Ilha de São Luís do Maranhão.
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Tema 3 - Balaio de histórias
Observe a imagem a seguir.
Quem vem lá?
Uma mulher com uma criança.
Leva um cesto na cabeça.
O que parece carregar?
Equilibra o balaio com uma das mãos enquanto segura o neném com a outra.
“Índia Tupi”.
Vida de mulher Tupinambá?
Ou foi apenas um jeito do pintor olhar?
Ao percorrer seus olhos na imagem o que podemos descobrir?
O que tem aí para se notar?
Figura 21
Mulher Tupi, de Albert Eckhout, 1641. Óleo sobre tela, 272 cm ×163 cm.
Albert Eckhout. 1641. Óleo sobre tela. Museu Nacional da Dinamarca, Copenhage
Imagine um tempo sem fotografias. Quando as pessoas voltavam das suas viagens, como faziam para mostrar como foi a aventura?
Na época em que a pintura Mulher Tupi (1641) foi criada pelo artista holandês Albert Eckhout (1610-1666), era muito comum a profissão de artista viajante. Eles atravessavam oceanos, enfrentavam situações de risco e aventuras para conhecer e registrar a vida em outros lugares. Pessoas, plantas, animais, paisagens, tudo era novo aos olhares curiosos dos europeus.
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A profissão de artista viajante era muito requisitada, porque todos que ficavam na Europa queriam conhecer os novos mundos por meio das gravuras, pinturas, tapeçarias, desenhos e até por meio de textos escritos que narravam as incríveis histórias de povos que viviam em florestas. Todos queriam saber como eram as pessoas que caçavam animais, faziam cestos com padrões desenhados, colhiam frutas tropicais do pé, bem fresquinhas.
Figura 22
Natureza morta com melão, abacaxi e outras frutas tropicais, de Albert Eckhout, 1640. Óleo sobre tela, 90 cm × 90 cm.
Albert Eckhout. Séc. XVII. Óleo s/ tela. Museu Nacional da Dinamarca, Copenhage
AMPLIANDO
Olhar estrangeiro é um termo usado no contexto do estudo das imagens (artísticas ou não) para fazer referências às produções que são carregadas de ideais de quem não pertence ao grupo cultural que está sendo retratado.
Nesse tempo, a fotografia ainda não tinha sido inventada. Assim, artistas como Albert Eckhout traziam em suas bagagens, para criar as imagens, tintas, lápis, papéis e outros materiais conhecidos da época. Traziam também seu jeito de olhar para as coisas, uma mente repleta de concepções de mundo e valores europeus. Por isso, as imagens que produziam nem sempre eram realistas. O artista viajante era um estrangeiro, e seu olhar também. Consideramos essas imagens como aquelas que são impregnadas do “olhar estrangeiro”. O que isso significa?
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Olhares, tramas e trançados da arte
Os artistas viajantes, em geral, não representavam exatamente o que viam. Eles criavam composições que mostravam uma visão idealizada. É como se você fizesse uma fotografia e, depois, usando alguns recursos técnicos, realizasse interferências ou, até mesmo, uma montagem com outras imagens, uma nova composição.
O pintor Albert Eckhout esteve no Nordeste brasileiro entre os anos de 1637 a 1644. Em suas pinturas, retratou pessoas, frutos, flores e animais. Ao observar as pinturas Mulher Tupi (1641) e Índia Tapuia (1641), você acha que são imagens que representam cenas reais ou trata-se de imagens repletas de “olhar estrangeiro”?
Figura 23
Índia Tapuia (Tarairiu), de Albert Eckhout, 1641. Óleo sobre tela, 264 cm x 159 cm.
Albert Eckhout. 1641. Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague
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Observe os detalhes a seguir, destacados das duas imagens vistas.
Figura 24
Albert Eckhout. 1641. Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague
Detalhe da pintura Mulher Tupi, de Albert Eckhout, 1641. Óleo sobre tela, 272 cm ×163 cm.
Figura 25
Albert Eckhout. 1641. Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague
Detalhe da pintura Índia Tapuia, de Albert Eckhout, 1641. Óleo sobre tela, 264 cm ×159 cm.
O que tem dentro do cesto?
Alimentos para alimentar gente?
Gente como alimento?
Que histórias têm nesse balaio?
Agora, observe este outro cesto e seus trançados.
Figura 26
Iandé - Casa das Culturas Indígenas
Cesto trançado feito de arumã pelos indígenas Kinja, da região do Amazonas e Roraima. Arumã é uma das ervas da qual os indígenas extraem fibras para fazer seus utensílios.
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MUNDO CONECTADO
- Arte: línguas e histórias
Observe a imagem a seguir.
Figura 27
Abaporu, de Tarsila do Amaral, 1928. Óleo sobre tela, 85 cm ×73 cm.
Tarsila do Amaral. Abaporu. 1928. Óleo s/ tela, 85 cm X 73 cm. Museu de Arte Latinoamericana. © Tarsila do Amaral Empreendimentos Ltda.
Agora, leia este trecho de poema.
Brasil
O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
— Sois cristão?
— Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
[...]
Trecho do poema Brasil. ANDRADE, Oswald de. Poemas da colonização. In: BARROS, Diana Luz Pessoa de (Org.). Os discursos do descobrimento. São Paulo: Edusp/Fapesp, 2000. p. 165.
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A palavra tupinambá frequentemente era usada pelos colonizadores holandeses que estiveram no Norte e Nordeste do Brasil, entre 1630 e 1645, para fazer referência aos povos indígenas que falavam a língua tupi-guarani. A palavra tapuia era usada para nomear os povos indígenas que falavam outras línguas. Albert Eckhout criou imagens fazendo referências aos dois grupos.
Você sabia que até o século XVIII a língua mais falada no Brasil era o tupi-guarani? E que na época em que os primeiros colonizadores chegaram ao Brasil existiam cerca de 1 200 línguas?
Atualmente, existem cerca de 274 línguas indígenas que são faladas apenas por 305 etnias diferentes.
No início do século XX, outros artistas criaram imagens e obras literárias com o objetivo de valorizar a língua e a cultura indígena brasileira, como Oswald de Andrade (1890-1954), que fez o poema Brasil (publicado em 1972), e Tarsila do Amaral (1886-1973), que criou uma das pinturas mais famosas da arte brasileira, a obra Abaporu (1928).
Você já conhecia essa pintura?
Abaporu! Que língua será essa? Você sabe dizer qual é o significado dessa palavra?
É uma palavra que nasceu do vocabulário tupi-guarani. Unindo as palavras abá (homem) e poru (aquele que come carne humana), temos o nome Abaporu (antropófago). Essa obra foi inspiradora para os artistas do movimento modernista, gerando outras produções e manifestos artísticos.
Nessa época, os artistas modernistas questionavam a influência da cultura europeia sobre a cultura brasileira e defendiam a valorização da arte nacional. Defendiam também que a língua e a cultura dos povos indígenas deveriam ser protegidas. Quando a língua de um povo deixa de existir, muito da cultura desse povo também se perde.
O que você considera importante fazer para a preservação das línguas e das culturas indígenas no Brasil?
Que tal pesquisar palavras de origem tupi-guarani e, com base nessas palavras, pesquisar os significados e criar um trabalho de arte?
Você pode consultar um dicionário Tupi-Português. Há um dicionário de Tupi-Guarani organizado pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) para acesso na internet em
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